2000

Janeiro Julho
Pátio 3 Pátio 9
Pátio 4 - Noite do Eclipse Lunar Pátio 10
Pátio 5 Setembro
Fevereiro Astrofesta 2000
Pátio 6 Pátio 11
Junho Pátio 12
Pátio 7 Outubro
Ponto Novo I - Meia-maratona de Messier Pátio 13 - Júpiter e Saturno
Pátio 8 Pátio 14
Novembro
Pátio 15
Ponto Novo II - Leonidas
Pátio 16
Dezembro
Pátio 17

Pátio 3

2000.01.03
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
9:00-12:00 UTC
Poluição luminosa e fumo de lareira.. acho que vai ser assim o resto do Inverno
Meade ETX 90EC com Autostar
TeleVue Panoptic 19mm, TeleVue Nagler 7mm, Meade Plossl 4000 15mm e Barlow 2x #126

O ETX demorou um bom bocado a ambientar-se. Esta últimas noites, embora sem nuvens, não me pareceram muito estáveis. A diagonal estava cheia de humidade (daquela peganhenta) e dei uma limpeza logo no local.

Nesta sessão estive principalmente a fazer comparações da Nagler 7 com Meade 15mm+Barlow, de modo a que pudesse posteriormente, fazer uma análise o mais completa possível na página de Equipamento, mas mesmo assim ainda deu para ver novos objectos. Dei primeiro uma voltinha pelos planetas (Júpiter e Saturno (vi a Cassini e a sombra dos anéis)), especialmente para comparações.

Messier 41 (mag. 4.5)

Enxame aberto muito espaçado em Cão Maior, contei pelo menos 50 estrelas, (das 150). Mais um messier no papo :-) .

Messier 35 (mag. 5.1)

Outro enxame aberto mas em Gémeos, que enche a ocular (1 ocular). Neste tive a paciência de contar pelo menos 100 * (das de cerca 200).

Messier 78 (mag. 8)

Nebulosa brilhante com forma de cometa (?). Embora não tenha conseguido observar essa forma, deu para conseguir ver 2 estrelas muito ténues, rodeadas de uma ligeira nebulosidade. A rever em melhores condições.

Messier 34 (mag. 5.2)

Mais outro enxame aberto em Perseu, com combinações aos pares de estrelas, por sua vez arranjadas de uma forma invulgar.

NGC 1647 (mag. 6.4) H 55

Enxame aberto (aliás, bem aberto) em Touro. Sem grandes notas, mas deu para picar mais um na lista de herschel 400.

NGC 1528 (mag. 6.4) H 52

Enxame aberto em Perseu. Mais outro herschel 400.


Pátio 4 - Noite do Eclipse Lunar

2000.01.21
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
01:00-04:00 UTC
Poluição luminosa
Meade ETX 90EC com Autostar. TeleVue Panoptic 19mm. câmara fotográfica Sigma SA-300,
acoplada no ETX com Adaptador Básico de câmara da Meade
com a Super Plossl 15mm lá dentro (projecção de ocular)

Foi com este arranjo que fiz aquela "obra d'arte" da página de entrada :). Fiquei pasmado com o acompanhamento do ETX da Lua com toda esta tralha montada no telescópio, seguramente mais de meio quilo. Apenas foram necessários alguns ajustamentos, por causa da vibração causada a tentar tirar fotografias. De resto esteve cerca de três horas a funcionar corretamente.

Esta foi a minha primeira experiência com fotografia e telescópios e também na observação de um eclipse lunar através do telescópio. Gastei um resto de rolo de 24 fotografias de 400 ASA (Kodak) que não era a velocidade indicada, pois ficou bastante granulada. A imagem do "Mosaico" foi criada com fotografias tiradas um hora antes do eclipse. O tempo de exposição foi dado pelo sensor da máquina, e pelos vistos resultou.

Fotografias do eclipse propriamente dito foram todas de vela, pois, para poder fotografar a lua toda tive de mudar a ocular 15mm para a de 26mm que é maior. Não reparei que a ocular impedia que o espelho da máquina baixasse completamente, portanto apenas apanhou reflexos da imagem. Bem, fica para a próxima....

Já agora, o T-RING para as SLR SIGMA é de montagem PENTAX-K. Eu comprei o meu sem grande certeza (e tive sorte), pois não se encontra NENHUMA informação em lado nenhum da NET, nem sequer os diversos vendedores que contactei sabiam. O que é pena, pois a Sigma SA-300 até tem características bastante interessantes para a astrofotografia : é leve, tem mirror-lock e comando por infra-vermelho.


Pátio 5

2000.01.29
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
10:00-12:00 UTC
Poluição luminosa qb
Meade ETX 90EC com Autostar. TeleVue Panoptic 19mm

Neste momento o Autostar, está com a versão de software 2.0g (quarta actualização, bugs resolvidos e outros adicionados). O controlo dos motores parece fiável e com um "feel" diferente, mas para melhor. O acompanhamento dos planetas está um pouco acelerado no início, mas depois vai ao sítio.

Messier 47 (mag. 4.4)

Enxame aberto em Popa (Puppis) com pouca estrelas a preencher sensivelmente metade da ocular (1 grau).

Messier 46 (mag. 6.1)

Outro enxame quase junto ao anterior, mas um bocado mais denso e mais estrelas.

Messier 50 (mag. 5.9)

Este enxame está localizado em Unicórnio (Monoceros), pequeno e com estrelas de magnitude muito baixa , conseguia-se em certos momentos observar muitas estrelas.

Messier 44 (mag. 3.1)

Também chamado "Presépio". Enxame aberto em Caranguejo (Cancer) que rivaliza com as Plêiades. Não cabia todo na ocular (1 grau). Observei também com o binóculo (já cabia :) ). A voltar para ver se consigo ver os cerca de duzentos membros deste ....

Messier 48 (mag. 5.8)

Mais outro enxame aberto em Hidra (Hydra) que enche a ocular. bonito.

Também dei uma passagem pelos três enxames em Cocheiro (Auriga) Messier 36, Messier 37 e Messier 38, mas já estavam muito diluídos pela P.L de Leiria.

NGC 2392 (mag. 8.6) H 97 C35

Nebulosa planetária em Gémeos (Gemini) também conhecida por "Esquimó", e deve ser popular, pois está em dois catálogos :). Esta nebulosa é de dimensões bastante reduzidas. Pode facilmente passar despercebida ao passar por ela de relance, mas felizmente consegue-se localizar bem, porque tem um estrela de magnitude 9.5 no seu centro e uma estrela companheira de magnitude 8 a 100" de distância. No ETX, nota-se que é uma estrela que não se consegue focar como as que a rodeia, com uma ligeira auréola. A rever num céu em condições.

NGC 2301 (mag. 6.5) H 84

Enxame aberto em Unicórnio (Monoceros) com uma configuração peculiar (linear Norte- Sul).


Pátio 6

2000.02.12
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
8:00-10:00 UTC
Poluição luminosa qb
Meade ETX 90EC com Autostar, TeleVue Panoptic 19mm

A noite não esteve para grandes observações.

Messier 67 (mag. 6.9)

Enxame aberto em Caranguejo. No ETX muito ténue, mas pareceu-me bastante grande (meio grau). Este enxame segundo o Skymap Pro 6.0, é constituído por 500 estrelas até 16 de magnitude.

alfa Ursae Minoris - Polaris (mag. 1.97)

A conhecida estrela polar é dupla, já estava curioso se a conseguia separar com o ETX. A sua companheira tem uma magnitude de 9, sendo facilmente ofuscada, e encontra-se separada a 18.4". É um par interessante e fácil de encontrar :)).


Pátio 7

2000.06.05
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
10:00-02:00 UTC
Poluição luminosa qb. magnitude 4
Meade ETX 90EC com Autostar, TeleVue Panoptic 19mm

Até que enfim!, depois de 2 meses de nuvens lá veio uma noite decente. Depois de limpar o pó ao EXT e acessórios, fui montar no pátio das traseiras, que por sinal ficou mais "seguro" devido à montagem de um holofote pelo vizinho da frente, enfim.......

Depois de alinhar o telescópio com a Vega e Polaris, fiquei a observar as estrelas que rodeiam a polar por algum tempo, para ver qual a estrela de maior magnitude que conseguia ver. Com a ajuda de mapa tirado no Skymap pro, verifiquei que nesta noite não veria mais que 10, 10.5. De seguida mandei-o apontar para um par de galáxias que são um pouco difíceis de encontrar, (e, não é que a geringonça acertou!).

Messier 81 (mag. 6.9 sb. 12.3) e Messier 82 (mag. 8.4 sb. 11.8)

estas duas galáxias na Ursa Maior são dos melhores objectos deste tipo para o ETX, só sendo ultrapassados pela a galáxia Andrómeda (Messier 31). A Messier 81 é nitidamente uma galáxia em espiral vista de cima com um núcleo bastante brilhante. A Messier 82 é vista de lado sendo de menor dimensão.

