2006 (II)
Raio da Morte
2006.07.07
Praia da Rocha - Algarve
Esta imagem fez-me lembrar uma cena de um qualquer filme de um ataque alienígena ao nosso planeta. De facto é apenas o reflexo da Lua já em idade avançada no mar ajudado por um efeito de difração e refracção. Imagem feita no cima da rocha que deu o nome à praia.
Raio da Morte
Nikon 950 - 8 segundos
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Pátio 234 - "Trovoada Perfeita"
2006.07.19
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Mais uma grande trovoada de Verão . Esta em particular foi das mais activas que tenho observado. Um mosaico de alguns raios mais espectaculares e uma composição de 6 imagens de 30 segundos com Nikon D70 zoom 50mm f/4 durante um período de 3 minutos. Eu sei onde não gostaria de estar... .
Atalaia XXV
2006.07.22
Atalaia (Montijo 38°44N 8°48W)
Já faz alguns meses que aqui não fazia uma visita. A noite esteve bastante boa, com magnitude limite por volta dos 6, sendo a Via Láctea de visão instantânea. Houve alguns períodos em que caiu alguma humidade e também de passagem de algumas nuvens. Boa transparência e baixa turbulência. Tinha planeado começar a noite a tentar separar a Antares com o 90mm , mas um percalço não me permitiu estar a horas do seu trânsito no meridiano. Segui então para um tipo de estrelas que me despertou a curiosidade. As mais vermelhas e frias que se podem observar - as estrelas de carbono.
As estrelas de carbono têm luminosidades que vão de anãs até gigantes e encontram-se na fase de fusão de carbono, libertando vastas quantidades deste elemento para a sua atmosfera e para o meio interestelar. Estas estrelas têm a particularidade de apresentarem no seu espectro largas linhas de absorção por moléculas que contém carbono, responsáveis por absorver grande parte da luz azul, que combinado com baixa temperatura resulta numa aparência visual extremamente vermelha. É o caso da estrela de 7.5 de magnitude T Lyrae (SAO 67087, HIP 90883), que se fosse uma estrela "normal" seria classificada como M5 ou M6, com temperaturas a rondar uns soalheiros 2000 K à superfície, mas devido à elevada abundância de carbono por ela foi produzida, cria um filtro tornado-a numa das estrelas mais vermelhas que é possível observar através de um pequeno telescópio.
E de facto, no Takahashi Sky-90 podia-se descrever como um ponto vermelho-alaranjado, com a ligeira impressão de parecer ter menos brilho que a sua magnitude indicava. No Obsession 15" do Alberto a sua cor era um espectacular SPA de luz vermelha.
A sua classificação espectral é C6,5(R6) em que 6 é a temperatura (decrescente de 0 a 9) e o 5 a "força" das linhas de carbono (crescente de 0 a 5). A classificação mais actual no entanto aponta para C8. As estrelas muito frias são notoriamente difíceis de caracterizar, mesmo o Hipparcos dá uma distância de 2060 ± 980 anos-luz, uma luminosidade de 310 ± 300 x a do Sol em uma magnitude absoluta de -1.4 ± 1.0. Vista impressionante, a não perder não muito longe de Vega.
O pequeno quadrado acima são estrelas arrastadas de uma imagem de 30 segundos de forma a mostrarem (ou melhor espalharem) as suas diferentes cores. A estrela mais vermelha é a T Lyrae e a seguinte HK Lyrae outra estrela produtora de carbono, a estrela mais azul é uma B9. A imagem abaixo é um recorte da mesma área e tem perto de 1 grau quadrado em volta da T Lyrae.
