BORDER COLLIE
ELÉCTRICO
14
de Maio 2004 -
Durante
milhares de anos, os humanos criaram
rebanhos de cabras. Ovelhas. Carneiros. Nem
sempre é fácil, e os rancheiros normalmente
têm ajudantes. Usam o Border Collie para
manter os seus animais juntos. Estes cães
são fantásticos; se podem ver o gado, podem
agrupá-lo.
Mas, que faria se
quisesse agrupar microorganismos?
Não é uma pergunta
tão idiota como parece. A bordo de uma nave
espacial, por exemplo, alguns
microorganismos a flutuar no sistema de
distribuição de líquidos poderiam ser
presságio de problemas futuros. O mesmo é
verdade para o fornecimento de águas
municipais. Que aconteceria se terroristas
deitassem agentes patogénicos no
reservatório de água de uma cidade? Agrupar
microorganismos para testes e erradicação
pode ser a solução.
Direita:
Giardia lamblia. Este organismo
unicelular faz as pessoas adoecer quando
atinge a água que ingerem.
Investigadores financiados pela NASA da
Universidade A&M no Texas estão a trabalhar
num aparelho protótipo, uma espécie de
Border Collie eléctrico, que pode ser capaz
de agrupar microorganismos. O princípio é
simples: as membranas celulares de alguns
agentes patogénicos têm cargas eléctricas
negativas. Campos eléctricos podem,
portanto ser usados para encurralar as
pequenas bestas.
Os detectores
convencionais de microorganismos funcionam
com quantidades diminutas de água,
normalmente entre 10 milionésimos de litro e
50 milionésimos de litro. Isso pode
constituir um problema: se microorganismos
perigosos estão muito dispersos no sistema
de distribuição de água - como seria o caso
nas fases iniciais da infestação - as
probabilidades de encontrar microorganismos
numa amostra tão pequena são ínfimas.
Escolher uma amostra para teste que contenha
o microorganismo nocivo é um golpe de sorte.
O maior
problema para qualquer agência - seja a
Homeland Security ou a NASA ou a EPA ou
outra qualquer - é monitorizar uma grande
quantidade de água para um pequeno número de
microorganismos," aponta
Suresh Pillai
da A&M do Texas.
Pillai e o
seu colaborador, o professor engenheiro
Ali Beskok da A&M do Texas, recentemente
ganharam um prémio
do Office of Biological and
Physical Research da NASA ao
resolver este problema.
O aparelho
que Pillai e Beskok estão a desenvolver para
a NASA usará eléctrodos carregados
positivamente para atrair bactérias. O
"saco" membranar que separa o interior da
bactéria do meio exterior é feito de um tipo
particular de lípidos. Embebidos nesta
membrana estão uma vasta variedade de
grandes moléculas proteicas e de glícidos
que controlam a interacção do microorganismo
com o meio exterior. Cada uma destas
moléculas embebidas tem um padrão
diferenciado de regiões carregadas positiva
e negativamente, na sua superfície. Estas
moléculas embebidas têm cada uma, um modelo
diferencial de regiões positiva ou
negativamente carregadas nas suas
superfícies. Para níveis de pH (isto é,
acidez) típicos de água própria para beber,
a carga total destas moléculas embebidas é
normalmente ligeiramente negativa, portanto
elas serão atraídas para um eléctrodo
carregado positivamente.
Acima:
Cartaz de uma
membrana celular típica.
O seu
aparelho podia canalizar cerca de 5 litros
de água reciclada por hora através de
centenas de tubos paralelos, cada um com
0,25 milimetros de largura. O pequeno
tamanho destes tubos assegura que quaisquer
microorganismos presentes na água passarão
muito próximo dos eléctrodo positivos que
revestem as paredes ficando preso a eles.
Ocasionalmente, o eléctrodo é desligado e os
microorganismos recolhidos são forçados a
entrar num segundo aparelho similar, que os
concentra ainda mais. Após mais uma redução
de volume, a maioria das bactérias e vírus
de dúzias de litros de água serão
encurralados em cerca de um milímetro de
água - uma gota - que pode ser
automaticamente dividida e testada para
averiguar se estão presentes espécies
perigosas.
"Uma vez
metidas uma grande quantidade de amostras
num pequeno volume, então detectar
organismos nesse pequeno volume é muito
fácil," diz Pillai.
O aparelho
tem de ser capaz de captar mais de 90% dos
microorganismos que passam através dele, diz
Pillai. Actualmente, ele e Beskok estão a
fazer investigação para ajudar na
finalização da projecção do aparelho -
testando quão forte deve ser o eléctrodo,
por exemplo, e qual seria a largura ideal e
o número de microtubos. Ele espera ter um
protótipo pronto para testar daqui por um
ano.
Direita:
Microorganismos simulados (microesferas
sintéticas) transportando uma
coloração fluorescente são atraídas para
eléctrodos carregados positivamente. Notar
que os sinais (+) e menos (-) denotam
a carga dos eléctrodos.
"Também
conseguimos financiamento do estado do Texas
para desenvolver um aparelho similar para
testar os abastecimentos das águas
municipais," diz Pillai. "O serviço
responsável pelo fornecimento da água da
cidade de El Paso (Texas) diz que eles
permitir-nos-iam testar em campo o nosso
aparelho no seu sistema de distribuição e
ver se ele realmente funciona."
"Outra versão
do nosso aparelho que seria mais pequena e
leve será projectada para uso no espaço."
Pode
ser útil a bordo da ISS, por exemplo. E
certamente tais aparelhos serão necessários
para viagens longas à Lua ou Marte. Longe da
Terra, o fornecimento de água da nave seria
continuamente reciclado, recolhendo a água
de todas as fontes possíveis - mesmo a
respiração exalada pelo astronauta e a
urina. Agrupar microorganismos em tal
ambiente é obviamente uma boa ideia.
Com um Border
Collie eléctrico a bordo, os astronautas
podem encurralar os microorganismos e lidar
com eles, antes que os seus números fiquem
fora de controlo.
LINKS |
NASA's Office of Biological and Physical
Research - conduz investigação
interdisciplinar, revista por outros
cientistas, fundamental e aplicada para
ir ao encontro das oportunidades e
desafios da NASA que são fornecidos pelo
ambiente do espaço e exploração humana
do espaço.
Advanced Life Support -
investigação sobre sistemas de apoio de
vida para missões longas no espaço, no
Johnson Science Center da NASA.
Microscopic Astronauts da
Science@NASA. É inevitável: os humanos
não podem ir para o espaço sem levar com
eles biliões de microorganismos com
eles. Uma experiência a bordo da ISS
ajuda a descobrir como estes seres se
comportam em órbita.
Space: A Bad Influence on Microbes?
da Science@NASA. Pelo menos uma doença
vulgar causada por microorganismos
torna-se mais violenta em microgravidade
simulada. Os cientistas que estudam este
fenómeno esperam ganhar um melhor
entendimento da doença infecciosa.
Water on the Space Station da
Science@NASA. Racionalizar e reciclar
será uma parte essencial da vida da ISS.
neste artigo, a Science@NASA explora
onde a tripulação obterá a água e como a
(re)utilizarão.
Plumbing the Space Station da
Science@NASA. Nada vai para o lixo na
ISS onde quase tudo é reciclado. O que
faz este sonho do ecologista funcionar?
Um dos mais fantásticos sistemas de
distribuição e drenagem no Sistema
Solar.
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