De seguida fui para a constelação da Lira, mais precisamente para Vega, pela qual sincronizei o Autostar, descendo ligeiramente para ver as duas estrelas binárias epsilon , que são conhecidas pelas dupla-dupla, sendo estas, por sua vez, constituídas por duas outras estrelas. A separação de cada uma das epsilon é um desafio às capacidades de um telescópio, pois devido à pequena separação, torna-se bastante difícil separa-las em dois pontinhos bem definidos. Nesta noite não tive grande sorte, só uma delas é que deu a impressão de separar. De notar que a distância de separação está nos limites máximos práticos do ETX (2.3").

Já que estava em Lira, não poderia de deixar de espreitar (a primeira do ano) a nebulosa planetária mais famosa entre os astrónomos amadores: a Messier 57 (mag. 9.0). Parecia um pequeno anel de fumo, notando-se de vez em quando o centro mais enegrecido (pequena nota: esta nebulosa está a expandir-se a cerca de 30Km por segundo e o anel tem cerca de meio-ano luz e encontra-se entre 1270-2000 anos-luz).

Também nas redondezas estava o enxame globular Messier 56 (mag. 8.3), que se apresentou bastante ténue e sem conseguir resolver qualquer estrela.

Um bocadinho mais abaixo estava uma das constelações mais populada de estrelas, a do Cisne. Comecei por ir à Albireo (Beta Cygni), que se pode dizer que é o par de estrelas bastante bastante demonstrativo das diferenças de cor das estrelas. A mais brilhante (mag. 3.05) é a vermelha (tipo K3II) , a menos brilhante (mag. 5.12) é azul (tipo B8V). A não perder.....

A 5 graus abaixo, temos também uma das jóias das noites de Verão a Messier 27 (mag. 7.3). Esta é uma das maiores nebulosas planetárias conhecidas e apresenta-se como uma "fumaça" com um formato rectangular com umas falhas a meio. (descrição bastante elucidativa não é ? ;)). Mesmo assim é um objecto bastante acessível a pequenos telescópios e até binóculos. A sua constelação é a Vulpecula, apenas visível em noites escuras. Lá perto na constelação da Seta (mais precisamente a meio), estava outro objecto, o Messier 71 (mag. 8.3) que é um enxame globular perdido no meio de uma confusão de estrelas.

Daqui, fui em busca de um messier que já me andava a escapar há algum tempo, o enxame aberto Messier 29 (mag. 6.6).

Este enxame não especialmente complicado de apontar, mas como está mergulhado num dos braços da Via Láctea, é como encontrar uma agulha no meio de agulhas :). Depois o ter visto ainda não tinha a certeza, só depois em casa vendo uma fotografia é confirmei a sua "descoberta".

E pronto! estava feita.Tenho de dar uma menção honrosa ao Autostar, que se portou de maneira quase irrepreensível. Para os donos de ETX+Autostar - não desesperem que parece que às vezes até acerta :). Dica: olhem para ocular quando o telescópio está quase a chegar ao alvo, pois quando falha, geralmente já passou por ele ou por lá perto.


Ponto Novo I - Meia-maratona de Messier

2000.06.06
10:00-02:00 UTC
Céu de magnitude 5 a 6 transparência razoável
Ponto Novo - Marinha Grande
Meade ETX todo artilhado (autostar, motofocus, quickfinder e um banquinho esperto)
Televue Panoptic 19mm

Esta observação foi uma das melhores dos últimos meses. o céu esteve limpo durante toda noite (bem, pelo menos até às três da manhã), e com uma transparência bastante aceitável. A nossa querida galáxia apresentou-se com todo o seu esplendor, com o seu braço bifurcado a cortar o céu de uma ponta à outra.

Chegando cerca das 9:30 ao Ponto Novo, estava com a esperança de conseguir ver o planeta Mercúrio que se encontra nestes dias bastante alto, mas as árvores que rodeiam o Ponto já não deixavam, indo então fazer companhia lá bem em cima na torre de observação ao colega Fernando Martins, mais a sua máquina fotográfica que o tentavam fotografar. Lindo Pôr-de-Sol, a prometer uma noite espectacular.

Nesta observação tive a companhia do colega Paulo Almeida , com o seu LX-200 10" (modo manual :)).

Depois de um atribulado alinhamento do telescópio, lá começou a "caça". Aqui vai uma breve descrição dos objectos observados por constelação:

Lira (Lyra)

Vega

sempre bonita

Epsylon 1 e 2 (dupla-dupla)

Nebulosa planetária Messier 57 (mag. 8.5)

Anel de fumo. No LX 10" conseguia-se ver uma estrela perto e claro muito maior e mais definida

Enxame globular Messier 56 (mag. 8.5)

pouco definido

Raposa (Vulpecula)

Nebulosa planetária Messier 27

Cisne (Cygnus)

Estrela binária Albireo
Enxame aberto Messier 29

Hércules (Hercules)

Enxame globular Messier 13 (mag. 5.9)

Grande, mais há mais interessantes.

Enxame globular Messier 92 (mag. 6.5)

É mais pequeno que o Messier 13, mas com um núcleo mais brilhante. Conseguiu-se resolver algumas estrelas.

Ofiúco (Ophiucus)

Esta constelação é bastante rica em enxames globulares.

Enxame globular Messier 12 (mag. 6.6)
Enxame globular Messier 10 (mag. 6.6)
Enxame globular Messier 14 (mag. 7.6)
Enxame globular Messier 107(mag. 8.1)
Enxame globular Messier 9 (mag. 7.9)
Enxame globular Messier 19 (mag. 7.2)
Enxame globular Messier 62 (mag. 6.6)

Enxame aberto IC 4665

Um enxame aberto interessante, perto da estrela de Barnard (a estrela com a maior velocidade conhecida), que não consegui identificar :(.

Cães de Caça (Canes Venatici)

Enxame globular Messier 3 (mag. 6.4)

Serpente (Serpens)

Enxame globular Messier 5 (mag. 5.8)

Um dos meus preferidos.

Cabeleira de Berenices (Coma Berenices)

Aqui comecei por ver o enxame aberto quer a olho nu, quer através do apontador.

Galáxia Messier 64 (mag. 8.5 sb. 11.7)

Mal se notava.

Enxame Globular Messier 53 (mag. 7.7)

Galáxia Messier 85 (mag. 9.1 sb. 11.8)

Quase não a via, visão lateral.

Existiam mais uma quantidade de galáxias Messier mais abaixo e ao lado (especialmente em Virgem), mas a Lua estava muito próxima.

Escorpião (Scorpius)

Outra constelação com muitos enxames globulares

Enxame globular Messier 80 (mag. 7.2)
Enxame aberto Messier 6 (mag. 4.2)

Enxame globular Messier 4 (mag. 5.9)

Enxame grande.

Sagitário (Sagittarius)

Eis uma constelação onde se pode passar uma noite inteira!. Ideal para mostrar ao pessoal que está a observar pela primeira vez. Esta região é densa em objectos, mas uma coisa é certa, se apontarem para lá o telescópio ou binóculos de certeza que vem qualquer coisa. Simplesmente a melhor salada objectos neste hemisfério :). Passo a enumerar:

Enxame aberto Messier 16 (mag. 6.0)
Nebulosa Messier 17 (mag. 6.0)
Enxame aberto Messier 18 (mag. 6.0)
Enxame aberto Messier 26 (mag. 8.0)
Enxame aberto Messier 25 (mag. 4.6)
Enxame aberto Messier 23 (mag. 5.5)
Enxame globular Messier 28 (mag. 6.9)
Enxame globular Messier 22 (mag. 5.1)
Enxame globular Messier 54 (mag. 7.7)
Enxame globular Messier 70 (mag. 8.1)
Enxame globular Messier 69 (mag. 7.7)

Enxame aberto com nebulosidade Messier 24 (mag. 4.0)

Um dos enxames mais espectaculares

Nebulosa + enxame aberto Messier 20 (mag. 6.3)

idem..

Nebulosa + enxame aberto Messier 8 (mag. 6.3)

Para mim este é o mais bonito deles todos!

Nebulosa + enxame aberto Messier 21 (mag. 5.9)

Estes três últimos enxames com nebulosas formam uma da áreas do céu mais bonitas.

Enxame aberto Messier 11 (mag. 5.8)

é da constelação Scutum mas fica lá à beira

Ursa Maior (Ursa Major)

Estrelas Alcor e Mizar

Par de estrelas

Galáxia Messier 81 (mag. 6.9 sb. 12.3)
Galáxia Messier 82 (mag. 8.4 sb. 12.8)

É possível ver este par de galáxias num grau). Par de galáxias não relacionadas que dá uma vista de "cima" e outra de "lado".

