26/10/2002
Aproveitei o dia 26 de Outubro de 2002
pelas 23 h 00 min UT durante uma hora
para observar o céu. Desta vez as
"estrelas" da noite que passearam,
desfilaram perante os meus olhos foram as
longínquas galáxias e as tristemente
egrégias nebulosas planetárias - símbolo
da morte lenta de uma estrela no fim da
sua vida. No findar da sua vida tenta a
todo o custo mostrar todo o seu esplendor.
E assim as estrelas (caso tenham uma massa
similar à do Sol) quase ao findar a sua
vida razoavelmente longa (para os padrões
das estrelas conhecidas da Galáxia) "vê"
as suas camadas mais exteriores expelirem
a uma velocidade espantosa pelo espaço
deixando espaço apenas a um núcleo de uma
estrela já raquítica que apenas os
telescópios de maior abertura ou a mente
descortinam o seu brilho mortiço.
Desta vez não incluirei os dados com os
quais costumo iniciar o relato. O relato é
o que se segue:
No dia de 26 Outubro 2002, apontei o
telescópio na direcção das constelações
Andromeda, Taurus, Aquarius e Sculptor.
Constelações nas quais existem galáxias e
nebulosas planetárias de grande interesse
para o observador do céu.
Esta observação foi frutífera no que
respeita à adição de novos objectos que
fiquei a conhecer. O que mais me
impressionou foram as nebulosas
planetárias.
Um dos objectos que vi pela primeira vez
no dob 8" terá sido a Pequena Bola de
Neve = Bola de Neve Azul = NGC 7662 = PK
106-17.1 a qual se encontra a uma
distância cerca de 4000 anos-luz
projectada na constelação da mirífica
Andromeda. Trata-se de uma nebulosa
planetária muito fácil de localizar. Está
próxima de 13 Andromedae (a qual está
junto a iota Andromedae). Entre esta e 10
Andromedae, mais a pender para 13
Andromedae encontramos NGC 7662. Forma um
curioso quadrilátero com estrelas de
magnitudes 8 e 10. Visto com buscador 9x50
tem aparência estelar, mas quando passamos
para a ocular Plössl 25 mm é perfeitamente
distinguível uma forma não pontual e um
círculo esbranquiçado. A cor azul, que
constitui parte do nome da nebulosa, é
muito esbatida. Também consegui ver uma
outra nebulosa planetária muito
interessante. A nebulosa de Saturno =
ARO 16 = PK 37-34.1 = PNG 037.7-34.5 na
constelação Aquarius. Com o buscador 9x50,
é muito fácil a sua localização dado que
existem relativamente poucas estrelas nas
suas proximidades e pelo facto de se
encontrar perto de nu Aquarii que é
visível a olho nu com magnitude 4,5. Visto
no dobsoniano 8" com ocular 25 mm, nota-se uma
forma oblata e sem contorno bem definido.
Destaca-se perfeitamente das estrelas pela
sua natureza não pontual. É um objecto
curioso na medida em que a visão directa
da nebulosa e o uso de visão lateral
proporcionam, ao que me pareceu, vistas
diferentes. Nota-se melhor a cor
ligeiramente esverdeada característica
desta nebulosa se usarmos a visão
directa. Em contrapartida a visão lateral
proporciona uma melhor visão das pálidas
extensões que partem do centro da
nebulosa. Relativamente à magnitude visual
integrada pauta-se pelos 8,3. Enquanto a
nebulosa Saturno mede cerca de 36" em
diâmetro, o seu halo estende-se cerca de
100", segundo o Sky Catalogue 2000.0.
Saibam que a nebulosa Saturno foi uma das
primeiras descobertas, a 7 de Setembro de
1782, do grande William Herschel
(1738-1882) - o responsável pela
descoberta do planeta Urano - quando ele
começou a sua grande exploração ao céu.
Mas foi Lord Rosse quem designou a
nebulosa. Segundo Admiral Smyth, a
nebulosa Saturno era um dos nove
"Raros Objectos Celestiais" do conhecido
astrónomo Struve (o homem das duplas!).
Por curiosidade a sua estrela raquítica é
razoavelmente brilhante (para os padrões
de uma estrela a morrer...) com magnitude
11,5. Relativamente à sua distância
reveste-se de muitas dúvidas. Por exemplo,
Hynes dá um valor de 2400 anos-luz, o Sky
Catalogue 2000.0 cerca de 2900 anos-luz e
Burnham adopta a estimativa de O' Dell de
3900 anos-luz. Não há que surpreender a
disparidade dos valores. É normal quando
nos aventuramos na determinação das
distâncias cósmicas aos objectos do céu
profundo. A par destes
novos objectos, observei pela primeira vez
NGC 752 = OCL 363 que também se
revela de muito fácil localização. É um
enxame de estrelas disperso e pude contar
mais de 80 estrelas com magnitudes
compreendidas entre 9 a 10. Ocupa quase
todo o campo da ocular Plössl de 25
mm. Basta alinharmos as estrelas beta e
gama Trianguli em direcção ao Norte e
percorrer uma distância angular cerca de
3,5º . A luz do enxame demora a chegar cá
à Terra por volta de 1500 anos...
Os olhos também passaram vista pela
galáxia de Escultor (Sculptor) = NGC
253 = PGC 2789 = ESO
474-29 = MCG -4-3-9 = UGCA 13,
que é uma galáxia da qual se vê quase de
perfil. É fácil de encontrar a partir de
beta Ceti = Deneb Kaitos. A Sul desta
estrela encontraremos dois triângulos de
estrelas quase equiláteros. No triângulo
que está mais a Sul, NGC 253 define com
essas três estrelas um quadrilátero um
pouco estranho... :) Mas lá está a galáxia
de Escultor que se encontra a uma distância de 10
milhões de anos-luz. Nem sequer andávamos
aqui atrás de mamutes quando a luz se fez
em direcção ao pequeno ponto azul....
Vê-se perfeitamente uma mancha esbatida no buscador 9x50. Mostra na ocular 25 mm um
diferencial de luz no objecto. Mais
brilhante no centro esbatendo-se
rapidamente junto à periferia. A ver
novamente em céus mais escuros!
Observei outros objectos como
M15 = NGC 7078; galáxia
de Andrómeda (Andromeda) =
M31 = NGC 224; M32 =
NGC 221; galáxia do Triângulo = M33 = NGC
598
(em
céus como este, apesar da localização de
M33 ser difícil, é muito fácil vê-la no
buscador 9x50);
M34 = NGC 1039; M110 = NGC
205.
As famosas Plêiades = M45 e
Híades = Melotte 25 da constelação
Taurus também foram alvo de observação. E
ainda um enxame de estrelas próximo de
Aldebaran conhecido como NGC 1647
com magitude 6,4. Estrelas contabilizadas
na ordem das dezenas.
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