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MELHORES IMPLANTES ÓSSEOS

 

25 de Novembro 2002 - Bob Hayes, de 79 anos conhece todas as estatísticas.

 

Há mais de 300 000 cirurgias de substituições da anca e joelho realizadas em cada ano nos Estados Unidos. 65% das substituições de anca e 62% das substituições de joelho são recebidas por pessoas com mais de 65 anos de idade. Devido ao facto da população dos Estados Unidos estar a envelhecer, espera-se que o número de fracturas de ancas exceda 500 000 anualmente em 2040. A estadia média no hospital para uma substituição da anca ou joelho é de 5 dias seguidos de 4 semanas usando uma bengala.

 

Acima: Uma articulação humana da anca.

 

Bob, um veterinário reformado de Golden, Colorado, tem conhecimento das estatísticas pois ele é uma delas. Entre 1978 e 1999 Bob efectuou duas substituições de anca e cinco revisões. "Eu guardei 3 ou 4 delas como recordação," ri-se. "Tenho estado a pensar usá-las como suportes de livros."
 

O sentido de humor de Bob ainda está intacto mas a sua dor não é para brincadeiras. "Consegues andar até que não consegues aguentar mais,” diz, "e depois tu tens de sujeitar novamente à cirurgia." E mais uma vez, e outra vez...

 

"O problema que se coloca à Medicina hoje é que os actuais implantes só duram apenas cerca de 10 anos," explica o Dr. Frank Schowengerdt, um amigo de Bob e director do Center for Commercial Applications of Combustion in Space (CCACS) no Colorado School of Mines (CCACS é um Centro Espacial Comercial gerido pelo programa Space Product Development da NASA).  "Os cirurgiões cortam a velha articulação e colam uma nova," continua Schowengerdt. "O tempo, juntamente com o desgaste, fazem com que a cola se deteriore."


Bob recorda a sua própria experiência: "A cola enfraquecia e a articulação apertava o nervo. A dor era muita intensa."
 

Pôr um fim a este sofrimento é o que motiva Schowengerdt e o seu colega Dr. John Moore. Eles trabalham no CCACS para fazer ossos artificiais melhores a partir da cerâmica – implantes tão parecidos com a realidade que poderiam de facto confundir-se com osso de verdade. Tais implantes não se soltariam e não necessitariam de serem substituídos tão frequentemente.

 

Esquerda: Uma anca normal (esquerda) e um implante de uma anca artificial (direita). Aprenda mais acerca da cirurgia de substituição da anca em MEDLINEplus.

 

Actualmente, a maioria dos ossos artificiais são compostos de hidroxiapatite, que tem a mesma fórmula química que o próprio osso. A hidroxiapatite sintética, contudo, não é tão porosa nem tão forte como o osso real.

 

Os poros são importantes, diz Schowengerdt. Eles são condutas para o fluxo sanguíneo (o sangue é gerado na medula óssea) e permitem aos ossos serem fortes sem serem demasiado pesados. Os poros tão constituem um modo de o osso real se ligar permanentemente a um implante. "Se nós conseguirmos um bom crescimento ósseo nos poros de um implante, teremos ganho," diz Schowengerdt. Não importa que a cola enfraqueça 10 anos mais tarde.
 

Os investigadores também tentaram usar coral marinho como um substituto do osso. " É suficientemente poroso," diz Schowengerdt, "mas falta-lhe resistência. O coral marinho é usado maioritariamente para reconstrução craniana."

 

A solução, segundo Schowengerdt, é a cerâmica. Ele e Moore acreditam que é possível sintetizar materiais cerâmicos com a combinação certa de poros fortes e interligados para imitar o osso real. Na verdade eles desenvolveram um processo no seu laboratório no Colorado que parece promissor.
 

Direita: Os ossos naturais são porosos. Aprenda mais a partir da MEDLINEplus.

 

"Fazer ossos cerâmicos não é como fazer uma chávena de café de cerâmica," diz Schowengerdt. "O processo é completamente diferente." As cerâmicas vulgares são fabricadas a partir de pós misturados com um elemento de ligação. Elas são cozidas num forno a cerca de 1000 ºC que evapora o elemento de ligação  e deixa uma matriz granulosa mais forte que os pós originais. A fórmula química mantém-se inalterável. Ao contrário dos  fabricantes de chávenas de café, contudo "nós aquecemos a nossa cerâmica a uma temperatura muito mais alta, de tal forma que os pós reagem para formar novas substâncias."