Galáxia Messier 51 (mag. 8.4 sb. 12.5)

Esta galáxia, foi conjuntamente com o sua galáxia companheira NGC 5195 (mag. 9.6 sb. 12.3), a "descoberta" da noite. Há já algum tempo que andava atrás desta, e nunca tive sorte. É necessário uma noite escura para poder sequer encontrá-la. Não vi a "ponte", mas notava-se perfeitamente os dois núcleos galácticos e pormenores muito ténues dos braços em espiral. No Lx200 notava-se mais pormenores e efectivamente estrutura.

Binária Messier 40 (mag. 9)

O Messier pensou que este objecto era uma nebulosa, mas no ETX mostra 2 estrelas com cerca de 10 de magnitude.

Nebulosa planetária Messier 97 (mag. 11)

quase imperceptível, só com visão lateral e movimentando o telescópio.

e finalmente....

Cassiopeia (Cassiopeia)

Enxame aberto Messier 103 (mag. 7.4)

Ainda estava à espera de conseguir ver pela a primeira vez os planetas Urano e Neptuno, que se encontravam em Capricórnio, mas já estava a ficar muito tarde. Fica para a próxima. Deu ainda para ver alguns fenómenos artificiais, como umas flashadas bastante intensas de alguns satélites (Iridium?)


Pátio 8

2000.06.11
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
09:30-01:30 UTC
Céu de magnitude 3 a 3.5
Meade ETX90EC, Nagler 7 e Panoptic 19, Barlow 2x e polarizador variável

Pois é, chegou o bom tempo e para acompanhar umas noites de luar que não davam outra alternativa senão a de observar o nosso querido e único satélite natural. Pegando no Atlas da Lua de Rukl lá fui fazer uma pequena expedição.

É prática comum e aconselhável observar a lua no terminador.

Começando pela parte do Noroeste da Lua temos Sinus Iridum que, realmente parece uma baía de águas calmas com cerca de 260 Km de diâmetros, apenas é conspurcada por três crateras de tamanho reduzido a A, E e G.

Na saída desta baía, entramos no Mare Imbrium que tem uns modestos 830000 Kms quadrados para um diâmetro de 1250 Km, sendo o segundo maior mare da Lua, onde se encontram duas crateras quase gémeas: A Hélicon (25 Km, 1910m) conjuntamente com a Le Verrier (20 Km, 2100m). que se apresentavam meio inundadas pela sombra, realçando assim a sua profundidade. Perto da Hélicon existe a cratera com o diâmetro mais pequeno que consegui identificar a Helicon E (2.4Km, 470m).

Continuando pelo terminador, abaixo passamos pela cratera Lambert (30Km,2690m), que tinha um aspecto bem demarcado e com paredes rendilhadas. Mais abaixo temos a cratera Pytheas (20 Km,2530m), que parecia muito bem recortada.

Nesta altura já se via a cadeia de montanhas Montes Carpatus (400 Km de extensão) que são a "margem" Sul do Mare Imbrium. Logo a seguir, deparamos com uma das grandes crateras da Lua, a cratera Copernicus (93 Km, 3760m). A fase da Lua ainda não evidenciava os raios brilhantes típicos que caracterizam um recente e forte embate. O centro da cratera apresenta um grupo de picos bastante evidente. Lá perto existe uma dupla cratera Fauth (12.1 Km) e Fauth A (9.6 Km) que parece um buraco de uma fechadura.

Andando ligeiramente para Este (centro), temos outra grande cratera Eratosthenes (58 Km, 3570m), que mostrava o seu centro com picos, já não mostrava muito detalhe, mas deu para ver que se encontra no fim da maior cadeia de montanhas da Lua: Os Montes Apeninos que têm uma extensão de 600 Km e com picos que chegam aos 5000 metros de altura. Fui percorrendo por aí abaixo, até que me cansei de tentar identificar mais alguma cratera, pois já tinham passado 2 horas...

Depois deste pequeno "tour", a Lua já estava a "afundar" a Oeste, dando assim hipótese de ir observar outros objectos um bocadinho mais longínquos :).

Realinhando o ETX em Vega da constelação de Lira, fui tentar separar as duas Epsylons Lyrae, a famosa dupla-dupla. que se encontram dois dedos abaixo à esquerda. Desta vez tive com um "semi-sucesso", pois só consegui separar uma delas (embora não muito nitidamente, e a 133x). Logo a seguir, apontei para Beta Lyrae, que faz um par interessante com outra estrela de cor semelhante mas menos brilhante . Em Lira não se pode deixar de fazer uma visita à nebulosa planetária Messier 57 que se encontra a meio caminho na direcção da Gamma Lyrae.

Já na constelação do Cisne, passei à Albireo (cabeça do cisne), que para mim é o melhor par de estrelas que se pode observar com pequenos telescópios, e até binóculos. Andando mais para baixo, posicionei o telescópio noutras das jóias do Verão : A nebulosa planetária Messier 27, que parecia uma nuvenzinha com umas falhas a meio. De seguida fui para área central do Cisne, para rever o Messier 29 que é um enxame aberto com cerca de meia dúzia de estrelas branco-azuladas da mesma magnitude todas gigantes da classe espectral B0. Segundo o Night Sky, a magnitude absoluta é de -8.2, o equivalente à luminosidade de 160.000 Sois !. De seguida passei à asa do cisne para tentar descobrir a nebulosa planetária NGC 6826 (mag. 8.8), que se consegue ver como uma estrela que não se consegue focar, nada mais :(. No mesmo campo de visão estava a binária 16 Cygni que são duas estrelas com 6 de magnitude do tipo do nosso Sol (G0). Depois para descontrair e já em fim-de-festa, andei a passear algum tempo por toda a constelação, apreciando a enorme quantidade de estrelas que salpicavam por todo o lado...

È incrível como se pode estar duas horas a olhar para apenas meia dúzia de estrelas, mas julgo que foi muito produtiva, especialmente no que toca a distinguir as diferentes cores que estrelas podem ter. Começo agora a compreender melhor o que os observadores de estrelas variáveis e/ou binárias queriam dizer... Acho que a sensibilidade para distinguir as cores das estrelas é capaz de demorar um pouco a interiorizar, mas penso que daqui a uns anos poderei dizer : "Essa estrela....... umm, é "p´raí" uma F8 de 7.5 de magnitude!" ;)


Pátio 9

2000.07.08
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
01:30-04:00 UTC
Céu de magnitude 3.5 a 4
Meade ETX90EC, Panoptic 19mm, Barlow 2x, Microguide 12.5mm, binóculo

Depois de alinhar o ETX por duas vezes, comecei um pequeno tour pela a constelação do Cisne, a fazer horas para observar pela a primeira vez o cometa Linear 1999/S4.

O primeiro alvo foi o enxame aberto Messier 39 (mag. 5.0 Ø 30') que é constituído por um grupo de estrelas bastante brilhante e espalhado formando um triângulo. Este enxame nota-se bem, mesmo com a confusão de estrelas que é típica desta região. Logo de seguida segui para uma nova visita ao enxame aberto Messier 29 (mag. 6.6 Ø6'), que é comparativamente bastante mais pequeno (5x), mas de longe mais compacto e bonito, formado por 5 estrelas brancas que se destacam de um fundo de estrelas mais ténues. Este é dos meus enxames abertos preferidos ao telescópio, tornando-se visita obrigatória enquanto a constelação de Cisne está a transitar. E como não poderia deixar de ser, nunca me canso de olhar para a estrela dupla Albireo...

Ainda em Cisne junto à iota Cyg, fui revisitar a nebulosa planetária NGC 6826 (mag. 8.8 Ø>25"), que se revelou uma nebulosidade arredondada e muito pequena, com um tom azul-acizentado, e que tive a ocasião de medir o tamanho com a microguide, que por acaso deu o valor ligeiramente inferior aos dos diversos livros (23.8") talvez por a estar a vê-la com um telescópio de 90mm. Foi a melhor observação desta planetária até ao momento, mesmo não conseguindo ver a estrela central que tem uma magnitude de 10.4. No mesmo campo de visão da ocular (1 grau), tem-se a ocasião de observar a 16 Cygni que é uma dupla com estrelas quase gémeas (mag1. 6.0 G0 mag2. 6.1G0 sep. 39.3" pa. 134), que medi como tendo 39.7" de separação. Nesta altura, Cisne já se encontrava no zénite, e já se podiam ver as constelações de Cassiopeia, Pégaso, Lagarto e Andrómeda.

De seguida fui observar uma outra nebulosa planetária NGC 7662 (mag. 8.3 Ø>12") em Andrómeda, que à semelhança da anterior tinha também uma tonalidade azulada, talvez mais arredondada, e mais pequena. Com telescópios de pequena abertura, as nebulosas planetárias "apanham-se" como uma estrela que não se consegue focar, sendo preciso algum tempo a observar para se começar a ver a "nebulosa". Continuando para a constelação de Cassiopeia, fui visitar pela a primeira vez este ano a Eta Cassiopeiae (mag1. 3.4 F8 mag2. 7.5 F8 sep. 12.9" pa. 317), que é uma para amarelo-avermelhado.

