Viagem astronómica na 1ª pessoa do singular (Por João Ventura)

Se não deseja ler o relato, veja as Fotos e as Considerações.

Sexta-Feira (16/08/2002)

Saindo de Palmela ás 15h com o material todo dentro do carro, segui rumo a Alcochete de modo a poder apanhar a N118 no que seria a minha segunda viagem por terras alentejanas no espaço de 3 semanas. Como já tinha feito uma viagem para Castelo de Vide no âmbito do 1º Astrovide pelo interior alto-alentejano, decidi arriscar um percurso a acompanhar o Tejo (N118), pensando eu que seriam estradas tão pouco concorridas como as do interior (zona de Ponte de Sôr). Resultado: Muito trânsito e muitos tractores com cargas de tomate até perto de Almeirim, onde de um momento para o outro desapareceram e viagem tornou-se bastante mais agradável. Como o calor alentejano já estava a apertar, fiz uma primeira paragem em Arripiado para beber qualquer coisita para aliviar. Voltei a me pôr a caminho de Nisa sem mais paragens, excepto a mais duas por motivos de aquecimento do motor do carro (já é velhinho!!). Em Nisa, e após perguntar ao habitantes o sítio, dirigi-me então para o Alto da Senhora da Graça, local da realização da edição de 2002 da Astrofesta e chegado lá por volta das 19h eram já visível a quantidade de pessoas e de tendas já montadas perto do recinto e eu pensado para mim que já se acabaram as sombras, mas vá lá, após tirar as pedras do chão (ou quase todas !!) lá arranjei um local em que a sombra batia grande parte do dia.

 

Arripiado "Aldeia a ver o Tejo"

Por volta da hora de jantar, o fumo de um incêndio que estava a deflagrar perto de Vila Velha de Rodão, quase que ameaçou o espectáculo que estava para haver durante a noite, mas por incrível que pareça, o próprio fumo tornou possível a observação da grande mancha 69 que andava pelo Sol e lá se dissipou durante a noite.

Após o pôr-do-sol as pessoas montaram os seus telescópios no recinto e os muitos visitantes que por lá passaram nessa noite puderam deliciar-se com tal festim de objectos proporcionados pelas noites alentejanas, sempre no meio de explicações, umas vezes mais técnicas, outras vezes menos, mas sempre dadas com gosto por parte dos participantes..

Sábado (17/08/2002)

Nestas coisas de campismo, o Sol é o despertador mais eficaz. O calor dentro das tendas torna-se insuportável, obrigando o campista a iniciar as suas actividades "pelo fresquinho da manhã". Ora como as palestras deste dia só estavam marcadas para as 3 da tarde, aproveitou-se para fazer um pouco de turismo pela vila de Nisa (Veja Fotos!). Após o almoço ainda aproveitei para ir dar uma volta á barragem de Póvoa e Meadas, local de realização das observações do 1º Astrovide. Aquilo parece que não mudou muito !!.

Telescópio Merak de 18". Espantoso o que se vê por aquilo.

 

Três da tarde, hora das palestras. Como estas, por tradição, não começaram a horas aproveitei para dar uma volta pelo recinto e ver os stands das principais marcas no que toca a revenda de material para telescópios. De facto observação astronômica é um desporto, de um modo geral, bastante caro.

Palestras

- Guilherme de Almeida: Poluição Luminosa

Com um assunto que nos toca a todos e que de facto não tende a melhorar, Guilherme de Almeida conseguiu cativar o público e através de alguns conselhos, tentou e conseguiu motivar o público, mais concretamente quem de facto ressente-se com o problema, para a procura de soluções que passam maioritariamente pela não agressão e por encontrar soluções conjuntamente com as empresas ou Câmaras Municipais detentoras do serviço de iluminação exterior..

- Pedro Ré: Astrofotografia

Com uma apresentação que foi um pouco "deja vú" para os participantes no 1º Astrovide, Pedro Ré voltou a falar de alguns tópicos importantes para o triunfo na astrofotografia, mostrando que este de facto não é tão díficil como parece, sendo até bastante acessível (pena que não em termos monetários).

 

- Não fixei o nome: Software Educativo

De facto a apresentação, como o orador dizia, não correu bem. Acredito que duas pessoas, uma a mexer no PC, outra a falar, tornasse a apresentação bastante melhor. Tratou-se da apresentação de um novo software criado pela A.P.A.A. (Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores) com o intuito de o levar ás escolas como auxiliar nas apresentações. Sem querer entrar em grandes termos técnicos e muito menos menosprezar o trabalho que com toda a certeza os criadores do software tiveram, tenho de admitir que este está um pouco menos bom; não em termos de ideias, mas um pouco no conteúdo e visualmente. Aproveito para informar os programadores que existe uma ferramenta bastante melhor que o Microsoft PowerPoint para a criação de software interactivo. Esta chama-se Macromedia Director, julgo que seja freeware e, de facto na criação de conteúdos interactivos é bastante mais poderoso.

