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RAVINAS DE NEVE EM MARTE

 

19 de Fevereiro de 2003 - Quando a sonda Mars Global Surveyor fotografou há 3 anos, o que pareciam ravinas recentes causadas pela chuva, os investigadores ficaram perplexos. A superfície de Marte é extraordinariamente seca. O que podia ter esculpido tais características curiosas? Agora, graças aos dados da sonda Mars Odyssey 2001, há uma nova resposta: fusão da neve.

 

 

Acima: No interior da bacia de Newton em Marte, canais estreitos correm do topo para a base da plataforma. Estas e outras ravinas foram primeiro descobertas em imagens de alta resolução tiradas pela sonda Mars Global Surveyor.

 

As ravinas foram criadas pelo fluir da água vinda de blocos de neve que derretiam e não devido a nascentes subterrâneas ou fluxos pressurizados, como tinha sido previamente sugerido, argumenta Philip Christensen, um professor na Arizona State University e principal investigador do Odyssey’s camera system. A água derrete e pode fluir por baixo dos blocos de neve onde é protegida da rápida evaporação na fina atmosfera do planeta, explica Christensen na edição electrónica da Nature de 19 de Fevereiro.

 

A ideia de Christensen tomou forma enquanto ele estava a olhar para uma imagem da Mars Odyssey de uma cratera de impacto marciana. Ele notou ravinas erodidas na fria parede norte da cratera e logo ao lado delas, uma secção daquilo que ele chama "terreno em pastas". Tal terreno único representa um depósito ligeiro de material que os investigadores de Marte concluíram ser volátil (composto por materiais que se evaporam na fina atmosfera de Marte), porque caracteristicamente ocorre só nas áreas mais frias e mais abrigadas. A composição mais provável desde material a evaporar lentamente é neve. Christensen suspeitou que havia uma relação especial entre as ravinas e a neve.

 

"Eu vi isso e disse 'Ah-ha!' " relembra Christensen. "Parece-nos a todos que estas ravinas estão a ser expostas à medida que este terreno em camadas está a ser removido através da fusão e evaporação."

 

Esquerda: A seta indica a região de terreno "em camadas", talvez bloco de neve, perto do bordo de uma cratera marciana.

 

Ravinas erodidas nas paredes de crateras e penhascos foram observadas pela primeira vez em imagens tiradas pela Mars Global Surveyor em 2000. Têm surgido outras teorias científicas que explicam as ravinas, incluindo fugas de água subterrânea, fluxos de água subterrânea pressurizada (ou dióxido de carbono) e fluxos de lama provocados pelo colapso de depósitos de permafrost. No entanto nenhuma explicação até à data foi universalmente aceite.

 

"As ravinas são muito jovens," afirmou Christensen. "Isso sempre nos intrigou. Como pode Marte ter água subterrânea suficientemente próxima da superfície para formar estas ravinas, e apesar disso, ela ter permanecido lá durante milhares de milhões de anos? Em segundo lugar, temos crateras com bordos  que estão levantados, e as ravinas  alcançam quase o topo desta orla. Se é um aquífero junto à superfície que está a permitir a saída de água, então não há muito terreno abaixo da superfície. E, finalmente, porque é que elas ocorrem preferencialmente na face fria dos declives a médias latitudes?" Aquele é o local mais frio e o menos provável para fundir água subterrânea.

 

Christensen nota que encontrar erosão causada pela água sob a fusão de depósitos de neve responderá a muitos destes problemas.

 

"É mais provável que a neve em Marte acumule nos declives que apontam para os pólos Sul ou Norte  – isto é, as áreas mais frias. Acumula e decora a paisagem nestas áreas durante um período climático, e depois funde-se durante um mais quente. A fusão começa nas áreas mais expostas mesmo na crista do pico. Isto explica porque é que as ravinas começam a formar-se tão alto."

 

Direita: As ravinas parecem emergir debaixo e do interior de um cobertor de neve que está a desaparecer gradualmente.

 

Uma vez que começou a pensar em neve, Christensen, começou a encontrar um grande número de outras imagens que mostravam uma relação similar entre depósitos em camadas de neve e ravinas nas imagens de alta resolução tiradas pela câmara da Mars Global Surveyor. Ainda assim, foi o vasto campo de visão do sistema de emissão de imagem térmico da Mars Odyssey que se veio a revelar crítico para esta visão.

 

"A ideia básica (da neve derretida) provém de ter uma visão regional, que a câmara Odyssey fornece. É uma espécie de "não podes ver apenas a floresta para compreender os problemas das árvores". Uma imagem Odyssey fez com que tudo subitamente fizesse sentido, porque a resolução era ao mesmo tempo suficientemente alta para identificar estas características e suficientemente baixa para mostrar as suas relações mútuas na paisagem."

 

LINKS

 

Mars Exploration  da JPL. Explore o planeta vermelho você próprio na página oficial da Mars Exploration Program da NASA. Veja também Mars Global Surveyor e 2001 Mars Odyssey.

Mars Surprise  da Science@NASA. Imagens de alta resolução da sonda Mars Global Surveyor da NASA revelam características que sugerem fontes actuais de água no estado líquido à, ou perto, da superfície do planeta vermelho.

Once Upon a Water Planet  da Science@NASA. Hoje em dia o planeta vermelho é seco e árido, mas e amanhã? Novas informações sugerem que a longa história da água em Marte ainda não acabou.

The Case of the Missing Mars Water  da Science@NASA. Bastantes pistas sugerem que água no estado líquido um dia correu em Marte, mas as provas permanecem inconclusivas e por vezes até contraditórias.

Making a Splash on Mars  da Science@NASA. Num planeta que é mais frio que a Antárctica e onde a água ferve a 10 graus Celsius acima do congelamento, como pode água no estado líquido alguma vez ter existido? Os cientistas afirmam que uma pitada de sal pode ajudar.

Layers of Mars  da Science@NASA.  A Mars Global Surveyor avistou terrenos em Marte que se parecem com depósitos de rochas sedimentares. Ter-se-ão eles formado debaixo de água?

 

 

 

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