Deixando o telescópio, peguei no binóculo e dei uma olhadela ao duplo Enxame de Perseu NGC 869 e NGC 884, que é um dos melhores objectos binoculares. Fui ao computador imprimir uma mapa no Skymap Pro com a localização do cometa Linear 1999/S4, tentei vê-lo do pátio, mas não passava de um ponto quase estelar. Pegando no carro, lá fui para o meio da mata do Marrazes numa zona com boa visão de Perseus, mas mesmo assim pouco impressionante no binóculo. Não consegui ver cauda nenhuma :(( - Tem de ir ao forno mais uns dias.......

Nota : Para os que não sabem o que é a Microguide, trata-se de uma ocular tipo ortoscópica da Celestron, iluminada, que projecta diversas escalas, que permitem fazer medições directas do tamanho de objectos, e separações e ângulo entre dois objectos. Também é possível determinar com exactidão a distância focal do telescópio e consequentemente o f/rácio e a verdadeira ampliação das barlows ou diagonais. Nos últimos dias tenho andando a calibrar a escala, e cheguei à conclusão (provisória) que o ETX tem uma distância focal de 1300mm ao invés dos 1250mm que vem nas especificações !!??.


Pátio 10

2000.07.30
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
23:00-03:00 UTC
Céu de magnitude 3.5 a 4
Meade ETX90EC, Panoptic 19mm, Nagler 7mm, SP 15mm, Ultima Barlow 2x

Aqui vai mais uma sessão caseira. Tenho andando a escrever Tours para o Autostar, para ver se perco menos tempo a procurar os objectos que consigo ver no meu pátio a determinadas horas, pois sendo um pátio numa zona sub-urbana rodeado por prédios por todo o lado, a área de céu observável é bastante limitada. Torna-se essencial planear à priori cada uma das sessões.

O planeamento duma sessão típica, é geralmente feito com a ajuda do Skymap Pro 6.0, que permite fazer uma selecção prévia dos objectos por constelação, que sejam teoricamente visíveis pelo o ETX (ex:11 de magnitude), construindo assim. pouco a pouco, a lista alvo para uma determinada sessão.

Começando...

O ETX demora um bom bocado a estabilizar, um pouco à semelhança de outros tipos de telescópios, é necessário que a temperatura interior do telescópio se equalize com a temperatura ambiente. Enquanto tal não acontece, as estrelas não se conseguem focar convenientemente, e os anéis de difração ao invés de ser redondos e perfeitos, apresentam-se bastante ondulantes. No ETX, só depois de 1 hora é que me parece estar mais estabilizado. Geralmente, deixo-o apontado para a estrela polar e estrelas vizinhas, que para mim serve de "benchmark" das condições de visibilidade para a altura. Para hoje, conseguia-se observar estrelas de pelo menos até 11 de magnitude.

Hércules (Hercules).

64 Alpha Herculis "Algethi " Struve 2140, esta estrela de magnitude 3.5 tem uma companheira de magnitude 5.4 que se encontra separada em 4.7". Não é um desafio à capacidade de resolução do ETX mas bastante junta. A 65 Delta Herculis de magnitude 3.1 encontra-se separada 9,9" de uma outra de magnitude 8.2. Segui para duas outras duplas bastante interessantes: 75 Rho Herculis Struve 2161 com a magnitude 4.6 e companheira a 4.1" com magnitude 5.6 e a 86 Mu Herculis Struve 2220 com a magnitude de 3.4 separada 33.8" da sua bastante menos brilhante companheira de magnitude 10.1. E para acabar, uma olhadela à 100 Herculis Struve 2280 que são duas estrelas exactamente iguais tanto na cor como na magnitude de 6.0 bem separadas em 183".

Acabando a ronda pelas as estrelas duplas. Passei pelo obrigatório enxame globular Messier 13, que me pareceu bastante bem enquadrado pela a Nagler 7mm, que com a sua magnificação de 180x e seu campo de visão de 82 graus, mostra toda a sua grandiosidade, embora mesmo assim não mostrasse maior resolução. De seguida segui para o também obrigatório enxame globular Messier 92 , que por alguma razão gosto mais de observar que o Messier 13, talvez devido ao seu núcleo me parecer mais brilhante, e dar melhor a ideia que tenho de um enxame globular. Este também foi observado com a 15mm e a Nagler dando ambas duas vistas bastante satisfatórias. De seguida passei para objectos que são um pouco mais complicados de discernir, sendo um deles o enxame globular NGC 6229 (mag. 9.4 e Ø5"), que me pareceu bastante pequeno e núcleo relativamente brilhante, nada que se parecesse com os enxames anteriores mas de qualquer modo interessante. E finalmente a nebulosa planetária PK 43+37.1 (mag. 8.8 CS:13.7 Ø14") que mal se notava só dando pela sua presença devido à proximidade uma estrela, dando assim termo de comparação. As nebulosas planetárias não se conseguem focar e necessitam geralmente de grande magnificação.

Pégaso (Pegasus)

Esta constelação não tem muito para ver com o ETX, especialmente por estar numa zona com bastante poluição luminosa.

Comecei pela estrela dupla Struve 2841 (mag. 6.4,7.9 sep. 22.3") que me pareceu um par vermelho?-azul?, passando de seguida para a Struve 2848 (mag. 7.2,7.5 sep. 10.7") que são um par de estrelas bastante semelhantes. De seguida fui para a 44 Eta Pegasi (mag. 2.9,9.9 sep. 90.4"), que é um par bastante destacado com uma diferença de magnitudes bastante grande (7).

A nível de objectos não-estelares fiquei limitado a 2 : O enxame globular Messier 15 (mag. 6.0 Ø12.3') que está nos meus enxames preferidos e a galáxia NGC 7331 (mag. 9.5 Ø10.5'x3.7' sb. 13.3), que me pareceu uma mancha alongada sem qualquer estrutura ou núcleo. A rever com céu escuro.

Lira (Lyra)

Esta é uma das constelações que mais gosto: pequenina, jeitosa e muito prendada :)

Começando pelas as estrelas segui logo para Vega (Alpha Lyrae) que é suposta de ter uma companheira de magnitude 9.5 a 62.8", mas não foi desta vez que a vi, simplesmente a Vega dá um enorme banho de luz azul pela ocular toda. Ainda tentei por um filtro deep-sky mas nada. Seguindo paras as rotineiras 4 5 Epsilon Lyrae (AB:m5.4,6.5 sep. 2.6" e CD:m5.1,5.3 sep. 2.3") das quais só a primeira consegui "splitar". Shelyak ou seja a 10 Beta Lyrae que é uma variável de eclipse com a magnitude entre 3.4 a 4.4 num período de 12.91 dias que por sua vez tem uma companheira de magnitude 7.8 e duas de magnitude 9.9. Bastante interessante e acessível.

Só por curiosidade passei também pela RR Lyrae (RRab Spec:A8-F7 mag. 7.0-8.1 Per:0.56d (13h36m)) que me parecia avermelhada e estar num máximo. A seguir fui para um "casal" de duplas bastante interessante: a Struve 2470 (mag. 6.6,8.6 sep. 13.4") e a Struve 2474 (mag. 6.7,8.8 sep. 16.2"), que estavam no mesmo campo de visão e ambas tinham a mesma posição angular dando um par-par muito interessante.

Passando aos não-estelares fui fazer a tradicional visita à nebulosa planetária Messier 57, que já vi em melhores dias, e que com a Nagler 7 se mostra bastante grande, mas um bocadinho mais difusa. O enxame globular Messier 56, continua bastante ténue, não passando de uma mancha nebulada relativamente pequena. Um bom exemplo de enxame aberto temos o Steph 1 (mag. 3.8 Ø20.0' 15* B*:4.3), que se apresenta bastante "colorido", com diversas estrelas fortes de cores diferentes.

Acerca do Cometa Linear 1999 S4

Comecei a seguir este cometa desde o princípio de Julho, desde uma sessão no Ponto Novo da Marinha Grande juntamente com o Paulo Almeida e o Carlos Reis, em que nessa altura, se mostrou bastante difuso, mas já com a característica cauda. No dia 20, numa outra sessão no quintal do Paulo Almeida obteve-se a melhor imagem telescópica que vi, tanto no ETX como no LX200 10",estimei a sua cauda em 10 a 15 arcminutos.