T Lyrae
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 30s (1x30s) ISO 400
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De seguida coloquei o filtro UHC e fui dar uma volta por Cisne, começando pelas "Véus" que quase se podia observar o grande "parêntesis" formado por ambos os segmentos. A "América do Norte" desta vez incluía também e todo o Canadá e talvez o estado do Alasca - nebulosidade por todo o campo de três graus que a Panoptic 24mm conseguia mostrar. Passei então para o objecto desafio - a nebulosa NGC 6888 também conhecida por "Crescente". Não estava muito esperançado de a ver com apenas 90mm, mas para meu espanto desconfiei da sua presença mesmo sem o filtro UHC. A 21x a sua descrição é apenas simplesmente uma pequena área de ténue nebulosidade as vizinhanças de um triângulo de estrelas relativamente brilhantes, nada que se assemelhasse a um crescente, mas o mais importante neste caso foi a observação positiva com um telescópio pequeno. Terminei com um pequeno salto às pequenas e brilhantes planetárias, NGC 6826 e NGC 7027, sem deixar de passar pela a Messier 27.
Mudando de tema, fui à caça dos planetas exteriores Urano e Neptuno. Urano está a brilhar com 5.8 de magnitude tendo sido muito fácil de encontrar com apenas 56x como uma pequena estrela gorda, muito semelhante a uma pequena nebulosa planetária. A 167x era sem dúvida um pequeno e uniforme disco de cor verde-azulado muito pálido. Neptuno escapou-me completamente. A sua magnitude de 7.8 não era de modo nenhum um desafio, mas o seu tamanho de apenas 2,35", está perigosamente perto do tamanho do disco de Airy para 90mm de abertura que veio a revelar-se fatal para o conseguir distinguir das estrelas. Para a próxima tenho de ir preparado com um mapa.
Para o fim da noite, a constelação de Cassiopeia já se encontrava suficientemente alta e aproveitei para dar uma espreitada a alguns dos objectos mais interessantes. O primeiro deles foi o NGC 7789 que apesar de se encontrar numa região muito populada de estrelas, destaca-se facilmente com apenas 21x. Com um bocado mais de magnificação (56x) faz resolver dúzias de estrelas concentradas sobre um fundo muito difuso, sendo este sem dúvida o meu enxame favorito nesta constelação.
Passei brevemente pelo NGC 457 (o enxame "ET") a caminho do NGC 281 (IC11), sendo este último envolvido pela a nebulosa "Pacman" que era o desafio nesta região. Com o filtro UHC era possível observar sem dificuldade que a região tem uma ténue nebulosidade, embora (novamente) não tenha reconhecido a forma que lhe dá a alcunha. E ainda uma passagem obrigatória pelo o "Duplo".
NGC 7789
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 2 min (1x120s) ISO 400
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Depois de uma espreitadela rápida na galáxia Andrómeda e as suas duas satélites passei para uma galáxia que não poderia estar melhor assinalada, visto a encontrar-se a apenas 8 minutos de arco de alaranjada Mirach, a estrela beta de Andrómeda. A elíptica anã / lenticular NGC 404 é uma pequena e redonda nebulosidade com 11 de magnitude, mas suficientemente concentrada para conseguir sobreviver a luz emitida de tão brilhante vizinha. É bem mais acessível que alguns Messiers.
E finalmente nasceu a já idosa Lua com o minguante perto de 4% de iluminação, que do meu local ainda demorou algum tempo a galgar as árvores que recortavam o horizonte. Mas a vista que deu conjuntamente com Vénus (este a brilhar a -3.9! a apenas cinco dedos da Lua) fez valer a pena quase ver o dia a nascer na Atalaia. A luz da Terra reflectida na noite lunar esteve surreal, tendo proporcionado um grande final para uma noite bem passada.
Como é habitual ver também os resultados e relatos em www.atalaia.org.
Crescente
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O nascer do dia
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Serra da Estrela III - Serra Láctea
2006.07.29
Vale do Rossim - Serra da Estrela
A noite de Verão que não poderia ter sido mais perfeita: céu escuro (magnitude 6.5 e SQM 21.30), sem nuvens (que embora ameaçadoras no horizontes litoral, as mais atrevidas era desfeitas pela a serra), sem nenhum vento, sem frio (12°), sem absolutamente humidade nenhuma, e a boa companhia do Seabra, do Fausto e respectivas famílias.A barragem do Vale de Rossim situa-se um pouco abaixo das Penhas Douradas a cerca de 1430 metros de altitude.