- Rui (Docente da FCL - UL): Enxames Globulares

De vez em quando a sede de conhecimento é tanta que palestras curtas tornam-se grandes por imposição não do orador, mas do público. Uma palestra algo técnica, mas bastante interessante, e que prova que um pouco de física também faz falta ao astrônomo amador.

- José Matos: Era Uma Vez o Espaço

Mais uma espectacular palestra de um espectacular orador. Em meia-hora uma passagem pela história dos últimos 50 anos do que melhor e pior se fez em exploração espacial.

- José Matos: Improvisos na parede da Igreja

Foi uma sucessão de coíncidências: O projector, o PC com o Deep Space Explorer, o próprio orador e público, tudo no mesmo local. Ingredientes mais que suficiente para uma visita pela nossa galáxia e vizinhas numa nave espacial aos comandos de José Matos.

 

A noite de Sábado foi bastante agradável, e de um modo geral bastante positiva. Muito público, ora a espreitar neste telescópio, ora a espreitar no telescópio do vizinho, colocando questões e ouvindo pacientemente as respostas. Ponto positivo para o workshop na tenda do Museu da Ciência e para a sessão de céu em directo (e asteróide) proporcionada pela câmara do Rui Tripa.

Domingo (18/08/2002)

 

 

 

Toca a acordar!!

Estacionamento. Pode-se ver pelos carros espalhados como esteve na noite anterior.

 

Nova alvorada devido ao Sol. As gentes a desmontar as barracas para se porem a caminho de suas casas. Alguns resistentes ao calor e á luz do Sol ainda se mantêm dentro de suas tendas num sono mais que profundo (bela noitada!). Ainda houve tempo para fazer um pouco de turismo pelo Alentejo até chegar a casa.

 

Algumas considerações:

Lua: Causou alguma poluição luminosa, mas de facto é um astro belo e talvez um dos objectos mais requisitados pelo público. Pôs-se por volta das três da madrugada deixando ainda muita noite escura para os amantes de céu profundo. Sugestão: Altura em que a Lua se ponha só um pouco mais cedo, talvez á meia-noite.

Palestras: Não começaram ás horas que estavam marcadas (se sequer estavam), mas bastante boas. Provavelmente muito técnicas para os visitantes não astrônomos amadores, e talvez pouco técnicas para os próprios astrônomos amadores. É bastante difícil conjungar as duas coisas e agradar a Gregos e a Troianos.

Local: Bastante bom em termos astronômicos. A inclinação do local é bastante chata, mas nada que um bom par de músculos das pernas não subam. Havia acesso a viaturas até lá a cima, mas não era caminho para camiões. Sugestão: Quem teve dificuldade em colocar lá em cima aparelhos grandes, devido á confusão de pessoas, etc, deveriam ter colocado os mesmos durante a tarde enquanto esteve tudo mais calmo, e tendo até ajuda se fosse necessária.

Duração: Talvez a Astrofesta seja curta para algumas pessoas. Sugestão: Pode ser que qualquer dia apanhe um feriado e se possa alargar para mais um dia (com palestras e actividades em geral).

Poluição Luminosa: Acima de tudo era uma festa. Acho que se suporta bem um flash ou outro, quer seja para recordação de um visitante ou para uma reportagem num jornal local. Não se esqueçam que os maiores objectivos da Astrofesta são divulgar a Astronomia e divulgar-se a ela própria. Sugestão: Quem ficar incomodado com a luz não vá para a Astrofesta e sim para o local que costuma ir.

Ambiente: Mesmo sendo um planeta muito ínfimo á escala cósmica, é a nossa casa, e temos de ter respeito para com a mãe natureza que nos dá o ar que respiramos e a vida que comemos. Ficou muito lixo no local, e, se continuar assim, qualquer dia a palavra astrômomo amador passa a ser sinônimo de "porco". Sugestão: Entidade Organizadora deve prestar atenção a este pormenor. Por exemplo, se não houver baldes do lixo no local, o que aconteceu lá em cima junto á Igreja, deve interceder junto da Câmara local para que seja colocado alguma coisa temporária e a própria entidade organizadora pode fazer uma espécie de mini campanha ambiental mesmo no local. Fica sempre bem.

Turismo: Há sempre alguém que gosta de fazer turismo e saber algumas coisas sobre o local para onde se desloca. Sugestão: Divulgação de informação sobre turismo, nem que sejam links para outras páginas.

Organização em geral: Esteve bastante boa em geral. Esteve menos boa na divulgação das condições que nos esperavam no local, tais como locais para acampar, sanitários, palestras que iriam decorrer, ou seja, todo o processo anterior á própria Astrofesta foi fraco. Sugestão: Mais informação divulgada nas listas ou na própria página da entidade organizadora (Museu da Ciência - U.L.) e com alguma antecedência, com algumas fotos do local (tiradas por quem vai ver o local!). Não se esqueçam dos campistas que é que ficam a guardar o local.

 

Para o ano há mais ... Até lá, Boas Observações!

 

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