A Takahashi P2-Z é uma pequena montagem equatorial manual, que pode ser opcionalmente motorizada em ascensão recta (A.R) com o motor HD-5. O sobrenome é "Super Eclipse Mount", denotando que foi concebida para boa portabilidade, visto os eclipses raramente acontecerem nos nossos locais habituais de observação.
Segundo este link , esta montagem teve a sua primeira aparição em 1979, sendo a corrente a 3ª geração ( as anteriores gerações foram a P-2 (1971) e P-2S), sendo a montagem aqui descrita do ano 1994. Pertence à família de montagens pré-EM (Electric Movement), que foram desenhadas pelo fundador da Takahashi, da qual são membros a Space Boy e a montagem referência Takahashi NJP (New Jumbo Polaris). Desta última parafuso o sem fim de declinação é utilizado na P2-Z, isto para além da evidente parecença, sendo por tal uma das montagem da "velha" escola.
Montagem:
Motor A.R (HD-5):
A P2-Z é um montagem equatorial básica. Tem manípulos para movimento manual preciso dos eixos de declinação e ascensão recta, e ajustes (através de parafusos) em altitude e azimute para ajuste fino do alinhamento polar.
É constituída apenas por três peças: a cabeça, o veio de contrapesos e a base de tripé. O motor HD-5, apesar de ser montagem externa, não necessita de ser desmontado, ficando geralmente permanentemente instalado na cabeça da montagem. O mesmo acontece com o adaptador de tripés que fica sempre com as pernas montadas. Após duas enroscadelas, basta apenas adicionar o(s) contrapeso(s) e os instrumentos pretendidos.
O motor de ascensão recta HD-5 é um motor de alta precisão que pode ser opcionalmente montado nas montagens da mesma família (Space Boy e JP-90, a NJP-160 usa outros). Tratando-se um motor externo que engrena numa roda dentada do eixo de ascensão recta. Existe a opinião que motores e rodas dentadas externas não são muito aconselháveis em ambientes agrestes, mas tal não me parece realmente ser um problema e até lhe dá um grande "look"" retro-tecnológico. A energia necessária pode ser proveniente do pequeno estojo de 4 pilhas D que asseguram mais de 20 horas de trabalho contínuo. Com uma bateria gel de 7ah proporciona energia suficiente para semanas de utilização.
A cor é do típico verde pastel Takahashi a contrastar com cromados e anodizados, sendo os materiais utilizados e acabamentos para além de qualquer repreensão. O design é (para mim) elegantemente clássico, dando a sensação de ser uma máquina construída para durar uma vida. Neste momento está confortavelmente alojada numa caixa Pelican 1550.
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Nenhum comentário sobre uma montagem com algumas pretensões astrofotográficas ficaria completo sem uma análise da sua mais importante característica mecânica. O teste foi efectuado numa estrela perto do equador celeste que transitou o meridiano. A amostragem foi de 1.1 segundos de arco.
O erro periódico oscila confortavelmente no intervalo de +-5 segundos de arco da especificação do fabricante, com o bónus de longos períodos de +-4 segundos de arco ou mais correctamente 8 segundos de arco. Arrisco num período entre picos efectivo de entre 4-5 minutos. É algo estranho pois teoricamente deveria ser 10 minutos (86164 s/144 dentes).
Apesar da falta de argumentos modernos, estes são bem compensados por argumentos "antigos" que cada vez mais são preteridos pelos fabricantes, tais como parafusos sem fim e engrenagens de alta qualidade em vez de delegar a precisão para as correcções electrónicas. A própria Takahashi também já relaxou os seus padrões, com as séries mais recentes de montagens pequenas e médias (da EM-2 à EM-200) já a apresentar valores entre +/-7" e +/-10", mas que de resto são facilmente "auto guiados".
Não tenho conhecimento de alguma montagem deste tamanho com erro periódico desta classe (+/- 4"), porque cada vez mais este tipo de performance está reservada a montagens de excepção que em regra são bastante maiores e diversas vezes mais caras. A P2-Z é pequena, mas tem o "coração" das grandes montagens, não passando vergonha nenhuma quando comparada com qualquer montagem de qualidade no que diz respeito a performance puramente mecânica. Este facto conjuntamente com um bom alinhamento, de certa forma podem dispensar o PEC e auto-guiamento para resoluções de imagem à volta da de 2"-3" e com alguns minutos de exposição - julgo que pouco mais se pode exigir a um sistema completamente mecânico, e de resto mais que suficiente para as funções que pretendo empreender no momento.
Para não variar, e tal como todas as montagens Takahashi, esta também não possui PEC (Periodic Error Correction) embora as mais modernas já tenham opção para go-to. Infelizmente (ou se calhar felizmente) não é o caso da P2-Z, que só pode ter um motor de ascensão recta, portanto sem poder motorizar (pelo menos oficialmente) o eixo da declinação. Isto de certo modo valida a razão de também não possuir também uma porta de auto-guiamento.
Este texto é baseado nas impressões após um ano de utilização mais ou menos intensiva no campo, onde estão incluídas dúzias de montagens, desmontagens e alinhamentos totalizando provavelmente mais de 100 horas de utilização efectiva, tempo que julgo suficiente para ter uma opinião bem formada.
Apenas são necessários 5 minutos para montar e alinhar com precisão suficiente para imagem CCD de céu profundo até 2" de resolução. Em utilização visual equivale a ficar horas com uma estrela centrada sem praticamente sem se mover.