Como a previsão meteorológica para os dias seguintes estava um bocado má, julguei que não o veria mais até depois do pico de magnitude, mas como ando com o binóculo no carro, aproveitei numa aberta da noite de Sábado 22 para Domingo para vê-lo e aí sim senhor!, tínhamos cometa. Até deu para mostrar a alguns incautos passeantes na marginal da Praia do Pedrogão :). Desde aí, parece que o cometa não se aguentou com proximidade do Sol e desintegrou-se. Poderia ter sido melhor, mas não foi mau, nunca tinha visto um cometa pelo telescópio....


Astrofesta 2000 em Esposende

2000.09.04
Esposende

Eu só lá estive no sábado à tarde um bocadinho à noite. Não assisti a nenhuma palestra por tal não posso dizer nada acerca do assunto.

O único evento observacional da tarde foi a observação do Sol, quer projectado, quer com filtro de abertura total, com um reflector Meade 10" equatorial e com um refrator Orion Vixen de 4,5". Havia um pequeno grupo de manchas a dar ânimo à sessão. Apreciei bastante a solução "low-tech" da Projecção solar, pois era feita num papel com uma circunferência que dava um noção do tamanho das manchas numa escala de 1mm;10.000 Km, a mancha maior era bem maior que a Terra (2mm).

De seguida fui visitar o bloco de expositores, que julgo que não faltava lá ninguém. Estiveram presentes a Loja da Ciência, Astrofoto, Galáxia 51, Soetil, Brightstar e algumas exposições de escolas e outros organismos. Não se pode dizer que fosse muito grande, ou tivesse muita variedade mas mesmo assim acho que estava interessante.

Por sorte, não deixei de notar no livro de Guilherme de Almeida e Pedro Ré "Observar o céu profundo" que tinha acabado de ser publicado e que estava à venda na Loja da Ciência, apanhei o último :), e fui ter com Guilherme de Almeida para escrever uma dedicatória. Bem, foi uma dedicatória e uma "visita-guiada" de meia hora ao livro com o próprio autor. Embora já tenha uma biblioteca bastante grande de livros de astronomia, este penso que foi uma boa adição, pois tem lá truques para observação que nunca li em lado nenhum, e, algumas matérias são expandidas em apêndices de desenvolvimento.

A primeira parte do livro fala de equipamento astronómico, atmosfera, poluição luminosa, técnicas de observação, e auxiliares à observação, na minha modesta opinião parece-me que todos estes temas estão bem abordados e completos . O livro é também um bom guia de observação no campo, está organizado por constelações, com uma descrição e fotografia de cada um dos objectos de céu profundo e também a descrição de estrelas interessantes (duplas ou não). Os objectos selecionados são bastante equilibrados e acessíveis a telescópios de 80mm para cima, não se limitaram aos Messier, havendo muitos NGCs (não-messier) descritos.

As cartas foram bem conseguidas, têm uma escala conveniente e grande de modo a se tornar fácil encontrar um objecto. Acho que a publicação deste livro é um acontecimento na astronomia amadora portuguesa e recomendo vivamente a quem quiser explorar o céu profundo e saber alguns "truques do negócio".

Começou a anoitecer, e fui para o pátio da escola onde apenas se encontravam um reflector dobsoniano Meade 16", que diga-se de passagem que é GIGANTESCO, acho que não cabe no meu carro de certeza, e também a já famosa cadeira motorizada para observação binocular, e ainda um Meade LX-200 8".

Comecei por ver a Lua que já estava a começar a desaparecer a Oeste, e passou-se para o Messier 13, que tive ocasião de comparar no 16" no 8" e num Celestron Nextar 5 que entretanto lá abancou. O 16" e no 8" resolviam bem o enxame, um pouco mais no 16", que devido à altura da ocular era preciso ser um bocado equilibrista no banquinho que estava à disposição, para se conseguir ver numa posição confortável. No Celestron Nextar 5 parecia uma nuvem cinzenta granulada.

O local não era muito apropriado para a observação astronómica, especialmente comparado com o local da anterior Astrofesta (Serra da Estrela), mas surpreendentemente consegui ver estrelas de 5 magnitude a olho nu, mesmo com as luzes da rua que arruinavam completamente o céu na direcção Sul. Atendendo ao sítio, julgo que até se teve bastante sorte nas condições de visibilidade. Infelizmente às 10 horas tive que me ir embora...


Pátio 11

2000.09.21
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
23:00-03:00 UTC
3.5 a 4 visual, ETX cerca de 11
2 (Antoniadi)
Meade ETX90EC e Autostar, Panoptic 19mm, Nagler 7mm, SP 15mm, Microguide 12.5mm,
Ultima Barlow 2.2x, binóculo Olympus EXPS 10x42

Esta sessão foi a despedida este ano de alguns dos meus objectos de Verão / Primavera preferidos.

Comecei pela constelação de Hércules, que já estava numa descendente avançada e nas suas mais representativas jóias: Messier 13, Messier 92, e um outro globular bastante mais modesto, o NGC 6229 (mag. 9.4 Ø4.5'), mas mesmo assim digno de nota. O Messier 13 e o Messier 92 estavam particularmente dispostos a aceitar uma maior magnificação, e tive duas vistas particularmente gratificantes usando a 7mm (180x). Tenho uma predileção pelo Messier 92, que embora seja mais pequeno, tem um núcleo mais concentrado e brilhante, dando assim uma imagem que se assemelha mais à definição de um enxame globular.

O NGC 6229 foi, por simples curiosidade, pois embora a sua magnitude esteja perfeitamente ao alcance do ETX, já fazia anunciar um objecto pouco definido, sem qualquer espécie de resolução, mas até foi mais fácil de "descobrir" que o Messier 71 na Seta.

Subindo uma dúzia de graus o telescópio, já entramos no território da minha constelação de Verão favorita: a Lira. Esta constelação é interessante a olho nu, no binóculo, e ao telescópio e, para arrematar o arranjo das estrelas até faz algum jus ao nome . Poucas constelações se podem gabar destes factos. A Messier 57 pode parecer repetitiva em todas as anteriores sessões, e _é_ mesmo! Esta planetária tem sempre um cantinho do tempo em todas as sessões, não por ser fácil de encontrar, mas sim porque é um objecto realmente interessante e ao alcance de todos os telescópios. Nesta sessão tive a experimentar várias magnificações, e a ganhadora foi a MicroGuide de 12.5mm (100x), que me deu a impressão de melhor contraste, o que permitia ver o "buraco"do anel ligeiramente mais escurecido. A 7mm mostrava um anel bastante maior, mas menos definido.

Depois, seguiu-se o enxame globular Messier 56 (mag. 8.3 Ø7.1), que à semelhança do NGC 6229 é pouco impressivo. Finalmente, fui até ao interessante enxame aberto Steph 1 (mag. 3.8 Ø20.0'), cuja a estrela rainha é a Delta Lyrae, que dá o nome a este enxame de estrelas bem brilhantes. No binóculo, esta constelação é relativamente vazia, mas tem uma das melhores duplas binoculares - as epsilons - uma da estrelas mais brilhantes e azul - Vega.

Dando uma passagem rápida pela a Águia, observei o enxame aberto NGC 6709 (mag. .7 Ø13.0') que tem uma configuração alongada, mas de certo modo interessante (para enxame aberto).

Já a caminho do Nascente, passei por um dos raros objectos que vale a pena ver com o ETX na constelação do Pégaso - O enxame globular Messier 15 (mag. 6.4 Ø12.3'). Este enxame tem a mim passado despercebido, mas depois desta observação, passou a ocupar o 1º lugar do top de enxames preferidos. Este enxame é uma mistura do Messier 13 (tamanho e aparência granulada) com o Messier 92 (núcleo concentrado e brilhante), resultando assim num enxame "perfeito" para o ETX. Com o extra que até aparecem algumas estrelas resolvidas!

Já com telescópio para Oeste, fui visitar uma planetária em Andrómeda que tem a particularidade de mostrar alguma cor. A planetária NGC 7662 (PK106-17.1) (mag. 8.6 Ø17.0"x14.0"), também conhecida pela "Bola de Neve Azul". Esta apresentou-se como uma pequena bola de fumo azul-acinzentada, havendo momentos em que o centro parecia mais escurecido. A revisitar brevemente. Lá nas redondezas estava o enxame aberto NGC 7686 (mag. 5.6 Ø15.0') que até é engraçadeco (foi o que escrevi nas minhas notas de campo).

Rodando mais para Norte, entramos num verdadeiro ninho de enxames abertos que é a constelação de Cassiopeia. Começando em cima, temos logo um bem grande - o NGC 7789 (mag. 6.7 Ø16.0') que deu a impressão de ter também alguma nebulosidade, causada provavelmente por estrelas de magnitude bastante baixa. De seguida passei ao NGC 129 (mag. 6.5 Ø21.0') que me pareceu bastante composto e interessante. O mesmo posso dizer NGC 225 (mag. 7.0 Ø12.0'). O NGC 457 (mag. 6.4 Ø13.0') que é algo concentrado e em conjunto com a Phi Cassiopeiae, formam uma vista interessante. O NGC 663 (mag. 7.1 Ø16.0') é grande.

