Captura

Captura de imagens solares

As necessidades e cuidados de quem observa regularmente o Sol (isto é, todos os dias) são um bocado diferentes das daqueles que o vêm apenas "quando faz Sol" ou então quando apresenta uma mancha enorme. Por exemplo, tem que ser instintiva a simples verificação do filtro solar - tanto se está montado (é verdade, pode não estar montado!) e se está em boas condições (sem buracos ou vincos).
A regularidade de observação pode fazer descurar algumas das regras básicas - pode ser fatal qualquer descuido. A expressão que aprendi na tropa acerca de explosivos aplica-se bem à observação solar - só se pode errar 3 vezes: a primeira, a única e a última...

Também muito jeito dá uma cobertura para uma eventual chuvada, pode parecer algo estranho mas no Outono/Inverno fui apanhado algumas vezes desprevenido e cheguei a apanhar umas "molhas" (eu e o telescópio) enquanto esperava por um buraco nas nuvens. No meu caso uso uma coberta de plástico de monitores de 17".
E finalmente um chapéu. Este acessório parece óbvio mas é essencial para o bem-estar do observador. O Sol mesmo no Inverno pode ser muito forte.

As minhas sessões de captura/observação do Sol são tipicamente muito curtas, especialmente no Inverno/Outono em muitas das fotos são tiradas em pequenas abertas que têm por vezes com duração de alguns segundos.

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Deveria de haver algum método de subtrair barrigas nas fotos de astrónomos, à semelhança do tratamento de imagens CCD com os "darks" e "flats".
Isto tudo para mostrar o chapéu pimpão de aba curta.
A pêra e bigode é opcional.

O método de apontamento que utilizo é rápido e seguro - retiro a ocular do prisma/diagonal e aponto o tubo para o Sol usando o brilho do disco solar que se consegue ver olhando para o prisma. Este tipo de apontamento com muita prática é assustadoramente rápido, permitindo apontar em alguns segundos para o Sol num buraco entre as nuvens.
Também acho este método especialmente seguro porque já me aconteceu por duas vezes apontar um telescópio para o Sol sem filtro (por causa das pressas), e por ter usado este método é fácil ver que algo de estranho se passa antes de alguma fatalidade - tal como um anormal brilho intenso - provavelmente já me salvou a vista... De qualquer modo aqui fica o habitual aviso respeitante à observação solar com qualquer instrumento (isto especialmente para aqueles não são astrónomos amadores e que cairam nesta página de páraquedas):

Nunca olhar para o Sol através de algum telescópio ou binóculo sem o filtro apropriado, pois pode causar instantaneamente danos graves e irreversíveis tais como a cegueira total ou parcial

Os filtros apropriados NÃO INCLUEM fundos de garrafas colorido (ou qualquer vidro colorido), filme negativo exposto e máscara de soldadura (apenas para visual mas não aconselhado). Especialmente perigosos são os filtros solares que se enroscam nas oculares que podem vir no "pacote" com telescópios baratos, porque induzem o observador novato em erro, pois podem estalar com o calor.
Os filtros para observação solar tanto à vista desarmada como para telescópios em visual filtram tipicamente 100.000x (cem mil vezes) o brilho do Sol, para além de não deixar passar também a nociva mas invisível radiação ultra-violeta.
Costumo usar o exemplo da lupa a queimar um papel ou a erva usando a luz do Sol - um telescópio concentra muito mais energia, portanto dá para imaginar o que fará a um olho.

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Este é filtro solar de pelicula Baader de fabrico caseiro que correntemente utilizo.
Está montado num tubo de escoamento de águas de chuva de 80mm.
O bordo do lado do filtro está revestido com borracha para evitar o seu rompimento devido ao uso.
A tira de velcro dá um apertado ajuste à prova de furaçôes.
Reparar também na lassidão da película, que não deve ser demasiado esticada segundo o fabricante, tanto por supostamente aumentar o contraste como também para prevenir um eventual rompimento.
Consoante a intensidade de utilização e tratamento, pode durar entre 1 a 2, 3 anos.
Na seguinte página para fabricar um filtro:
http://astrosurf.com/cosmoscopio/filtrosolar.html

O conjunto do equipamento tem de ser para mim necessariamente muito portátil, pois o meu local habitual de observação é bastante obstruído por casas e respectivas chaminés (grande parte das vezes tiro fotografias no período da hora de almoço), tendo por vezes de mudar para locais a mais de 100 metros.
Por vezes também acontece ter que levar o telescópio para registar situações especiais, em que pretendo observar o Sol fora das minhas horas normais de observação (hora de almoço) durante a semana de trabalho. E claro, terá de ser também o suficiente portátil e pouco volumoso para o levar comigo para as férias sem ter que ficar sem metade da mala do carro :).