Via Láctea
Nikon D70 + 50mm f74
exp: 5 min (1x300s) ISO 400
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Em céus deste calibre têm a particularidade de serem um verdadeiro deleite à vista desarmada, contam-se pelos os dedos as vezes que tive a oportunidade de ver a Via Láctea de Verão tão extensa, rasgando da cauda do Escorpião às pernas de Perseu atravessando de horizonte a horizonte com uma envergadura fora de normal, ficando as mais brilhantes constelações quase irreconhecíveis de tanta estrela que graças à escuridão surgiram, tendo algumas das constelações mais modestas ganho a forma e fazerem mais jus ao seu nome. Em céus escuros, a nossa própria Galáxia torna-se sem dúvida o objecto mais espectacular, sendo simplesmente necessário um par de olhos para ter a sensação que realmente dela fazemos parte e que por muito vezes se experiencie, é e será sempre, uma visão fascinante. Valeu a pena a viagem só por isto.
Pegando no binóculo, foi possível passear com um pouco mais de detalhe por infindáveis rios de estrelas e vales de poeira interestelar, com as pequenas concentrações de estrelas que marcavam os enxames, assim como algumas regiões de nebulosidade, como a gigantesca "North America" ou então a "Hélix" que nos binóculo me fez lembrar a que vi em La Palma . Durante toda a noite choveram os bem mais próximos meteoros esporádicos, e até alguns a anunciar as Perseidas, tendo alguns deles fragmentado e deixado atrás um rasto de poeira iluminado.
Via Láctea
Nikon D70 + 50mm f74
exp: 10 min (1x600s) ISO 400
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Usando o Takahashi Sky-90 comecei em Sagitário como um belo quadro da Messier 8 e Messier 20 no mesmo campo, subindo vagarosamente por ali acima até ao Escudo onde se situa o enxame aberto Messier 11. Quando passei por este último a 21x, associei melhor a alcunha de "Patos Bravos" que dão a este enxame, pois com esta magnificação e abertura realmente tem uma forma semelhante a um bando de aves bem compactado, mesmo estando imerso em tanta estrela.
Finalmente consegui observar a galáxia de Barnard (NGC 6822) usando apenas 21x , que tal como previamente no 20cm, esta galáxia continua a ser um objecto extremamente difuso, tendo que inicialmente mover o telescópio para detectar a sua presença, passando pouco depois com alguma insistência a objecto de visão directa. No 18" polegadas do Seabra a sua forma alongada era bastante evidente. Também a vizinha extraordinariamente brilhante , mas pequena planetária NGC 6818 "A Pequena Pedra Preciosa", revelava a sua presença com apenas 56x, não passando no entanto de uma pequena e difusa bolinha.
Ainda na região fiz uma visita aos globulares Messier 55 e Messier 75, sendo o primeiro bastante grande com dúzias de estrelas resolvidas, e o último quase a sua antítese: pequeno e sem praticamente resolução. Fiquei no entanto bastante surpreendido com a resolução obtida no Messier 15, este já em Pégaso. Ainda tentei em vão detectar a NGC 891 em Andrómeda, mas julgo precisar de subtrair mais um ou dois quilómetros de atmosfera para o conseguir, restando dessa tentativa apenas a visão da bonita dupla amarela e azul Gamma Andromedae (Almach). Não deixei de passar pela a Messier 31 que atravessava os três graus da 24mm, que também incluía as galáxias satélite Messier 32 e Messier 110 num belo enquadramento.
Já o começo do crepúsculo foi uma verdadeira parada de satélites artificiais com destaque para a ISS e uma formação triangular de satélites ,que segundo o Heavens Above se tratavam de satélites militares de vigilância "top-secret" da Marinha norte-americana NOSS 2-1 (C). Estes satélites costumam ser discretos, brilhando normalmente à volta da magnitude 5, mas neste caso apresentaram pelo menos uma magnitude 2 a 3, sendo facilmente visíveis a olho nu formando um triângulo com 3 graus de lado, o que dá para apreciar o que são 50 a 60 km vistos a cerca de 1000 kms de distância. Para saber mais ver aqui. Depois de ver o par Space Shuttle e ISS logo após a sua separação há alguns anos atrás, é sempre bom sinal ver estas máquinas em queda livre ao início da noite e melhor sinal ainda ao fim da noite.