Passei de seguida para um mamute de enxame que é o Stock 2 (mag. 4.4 Ø60.0'), que com a Panoptic 19mm enche completamente a ocular com estrelas de todas as magnitudes, formando algumas sequências e figuras geométricas. Este enxame no binóculo apresenta-se como uma nuvem granulada, um pouco acima do duplo enxame de Perseu. Finalmente, acabei a sessão com um pindérico de um enxame que é o Trumpler 1 (mag. 8.1 Ø4.5'), que é constituído por duas estrelas de 10 de magnitude, envolto de um nebulosidade constituída por estrelas demasiado ténues para serem resolvidas.


Pátio 12 - Fotografias de uma grande mancha solar

2000.09.25
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Mancha "Baleia" em 25-Set-2000
Mancha "Baleia" em 2000-09-25
Projecção primária (prime focus) 48x
200 ISO Exposição Auto - Sharp mask e correcção de cor
Mancha "Baleia" em 25-Set-2000
Mancha "Baleia" em 2000-09-25
Projecção de ocular 15mm 89x 200 ISO Exposição Auto
Mancha "Baleia"
Mancha "Baleia" em 2000-09-25
Projecção de ocular 9.7mm 128x 200 ISO Exposição Auto e correcção de cor

Pátio 13 - Júpiter e Saturno

2000.10.03
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
01:00-02:30 UTC
4 visual, ETX cerca de 11+
2 (Antoniadi)
Meade ETX90EC com comando standard, Panoptic 19mm, Nagler 7mm, Barlow 2.2x Celestron Ultima,
Microguide 12.5mm, binóculo Olympus EXPS 10x42

Estes últimos dias têm sido muito bons para as observações astronómicas, e à medida que nos aproximamos das oposições destes planetas, a sua medida angular vai aumentando com a proximidade, e consequentemente o nível de detalhe vai-se tornando cada vez nítido.

Saturno (mag. -1.7 Ø19.6")

Tenho tido as melhores observações deste gigante gasoso até ao momento, em que muito tem ajudado a distância a que nos encontramos dele, que é à data da observação são de uns meros 1,275,000,000 Km. O anel de Cassini com os seus cerca de 4000 Km de largura é imediatamente visível a 66x , e com a Nagler 7mm (180x) observa-se _perfeitamente_ recortada. O anel embora pequeno, estava bem delineado e tinha a largura aparente de 2x a Cassini, que é cerca de 60% da sua largura real medindo 14500 Km. O anel C apresentava-se como um "degradee" do anel B (cerca de 26000 Km), e deu-me a sensação de ver algumas variações de cor (ou se calhar a imaginação a funcionar com a ajuda da turbulência) no restante anel, que presumo sejam as outras subdivisões.

No globo (120600 Km de diâmetro equatorial e 108700 Km de diâmetro polar) é notavelmente achatado, e tinha uma cor branco atenuado. A sombra dos anéis é bastante evidente, e em certas alturas, pareceu-me ver mais qualquer coisa (bandas?) na superfície do planeta. Foi sempre possível ver pelo menos três satélites, que provavelmente correspondiam ao Titan, Rhea, Thetys e Dione ou Encelatus. A qualidade das vistas muito me têm surpreendido, especialmente depois do telescópio estabilizar após 1 hora, e o planeta já se encontrar bem alto no horizonte (por volta das 2:00). No binóculo não passa de uma luz alongada no sentido dos anéis.

Júpiter (mag. -2.6 Ø44.1")

À semelhança de Saturno, também as observações deste planeta têm sido bastante agradáveis, mas devido à quantidade de detalhe "disponível", algumas oculares/combinações revelam mais que outras. A Nagler 7mm (180x) foi vencida por um cabelo pela Panoptic 19mm+Barlow (145x), não por revelar menos, mas sim porque era mais fácil obter o detalhe. O globo (142 985 Km de diâmetro equatorial) a uma distância de 669 000 000 Kms tinha uma cor geral creme pálido e ligeiramente achatado (menos que Saturno, que parece uma maçã). A banda equatorial norte apresentava-se bastante nítida e a mais larga de todas, e internamente diferenciada tanto em detalhe como na largura, revelando uma aparência retalhada semelhante a cristas de "ondas", mas de pernas para ao ar. Logo acima tinha a banda temperada norte, bastante fina, mas visível. No hemisfério Sul, a banda equatorial estava menos nítida, notando-se bem a divisão norte e sul em que a banda norte era maior, típica desta banda.

A grande mancha vermelha, ainda está na lista dos objectos por observar, pois, ou não a vi ou não estava no lado visível do planeta. A imagem global já se aproximava razoavelmente da ideia que tenho do planeta e das sua fotografias, e acho que até está "vendável", mesmo para os mais indiferentes a estas coisas de observações. No binóculo, era possível ver dois ou três satélites todos no mesmo lado. Este planeta tem muito, mas muito para ver, por mais que o observe existe sempre algo de novo que nunca tinha observado antes.

Ao binóculo

Das 02:00 às 02:30 aproveitei para dar as primeiras observações aos enxames abertos em Cocheiro (Auriga), Messier 36, Messier 37 e Messier 38, à Messier 42 de Orion, que embora baixa no horizonte, apresentava uma nebulosidade apreciável. Passando pelas as constelações de Cassiopeia e Perseu, que a esta hora já estavam no zénite, deu para apreciar o sempre disponível Duplo Enxame, o Stock 2 mais acima, ligeiramente menor e com aspecto granulado fino.

Em Perseu foi possível resolver cerca de 8 estrelas do enxame aberto Messier 34, e outras tantas do também enxame aberto NGC 1528, que é ligeiramente menos brilhante e de menor tamanho. O "enxamão" aberto da alpha Perseu com as suas estrelas bem brilhantes é bastante interessante, espalhando-se mais ou menos uniformemente, por cerca de 3 graus, e julgo eu, comparável às Híades em Touro. Os binóculos têm a sua panóplia de objectos incontornáveis, sendo a vista das Plêiades na minha modesta opinião, uma das mais belas imagens que se podem ter com uu binóculo, seguido de perto pelo duplo enxame de Perseu, e pela Galáxia Messier 31 em Andrómeda.


Pátio 14

2000.10.22
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
00:10-02:30 UTC
5 visual, ETX cerca de 11+, 3 (Antoniadi)
Meade ETX90EC com Autostar, Panoptic 19mm, Nagler 7mm, Barlow 2.2x Celestron Ultima,
Meade SP 15mm, binóculo Olympus EXPS 10x42

O céu, embora estivesse na generalidade sem nuvens, e até com magnitude limite visual de 5, não estava para grandes magnificações devido à turbulência atmosférica, mesmo depois do telescópio e oculares estarem 2 horas "de molho". De qualquer modo, começo a achar que tenho bastante sorte em ter um céu com estas condições numa área sub~urbana (estou 2Km do centro da cidade em linha recta (GPS)), e mais especialmente a 10 metros da cozinha onde tive a sorte de arranjar uma "licença de estacionamento", que me permite em 10 minutos estar pronto para observar.

Continuando a minha demanda de observar a lista de Messiers, adicionei-me mais uma galáxia que teve entrada directa, no "TOP" de galáxias que valem a pena observar com o ETX90: A Messier 77 (mag. 8.9 BS:10.6 mag/sq arcmin Ø9.0'x8.0'"). Esta galáxia está situada um bocado abaixo da "cabeça" do monstro marinho, Cetus, que dá o nome à constelação, sendo o único objecto que Messier julgou digno de nota. A sua observação embora tenha sido um pouco afectada pela P.L. foi bastante fácil, pois esta galáxia tem um núcleo bastante brilhante e pequeno, tendo uma aparência quase estelar, mas, observando com mais atenção, está nitidamente rodeada de uma nuvem alongada, que correspondem aos braços em espiral que apenas são observáveis em fotografia. Uma estrela de magnitude 10 situada muito próxima (1.5') permite ajudar a sua identificação.

Esta galáxia tem uma certa importância histórica, pois foi uma das primeiras galáxias cujo o estudo veio apoiar a teoria de "Universo em Expansão". Também pertence à lista de galáxias peculiares de Seyfert, que são galáxias com núcleo pequeno, brilhante e bastante activo, sendo também fontes de rádio mais ou menos fortes (3C71). Situa-se a mais de 60 milhões de anos-luz e tem 4x mais luminosidade da Via Láctea.

Estando à espera que os planetas estivessem numa posição mais alta, aproveitei para ir dar uma volta pela constelação do Cocheiro (Auriga), lar de 3 excelentes enxames abertos, que são simultaneamente três dos melhores objectos binoculares. Começando pelo Messier 36 (mag. 6.0 Ø12.0') : Enxame constituído por mais de um dúzia de estrelas brilhantes e que são todas do tipo B (branco azuladas), e segundo o Burnhams é equivalente às Plêiades 10x mais distantes, situa-se a 4000 anos-luz.

