11/01/2003
Local: Atalaia
(Alcochete). Num campo ermo.
Data: 11 de Janeiro de
2003 a 12 de Janeiro de 2003
Hora: 21 h 00 min - 03 h
15 min UT
Magnitude zenital: Não
verificado.
Condições luminosas: A par
da poluição luminosa natural "gentilmente"
cedida pela Lua com a sua fase de quarto
crescente, contava-se ainda com a ajuda
"amigável" da poluição luminosa da zona da
Grande Lisboa.
Condições atmosféricas:
Antoniadi II. Céu transparente e estável.
Boas condições, mas não excepcionais.
Condições locais:
Obstrução do horizonte para Sudeste.
Temperatura: -4 ºC. Foi
das poucas observações cujas temperaturas
eram do tipo árctico. ;)
Equipamento:
Telescópio
dobsoniano com montagem altazimutal
(simplificada) da Astro f/5 de 8" (200 mm =
20 cm) com Quickfinder; ocular Nagler 31 mm
da Televue; ocular Nagler 12 mm da Televue; ocular
Panoptic 22 mm da Televue; ocular Powermate
2,5x associada com a Nagler 12 mm e com a
Panoptic 22 mm; filtro O III da Lumicon que
foi usada na Nagler 12 mm e na Panoptic 22
mm; Sky
Atlas 2000.0 de Wil Tirion e Roger W.
Sinnott; lanterna LED Dual beam da Orion;
cadeira.
Técnicas utilizadas:
Visão lateral, método de localização " de
estrela em estrela" – as habituais.
Segue então o relato
do encontro da Atalaia que decorreu no dia
11-12 de Janeiro de 2003 entre as 21 h 00
min UT (altura em que já me encontrava no
dito local só com a companhia do céu) do dia
11 Janeiro até às 03 h 15 min UT do dia 12 de
Janeiro de 2003 será algo extenso onde irei
mesclar sentimentos, observações e
comentários. Contudo, espero que possam
tirar algum partido da leitura deste relato.
Se houver algo que me tenha escapado
agradecia que informassem sobre o eventual
esquecimento/engano. E muito me apreciaria
conhecer as vossas críticas a este relato
para melhorar os próximos que virão.
Cheguei, vi e DELIREI! :) Ao contrário
do famoso Júlio César que após a batalha do
Ponto, revelou: Veni, vidi et vinci.
Cheguei, vi e venci! Pois bem, eu não
venci. Rendi-me ao céu. Delirei com o céu.
Entreguei-me ao céu! O céu é o grande
conquistador. O céu já acompanha o Homem
desde o seu aparecimento. Ao olhar para o
terreno ermo imaginei como seria a expressão
dos antigos nómadas, nossos antepassados
ancestrais, ao inclinarem as suas cabeças
curiosas para o céu. Certamente que o veriam
como algo de reconfortador, algo de
grandioso, algo de inatingível! Visto por
esse prisma, há uma verdade intrínseca a esse
mesmo sentimento. Eu partilho, em parte
desse sentimento aparte o inatingível! Pois
apesar de nos ter encantado, não nos tira a
ânsia e atrevimento para o alcançarmos. Para
alcançarmos o conhecimento que ele encerra.
O céu lembra-nos o pequeno que somos.
Lembra-nos a nossa pequenez. Ensina-nos a
sermos humildes. O céu conquista-nos. E o
céu nessa noite conquistou as dezenas de
pessoas presentes no encontro da Atalaia.
Tudo numa azáfama para preparar os seus
instrumentos de amplificação :) , preparar
forças para fazer frente ao frio quase
árctico que atingia o local - nem o frio
demove a nossa paixão pelo céu! - e preparar
posições para iniciar a observação. E aqui
parte o relato para a sua história que
encerra muitas coisas curiosas.
Na noite em questão, iniciei a observação só
com a companhia do céu. A pouco e pouco
foram aparecendo as pessoas que iam depois
observando o céu. A certa altura, surgiu uma
enorme fila de carros. Eu pensava para mim
próprio: "Tantos malucos :) que vêm naqueles
carros para se juntarem à minha loucura pelo
céu :) ! E ainda bem! Companhias destas são
sempre bem-vindas!". Após a sua chegada,
estive a maior parte do tempo, ou, pelo
menos, uma boa parte do tempo com o amigo
Alberto Fernando a observar em especial as
nebulosas planetárias e as galáxias,
intervalando com as magníficas imagens
monitorizadas em tempo real a cargo do amigo
José Ribeiro (usando um Meade LXD 55
acoplando uma câmara Mintron ligada a um
monitor). Um verdadeiro espectáculo de
Astronomia. Eu e o Paulo Guedes assistíamos
abismados olhando para aquele pequeno écran,
em cima de uma simples mesa, que quase
parecia raquítico a mostrar as belezas
universais. OH! amigos, e ver no monitor a
galáxia do olho negro = NGC 4826 = Black Eye
Galaxy em tempo real? E ver a nebulosa
Esquimó = NGC 2392 com um detalhe
irrepreensível? E ver a tão conhecida
nebulosa de Orion? Ou o espectacular enxame
globular M3 (não tanto como o de omega
Centauri)? Ou o que parecia ser a galáxia
NGC 891 (?) que é vista de perfil na qual se
via a faixa de absorção da galáxia? Era
cinema ao vivo! Como muito bem diz o amigo
Paulo Guedes. Aqui e acolá podíamos ver dois
Melow, um Takahashi, e os telescópios mais
comuns: os dobsonianos. Pois bem, amigos foi
este o instrumento de amplificação que nos
transportou e nos permitiu apreciar as
galáxias e as nebulosas planetárias. Outras
ilhas cósmicas que nos esperavam há uns
milhares ou milhões de anos agora que a sua
"antiga" luz nos chega (ou mesmo centenas de
anos) - as galáxias. E a beleza estonteante
da etapa final de uma estrela (de uma das
possíveis etapas.) - as nebulosas
planetárias. Meus amigos deixem mostrar-vos
aqui o fascínio que sentimos pelas galáxias
e nebulosas planetárias!
