Astronomia e Astrofotografia
por Luís Ramalho
 

 

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A Astrofotografia é como ler História ou estudar Genealogia. Estamos também a olhar para o passado. Quando recebemos nas nossas câmaras os escassos fotões de luz temos conhecimento de informação histórica. Partiram há muito -para certos objectos como galáxias, há já milhões de anos- e trazem-nos uma imagem congelada no tempo dos objectos que os emitiram. A Astrofotografia é, de facto, uma viagem ao passado. Até mesmo quando imagiamos um corpo do nosso "quintal" planetário, quer seja cometa, asteróide ou planeta, estamos a fotografar o passado. Não deixa, por isso, de ser fascinante fotografar o céu.

Não nos parece, contudo, uma actividade fácil, mas também não é inacessível. A evolução tecnológica dos últimos anos tem permitido ao amador a realização de imagens e estudos que apenas há vinte anos só estava ao alcance dos grandes observatórios. Fotografar o céu profundo (objectos para lá do nosso sistema solar, tais como galáxias e nebulosas), apresenta requisitos diferentes da fotografia planetária, da Lua ou do Sol. Nesta última, o factor "turbulência atmosférica" é determinante para se conseguir uma boa imagem. É um tipo de fotografia que normalmente se faz em resolução muito elevada e apenas as noites mais estáveis permitem as melhores imagens.

Para fotografar o céu profundo, para além de uma boa estabilidade, é necessário uma boa transparência porque só esta permite registar os objectos de sinal mais débil. Ao contrário da fotografia planetária, onde normalmente o sinal recebido é bem superior ao ruído, a relação sinal/ruído é inferior nas imagens do céu profundo. Processar este tipo de imagens é muitas vezes difícil. O sinal que se pretende evidenciar pode estar "submerso" em ruído espúrio. Este ruído pode ser o resultante da electrónica da câmara, de um céu muito luminoso, de nuvens altas, de baixa transparência, etc. Enfim, o importante em cada etapa do processamento é tentar salvaguardar ou ampliar o sinal dos objectos, mantendo controlado a níveis razoáveis o ruído de fundo.

É, pois, importante utilizar câmaras CCD de baixo ruído, de alta sensibilidade, principalmente no espectro visível e, de preferência, refrigeradas. O arrefecimento do CCD, ao diminuir o ruído electrónico, permite registar objectos mais débeis, cujo sinal está pouco acima do sinal de fundo do céu. As ópticas dos telescópios, por sua vez, devem ser de boa qualidade, isentas de aberrações e de abertura generosa. A abertura permite a resolução, mas os preços sobem exponencialmente em sua função se pretendermos manter uma qualidade de excelência. Muitas vezes é necessário abdicarmos da abertura para mantermos a qualidade. Usamos para céu profundo telescópios de 3 polegadas quando deveríamos utilizar telescópios de 10 ou 12 polegadas, porque estes apresentam preços incomportáveis quando são de muito boa qualidade.

Por fim, mas não menos importante, a montagem onde está instalado o telescópio deve permitir um seguimento irrepreensível do movimento da esfera celeste, caso contrário não será possível realizar exposições de longa duração e manter a pontualidade dos objectos estelares. Para além do equipamento, antes do mais, é conveniente programar cada sessão de observação. É necessário saber quais os objectos celestes visíveis na época e dia da observação e respectivas horas do nascimento, culminação e ocaso. A culminação, momento em que o objecto atinge a sua altura máxima, deve ser aproveitada porque aí a luz do objecto atravessará a mínima massa de ar. Quanto menor esta for, menor será a extinção do sinal provocada pela atmosfera. E a Lua? A sua luminosidade irá interferir com a sessão de observação?

Também a poluição luminosa crescente e desregrada dificulta cada vez mais a observação do céu profundo. É extremamente importante a consciencialização de que as gerações vindouras devem também poder usufruir do prazer de observar o céu. Quanto mais não seja -e já não é pouco- porque iluminar o céu é inútil e constitui desperdício de recursos naturais.

Muito haveria ainda para dizer, mas não queremos terminar sem uma palavra de incentivo. Compreender o céu é compreendermo-nos. Somos formados do pó das estrelas. Observar as estrelas é contemplar a nossa origem, mas também o nosso futuro. E qual é a actividade que pode ser mais gratificante?

Luís Ramalho 2004