Boletim do Grupo de trabalho Sol

União de Astronomia e Astrofísica

 

Pesquisa solar em Portugal

 

OUTUBRO 2003

 

Altos e baixos fora da época?

 

Há tantas décadas que o Sol está a ser diariamente observado em pormenor e mesmo assim, as incógnitas sobre o que o Sol irá fazer no próximo momento continuam tão presentes como nos tempos de Scheiner e Galileu. Apesar do sofisticado equipamento terrestre e espacial de rastreio, abrangendo todo o espectro electromagnético, continuamos longe de poder dizer o que origina de facto um dado fenómeno, seja este de curta ou de longa duração.

 

Nestas incógnitas podemos incluir também o próprio ciclo da actividade solar, cuja duração média de 11 anos (visual) ou de 22 anos (magnético) proporciona períodos totalmente fora do previsto.

Como reportado no mês passado, as previsões do desenvolvimento indicavam uma descida gradual contínua do número R. O mesmo se aplica evidentemente a área total do Sol coberta por manchas. Porém, na última semana do mês de Outubro todos os barómetros da actividade solar tiveram que ser reajustados para poderem acompanhar uma evolução fortemente inesperada.

 

Após dois meses de fraca actividade, as perspectivas apontavam para a proximidade do primeiro dia sem quaisquer manchas, o que se confirmou no dia 14 na estação 1 (as outras estações não observaram neste dia). Por ventura, começando com o dia 18, apareceu por rotação uma região activa bastante extensa e invulgar. Desde então o Sol revelou uma actividade frenética. No dia 23 entrou mais um grupo de grande porte, outro nasceu nas suas proximidades, e um número de pequenas regiões activas novas circundou estes.

 

As duas regiões activas principais rapidamente cresceram e ocuparam as posições no topo da lista dos maiores grupos do ciclo 23 em curso, e apenas por pouco não conseguiram ultrapassar a região activa NOAA 9393 do Abril 2001 em pleno máximo solar.

 

Sabemos, que o ciclo solar não é perfeitamente linear. Ou seja, o gráfico da evolução não avança directamente até o máximo e desce de seguida, sem demora, para o mínimo. É conhecido, que certos ciclos apresentam dois máximos, na média com 8 a 20 meses de distância. Com números R na ordem dos 160 ao longo de quase 2 semanas, será que estamos a presenciar uma subida para um segundo máximo?

 

figura 1 O Sol no início e no fim do mês

Fotografias de Luís Carreira

De facto, ainda é prematuro exprimir qualquer veredicto. Se bem que a actividade era frenética e muito mais acentuada do que durante o próprio máximo, é mais provável que se trata de um pequeno deslize, embora de grande porte, como um espirro único. Não sabemos o que fez o Sol entrar em tanta convulsão, mas podemos considerar, que as próximas semanas ditam se haverá alguma retoma da actividade, ou se voltamos para a rotina normal.

 

Simultaneamente com este aumento da actividade na fotosfera, verificaram-se também grandes perturbações na cromosfera.  Todas as principais regiões eram fonte de várias flares da mais elevada intensidade, acompanhados por erupções de massa coronal em grande escala. Felizmente nenhum desses eventos apontou directamente para a Terra, embora os efeitos da sua passagem de raspão, causaram mesmo assim uma enorme actividade de auroras, visíveis até latitudes raramente visitados por estes fenómenos (p.ex. Sul da França, Grécia) e danificaram alguns satélites em orbita.

 

 

Evoluções e tamanhos

O primeiro grupo de relevo do mês NOAA 10484 entrou por rotação no dia 18 e demonstrou uma frenética actividade de crescimento interior, como mostra a sequência de imagens obtidos entre os dias 19 até 26.

figura 2: NOAA10484 nos dias 19, 22,23, 25 e 26 de Outubro

Fotos Luís Carreia

 

 

Recordistas para frente

Outubro colocou os três grupos principais no topo do ranking das maiores manchas do ciclo actual

figura 3: Extensão máxima das principais regiões activas do mês

Foto Luís Carreira

 

 

 

Actividade Solar

OUTUBRO 2003

Número Wolf

 