Por falar em imagens, não resisti de tirar umas recordações daquele céu escuro. É sempre um raro prazer conseguir fazer exposições de 4 e 5 minutos sem filtro a f/4.5 e não saturar as imagens. Abaixo estão as imagens de duas das galáxias de maior dimensão aparente daqui do hemisfério Norte, a Messier 31 e companheiras e a Galáxia Messier 33 do Triângulo. Ambas razoavelmente sub-expostas com apenas 20 minutos (5x4 minutos) cada, mas julgo que o suficiente para capturar uma ideia geral. A imagem da NGC 404 ("Fantasma de Mirach") foi mais teste de focagem com apenas 2 minutos, mas lá fica uma imagem do insólito par que está mencionado no relato mais abaixo.
Messier 33
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Messier 31, Messier 32 e Messier 110
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NGC 404 e Mirach
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Pátio 235 - "Red Moon Rising"
2006.08.09
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
É bonita. mas por razões erradas, as cinzas dos vários fogos na região fizeram desta lua cheia um quase Sol nascente. Também esta Lua, é uma das mais próximas da Terra este ano, distando esta apenas 360,134 km.
Lua Cheia
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Lua Cheia
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Pátio 236 - Manchas Solares 904
2006.08.11
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Eis um grupo de manchas solares jeitoso para esta altura do ciclo. Se há imagens que custam o suor da cara, esta é uma delas - aqui no pátio estavam 39 graus na altura da aquisição. A configuração continua a mesma de sempre, só que neste caso foi usado um filtro 1000 Oaks.
Sol
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Pulo do Lobo VI
2006.08.19
Pulo do Lobo - Serpa
Noite passada num dos buracos negros da Europa, onde o céu continua a ser um dos mais escuros de Portugal. Com o SQM a bater em média nuns espantosos 21.51 de valor em média, sendo esta a melhor marca que registei até hoje, apesar de contudo não ter a transparência de um céu a grande altitude. De resto a noite foi amena, sem humidade mas com algum vento forte no início.
Ainda com o Sol em cima tive oportunidade de observar pela a primeira vez e ao vivo e a cores o seu espectro (e também o próprio espectrógrafo) - máquina para mim verdadeiramente extraordinária pelo que é possível através dela descobrir. Percorrendo a "banda", via-se facilmente as riscas de absorção no h-alpha, Sódio, Ferro entre muitas outras e também diversas moléculas da nossa atmosfera que formava bandas cada vez mais fortes à medida que o Sol descia. O que se via era semelhante a esta imagem .
Após um agradável fim de tarde com uma petiscada, a noite começou com mais uma passagem da ISS que brilhava tão forte como Júpiter.
Neste céu escuro foi possível observar com apenas 7x50mm de binóculo, objectos que tipicamente ficariam fora de alcance. Não me lembro de tão evidentes e sem utilizar qualquer filtro as nebulosas América do Norte e Pelicano e mais especialmente as Véus. Foi realmente fácil de percorrer uma pequena mini-maratona de Messier com alguns extras, que pude contar pelas dúzias: Messier 51, Messier 101, Messier 81, Messier 82, Messier 33, Messier 32, Messier 31, Messier 110, Messier 27, Messier 71, Messier 56, Messier 36, Messier 37, Messier 38, Messier 45, Messier 44, (grande parte dos Messiers de Sagitário e Escorpião), Helix entre outros.