O Messier 37 (mag. 5.6 Ø24.0') é notoriamente diferente, pois é de longe bastante mais rico e concentrado, especialmente com visão periférica, tendo uma aparência global é bocado mais amarelada. "um mar de estrelas" situado a 4700 anos-luz.

O Messier 38 (mag. 6.4 Ø21.0') é constituído por bastantes estrelas brilhantes espalhadas de modo peculiar, dando azo a diversas "interpretações" geométricas. Todos estes enxames apresentam-se no binóculo (10x42) como manchas arredondadas não resolvidas.

Finalmente, e para arrematar, observei o NGC 1664 (mag. 7.6 Ø18.0') que comparativamente com os enxames anteriores, se revelou menos interessante, pois embora grande, era pouco rico, constituído por relativamente poucas estrelas bastante espalhadas e ténues. Com visão lateral contei cerca de 20 estrelas.

Júpiter e Saturno

Tenho vindo a acompanhar estes dois durante toda a semana, quando as condições atmosféricas o permitem. De salientar, o trânsito da sombra de Io no dia 17, que apesar dos esforços de uma hora, não consegui discernir o próprio satélite da superfície de Júpiter... a turbulência atmosférica não permitiu usar magnificações muito altas, tive que ficar pelas as 86x, (Meade Plossl 15mm), porque acima disso, a imagem tornava-se bastante difícil de focar, cansando demasiado a vista. Ainda assim, deu para ver as costumeiras 4 bandas equatoriais. Em Saturno, a Cassini também esteve visível, embora sem a facilidade das noites anteriores. No binóculo foi possível observar as 4 luas jovianas de Júpiter, visto estarem bastante destacadas do globo.

No binóculo

A galáxia Messier 33 (mag. 5.7 BS:13.8 mag/sq arcmin Ø73.0'x45.0') na constelação de Triângulo, além de ser demasiado grande para o ETX, é extremamente complicado de observar devido ao seu baixo brilho de superfície, requerendo portanto um céu escuro. Embora céu não fosse dos mais escuros, quando o observei estava praticamente no seu ponto de culminação, o que de certa fora ajudou à sua fácil detecção. Detecção, não observação, pois não foi possível ver qualquer detalhe, apenas uma ligeira sensação de "sujidade", que com o movimento se "movia". A Messier 33 é a terceira maior galáxia do Grupo Local e também a terceira não-satélite mais perto, situando-se a cerca de 2,5 milhões de anos-luz (que é já ali, cosmológicamente falando), mas devido a possuir um núcleo muito pequeno e não ter barra, a sua magnitude fica bastante espalhada. Lá perto, binocularmente falando, mas já em Perseu, encontra-se o enxame aberto NGC 752 (mag. 5.7 Ø50.0') que é uma grande mancha do qual consegui resolver uma dúzia de estrelas.


Pátio 15

2000.11.04
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
00:15-02:25 UTC
4 visual, ETX cerca de 10+
3 (Antoniadi)
Meade ETX90EC com Autostar, Panoptic 19mm, Nagler 7mm, Radian 14mm,Barlow 2.2x Celestron Ultima,
Meade SP 15mm, binóculo Olympus EXPS 10x42

Esta sessão foi principalmente para estrear a última adição à minha já multi-milionária coleção de oculares de luxo - a Televue Radian de 14mm. Escusado será dizer que a "maldição" que geralmente está associada a aquisição de novo equipamento de astronomia quase se concretizou, mas, entre as nuvens ainda consegui observar qualquer coisita. O ETX estava em dia, ou antes noite não. Depois de tentar alinhar duas ou três vezes desisti, e usei o truque "sujo" de o mandar para algum objecto com os motores desengatados e depois apontar manualmente e voltar a engatar. Pelo menos fazia o seguimento sideral razoavelmente bem.

O primeiro objecto da noite foi a galáxia Messier 31 (mag. 3.4 BS:12.6 mag/sq arcmin Ø178.0'x40.0'), também conhecida por Galáxia de Andrómeda, que no momento da observação estava no zénite. Embora esta galáxia tenha uma dimensão bastante maior do que o modesto grau proporcionado pela 19mm, não deixou de ser a melhor vista de sempre que tive com o ETX. O núcleo tinha uma aparência grande (est. 5 arcmin) e brilhante, e estava rodeado por uma nebulosa que que ia diminuindo de intensidade. A sua forma era oval alongada espalhava-se aparentemente por 40 arcminutos dos cerca de 60 disponíveis com a 19mm, não mostrando qualquer tipo de estrutura.

Lá perto estava uma das suas 4 galáxias satélite a galáxia elíptica Messier 32 (mag. 8.1 BS:10.6 mag/sq arcmin Ø8.0'x6.0') , que também nunca a tinha observado tão facilmente, apresentado-se como uma pequena bola difusa com um brilho razoável. Com a Radian 14mm foi possível observar com maior magnificação (90x) adicionando e um bocado mais detalhe cada uma destas galáxias. Este objecto é incontornável, cada vez que esta no "ar" faço-lhe sempre uma visita, especialmente com o binóculo, onde se pode por vezes observar cerca de 2 graus, e por ser inclusive um objecto visível a olho nu, é também, quase sempre um dos primeiros objectos que costumo apresentar e mostrar onde se localiza aos "novatos".

A Messier 31 é considerada a maior galáxia do Grupo Local estimando-se que esteja a uma distância de 2.2 milhões de anos-luz e tendo uma provável dimensão de 180.000 anos-luz (a Via Láctea tem cerca de 120.000). É sempre interessante saber que os fotões que neste momento estamos a observar, partiram de lá há 2.2 milhões de anos, quando ainda estávamos a ver a paisagem africana :).

De seguida, apontei para um enxame aberto que tenho vindo a observar apenas com o binóculo, o NGC 752 (Cr33) (mag. 5.7 Ø50.0'). Este enxame enche quase por completo a ocular de 19mm (1 grau), o que de certo modo não beneficia o seu enquadramento na imagem. Existem cerca de 40* mais ou menos uniformemente espalhadas, com magnitudes de 8 a 11 e com cores mais ou menos semelhantes. Notam-se um ou dois agrupamentos em cadeia.

Finalmente, passei o resto da sessão a observar a Grande Nebulosa de Orion Messier 42 (mag. 4.0 Ø60.0'), que por volta das duas da manhã, já se encontrava bem alta. Esta nebulosa é provavelmente um dos objectos mais versáteis no que diz respeito à sua observação. Esta nebulosa difusa de emissão e reflexão pode ser observada a olho nu, que conjuntamente com a constelação de Orion que a alberga, é uma das belas áreas do céu.

É observável com algum detalhe utilizando o binóculo, dando então excelentes vistas populadas de estrelas brilhantes e interessantes. E finalmente através de um telescópio da menor à maior magnificação possível. Esta nebulosa embora de grande dimensão e brilhante, revela substancialmente mais detalhe com uma observação demorada. Na 19mm (66x 1°) é possível apreciá-la em toda a sua extensão, observando-se uma textura fina e suave com diversas tonalidades de cinzento, que me fazem lembrar o fumo de tabaco, mas mais condensado e de certo modo tempestuoso. Uma das coisas que ressalta logo à vista, é o peculiar conjunto de 4 estrelas bastante próximas formando um quadrado, que constituem a Teta-um Orionis, vulgarmente conhecida por trapézio.

Trapézio (Teta-um Orionis)
Trapézio (Teta-um Orionis)

A figura acima mostra a notação adoptada para as estrelas constituintes do trapézio, com as magnitudes e classe espectral e separações. A "E" está separada 4" da "A" e a "F" separada em 4" da "C". Com ETX ainda não consegui ver estas últimas, embora 4" de separação esteja ao seu alcance em termos de resolução, julgo que seja necessário uma noite muito estável (não perdem pela demora :)). De qualquer modo estarão mais facilmente acessíveis em telescópios de maior abertura. Estima-se que se situa a 1600 anos-luz de Leiria, correspondendo a um tamanho real de 30 anos-luz (20000 vezes maior que o nosso sistema solar). A sua composição é essencialmente hidrogénio molecular que é a matéria prima das estrelas, que Basicamente fica fluorescente devido à existência na área de estrelas que emitem grandes quantidades radiação de alta-energia (UV) que "partem" o hidrogénio em electrões e protões, que por sua vez ao recombinarem-se produzem a radiação vermelha que se vê nas fotografias.

A aparência visual verde (quase imperceptível) é devido ao oxigénio duplamente-ionizado pelos electrões livres resultante da radiação UV no hidrogénio molecular (penso eu de que...). Todas as estrelas desta área são muito novas, algumas só com umas centenas de milhares de anos (o Sol tem 5 mil milhões), sendo portanto um local de formação estelar - uma espécie de "Berço Estelar". A _nunca_ perder....