Dia

Norte

Sul

Disco

Dia

Norte

Sul

Disco

1

---

---

76

17

23

12

37

2

11

68

84

18

---

---

---

3

---

---

54

19

27

11

37

4

0

45

51

20

31

12

43

5

0

33

46

21

29

27

65

6

0

42

40

22

21

26

57

7

0

39

43

23

23

25

61

8

0

42

54

24

23

15

38

9

11

43

53

25

---

---

70

10

0

36

40

26

24

55

92

11

---

---

---

27

39

46

85

12

0

12

18

28

59

82

152

13

0

12

12

29

58

84

142

14

0

0

0

30

32

76

108

15

---

---

---

31

32

76

108

16

12

12

25

Média

18

37

60

 

 

 

 

 

 

 

 

Observações: 46 em 2 estações

 

 

 

 

 

 

 

Actividade solar em Outubro 2003

O mês começou ainda com a região activa principal e mais marcante do mês anterior visível na face solar. Este grupo de manchas começou entrar em declínio e se desfez quase por completo antes de atingir o limbo oeste. Desde o dia 11 mal havia alguma mancha visível, sendo os dias 14 e 15 marcados por um Sol em branco (UAA) ou praticamente sem manchas (SIDC). Resumindo, as primeiras 3 semanas do mês eram bastante fracas, bem ao sabor do que se podia esperar.

No dia 18 entrou na face solar um grupo de manchas com uma extensão bastante notável. Foi preciso deixar passar uns 2 dias para que esta região activa (NOAA 0484) mostrar a sua plena extensão, sem uma exagerada distorção do limbo (efeito Wilson-Schuele). Simultaneamente o grupo aumentou de tamanho e de complexidade, principalmente no que respeita a área coberta por umbraes.

 

5 dias após o aparecimento do grupo 0484 entrou mais um grupo de grande porte na face solar, mostrando sinais claras de um forte crescimento. No dia 26 para 27 na mesma região longitudinal, se bem noutro hemisfério, nasceu mais um grupo de grande extensão NOAA 0486 com claras evidências de ser um grupo novo (manchas pequenas) mas com muito potencial (bi-polaridade torcida) Num prazo de 12 horas este segundo grupo NOAA 0488 cresceu freneticamente atingindo a sua maior extensão em menos de 24 horas após o seu nascimento.

Entretanto, NOAA 0486 continuava aumentar o seu tamanho e extensão contabilizando sob grandes amplificações um número de manchas individuais na ordem dos 230.

Toda a região afecta por estes dois grupos ainda produziu alguns grupos novos em seu redor, enquanto a primeira região de relevo 0484 se manteve estável até atingir o limbo.

 

NOAA 0486 transformou-se no segundo grupo maior de todo o ciclo, praticamente logo seguido pelos outros dois mais proeminentes do mês.

O número R mensal abrangeu desde 0 até quase 150 (SIDC: 13 até 167), ou seja, quase toda a gama abrangido pelo ciclo inteiro.

 

Manchas a olho nu

Efectivamente Outubro foi o mês mais rico em manchas visíveis a olho nu, batendo o recorde dos últimos 24 meses tanto em número de dias (dia 19 até 31) como em quantidade. Entre os dias 26 e 28 (manhã) foi possível observar 3 manchas enormes na face solar usando apenas um filtro simples.

 

Sol a olho nu com filtro ThousandOaks D5

24 de Outubro

Foto Grom D.Matthies

 

 

 

Evolução comparativa internacional do número Wolf

OUTUBRO 2003

Dia

UAA

SIDC

Dia

UAA

SIDC

1

76

76

17

---

30

2

84

68

18

37

41

3

54

62

19

43

41

4

51

49

20

65

47

5

46

57

21

57

59

6

40

41

22

61

58

7

43

41

23

38

61

8

54

43

24

70

75

9

53

47

25

92

88

10

40

45

26

85

89

11

---

41

27

152

133

12

18

25

28

142

165

13

12

13

29

108

167

14

0

13

30

108

167

15

---

13

31

---

160

16

25

19

Média

60,0

65,6

 

 

Outros resultados podem ser acedidos via net http://astrosurf.com/uaa/Workgrps/Sol/id420_01.htm

Este boletim é elaborado e distribuído pela União de Astronomia e Astrofísica

Os dados internacionais foram disponibilizados pelo Solar Influence Data Center/Bélgica.

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