No telescópio ( Takahashi Sky-90 ), mais uma vez a Antares ficou por separar devido ao vento e respectiva turbulência que se fez sentir no início da noite aquando o seu trânsito, mas ficou compensado pela a vista do par NGC 253 "Galáxia do Escultor" e o globular NGC 288, par este situado muito perto do polo Sul galáctico que ficou retratado abaixo. Passei ainda por um dos globulares favoritos, o Messier 22 e o enorme Messier 7 (este registado no meio de uma ventania). Também andei em vão à procura da anã do Escultor (PGC 3589) e também da anã de Fornax (PGC 10074).
As imagens foram obtidas com um Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm)+Nikon D70 4,5" res em cima de uma Takahashi P2-Z fazendo sub-exposições não-guiadas de 5 minutos a ISO 400, sendo algumas de 6 e 7 minutos por andar na conversa. Convertidas e empilhadas (sigma-clip) no IRIS e finalização no PixInsight e PS.
Mais imagens dos companheiros de céu em atalaia.org.
"Snake" & Co
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 25 min (5x300s) ISO 400
(manter rato sobre a imagem para legendas)
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O catálogo de 370 nebulosas escuras de Barnard (prefixo B), foi elaborado a partir de A Photographic Atlas of Selected Regions of the Milky Way que nesta imagem podem-se ver meia dúzia delas, para além de uma pequena planetária (NGC 6369) e um pequeno enxame globular (NGC 6325). A "Snake nebula" faz parte do fumo da imensa "Nebulosa do Cachimbo".
NGC253 & NGC 288
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 25 min (5x300s) ISO 400
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Esta grande galáxia em Escultor é, para todos os efeitos, uma das galáxias a sempre revisitar, é extremamente brilhante e grande (7.2 magnitude e 29'x7' de dimensão), sendo um bom alvo para pequenas aberturas. A 21x ambos os objectos ficavam bem enquadrados, com uma boa extensão da galáxia visível, mas o globular a não resolver praticamente nada, nem com mais magnificação. O polo sul galáctico fica um pouco abaixo e à esquerda do globular NGC 288.
Messier 22 & NGC 6642
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 28 min (3x300 s + 1x400 s - 1x360) ISO 400
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Apesar do Messier 13 ter o crédito de ser o mais impressionante do nosso hemisfério, este fica a perder no tamanho aparente e no brilho total, sendo Messier 22 o terceiro nestes parâmetros após os "sulistas" Omega Centauri e 47 Tucanae. É também o mais próximo dos que são visíveis a partir do hemisfério norte, mas devido à sua posição perto do plano da galáxia muito do seu brilho é ofuscado pela abundante poeira interestelar , senão seria sem dúvida o rei incontestado dos globulares. A sua proximidade (10100 anos-luz) permite pequenos telescópios resolver mais algumas estrelas que o habitual, sendo no entanto uma vista impressionante em qualquer abertura. Abaixo ficam umas experiências usando apenas uma exposição de 5 minutos. Os canais de RGB foram todos somados e depois binado a 2x. Com este procedimento é possível obter imagens mais profundas à custa da cor e de resolução. De qualquer modo a diferença de população de estrelas entre estas duas imagens é extraordinária.
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Outros relatos do Pulo do Lobo:
Pátio 237 - Eclipse Lunar Parcial
2006.09.07
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Muita neblina e nuvens, mas valeu a pena ver no binóculo durante os 2 minutos de trégua um eclipse lunar a nascer, o segundo este ano. Como bónus esta é a "maior" lua cheia deste ano estando a apenas 356,626 km na altura da imagem.
Eclipse Lunar Parcial 19:30 UTC
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Outros eclipses lunares aqui no Pátio
Atalaia XXVI
2006.09.16
Atalaia (Montijo 38°44N 8°48W)
O SQM esteve a medir 20.25 de média com a Via Láctea bem presente, pouca humidade, temperatura agradável.