A maneira de como alinhamento é efectuado não podia ser mais encantadoramente simples. Basta saber a longitude do local, horas certas e utilizando o buscador polar iluminado (de intensidade variável que é útil para poder isolar a estrela polar em céus escuros) e uma calculadora, colocando a estrela polar na sua hora ângulo. Devido ao facto de ser necessário calcular a hora sideral local (cálculo algo demorado se feito à mão), existe uma conveniente aplicação (compatível com todos os sistemas operativos) que emula exactamente o retículo deste buscador, bastando colocar a polar exactamente na posição do retículo (clicar na imagem para executar). Outra alternativa é usar por exemplo um planetário ou folha de cálculo num computador de mão.
Uma característica importante é a de não haver obrigatoriedade do tripé estar nivelado, facto que poupa algum tempo. Isto é conseguido porque a montagem possui um nível de bolha sobre o eixo equatorial, podendo assim nivelar a própria cabeça independentemente da inclinação da base do tripé. Uma solução tão simples como engenhosa e uma grande mais valia no campo. É conveniente proceder-se o alinhamento já com contrapesos e instrumentos montados, para prevenir qualquer oscilação provocada pelo peso adicional, especialmente em terrenos não sejam muito sólidos. De notar que o conjunto completo de montagem, telescópio e acessórios (fora o tripé) pode chegar perto dos 15 kg. A caixa utilizada para transporte e armazenamento é uma Pelikan 1550.
A sua utilização é muito simples: depois de estar devidamente alinhada, destrava-se os eixos, aponta-se o telescópio para o alvo pretendido, trava-se os eixos, observa-se ou faz-se imagem e, se necessário ajusta-se com os controlos manuais (no caso de ajuste manual em A.R. é preciso desengrenar o motor) e engrena-se o motor bastando apenas encostar uma roda dentada a outra.
A utilização dos círculos graduados é possível, mas devido ao seu tamanho e escala, não permite alcançar grande precisão de apontamento, apesar de normalmente o objecto da busca ficar dentro de um campo de visão de 1°. Ver aqui como usar os círculos graduados.
É conveniente verificar pelo menos uma vez se a bolha de nível se encontra bem alinhada com o retículo do buscador polar. Este procedimento é muito simples só deverá ser necessário ser feito pelo uma vez, ou se por algum motivo o anel do nível se soltar.
O telescópio habitualmente utilizado é um refrator Takahashi Sky-90 da mesma marca, que completo com a ocular, diagonal e outros acessórios totaliza uma carga um pouco inferior a 5 kg. Pessoalmente não colocaria muito mais que este peso sobre a montagem, embora já a tenha carregado com mais 2 ou 3 kg sem aparentar ter representado um grande esforço, mas o movimento já se sentia algo pesado, especialmente no eixo de declinação. Com cargas desta importância e com magnificações que usualmente variam entre as 20x-250x a montagem comporta-se muito bem, sendo em regra de utilização bastante suave e precisa. Para grandes magnificação (>200x) embora aceitável, é aconselhável baixar as pernas do tripé para aumentar a solidez do conjunto (eu uso as Takahashi FC-M e também adaptei o Berlebach UNI 18). A precisão de acompanhamento é mais do que suficiente para manter durante horas qualquer alvo no campo da ocular a grande magnificação.
Em astrofotografia CCD é possível fazer, sem praticamente haver nenhuma perda em exposições superiores a 2 minutos de resolução de 3" ou inferior, e isto usando apenas o alinhamento rápido acima descrito. A performance depende também da posição do tubo e equilíbrio da montagem, podendo ser superior ou inferior a 2 minutos. De qualquer modo, já proporcionam tempos de exposição que podem ser considerados decentes. Alguns exemplos de imagens podem ser vistos aqui e em geral espalhadas por todo o Pátio.
Um pormenor menos bom de utilização é de não ser possível fazer ajustes manuais em A.R. quando o motor está engrenado - existem duas hipóteses: desengrenar o motor e arriscar a perder o objecto do campo do CCD e então poder usar o manípulo de ajuste manual ou, centrar o objecto com a estonteante velocidade de 2x sideral com o comando do motor que para além dessa velocidade ainda possui outra : parado ;). Fora esta dificuldade que por vezes pode fazer perder algum tempo (e por vezes o alvo), não existe realmente mais nada a apontar.
Outra limitação, é não ter outras velocidades de acompanhamento, por exemplo, o lunar que daria para seguir melhor um eclipse lunar, ou então o seguimento de um cometa. Embora útil, não seria suficiente pois seria também necessário corrigir em declinação, o que requereria um (micro) computador para implementar correctamente este acompanhamento, assim como dois motores.
Por estas razões, esta montagem não servirá para todos. Por exemplo, para quem pretenda fazer astrofotografia autoguiada ou para quem não tenha tempo ou paciência para encontrar os objectos manualmente. Em especial na astrofotografia, a capacidade go-to tem a dupla função de se apontar rapidamente para o alvo e evitar a refocagem cada vez que se muda de objecto, poupando só nestes dois aspectos muito do por vezes escasso e valioso tempo.
Considero o design, portabilidade, simplicidade, fiabilidade, precisão e robustez desta montagem exemplar.
Fazendo uma analogia com um relógio, seria certamente equivalente a um cronómetro de calibre suíço de corda manual, em que não interessa ter que dar a corda de dois em dois dias, ou que seja menos preciso que um relógio de quartz de 25 €. Interessa sim, o prazer de "dar à corda" e saber que se pode contar com a precisão de uma pequena obra de arte da mecânica. E o preço, tal como de um cronómetro suíço mecânico torna-se irrelevante. (mas para quem tiver curiosidade pode ver aqui)
Luís Carreira, Março de 2005