Ponto Novo II - Leonidas

2000.11.18
Ponto Novo - Marinha Grande
01:30-04:00 UTC
3+ (luar)
II (Antoniadi), nuvens depois das 3 horas
Par de olhos com 5mm de abertura

Tendo-se perdido a 1ª sessão de chuva de meteoros cujo o pico estava previsto para as 7:30 da manhã de sexta-feira, portanto já de dia, ainda serviu de consolo a 2ª sessão com pico previsto para as 3:45 da manhã.

As Leónidas deste ano não foram de mandar postal para casa, embora tenha a assistido a verdadeiras bolas de fogo que serviram para animar a relativa fraca frequência da chuva deste ano. Infelizmente, para nós depois das 3 das manhã começou a nublar de tal modo que quase nem a Lua se conseguia ver, o que nos impediu de fazer a contagem na ocasião do 2º pico previsto das 3:45 UTC. Foram poucas mas boas, tendo algumas deixado um extenso rasto de fumo, assemelhando-se de certa forma ao rasto de foguetes de festa, havendo por vezes alturas em que se observavam 2 ou 3 simultaneamente. A Lua e as condições meteorológicas não ajudaram muito, mas de qualquer modo nunca deixou de ser um espectáculo visual impressionante.

Lá à espera das Leónidas, estavam apontadas 5 máquinas fotográficas para as prováveis zonas do céu, havendo de vez em quando um grito de satisfação "Esta é minha, esta é minha..".

O chá com mel quentinho, biscoitos de canela e posteriormente os hambúrgueres e bifanas "especiais", ajudaram a suportar melhor o frio e a humidade que se fizeram sentir ao longo de toda a sessão.

Também lá estavam o Orion ShortTube 4.5" do Hugo Silva, o LX200 10" do Paulo Almeida e um Starfinder 6" da ANOA(?), para se dar umas vistas a Júpiter e Saturno, que estão neste momento bastante apetitosos. A turbulência não era muito grande e as imagens proporcionadas foram de grande qualidade, cada vez mais parecendo-se com as fotografias que estamos acostumados a ver.

Estas sessões para além do objectivo principal de observar chuva de meteoros, eclipses ou outro fenómeno qualquer, são alturas e locais ideais para conversar acerca das aquisições recentes de acessórios e telescópios, comparar equipamento uns dos outros etc. Eu acho importante o convívio e a troca de experiências, especialmente porque um astrónomo amador está invariavelmente só, e quem se dedique à observação astronómica não existem ERAAs e Astrofestas que cheguem...


Pátio 16

2000.11.19
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
01:00-01:30 UTC
4 (luar)
II (Antoniadi), nuvens depois das 01:30
Meade ETX90EC com Autostar, Panoptic 19mm, Nagler 7mm, Radian 14mm

Pequena sessão "cirúrgica" numa aberta. Pequena, mas importante, primeiro porque Saturno está praticamente em oposição, logo na melhor posição para observação. E Júpiter pelo que vou a seguir descrever.

Saturno

Os anéis estavam em todo o seu esplendor, o anel de Cassini via-se imediatamente e em toda a sua totalidade, parecendo um fino fio dental preto (bem escuro). Pareceu-me com um recorte notável, menos larga que o costume, não devido ao facto de ter encolhido (muito pouco provável ;)), mas sim devido ao anel C ser bastante mais visível e logo mais largo. O anel C foi a "novidade", pois mostrou-se numa extensão nunca antes por mim observada, notando-se degradee na sua parte mais exterior. A 90x (Radian 14mm) era perceptível algum (pouco) detalhe no globo que tinha a tonalidade geral de beje, para além da habitual sombra dos anéis. A 180x (Nagler 7mm) em nada acrescentou ao detalhe, além de uma imagem maior mas com uma ligeira degradação.

Júpiter

Este planeta "cresce" de semana para semana. A quantidade de detalhe visível é igualmente cada vez maior. Eram imediatamente visíveis 5 bandas, com muito detalhe nas bandas equatoriais, notando-se diversas tonalidades por vezes desenhando semi-arcos na banda Norte, e a surpresa da noite: nada mais nada menos que a famosa Grande Mancha Vermelha que está alojada na banda Sul. Eu não a notei imediatamente, devido ao facto que naquela altura estava a terminar o trânsito do satélite Ganimede na zona polar Sul, que ao contrário do trânsito da sombra é consideravelmente mais complicado de observar. Sendo Ganimede o maior satélite do sistema solar com os seus 5261 Kms de diâmetro e uma distância média de Júpiter de 1 milhão de Kms, deve ter ajudado a destacá-lo bem do brilho do globo de Júpiter.

Coisa que nunca consegui observar com o Io, do qual já testemunhei vários trânsitos da sombra, tentando sempre ver o trânsito do planeta, que geralmente é a seguir (entre 1 a 60 minutos). A Grande Mancha Vermelha, no ETX não é vermelha , mas sim uma zona oval alongada de tonalidade mais pálida que a cor da banda que a aloja, digamos que consegui ver bem a "fronteira". Esta fronteira até é bem larga especialmente na sua parte oeste. Eu descrevia-a como um ténue "nódulo" em madeira castanho muito clara. Estive a observá-la até ficar o céu completamente coberto....


Pátio 17

2000.12.30
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
19:30-20:45 UTC
4 mínimo (via-se a constelação de triângulo)
III (Antoniadi), nuvens com algumas abertas, fumo de várias chaminés
Meade ETX90EC sem Autostar, Nagler 7mm, Radian 14mm, EconoZoom da Scopetronix 7-23mm

Pois é, S.Pedro não tem colaborado muito com o pessoal, ou então andam a comprar Takahashis e Astrophysics às paletas :). Mesmo com a provável venda de muitos telescópios de chuto "natalícios", que por sua vez provocam o efeito contrário - bom tempo - ainda assim não deu para compensar. Depois da quarta molha, pensei que não observaria mais antes do milénio acabar, mas entretanto...

Hoje ao fim do dia estava um bonito quadro formado pela a Lua a caminho do Quarto Crescente e o planeta Vénus, que curiosamente também apresentava uma fase crescente sendo uma espécie de "Mini-Me" da Lua.

Vénus (mag. -4.2)

Desde o fim do Verão de 1999 que não observava este planeta. Embora seja o planeta para além da Lua que mais se aproxima de nós, é notavelmente isento de qualquer detalhe com excepção das fases e do tamanho angular aparente que varia entre 9.5" e 62"!. Vénus tinha uma fase crescente com cerca de 60% e um tamanho aparente de 20", e está neste momento extremamente brilhante (-4.2 de magnitude), tornando-o até mais brilhante que o "Rei" Júpiter. Na altura da observação, já estava a mergulhar a pique a Oeste, o que resultou numa imagem com ondulações constantes, com uma notória coloração amarela na extremidade do disco branco sem qualquer espécie de detalhe.

O seu tamanho é muito semelhante ao da Terra com 12104 Km de diâmetro, mas de longe, a característica mais estranha, é a de ter o dia maior que o ano (equivalente a 243.01 e 225 dias terrestres respectivamente) e ainda ter a rotação ser em sentido retrogrado, ou por outras palavras o planeta está de pernas para o ar e a rodar no sentido directo :). Um prevenido turista deverá estar preparado para temperaturas entre 300 graus centígrados, não se importar de pesar quinze vezes mais e só respirar dióxido de carbono, o que torna este planeta a verdadeira concretização do Inferno....

Júpiter (mag. -2.7)

Júpiter ainda se encontra numa posição bastante favorável para a observação, e como na há uma sem duas, brindou-me com uma nova passagem da famosa Mancha Vermelha :). As condições atmosféricas estavam a piorar um bocado, mas ainda assim deu para observar nitidamente a Cinta Equatorial Norte, em que notei uma região mais escura que a restante banda, seguida pelas duas Cintas Temperadas Norte, terminando na Zona Polar Norte que apresentava alguma diferenciação. A Sul além da costumeira Cinta Equatorial, também deu para notar pela presença das Cintas Temperadas mas bem mais complicadas de observar. Eu passei um bom bocado à procura de um satélite que faltava na superfície do planeta, quando vi começar a surgir a Grande Mancha Vermelha. Vermelha só de nome, pelo menos no ETX, é mais como um "olho de madeira" ligeiramente mais claro, mas com uns impressionantes 48000 por 11000 Kms de dimensão, o que mesmo para Júpiter, é grande. Estive a observá-lo durante uma hora, intercalando brevemente com Saturno e com as nuvens que de vez em quando iam passando.

Depois começou a encobrir irremediavelmente e arrumei para ir jantar. Bem, pelo menos não fui corrido pela chuva...