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    61 CYGNI.  A estrela 61 Cygni é igualmente conhecida como a "estrela voadora" devido ao seu invulgar movimento próprio elevado. A autoria do nome "estrela voadora" deve-se a Giuseppe Piazzi (1746-1826) que tornou 61 Cygni famosa por alturas de 1792. A particularidade do movimento próprio da estrela deve-se parcialmente à distância curta ao planeta Terra, conjuntamente com uma elevada velocidade radial que atinge os fantásticos 61 km/s. De ressalvar que a estrela com o movimento próprio mais rápido da Galáxia é a estrela de Barnard (que curiosamente tem um nome similar ao do meu melhor amigo J ) localizada na constelação Ophiuchus; outro rival é a estrela Kapteyn que se desloca na direcção oposta à do Sol a uma velocidade espantosa rondando os 300 km/s. Afinal há aceleras por esse Universo fora! J Não é só na Ponte Vasco da Gama... ;)

 

61 Cygni (número de Flamsteed baseando-se na ordenação das estrelas por ordem crescente da ascensão recta) é ainda conhecida pelas seguintes designações menos utilizadas (como se trata de um sistema com duas componentes principais, incluirei as designações para cada uma das componentes com a componente de menor magnitude – mais brilhante – destacada em primeiro lugar): 61 Cygni A / 61 Cygni B; ADS 14636A / ADS 14636B (catálogo Aitken Double Star); BD+38 4343 / BD+38 4344 (Bonner Durchmusterung, catálogo de Bona que contém 457 847 estrelas entre as declinações +90º e -23º); HD 201091 / HD 201092 (catálogo de Henry Draper); HIP 104214 / HIP 104217 (catálogo HIPparcos);  HR 8085 / HR 8086 (catálogo da Harvard Revised); NSV 13543 / NSV 13546 (catálogo New Suspected Variable); SAO 70919 / SAO ? (catálogo da Smithsonian Astrophysical Observatory); TYC 3168-2800-1 / TYC 3168-2798-1 (catálogo TYCho); WDS 21069+3845B (catálogo de Washington Double Stars; existem outros catálogos de estrelas duplas e múltiplas como os de Robert Grant Aitken (1864-1951) [A ou ADS], Sherburne Wesley Burnham (1838-1921) [beta ou BDS], Paul Couteau (1923-?) [Cou], Robert Thorburn Innes (1862-1933) [SDS],  Friedrich Georg Wilhelm Struve (1793-1864) [sigma ou S], Otto Wilhelm von Struve (1819-1905) [O sigma ou OS], Friedrick August Theodor Winnecke (1835-1897) [WNC], Observatório de Córdoba [Cor ] entre outros).

As coordenadas equatoriais são para a ascensão recta de 21 h 6 min 54,6 s e declinação de +38° 44' 45" para o ano 2000.0 segundo o preciso catálogo FK5.

 

61 Cygni reveste-se de uma capital importância a nível histórico. Tem lugar de destaque pelo facto de ter sido a primeira vez que se determinou a distância entre uma estrela e a Terra. Friedrich Wilhelm Bessel (1784-1846), em Königsburg – Alemanha, no ano de 1838, conseguiu detectar a paralaxe anual estelar de 61 Cygni. Bessel mediu a paralaxe trigonométrica de 61 Cygni com o valor de 0,29" e calculou que a distância Terra-61 Cygni seria de 10,3 anos-luz a qual é inferior ao valor aceite actualmente. A medição de Bessel constituiu um lanço importante na medição de distâncias cósmicas. Curiosamente, pouco antes de Bessel determinar a paralaxe de 61 Cygni, Thomas Henderson (1798-1844), nativo da Escócia, observando em África do Sul, decidiu estudar a paralaxe da estrela alpha Centauri. Ao contrário de Bessel, o critério de escolha da estrela a ser estudada incidiu no brilho descartando o movimento próprio da estrela. Ironicamente, embora Henderson, na realidade, determinara a paralaxe de alpha Centauri antes de Bessel detectar a paralaxe estelar de 61 Cygni, Henderson não anunciou os seus resultados até regressar à Grã-Bretanha em 1839. Perdeu assim para Bessel uma entrada nas páginas da história... Uma breve analepse relativamente a um facto... de realçar que, em 1830, Friedrich Georg Wilhelm Struve (1793-1864) procedeu às primeiras medições da estrela como um sistema binário relativamente à separação e ângulo de posição do sistema.

 

A dupla de 5ª magnitude (integrada), pertencente à constelação Cygnus (Cisne), situa-se na parte central sul da constelação, próximo da estrela nu Cygni (para mim tem um significado especial que nunca esquecerei). 61 Cygni localiza-se a Sudeste de Sadr = gamma Cygni; a Este de M29 (mais precisamente a Nordeste, mas, para todos os efeitos, dada a quase idêntica ascensão recta, considera-se simplesmente a Este); a Nordeste de NGC 6960 (muito próximo de 52 Cygni) que corresponde à porção Oeste da Nebulosa do Véu.

A par de Albireo e de epsilon Lyrae, é das duplas mais ínclitas que se podem apreciar no céu com binóculo dada a sua bela tonalidade avermelhada. Embora o par de estrelas esteja mais próximo do que o famoso par de Albireo, a separação é bem mais fácil do que em Albireo, dado que a variação da magnitude das componentes de 61 Cygni é mais pequena em comparação a Albireo.

