SATURNO MAGNÍFICO
13
de Dezembro 2002 -
Há trinta
anos a Terra e Saturno tiveram uma
aproximação extraordinária. O planeta dos
anéis estava só a 1,2 mil milhões de quilometros da Terra - tão próximo quanto
possível - e os seus anéis estavam
inclinados na nossa direcção. A vista pelo
telescópio era simplesmente de tirar a
respiração.
Na próxima semana vai
acontecer outra vez.
"A 17 de Dezembro de
2002, Saturno e Terra estarão invulgarmente
próximas - quase à mesma distância em que
estiveram há trinta anos atrás," diz o
astrónomo Mitzi Adams da NASA. E uma vez
mais os anéis de Saturno estão inclinados na
nossa direcção. "Portanto vá buscar o seu
telescópio." diz Adams. "Até um com
abertura pequena serve."
Acima:
O fotógrafo Ed Grafton captou
esta imagem de Saturno a partir de Houston,
Texas a 11 de Dezembro de 2002. Ele usou um
telescópio de 14 polegadas e uma câmara CCD.
Os
observadores ficam frequentemente
boquiabertos quando observam pela primeira
vez Saturno por um telescópio. Adams recorda
a sua primeira visão: "Foi em Novembro de
1969, e eu era voluntária no Fernbank
Science Center em Atlanta. Nós estávamos a
seguir a sonda Apollo 12 para uma equipa de
reportagem da NBC usando um telescópio de 36
polegadas (cerca de 91,4 cm de abertura).
Estava uma noite muito fria, cerca de
9 ºC!" ri Adams. "Por divertimento, nós
fomos buscar um telescópio de 10 polegadas
(25,4 cm de abertura) também, e
apontámo-lo para Saturno. A visão do planeta
e dos seus anéis cortou-me a respiração.
Agora, sempre que eu mostro Saturno aos "iniciantes",
eu gosto mesmo de ver as suas reacções,
relembrando a minha própria experiência."
O dia 17 de
Dezembro de 2002 é especial porque é quando
Saturno e o Sol estão em lados opostos do
céu. Os astrónomos chamam a este evento:
"oposição". Quando o Sol se põe, Saturno
ergue-se no céu e fica bem alto toda a
noite. Saturno em oposição está próximo da
Terra e consequentemente brilhante.
Abaixo:
Saturno está "em oposição"
quando ele e o sol estão em lados opostos da
Terra. O tamanho da órbita da Terra está
exagerado para mais clareza. Saturno está 9
1/2 vezes mais afastado do sol do que a
Terra.
As
oposições de Saturno ocorrem todos os 13
meses mais ou menos. Esta é uma das melhores
aproximações em aproximadamente 30 anos,
pois Saturno está próximo do seu periélio, a
distância mais próxima ao Sol. Adams
explica: "A órbita de 30 anos de Saturno não
é um círculo perfeito. Tem a forma de uma
elipse com um dos lados mais próximo do Sol
cerca de 6% em relação ao outro lado. Quando
Saturno está mais próximo do Sol, está
também mais próximo da Terra ... e nós temos
uma óptima vista."
Encontrar
Saturno é fácil, nota Adams. Olhe para Este
após o pôr-do-sol. Saturno estará aí, a
subir, entre as estrelas brilhantes da
constelação Taurus. Saturno é amarelo na
tonalidade e não cintila como uma estrela.
Brilhando a uma
magnitude visual de -0,5 é um dos
objectos mais brilhantes no céu da noite de
Inverno. À meia-noite, acrescenta Adams,
estará directamente por cima das nossas
cabeças.
A 18 de
Dezembro, diz Adams, pode usar a Lua para
encontrar Saturno porque o par estará muito
próximo. O brilho da lua Cheia irá
prejudicar a sua visão nocturna, mas não
esta está suficientemente próxima para fazer
com que Saturno "desapareça".
Saturno é tão
brilhante, explica a cientista, em parte
porque os seus anéis estão inclinados na
nossa direcção. Eles reflectem a luz do Sol
muito bem. Os anéis têm 274000 km de
largura, duas vezes tão largos como o
planeta Júpiter. Eles têm apenas umas
dezenas de metros de espessura, contudo,
explica o facto de eles desaparecerem quando
vistos de lado.
Tal situação
deu-se há sete anos: os anéis estavam de
lado e eram praticamente invisíveis. Isto
acontece porque Saturno está inclinado 27º
em relação à sua própria órbita, assim os
anéis parecem oscilar quando o planeta gira
em torno do Sol. Algumas vezes, como agora,
eles são fáceis de ver, mas nem sempre.
Abaixo:
O céu a Este
às 21:30, hora local a 17 e 18 de Dezembro
de 2002, visto das latitudes Norte. Os
círculos azuis marcam a posição da lua. Os
observadores do Hemisfério Sul deverão
inverter este mapa e olhar para nordeste.
O próprio
Galileu ficou perplexo pelo oscilar de
Saturno. Ele descobriu os anéis em 1610.
Altissimum planetam tergeminum observavi,
escreveu em Latim. "Eu observei o mais alto
planeta triplo: o0o". Era assim que os anéis
pareciam no seu telescópio primitivo. As
tentativas de Galileu para entender o que
ele via foram frustradas quando, dois anos
mais tarde, os pontos tinham desaparecido.
Os anéis estavam agora de lado, mas ele não
o sabia. A ida e volta dos anéis de Saturno
baralharam os investigadores durante muitos
anos, e na verdade foi preciso esperar até
1656 quando o astrónomo holandês Christiaan
Huygens descobriu a explicação correcta.
Os astrónomos
têm observado os anéis desde então -
aproximadamente 400 anos. Mesmo assim, há
muita coisa que não sabemos sobre eles. Os
anéis são feitos de pedaços gélidos variando
do tamanho de poeiras a grandes casas.
Parecem resíduos, mas de quê? Uma lua
destruída? Um asteróide de passagem que foi
despedaçado pela gravidade de Saturno?
Ninguém sabe. Há grande evidência que os
anéis são muito mais jovens que o próprio
Saturno. Alguns investigadores acreditam que
os anéis apareceram apenas há poucas
centenas de milhões de anos - uma altura em
que os primeiros dinossauros vagueavam pela
Terra. (Para mais informação desta
intrigante possibilidade, veja o artigo "The
Real Lord of the Rings"
em
Science@NASA)
Direita:
A sonda
Cassini alcançará Saturno em 2004.
Uma sonda
chamada Cassini - uma missão conjunta da
NASA, ESA e ISA - está a caminho de Saturno.
Chegará a Julho de 2004 e tornar-se-á na
primeira sonda a orbitar e não apenas passar
por Saturno. (Seis meses mais tarde Cassini
libertará a sonda Huygens para esta descer
através da espessa atmosfera da lua Titan.)
Carregada com instrumentos científicos e com
uma boa porção de tempo para os usar,
Cassini pode dizer-nos muito sobre o planeta
dos anéis.
Entretanto,
os únicos instrumentos necessários para
apreciar Saturno são os seus olhos e um
telescópio de pequena abertura. "Saturno e a
Terra estarão próximos durante muitas
semanas," nota Adams. Se perder esta
oportunidade a 17 de Dezembro, diz ela, não
se preocupe. O planeta pode tirar o seu
fôlego durante mais algum tempo.
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