Antes das pessoas chegarem, apontei o meu dobsoniano
8" (que só foi usado apenas antes das
pessoas terem chegado ao campo) para a Lua e
não tinha reparado ATÉ ENTÃO num pequeno
pormenor que sobressaiu na observação
dessa noite. Quando olhava para o limbo da
Lua não deixava despercebido a aberração
cromática (as oculares que possuo são de
qualidade dúbia) na qual se verificava a
existência de uma ligeira espessura de um
belo tom azulado. Foi uma imagem muito
curiosa pois causou-me impressão tal
artefacto. A Lua com um céu azul a alegrar o
seu negro cinzento. Afinal a Lua era azul no
seu céu... na imaginação. Apontei também o dobsoniano 8" para Júpiter e inclusive fiz um
desenho muito simples do disco jupiteriano.
Depois, a certa altura pus-me a olhar a olho
nu para as estrelas e fixei-me numa delas em
particular: Almaaz. Uma estrela
perfeitamente visível a olho nu na bela
constelação AURIGA (cocheiro) e da qual,
pelo menos, se sabe que é a maior estrela
conhecida na Via Láctea. É mais do que um
monstro estelar! Sentei-me na cadeira,
reclinei-me e olhei para a estrela. Aquele
pequeno ponto de luz era a maior estrela da
Via Láctea! E estava a vê-la! Causou-me
estranheza. Como seria estar num planeta a
circundar aquele monstro estelar?? E algo
mais se deu no interior da minha pessoa.
Sentia oprimido por tentar imaginar em vão o
quão realmente seria o verdadeiro tamanho
dela. Não se afigurava satisfatoriamente uma
resposta à questão e duvido que alguém tenha
a resposta a essa questão. E entrava em cena
o Ulisses Martins a perguntar o que EU
estava a ver... expliquei-lhe: "Estou a ver
a maior estrela da Via Láctea." ;) E também
lhe apontei no Sky Atlas 2000.0 para VV
Cephei, a título de curiosidade, uma vez que
era a "senhora" que se seguia em termos de
dimensões. Rapidamente também olhei para
Sadr e niu Cygni... a relembrar episódios de
observações anteriores. E a sessão foi
prolongando. Deixei o meu dobsoniano 8" e comecei a
travar diálogos com as pessoas presentes e
a, seu tempo, fiquei a fazer companhia com o
amigo Alberto Fernando à procura das
nebulosas planetárias e galáxias
intervalando com algumas pausas.
O sentimento de pertencer ao céu também
certamente era, no encontro, e é partilhado
por todos nós. Talvez essa seja uma das
razões pelas quais nos faz mover para estes
encontros. É como que se nos sentíssemos
hipnotizados pela "magia" do céu. E assim lá
seguimos à descoberta do céu.
Os instrumentos usados por mim e Alberto
Fernando foram:
Telescópio dobsoniano com montagem
altazimutal (simplificada) da Astro f/5 de
8" (200 mm = 20 cm) com Quickfinder; ocular
Nagler 31 mm
da Televue; ocular Nagler
12 mm da Televue; ocular Panoptic 22 mm da
Televue; ocular Powermate 2,5x associada
com a Nagler 12 mm e com a Panoptic 22 mm;
filtro O III da Lumicon que foi usada na
Nagler 12 mm e na Panoptic 22 mm. Grandes
oculares e filtro irrepreensível! Com este
material e com o forte desejo de conhecermos
mais o céu pudemos ver inúmeros objectos
muitos dos quais para mim terão sido os
primeiros.
Vou discriminar os objectos na sua
totalidade que foram observados nesta
sessão: M35 = NGC 2168; M41 = NGC 2287;
M42 = NGC 1976; M43 = NGC 1982;
enxame do presépio = M44 = NGC 2632; M46 = NGC 2437;
M53 = NGC 5024; M65 = NGC 3623; M66 = NGC
3624; M68 = NGC 4590; galáxia de
Bode = M81 = NGC 3031; galáxia
do cigarro = M82 = NGC 3034; M95 = NGC 3351; M96 = NGC
3368; nebulosa do mocho = M97 = NGC
3587
(vista sem e com filtro O III, e com
diferentes oculares); M105 = NGC 3379;
duplo enxame de Perseus = NGC
869 / NGC 884; NGC
2022 (entre Betelgeuse e Meissa mais próximo
desta última); NGC 3628; tentativa de ver
NGC 7789 = enxame fantasma sem sucesso;
teta Tauri 1 e teta Tauri 2 como teste à boa
visão; a quádrupla sigma Orionis; a quinta
componente do Trapézio. A estrela da noite
para mim foi a nebulosa planetária NGC 2438
que está localizada em M46. E enquanto EU
estava a observar as imagens captadas pela
câmara Mintron, o amigo Alberto Fernando
esteve a ver
M63, M94,
M106, NGC 4214, NGC 4490, NGC 4449 e NGC
4631.
Gostaria de ter explorado a zona das
galáxias da Virgo! Fica para uma próxima.
Houve mais alguns objectos que vi mas não me
recordo cabalmente de todos, mas, no seu
essencial, julgo que os referi a todos.
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