A Lua nasceu às 02:00 com também algumas nuvens a aparecer, tendo a partir daí a noite se estendido por mais 1 ou 2 horas para a grande maioria dos presentes.Não vim especialmente preparado para esta observação, não tendo objectivo nenhum a seguir fui saltitando de telescópio em telescópio a ver o que o pessoal andava a fazer, em especial um protótipo da Atik Instruments que o Rui Tripa e Pedro Mota estavam a testar que parece prometer baixar bastante a "jóia" de entrada no económico-selecto clube das câmaras CCD refrigeradas de 16 bits. O Gregório andava a detectar a perda de alguns fotões de uma estrela por causa de um trânsito de um exoplaneta. Entretanto, Capricórnio estava a transitar com Aquário logo atrás (e acima) e decidi dar uma volta pelos seus objectos mais brilhantes com o Takahashi Sky-90 .
NGC 7009 "Nebulosa Saturno" - Brilhante e notável, com as orelhas a tornar a sua forma alongada, mas não resolvidas (Nagler Zoom 3mm)
Messier 73 - Dá para tentar entender o efeito nebuloso que várias estrelas juntas podem causar quando usamos pequenas aberturas.
Messier 72 - globular difuso e pequeno
Messier 30 - um bocado melhor que o acima, mas com uma estrelita ou outra a despegar. Já na região Andrómeda/Pégaso/Triângulo, dei a habitual volta pelos messiers locais (Messier 15, Messier 31, Messier 32, Messier 110, Messier 76, Messier 33) e ainda NGC 7331.
NGC 404 - é uma vista notável desta galáxia tão perto de uma estrela de segunda magnitude (Mirach).
NGC 891 - mais uma vez impossível de vislumbrar, nem com imaginação indirecta, o que não me admira pois nem sob um céu com menos 1 magnitude de brilho também não consegui tal feito, ficando apenas a sua observação no 20cm. Fiz então algumas exposições da malvada. A imagem de 3x5 minutos mostra o quão ténue esta galáxia se apresenta, com os suas 13 magnitudes de brilho de superfície. Como sempre lá perto a dupla laranja/azul Gamma Andromedae que até julgo ser mais impressionante que a albireo.
Messier 74 - galáxia muito ténue de forma arredondada sem apresentar qualquer condensação no núcleo.
Para refrescar a memória, fiz um reconhecimento a olho nu pelas constelações de Peixes e Baleia, Aries.
http://www.atalaia.org/encontro.php?id=196
Galáxia NGC 891
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 15 min (3x300s) ISO 400
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Galáxia Messier 74
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 15 min (3x300s) ISO 400
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Vale da Lama VII
2006.09.30
Vale da Lama - Alpiarça
Anoiteceu com um céu pouco convidativo, mas ao soar a meia-noite e num exemplo da mais perfeita concentração entre a gravidade e a atmosfera, foram-se embora a Lua e as nuvens. A humidade foi intensa, transformada em nevoeiro pelas quatro da madrugada. O SQM chegou a 21.00 a meio da sessão.
Por companhia tive diversos companheiros que se dedicaram a fazer astrofotografia que se podem ver aqui.
Enxame aberto NGC 188
Enxame aberto NGC 188
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 20 min (4x300s) ISO 400
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Este enxame galáctico é considerado o terceiro mais antigo, tendo uns simpáticos 7 mil milhões de anos (7 Ga) de idade, mais 2,500 que o nosso Sol, que no entanto, é provavelmente membro de um enxame com a mesma idade. Logo após, o bem mais ténue NGC 6791 em Lyra e o perdido algures em Cocheiro (Auriga) Berkeley 17. Embora este enxame tenha estrelas bastante antigas, ainda fica bastante aquém da idade dos enxames globulares mais novos (a partir de 13 Ga). È maioritariamente constituído por estrelas de magnitude superior a 10 com espectro F, G e K, sendo o estudo destes velhos enxames importantes para ajudar datar melhor a idade do disco da nossa Galáxia.Está situado muito perto da estrela Polar, a cerca de 4 graus mas já pertence à constelação de Cefeu, podendo-se descrever visualmente como uma ténue nebulosidade a roçar bastante a vaga impressão, sem ter conseguido firmar qualquer forma. A estrela mais brilhante começa em 10.0 de magnitude (e são poucas), como é muito esparso não ajudou muito os 90mm de abertura utilizados. A carta 2 do Millennium Star Atlas (MSA) foi instrumental na sua detecção.
