O Universo é um laboratório gigantesco. Nele se processam experiências infinitas e aleatórias, cujos resultados provavelmente nunca serão completamente desvendados pela humanidade… é que não vamos existir tempo suficiente. Isso fascina-me, como me fascina todo o manancial de saber que os nossos ancestros desbravaram e de que somos herdeiros. Outros herdarão de nós…

A nossa importância como Homens tem vindo a diminuir com a evolução do conhecimento. Estranho destino, tão difícil de aceitar por muitos, ao longo dos tempos. No início, começámos por colocar pedras em locais específicos por forma a que se enquadrassem com o Sol ou com a Lua. Assim pudemos prever a chegada de uma nova estação podendo melhor gerir as nossas colheitas.

Desenhámos o Universo à medida dos nossos sentidos. Foi difícil pôr esse Universo aristotélico a funcionar. Para mal de todos nós, Aristóteles era mais influente que Aristarco, um atraso monumental na evolução do saber. Mais tarde foi necessário manter o Homem, a criatura eleita de Deus, no centro do Universo. As teorias aristotélicas, bem como o"malfadado" Almagesto de Ptolomeu, caíram como ouro sobre azul. Homens à frente do seu tempo foram vilipendiados, e alguns, mortos. Giordano Bruno, por ter a triste ideia de defender que a grandiosidade da obra de Deus não podia cingir-se a um só mundo habitado por seres inteligentes, foi parar à fogueira. Galileu, imagine-se, utilizou um instrumento óptico que aumentava, e descobriu que afinal alguns astros em torno de Júpiter se moviam. Porque não a Terra? Já Copérnico teve melhor sorte, e padrinhos que o protegeram, tendo sobrevivido à teoria heliocêntrica que desviou, por um pouquinho, o Homem do centro do Universo. 

O trabalho de meticulosas medições de Ticho Brahe permitiu a Kepler entender o movimento dos planetas em torno do Sol. Newton descreveu as forças envolvidas. Finalmente, a Terra estava em constante queda para o Sol, perdendo definitivamente a sua majestosa imobilidade.

A mecânica quântica e a teoria da relatividade bem como o desenvolvimento de técnicas laboratoriais tais como a espectroscopia e a fotometria vieram dar novo rumo à forma como entendemos o nosso Universo. Apercebemo-nos de que o Sol é meramente uma de muitas estrelas, juntas na Galáxia. Harlow Shapley empurrou o Sol para um local recôndito da Galáxia ao determinar as coordenadas do centro galáctico. E Hubble deu o golpe de misericórdia ao descobrir que para onde quer que se olhasse havia galáxias: a nossa era meramente uma entre tantas.

 

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Desde pequeno que gosto de olhar para o céu. Lembro-me com saudade dos crepúsculos  à ombreira da porta na companhia do meu avô materno, nos arredores de Grândola. Nessa altura o céu ainda estava despoluído de luz, pois a refinaria de Sines só existia no papel, e os autarcas ainda não tinham descoberto a má iluminação. Ainda hoje tenho por hábito gozar tranquilamente o anoitecer, descobrir as primeiras estrelas que se vão impondo ao azul celeste. É com muito prazer que amo o céu nocturno. E a esse amor dedico muito do meu tempo e recursos.

Infelizmente para muitos jovens de hoje, o céu nocturno está tão escondido pela má e excessiva iluminação, que acabam por ignorar a beleza natural a que devem a sua própria existência.

Devíamos todos ter por cultura olhar um pouco mais para cima.

 

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