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O Hubble e os outros

Meus amigos, ninguém neste Mundo, ao qual chamamos Terra. Uns 600kms acima das nossas cabeças, anda uma lata do tamanho de um pequeno autocarro, com uns espelhos lá dentro e mais umas câmaras e uns detectores. Chama-se HST e já nos deslumbrou a todos inúmeras vezes. HST para Hubble Space Telescope.

Mas como (quase) tudo na vida, o Hubble não dura sempre, o que é pena. Existe neste momento quem defenda que se deve organizar e implementar uma missão do Space Shuttle de serviço ao Hubble, já que as baterias estão a aproximar-se do limite da sua vida útil entre outras intervenções que o telescópio espacial necessita. Outros defendem uma missão robótica, mais arriscada em termos tecnológicos mas menos arriscada em termos humanos e também mais barata que uma missão humana do Shuttle, para efectuar esses arranjos. Esta solução tem à partida 1 problema, que é o tempo necessário para a concepção e implementação de uma missão destas, poder ser maior que o disponível para a sua execução. Há ainda quem afirme que a NASA deve é implementar uma missão robótica que tire o Hubble de órbita de forma segura, já que as alternativas implicam riscos ou custos muito elevados. Eu, venho expor aqui nesta crónica as minhas ideias relativamente a este assunto, que valem o que valem. J

O Hubble desde que subiu para a órbita da Terra, só nos tem dado excelentes resultados, principalmente desde a primeira missão de assistência onde lhe foi corrigida a visão. Desde aí só chegaram grandes e poderosas imagens de galáxias, estrelas, planetas, enxames, nebulosas. As maravilhas e os segredos do Cosmos foram-nos transmitidos de uma forma e qualidade sem precedentes até aqui. O Hubble já fez muito pela Humanidade e poderá fazer mais, mas será que compensa? Será que vale os custos da reparação ou os riscos de uma tripulação humana para a intervenção? Talvez sim, talvez não...

Hoje em dia, com o estado actual da tecnologia, os telescópios terrestres são capazes de imagens do mesmo nível das obtidas pelo Hubble. As ópticas adaptativas que compensam as oscilações e distorções da atmosfera, os detectores cada vez mais sensíveis e apurados, as capacidades informáticas de análise e tratamento das imagens em conjunção com os maiores espelhos que se conhecem (ver os casos dos observatórios Keck no Havai, do VLT no Chile ou do LBT no Arizona) têm proporcionado cada vez mais e melhores imagens do Cosmos a partir do chão, aqui na Terra. Estão programados ou em fase de estudo conceitos para telescópios terrestres, coisas com espelhos de 20, 30, 50 metros e até de 100 (!) metros de diâmetro (o OWL - OverWhelmingly Large Telescope ) podemos esperar ainda melhores imagens no futuro não muito distante.

Ora com todas estas inovações tecnológicas e o avançar da tecnologia proporcionando-nos ainda mais e melhores instrumentos de observação aqui no chão, começa a ponderar-se se faz ou não sentido ter um telescópio espacial, lá em cima, que é sempre mais dispendioso e critico em termos de manutenção (basta lembrar que o Hubble quase foi um desastre, já que só dois anos depois do início do seu trabalho foi corrigido o problema de “visão” que ele tinha), com as especificações do Hubble (espelho primário de 2.4 metros de diâmetro). O que quero dizer com isto é que se calhar, já não faz muito sentido manter o Hubble lá em cima, podendo direccionar as verbas necessárias para uma intervenção no Hubble para colocar outro instrumento em órbita, para continuar o trabalho do Hubble, nos mesmo comprimentos de onda, mas com maior capacidade, ou seja, com um espelho maior, digamos na ordem dos 4 ou 5 metros.

Já se sabe que irá ser lançado para o espaço um instrumento com um espelho, segmentado, de cerca de 6.5 metros, o James Webb Space Telescope , mas irá operar de modo optimizado no comprimento de onda do infra-vermelho. Ora com um espelho de 6.5 metros, longe da atmosfera terrestre, o JWST poderá fazer um fantástico trabalho durante a sua missão que, à partida terá a duração de entre 5 a 10 anos. A missão terá obrigatoriamente de decorrer sem falhas de qualquer espécie, pois devido onde vai ficar colocado (ficará colocado em órbita da Terra no ponto L2, a cerca de 1.5 milhões de quilómetros da Terra) dificilmente se poderá intervir no instrumento de modo a aumentar a sua vida útil ou a corrigir eventuais falhas. Por estas razões, o JWST não nos poderá deslumbrar com imagens nem com ciência feita nos comprimentos de onde da luz visível, onde o HST tanto se notabilizou. Seria de pensar, penso eu, em colocar em órbita um verdadeiro substituto do HST, com o tal espelho na ordem dos 4 - 5 metros, para continuar onde o HST vai parar. Mas é só a minha opinião e não faço ideia se o retorno científico poderia ou não ser o suficiente para justificar os custos de uma missão deste género.

Pessoalmente gostaria muito de ver um “novo Hubble” a enviar fotos e ciência para a Terra, com outras capacidades, superiores às do Hubble. Não quero com isto dizer que se deve abandonar o JWST. Não. O JWST deve ser lançado e deverá ser utilizado intensivamente até ao último segundo da sua vida, já que os seus objectivos são realmente muito importantes, mas em conjunto com o JWST, gostaria de ver um novo observatório da luz visível no espaço, se calhar também no ponto L2 ou algum outro ponto especial da órbita da Terra, mais longe da sua influência para imagens verdadeiramente espectaculares.

E mais ou menos isto que eu penso acerca dos telescópios espaciais e do Hubble. No entanto, o que é importante é que se continue a explorar e a fazer ciência. Todo o dinheiro gasto em ciência (medicinas incluídas) é bem gasto e é dinheiro quase sempre com retorno, o que é fantástico. Pode não ser retorno financeiro, mas os resultados são sempre excelentes, quando se faz ciência ao mais alto nível e com empenho.

 
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