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Observar o Sol visualmente e tentar focar o melhor possível. È aqui que determino qual o movimento/nitidez/qualidade da sessão. Também aproveito para memorizar os detalhes das manchas e faculaes o melhor possível. Visualmente é sempre possível registar detalhes que escaparão à fotografia e vice-versa.
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Centrar o disco solar o melhor possível e tentar evitar que existam áreas que fiquem com menos exposição. É preciso um bocado de paciência, mas com prática torna-se fácil. Aconselho a não beber (álcool) antes da sessão...
Reparar na mão direita que é "responsável" por manter alinhada a objectiva da câmera com a pupila de saída da ocular. O tacto é importante.
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O TFT inclinável da Canon é para mim essencial para uma confortável posição de fotografia.
Depois de algumas dezenas de sessões é possível estimar a qualidade e foco de uma fotografia em apenas alguns segundos. Eu uso o auto-focus e o modo macro que curiosamente portam-se até bastante bem. O auto-focus exige que as ópticas estejam livres de pó ou com o risco de focar o pó e não o Sol. Também as nuvens podem confundir o auto-focus.
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A não utilização de adaptadores torna a fotografia mais complicada de fazer e raramente a foto fica focada e uniformemente iluminada, mas serve o meu propósito de contagem e acompanhamento da evolução das manchas solares.
Por outro lado não utilizando adaptadores é fácil alternar entre o visual e a câmera - liberdade que muito aprecio.
Tiro sempre o máximo de fotos possível (geralmente até encher o cartão flash de 64 megas), que podem ir até 40 ou 50 fotos, tanto de disco solar inteiro como de detalhe (com mais zoom da câmera). A fotografia do Sol é uma lotaria devido à turbulência, tanto local como na alta atmosfera. Mesmo a 1/500 segundos não é certo conseguir uma foto decentemente focada, deve-se portanto tirar muitas...

O equipamento

A configuração que correntemente utilizo é o seguinte:

Este sistema resulta numa relação focal equivalente a f/48.7 (2922mm). Isto usando a fórmula para fotografia afocal (magnificação (86) X distância focal da objectiva = 34mm). Este valor contudo é aproximado, porque apesar dos valores dos comprimentos focais do telescópio e oculares serem relativemente fiáveis, o comprimento focal da lente zoom da câmera não me parece muito preciso.

O Takahashi FC-60 é um refrator apocromático de 60mm de alta qualidade (e preço). Podem ver aqui as minhas impressões. Não é propriamente a abertura ideal para observação solar (80mm seria bem mais adequada), mas o seu custo foi bem mais compatível com a bolsa...

A ocular da Televue radian de 14mm tem 20mm de afastamento de pupila, coisa que considero importante para mais fácil focagem e que ajuda bastante o sistema autofocus da câmera. Tem também um campo aparente de 60°, que permite maior magnificação com o mesmo campo real (em relação aos 42-50 graus das plossl e ortoscópicas). Também se pode ver aqui as minhas impressões. Esta ocular conjugada com a barlow Ultima da Celestron (que tem um factor de magnificação apróximado de 2.4x) resulta numa magnificação de 86x, que considero perto do limite máximo para a grande maioria das condições de observação.

A Canon G1 é da primeira geração das Canon digitais compactas de 3.3 megapixeis, e foi adquirida em Abril de 2001. Desde dessa data já tirou mais de 10000 fotografias...

O CCD da G1 tem a dimensão de 1/1.8" (4.6mm) com 3.14 milhões de pixels efectivos resultando numa resolução máxima de 2048x1536 pixeis, também tem disponíveis as resoluções de 1024x768 e 640x480. Existem 3 níveis de compressão de jpeg - no qual o "superfine" é praticamente igual ao RAW (ficheiro sem compressão, mas bastante mais lento de processar).

O grupo óptico é constituído por 8 elementos em 7 grupos (F2.0 - F2.5) e dá uma extensão de zoom de 7-21mm, que em formato 35mm é equivalente a 34-102mm. Foca a 70cm em modo normal e a 6 cm em modo macro.

Ver Processamento de imagens solares

fotos por Pedro Ré
Luis Carreira