MERIDIANI PLANUM:
"ENSOPADO"
2
de Março 2004 -
Algumas
rochas no local de aterragem da Opportunity
no Meridiani Planum em
Marte estiveram outrora impregnadas de água
líquida. Os membros da equipa científica
internacional da Mars Exploration
Rover apresentaram hoje
[N.T.: dia
2 Março 2004]
provas aos repórteres na sede da NASA em
Washington, DC.
"A água líquida fluiu
outrora por estas rochas. Mudou a sua
textura, e mudou a sua química," disse Steve
Squyres, principal investigador para os
instrumentos científicos da Opportunity e do
seu gémeo, Spirit. "Fomos capazes de ler as
pistas reveladoras que a água deixou,
dando-nos confiança nessa conclusão."
Aqui estão algumas
das provas de que outrora a água penetrou no
afloramento de rochas onde a Opportunity tem
estado a trabalhar.
1
→ O
espectrómetro de raios-X e de partículas alfa
do rover encontrou bastante enxofre no
afloramento. Pistas relacionadas com esse
instrumento e o espectrómetro miniatura de
emissão térmica sugerem que o enxofre se
encontra na forma de sais sulfato (similar
aos sais Epsom). Na Terra, as rochas que
contêm tais sais ou foram formadas na água
ou, após formação, foram impregnadas de água
durante muito tempo.
Acima:
Estes espectros mostram que a
rocha chamada "McKittrick"
próxima do sítio de aterragem da MER
Opportunity no Meridiani Planum,
possui a mais elevada concentração de
enxofre jamais observada em Marte. [N.T.:
APXS é um acrónimo para
Alpha
Particle X-Ray Spectrometer.
RAT é
um acrónimo para Rock Abrasion Tool, um
instrumento de abrasão que permite amolar
rochas. Tarmac é o nome dado a uma pequena
porção do solo localizada na cratera onde a
Opportunity aterrou. A grandeza energia (no
eixo horizontal) encontra-se
expressa em unidades de electrão-volt - eV.
† O electrão-volt é a energia cinética
adquirida por um electrão ao atravessar uma
diferença de potencial de 1 volt, no vazio.
1 eV ≈ 1,602 x
10-19 J.]
2
→ O
espectrómetro Moessbauer do rover detectou
jarosite, um mineral de sulfato de ferro
hidratado que pode resultar do facto da
rocha alvo ter passado um tempo num ambiente
de lago ácido ou de nascentes quentes
ácidas.
3
→
Imagens da câmara panorâmica da Opportunity
e imagens do microscópio mostram muitos
buracos pequenos e planos "do tamanho de
moedas de cêntimo," diz Squyres -- num
afloramento rochoso seleccionado para exame
mais pormenorizado. Estes buracos, ou
cavidades têm a aparência distintiva das
cavidades das rochas terrestres, formadas
onde os cristais de sais minerais crescem no
interior de rochas que estão em água
salgada e depois desaparecem por erosão ou
dissolução.
4
→ As
câmaras revelaram esferas do tamanho de
bagas de mirtilo incrustadas nos
afloramentos rochosos. Os investigadores
chamam-lhes os "mirtilos" - embora não sejam
azuis, mas cinzentas. As esférulas não estão
concentradas em camadas particulares dentro
da rocha, como estariam se tivessem sido
originadas no exterior da rocha e fossem
depositadas em camadas acumuladas enquanto a
rocha se estava a formar. Em vez disso, as
esférulas são dispersas. Isto significa que
elas são os que os geólogos chamam de
"concreções" que se formam da acumulação de
minerais provenientes da solução no interior
de uma rocha porosa impregnada de água.
Direita:
Uma esférula na região de
afloramento rochoso chamada "El Capitan". A
área nesta imagem, tirada no Sol 28 da
missão Opportunity, tem 1,3 cm de
comprimento.
5
→
Algumas das esférulas das imagens tiradas
pelo microscópio parecem ter listras que
correspondem às camadas da rocha matriz em
torno delas. Isso seria consistente com a
interpretação de que as esférulas são
concreções que se formaram no interior da
rocha húmida.
Ainda há
imenso para aprender: quando é que a área
esteve húmida e quanto tempo duraram
essas condições? Como se acumulou a água? -- por exemplo, num lago
salgado ou mar? Qual a profundidade desse
corpo aquoso? Os cientistas e engenheiros
planeiam manter a Opportunity ocupada nos
próximos dias a procurar por mais pistas que
possam responder a algumas destas questões.
Visite o site
http://marsrovers.jpl.nasa.gov
para informação actualizada sobre Spirit e
Opportunity.
†
O leitor pode
encontrar mais informações sobre
terminologia, símbolos e notações na
seguinte obra: "Sistema Internacional de
Unidades (SI) – Grandezas e Unidades
Físicas, Terminologia, Símbolos e
Recomendações." de Guilherme de Almeida,
Plátano Edições Técnicas, Lisboa, 2002
(livro recomendado pela Sociedade Portuguesa
de Física).
LINKS |
Mars Exploration
da NASA/JPL. Página oficial da NASA
sobre a exploração do planeta vermelho.
Rover Finds Signs of Wet
Martian Past
da NASA. O rover Opportunity da NASA
está a mostrar indicações de que a água
fluiu outrora em Marte.
Destination: Meridiani
Planum
da Science@NASA. A 24 de Janeiro
de 2004, o rover Opportunity da NASA
aterrou numa planície marciana à procura
de provas da existência de água.
Interplanetary Hole in
One
da Science@NASA. Depois de viajar
milhões de quilometros, o rover gémeo de
Spirit, Opportunity aterrou em Marte
numa cratera pequena e pouco profunda --
o local perfeito para procurar por
sinais de água antiga marciana.
The Case of the Missing
Mars Water
da Science@NASA.
Uma série
de pistas sugerem que a água líquida já
tenha fluido em Marte - levantando
esperanças de que a vida aí possa ter
surgido - mas as provas mantêm-se
inconclusivas e por vezes
contraditórias.
Making a Splash on Mars
da Science@NASA. Num planeta mais frio
que a Antárctica e onde a água evapora a
10 graus abaixo do ponto de congelação,
como pode ter alguma vez ter existido
água em fase liquida? Os cientistas
dizem que uma pitada de sal pode ajudar.
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