Entre as estrelas visíveis a olho nu trata-se da quinta estrela mais próxima da Terra (não contando o Sol). Conta-se entre a 14ª estrela mais próxima relativamente ao planeta azul. A dupla localiza-se a cerca de 11,4 anos-luz; assim, hodiernamente, a luz de 61 Cygni que nos atinge a retina terá sido emitida da estrela quando na Terra se iniciava a Guerra do Golfo em 1991... Para os mais curiosos, ficam a saber que a ordem de proximidade crescente das estrelas à Terra, exceptuando o Sol, é a que se segue: sistema triplo alpha Centauri; estrela de Barnard; Wolf 359; Lalande 21185; Sirius A e B; UV Ceti A e B; Ross 154; Ross 248; epsilon Eridani (orbitada por um planeta de 0,86 M Jup e com semi-eixo maior cerca de 3,3 UA); Lacaille 9352; Ross 128; sistema triplo EZ Aquarii; Procyon A e B. São dados actualizados que podem encontrar na RECONS - Research Consortium On Nearby Stars em http://joy.chara.gsu.edu/RECONS/TOP100.htm . Brevemente desenvolverei a crónica para todas as estrelas citadas anteriormente.

 

Aprofundando um pouco mais cada uma das componentes é possível destacar a primária como sendo uma anã vermelha da sequência principal com tipo espectral K3.5-5.0 Ve possuindo uma magnitude visual aparente de 5,22, e a companheira igualmente uma anã vermelha mas com tipo espectral K4.7-7.0 Ve com magnitude aparente visual de 6,04. Ambas são mais pálidas que o Sol. Foi detectada poeira em torno deste sistema binário. Pensa-se que as estrelas 61 Cygni A e 61 Cygni B possam ser mais velhas que o Sol uma vez que as estrelas não rodam rapidamente. Convém referir que tanto 61 Cygni A como 61 Cygni B são estrelas variáveis. A primeira encontra-se catalogada como V1083 Cygni.

O quadro não fica completo sem nos referirmos à separação entre as duas componentes visuais do sistema bem como ao seu ângulo de posição. Assim, no momento (ver adiante variação da separação entre os dois componentes considerando um intervalo de tempo longo), a separação é de 30,3'' ao passo que o seu ângulo de posição tem o valor de 150º.

O sistema binário em questão demonstra uma dinâmica muito interessante. Segundo o “Fourth Catalog of Orbits of Visual Binaries” de Worley and Heintz, 1983, são necessários 7 séculos (cerca de 722 anos) para completar uma revolução orbital! Trata-se de uma órbita altamente elíptica com uma excentricidade a equivaler os 0,40, cujas distâncias entre os componentes chegam a variar desde a mínima de 52 UA à máxima de 121 UA. Os componentes alcançaram a sua distância mínima, ou seja o periastro, em 1689. As estrelas encontram-se separadas por uma distância média de, aproximadamente, 86 UA, ou seja, 86 vezes a distância média Sol-Terra. Existem fontes que apresentam valores diferentes dos divulgados pelo catálogo de Worley e Heintz o que não deve constituir surpresa dada a complexidade da dinâmica de sistemas binários.

Houve indícios falsos para um terceiro componente de dimensões planetárias no sistema que foi designado por 61 Cygni C. Segundo o “The Bright Star Catalogue”, 5th Revised Edition (Preliminary Version)  de Hoffleit, 1991 existem ao todo 6 componentes no sistema em causa. E, conforme o Yale Bright Star Catalogue, 1991 5th Revised Edition sugere que possam pertencer três companheiros invisíveis para 61 Cygni, mas ainda não confirmado.

 

Relativamente a objectos próximos, pertencentes à constelação Cygnus, da estrela 61 Cygni destaca-se a proximidade de M29, da Nebulosa do Véu (remanescente de supernova) e Nebulosa Crescente = NGC 6888.

 


DADOS:

 

Nome(s): 61 Cygni; 61 Cygni A / 61 Cygni B; ADS 14636A / ADS 14636B; BD+38 4343 / BD+38 4344; HD 201091 / HD 201092; HIP 104214 / HIP 104217; HR 8085 / HR 8086; NSV 13543 / NSV 13546; SAO 70919; TYC 3168-2800-1 / TYC 3168-2798-1; WDS 21069+3845B

Constelação: Cygnus - Cisne - Swan - Schwan - Cygne – Cisne

Magnitude visual (integrada / aparente visual de cada uma das componentes): 5 /  5,22 (primária) ; 6,04  (companheira)

Cor: avermelhada - primária * avermelhada - companheira (binóculo / telescópio)

Tipo espectral (K - primária; K - companheira ) / Classe espectral (3,5-5 - primária; 4,7-7 - companheira)

Classe de luminosidade (Ve - primária; Ve - secundária) : K3,5-5 Ve - primária / B4,7-7 Ve - companheira
Distância: 11,4 anos-luz

Coordenadas equatoriais:

      Ascensão recta: 21 h 6 min 54,6 s

      Declinação: +38º 44' 45''

Índice de cor: +1,17 (primária); +1,23 (companheira)

Objectos próximos: Nada a assinalar que seja de relevância

Observações: Estrela dupla; suspeições que possam existir mais componentes, entre 3 a 4 companheiros invisíveis. A confirmar. Variabilidade existente em 61 Cygni A e 61 Cygni B.

 

 

 

 

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