Poluição Luminosa

Como qualquer outra forma de poluição, a poluição luminosa contribui para a degradação da qualidade de vida.

 

 

O céu faz parte da paisagem natural. Se nos desagrada ver um rio poluído, sentir os maus cheiros dos escapes dos automóveis, o excesso de ruído nas imediações dos aeroportos, porque é que tão poucos se preocupam com o excesso de luz que esconde a beleza do céu nocturno?

Zona de rho Ophiucci capturada no Observatório do Teide aquando da missão WR140. Se continuarmos a iluminar mal, imagens como estas não serão possíveis no futuro

 

Não são só os aspectos relacionados com a astronomia amadora ou com a estética paisagística que estão em risco! Na área científica, a poluição luminosa está a afectar a utilização dos observatórios astronómicos do hemisfério Norte. Alguns deles já estão impossibilitados de certas práticas, especialmente na fotometria.

Horizonte do Observatório do Calar Alto

 

Vejamos um exemplo prático da influência de um céu poluído no resultado de um espectro da estrela WR140 adquirido por cima do céu de Lisboa:

À esquerda a representação gráfica do espectro da direita

 

 A poluição (linha vertical da imagem à direita) é devida às lâmpadas de vapor de Mercúrio, e interfere com uma zona importante do espectro da estrela.

 

Alguns países já vão tendo em conta a protecção do céu nocturno. Por exemplo, a ilha de La Palma nas Canárias, onde se encontra o observatório do Roque de Los Muchachos, tem uma lei de protecção do céu. Nas imagens em baixo, vê-se bem o efeito desta lei, comparando a Gran Canária, onde a lei não é aplicada, com La Palma.

Gran Canária vista do Observatório do Teide

La Palma, ao fundo, vista do Observatório do Teide

 

A lei do céu obriga à utilização de lâmpadas de Sódio de baixa pressão na iluminação pública, embutidas em candeeiros por forma a que a luz seja projectada somente para baixo. A partir da meia-noite nenhuma outra fonte de iluminação é permitida, e a intensidade é reduzida para metade. Na imagem nocturna de La Palma nota-se à direita a iluminação amarela das lâmpadas de Sódio de baixa pressão na zona de San Andrés, Los Sauces e Orotava.

Exemplos bons, maus e péssimos de candeeiros de iluminação pública...

... E as respectivas consequências. Ambas as imagens foram obtidas com a mesma câmara regulada da mesma maneira. No céu de Garafia as estrelas estão visíveis

 

A iluminação pública serve para iluminar as vias durante o período nocturno. Para tal, os candeeiros devem projectar a luz para as ruas, e não para os olhos das pessoas nem para o céu. Obter o máximo de luz com o mínimo de electricidade deveria ser o objectivo de qualquer gestor camarário.

Com bons candeeiros, poupar-se-ia a electricidade que os maus desperdiçam a encandear as pessoas e a iluminar o céu. A Ciência, a Economia, a fauna e a flora, os astrónomos amadores, os amores, os poetas e os sonhadores e os eleitores e todos, mesmo todos,  só teríamos a ganhar.

 

Artigo do Guilherme de Almeida

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