Um bom exemplo de uma estrela gigante K0 de magnitude 4.2 2 UMi (2 Ursae Minoris) está no fundo da imagem. Esta estrela é também um bom ,ou antes um flagrante exemplo, de um nome histórico, pois esta estrela não pertence correntemente à Ursa Menor, mas sim a Cefeu, o que perdura ainda e incorrectamente é o número que Flamsteed lhe atribui.
Polaris (Alpha Ursae Minoris)
Finalmente fiz uma imagem à zona do céu boreal mais vista (não observada), por quem possui uma montagem equatorial móvel. Aquela cruzinha marcada abaixo, è a razão de muitas imagens estragadas e de muito GoTos ao lado. A Polaris forma com outras estrelas um asterismo triangular telescópico, que é invariavelmente a primeira visão telescópica que tenho sempre que monto na Takahashi P2-Z com o Takahashi Sky-90 ou com o FC-60, primeiramente com o buscador polar, e logo de seguida com a habitual ocular de "arranque", a Panoptic 24mm que magnifica 21x e, com a qual, é logo possível notar a duplicidade da estrela que nos dá rumo acima do equador. Sendo esta uma estrela variável, tipo Cefeída, e a mais próxima do sistema solar, serve ainda para calibrar melhor o nosso sistema de distâncias e ao conseguir fazer uma imagem da uma estrela ainda mais próxima com o Hubble, vai ser possível determinar com grande precisão a sua massa daqui a alguns anos.
Dados fundamentais:
- Magnitude V (Johnson): 1.97
- Tipo Espectral : F7:Ib-IIv SB
- Distância: 132.3 ± 8.4 parsecs (431 ± 27 anos-luz)
- Luminosidade: 2370 ± 300 x a do Sol
- Magnitude absoluta : -3.64 ± 0.14
- Outro nomes : POLARIS; Alruccabah; Cynosura; Phoenice; Lodestar; Pole Star; Tramontana; Angel Stern; Navigatoria; Star of Arcady; Yilduz; Mismar.
Polaris
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + Nikon D70 4.5"
exp: 2 min (1x120s) ISO 400
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Galáxia de perfil NGC 891
Finalmente!!! Esta galáxia já se estava a transformar num traumatizante caso perdido de não-observação.
Com a preciosa ajuda do MSA (carta 101, e para quem vem da Almaak ou, na carta 100 para quem vem do Messier 34). Não houve espaço para dúvidas onde tentar encontrar esta fugidia galáxia, foi longo o tempo para a sua detecção, movendo o campo de vista para cima e para baixo e até que finalmente surgiu: um risco muito, mas muito ténue que mesmo com visão indirecta era impossível de reter. Mas a orientação do risco foi condizente com a carta.
Galáxia Anã de Fornax
Esta galáxia anã do Grupo Local estava a ser escrutinada antes da neblina intensa cair. A carta 403 zerou a sua posição, mas permaneceu totalmente invisível, tendo até começado a fazer uma imagem para verificar se estava a apontar para o sítio correcto, mas só apanhou vapor de água - tinha chegado o nevoeiro.
05/10/2006
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Millennium Star Atlas e Pocket Sky Atlas
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A observação passada foi também a "primeira molha" do recentemente adquirido Millennium Star Atlas de Roger W. Sinnott e Michael A.C. Perryman, Sky Publishing/ESA, 1997, ISBN: 978-1931559270
É conveniente fazer uma pequena advertência, a de que sou um grande apreciador e utilizador de cartas estelares impressas em papel. Este tipo de suporte, pouco a pouco vai-se tornando extinto nos habituais acessórios de campo, face à cada vez maior utilização de GOTO's ou sistemas de apontamento assistido. Considero o caminho para encontrar os alvos por vezes tão importante e fascinante como o alvo em si, e como sou apreciador dos modos tradicionais, ainda que lentos, e em especial aqueles que são simples, eficazes, e que nunca falham, cá ficam as minhas impressões iniciais.