 

Por exemplo, uma das cerâmicas mais promissoras começa com uma mistura pulverulenta de compostos de cálcio e fosfato. (CaO e P205). Schowengerdt e Moore aquecem a mistura a 2600 ºC.  CaO e P2O5 reagem para produzir fosfato de cálcio (II)  Ca3(PO4)2, uma substância bastante similar (em termos químicos) a um osso real. A reacção também produz calor e produtos secundários gasosos que naturalmente formam poros borbulhentos.

 

É um bom começo, diz Schowengerdt, mas ainda há mais a fazer. Para começar, os ossos reais são porosos (fracos) no interior e sólidos (fortes) no exterior. "O que nós fizemos é como o interior fraco do osso; mas ainda não tão forte como a camada exterior. Nós precisamos de aprender a controlar o nosso processo para imitar a estratificação dos ossos actuais."

 

Esquerda: O osso natural cresce nos poros de um implante protótipo de cerâmica.

 

"A sua técnica, chamada síntese de alta temperatura  auto-propagadora ou "SHS" é na verdade difícil de controlar. "Durante o processo de queima,   a cerâmica é fundida. Os gases sobem e os líquidos descem. Há muito movimento convectivo que torna a reacção imprevisível," diz Schowengerdt. "Para perceber este processo, nós precisamos realmente de efectuar as nossas experiências num ambiente de microgravidade e onde a convecção conduzida pela gravidade seja minimizada."

 

OS investigadores da CCACS têm colocado fornos a bordo do KC-135 da NASA – o "cometa vómito" – um avião que fornece breves períodos de microgravidade. Eles constataram diferenças dramáticas entre as cerâmicas preparadas num ambiente de gravidade normal (1g) e aquelas que são preparadas em voo. Por exemplo, a cerâmica de baixa gravidade tinha poros mais largos e melhor ligados.

 

Que sucedeu? Ninguém tem a certeza pois aqueles breves períodos de microgravidade não permitiram tempo suficiente para sondar e ajustar. É por isso que Schowengerdt e Moore estão com os olhos postos no mês de Março 2003, quando está agendada a instalação de um novo edifício de processamento de materiais designado "Space-DRUMStm" (um dispositivo que mantém a cerâmica fundida a flutuar sem movimento, usando ondas de som) na ISS. Por controlo remoto a partir da Terra e com o auxílio de astronautas, eles serão capazes de conduzir os seus testes num ambiente de baixa gravidade por muito mais tempo do que alguma vez que tenha sido feito.

 

Direita: Space-DRUMStm.

 

"Não pretendemos produzir ossos cerâmicos em massa na ISS, " nota Schowengerdt. "Seria demasiado caro. Mas se nós pudermos aprender mais acerca do papel da gravidade na formação dos poros, talvez possamos duplicar os nossos sucessos do espaço aqui na Terra."
 

Milhões de pessoas beneficiarão de menos cirurgias e menos sofrimento se esta investigação produzir substituições de ossos de cerâmica comercializáveis. Mas poderá haver um problema: que fazer com todos os implantes obsoletos? Bob Hayes tem uma resposta: "Fazem óptimos suportes de livros."
 

LINKS

 

Space Product Development  o objectivo do programa da Space Product Development (SPD) consiste em ajudar os negócios americanos a explorar os potenciais de fazer negócio no espaço.

Center for Commercial Applications of Combustion in Space  Commercial Space Center (CSC) patrocinado pela NASA no Colorado School of Mines em Golden, Colorado.

NASA Space Commercialization  aprenda mais acerca dos esforços da NASA para incrementar a utilização do espaço para investigação de produtos comerciais.

As estatísticas citadas nesta história foram compiladas pela  American Association of Orthopedic Surgeons.

Aprenda mais sobre  porous ceramics for bone replacement  (CCACS) e  glass ceramics  (CCACS).

Bionic Eyes  da Science@NASA. Utilizando tecnologia espacial, os cientistas desenvolveram fotocélulas de cerâmica extraordinárias que podem reparar problemas nos olhos humanos.

COMBUSTION SYNTHESIS OF POROUS CERAMICS ON SPACE-DRUMS  um resumo relativamente à síntese de cerâmicas porosas através de combustão.

 

 

 

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