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Este texto é um apoio para quem começou agora a interessar-se por Astronomia.

Não pretende ser exaustivo (nem tal caberia neste espaço), mas é essencialmente uma orientação encaminhadora que se espera útil aos eventuais interessados.

Seja bem vindo ao grupo dos que gostam de observar o céu!  Há quem diga que as observações astronómicas são a contemplação da natureza na sua escala mais ampla. Procure ver qual das três fases seguintes corresponde ao seu caso.

 

     Está mesmo a começar na estaca zero? Não se preocupe, nem se sinta constrangido por isso. Pense que todas as pessoas já passaram por essa fase (no meu caso foi há 35 anos).

     Pode agora pensar na aquisição de um binóculo 7x50, se tem menos de 30 anos, ou um 10x50 se tiver mais idade. Não queira "saltar já" para o telescópio. A visão a olho nu cobre uma grande parte do céu ao mesmo tempo; o binóculo cobre-lhe o equivalente a uma bola de ténis segura na extremidade do seu braço estendido, que já é uma área celeste relativamente pequena. Com um livro que tenha mapas com a localização dos enxames de estrelas mais fáceis de observar, as nebulosas mais brilhantes, as duas galáxias mais óbvias e as estrelas duplas de separação mais óbvia, pode agora começar com o binóculo. Vá-se habituando às técnicas de observação e fale com as pessoas que estejam em fases mais adiantadas. Oriente-se pelas constelações que aprendeu a localizar na fase anterior, encontre estrelas quase ao lado dos objectos que quer observar, e "leve o binóculo" até esses objectos: pode fazê-lo com o binóculo seguro na mão, mas verá que é melhor se o apoiar, com o suporte apropriado, num tripé fotográfico. Pode observar também a Lua e Júpiter. Saturno não revela pormenores nestas condições.

     Chegou então o grande momento. Todas as pessoas, se forem persistentes, conseguem chegar à fase 3. Já acumulou pelo menos 55 horas de observação (olho nu e binóculo). Não largue o binóculo, que é e será sempre útil. Na melhor das hipóteses, o campo coberto por um telescópio comum corresponderá ao diâmetro de um grão de bico, visto à distância de um braço estendido. É por isso que o telescópio é de uso um pouco mais difícil que um binóculo, e requer mais "horas de céu" por parte do utilizador.

 


 

FASE  1.     Não vá logo a correr comprar um telescópio, nem sequer um binóculo. Nesta fase de iniciação esses instrumentos de observação de pouco lhe serviriam. Talvez dessem para ver a Lua e pouco mais. Procure, em vez disso, habituar-se a ver o céu a olho nu (para ter um grande campo visual), a conhecer as constelações, a identificar as estrelas mais brilhantes em cada uma dessas constelações.

Procure estar à vontade com o céu, habitue-se a reconhecer as constelações com diferentes orientações em relação ao horizonte (a nascer, na posição mais alta e no ocaso). Veja que constelações se vêem a Este antes do nascer do Sol, e a Oeste pouco depois do pôr do Sol. Veja como isso se modifica ao longo dos meses. Inscreva-se num grupo de Astronomia.

Mantenha-se nesta fase até ter acumulado umas 25 ou 30 horas de observação. Quando for capaz de localizar umas 25 constelações e identificar outras tantas estrelas pelos seus nomes, "apontando-as a dedo", está apto para a fase seguinte. Isto não é difícil, repito. Só tem de ser persistente e ir praticando com regularidade. Não pense que um telescópio resolve o problema de quem não conheça o céu.

 

FASE  2    Pratique bastante nesta fase até acumular umas 25 ou 30 horas de observação. Será agora a sua vez de dar apoio a quem se encontre na fase 1 (ou já se esqueceu de que também houve uma noite em que o(a) meu(minha) amigo(a) não sabia encontrar a estrela Polar, nem a Ursa Maior, nem o Leão ???)

Quando conseguir ver satélites em torno de Júpiter, quando for capaz de "apontar a dedo" e detectar com o binóculo (em céus medianamente escuros) os enxames abertos M 45, M 6, M 7 e M 44, as nebulosas M 42, M 8 e M 27, as galáxias M 31 e NGC 253, distinguir separadamente as estrelas duplas niu (ν) do Dragão, epsilon (ε) da Lira (vêem-se neste caso só duas componentes) e beta do Cisne, então, e só então, vale a pena passar ao telescópio. Não pense que está a perder tempo com estas fases preliminares. NÃO HÁ ATALHOS PARA CONHECER O CÉU! Quem pensa que tendo um telescópio pode tirar bom proveito dele sem esta "rodagem prévia" está enganado e irá ficar decepcionado com a utilização (?) prematura do telescópio. Acredite.

Os binóculos não são bons para observações planetárias, mas para enxames de estrelas, nebulosas e galáxias (que se vêem às dezenas num céu medianamente escuro), nas mãos de quem conheça o céu, são instrumentos com possibilidades espantosas: pense que um binóculo  como os anteriormente referidos, com objectivas de 50 mm de diâmetro capta tanta luz como 51 olhos em simultâneo. Há quem só use o olho nu e binóculos: não é obrigatório ter, para já, um telescópio.

 

FASE 3.     Não se deslumbre se lhe disserem que um telescópio de 60 mm de diâmetro amplifica ("aumenta") 400 vezes (com imagens que valham a pena). É tão verdade como um mini (ou um cinquecento) atingir 350 km/h (atingirá ... em queda livre ...). Um bom telescópio de 60 mm de diâmetro (cuja compra não é muito aconselhável) permitirá obter boas imagens com amplificações ("aumentos") até, digamos, 120 vezes, e não é em qualquer noite... Se quer ir para um telescópio refractor (luneta) escolha uma abertura superior a 70 mm.

Escolha um telescópio que não seja demasiado grande para o seu estilo de vida: não tenha "mais olhos que barriga". Não abuse da amplificação (é com 30 a 150 vezes que tem as melhores imagens). Um "primeiro telescópio" não deve ter mais de 200 mm de abertura. Mais vale um de 114 mm ou de 150 mm que possa usar com frequência do que um de 300 mm para o qual estará sempre a arranjar desculpas (peso, frio, incomodidade de transporte, etc.) para não o usar. Mantenha-se no binóculo até poder dispor de, pelo menos 500 €,  para o telescópio, ou então procure telescópios em segunda mão, pois o barato sai caro. Observe a Lua e os planetas, os enxames de estrelas, nebulosa, galáxias, à medida que o seu treino for aumentando. Se quiser pode voltar-se para a astrofotografia.

Arranje bons atlas e livros de apoio à observação. Parta à descoberta do céu: já sabe voar com as suas próprias asas... desfrute da vista !!!

 

Texto da autoria de GUILHERME DE ALMEIDA

 

 

Para saber mais veja a seguinte bibliografia:

Para a Fase 1

                         Roteiro do céu (Plátano Edições Técnicas, Lisboa)

                         Carta celeste (Gradiva Publicações, Lisboa)

 

Para a Fase 2

                         Introdução à Astronomia e às observações astronómicas (Plátano Edições Técnicas, Lisboa)

 

Para a Fase 3

                         Observar o céu profundo (Plátano Edições Técnicas, Lisboa)

                         Introdução à Astronomia e às observações astronómicas (Plátano Edições Técnicas, Lisboa)

                         Sky Atlas 2000 (Sky Publishing Corporation)

 

 

 

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© 2000-2007  'O céu na ponta dos dedos'  de  Jorge Almeida