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Observação 08/04/2003   21/01/2004   Observação 27/02/2004

 

 

 

 

    

     O maior desafio para um astrónomo amador é manter esta admiração pelos céus como se uma primeira vez se tratasse. Já observo o céu há uns 4 anos, no máximo, e o fascínio não tem medidas. Sou como os antepassados que olhavam sempre para o céu a tentar descortinar o que eram aquelas "chamas" tapadas por uma grande cobertura com buracos.

 

 

     Finalmente um céu digno para observar, com a minha estrelinha sossegadinha em casa, e lá aventurei sozinho nos arredores de Vila Flor (a que fica a poucos minutos do Pocinho e a sua barragem). Foi uma observação solitária com a abóbada celeste. Foi um sentimento incrível quando via as amendoeiras a rebentar as flores com toda a sua pujança sob a constelação imponente de Orion (Orionte) e mesmo de Canis Major (Cão Maior). Um céu florido de estrelas, enxames globulares, enxames abertos, galáxias. A qualidade do céu permitia ver perfeita e distintamente a cabeça de Leo (Leão), a normalmente pálida constelação Cancer (Caranguejo) parecia fulgir, Monoceros (Unicórnio) em grande apoteose, Mirfak (alfa Persei) envolto num belíssimo colar de estrelas, o caçador a mostrar entre os seus ombros e o seu cinturão mais de uma dezena de estrelas de brilho pálido (que raramente são vistas a olho nu). O companheiro da visita aos céus de Vila Flor... o fabuloso Proteus 8x56. Foi com ele que pude deslumbrar-me e rever, parcialmente, aquela imagem que tive em Pulo do Lobo quando o apontei para M93. A textura do céu deixava entrever uma miríade de pequenos pontos luminosos em torno do enxame aberto que mais parecia um enxame globular. M93 parecia as lágrimas (teardrops) que o Hubble vislumbrou na nebulosa de Orion. Um arrepio passou-me. Um arrepio de júbilo! :) E também um arrepio de frio dada as baixíssimas temperaturas (uma prova é que o tejadilho do carro numa questão de alguns minutos ficou todo esbranquiçado). Desde que o Homem inventou a linguagem que não existem línguas, palavras que descrevam o que senti quando, ao pôr de lado o binóculo, pude apreciar a abóbada a deslocar-se um pouco. ;) Pareceu-me realmente mover diante dos meus olhos. Fechei então os olhos e imaginei a Terra a girar com as suas dezenas de  milhares de quilometros, e o céu a parecer mover-se calmamente com todas as suas pérolas floridas. Dirigi depois o meu olhar para Norte (onde se podia ver a parte oriental da vila lá ao longe) e vi a Ursa Minor, e apesar da parca luz artificial, mesmo a estrela de magnitude 4,8 (eta Ursa Minoris - próximo de Pherkad) era perfeitamente visível. Do lado posto, bem longe destacavam-se as luzes do Pocinho que em nada incomodavam  o céu. De resto reinava o silêncio.  Júpiter e Saturno no binóculo mostram pouco da sua realeza. Mas vistos a olho nu, destacam-se sempre naquele fundo incendiado de estrelas. A rasgar o silêncio e a aparente estagnação celeste, surgiram da abóbada quatro estrelas cadentes. Duas a trespassar Perseus, um próximo da fronteira Monoceros-Orion e outro em Gemini.

 

 

     NGC 1647 foi outro alvo o qual fica próximo de Aldebaran seguindo para Norte desta.  A galáxia Redemoinho também foi visível no binóculo como uma mancha alongada e passaria despercebida a um observador pouco experiente. O enxame Canis Major M41 parecia tudo menos aberto, tal a profusão de estrelas que se podia discernir. O enxame aberto mais deslumbrante destes céus... M35. Enorme riqueza a ser apimentada pelo despercebido NGC 2158 logo a seus pés. O famosíssimo enxame duplo de Perseus NGC 884 + NGC 869 a ser seguido por uma linha curva de estrelas parando numa poça circular de pontos de luz - outro presente para o binóculo!

 

 

     Não houve um plano de observação, e orientei-me apenas por aquilo que já sabia de observações anteriores. A observação decorreu por volta da meia-noite terminando findos 45 minutos no dia 21 de Janeiro de 2004 do calendário juliano.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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