O Millennium Star Atlas (MSA) é um conjunto de 1548 cartas baseadas no catálogo Tycho, onde estão impressas cerca de 1 milhão de estrelas, conjuntamente com informação adicional do catálogo Hipparcos cobrindo a totalidade dos dois hemisférios. Cada carta cobre um área de 5.4°x7.4°, área semelhante ao campo de vista através de binóculo de 7x50 com uma escala de 100 segundos de arco/mm, 16,7 minutos de arco /cm, 1 grau tem 3,6 cm. Os volumes têm 33x23.5x3.2 cm e pesam pouco mais de 2kg cada.
O MSA está dividido em 3 volumes, cobrindo cada um deles 8 horas de ascensão recta de pólo a pólo. Tal arranjo pode dispensar pelo menos um volume na bagagem a levar, que no caso de se querer andar com os 3 volumes e a sua caixa pode atingir uns pouco portáveis 6,7kg, o que curiosamente na altura da sua primeira edição em 1997, era o peso que alguns computadores portáteis começavam a deixar de pesar. Nos dias de hoje, tudo o que lá está impresso e mais informação suplementar pode vir dentro de um bolso bem pequeno da camisa. Mas por muito que aprecie a conveniência do meu Palm Tungsten ou portátil, simplesmente não os acho adequados para os utilizar em locais de observação visual, não só pelo tamanho e escala mas também por causa da retro-iluminação destes dispositivos que arruinam a visão nocturna, a do seu dono e a dos seus vizinhos.
Apesar destes atlas serem tipicamente considerados uma referência melhor adequada a observadores avançados com telescópios de grande abertura, considero antes que é uma representação quase fiel das estrelas até uma magnitude estelar limite 11 que podem ser prontamente observadas através de telescópios e binóculos com cerca 50-100 mm de abertura, o que me faz lembrar que observadores atrás referidos considerarem estes telescópios meros buscadores... De qualquer forma assenta como uma luva em pequenos instrumentos. O nível de profundidade estelar mostra suficientes estrelas para permitir colocar com grande exactidão qualquer objecto visível ou invisível no centro do campo de uma ocular. Também considero este atlas muito útil na observação de cometas e asteróides brilhantes, pois existem impressas suficientes estrelas de comparação para fazer estimativas, podendo-se também desenhar a sua posição e anotar as estrelas mais semelhantes.
As estrelas com movimento próprio apreciável em algumas décadas possuem setas de diversos comprimentos que mostram esse a direcção e dimensão desse movimento, garantindo muita longevidade deste atlas. As estrelas variáveis (8200) são também anotadas de maneira a dar ideia da magnitude de variação, usando um circunferência estilizada em volta das estrelas (sólido, ponto, traços). As estrelas duplas (22000) também têm uma notação "sui generis ", um tracinho que mostra a orientação e separação aproximada.
Acho estas notações de estrelas bastante úteis no campo e na falta de informação escrita mais detalhada. É raro parar numa carta e não procurar que mais existe para ver naquele rectângulo de céu.
A projecção usada foi a cónica simples segundo Raisz (1934), que permite medir ângulos com erros inferiores a 0.2° em todas as cartas. Segundo a extensa introdução, a exactidão das posições das estrelas é maior que o provável envelhecimento ou deformação do papel depois de ter apanhado alguma humidade. O papel utilizado embora considero decente (semelhante ao do Uranometria), também não parece muito adequado para expor aos elementos. Para esse tipo de utilização isso teria de ser plastificado. O papel não tem também suficiente espessura para ser absolutamente opaco pois consegue-se ainda ver estrelas mais marcadas do verso da página, mas não me parece ser realmente incomodativo.
Um primeiro problema surgiu quando expus estes volumes a um céu aberto notoriamente húmido.
De alguma forma os livros mudaram a sua volumetria tanto devido ao uso como pela humidade, já não cabendo os três na sua caixa. que pelo menos no meu caso, foi feita com tolerância demasiado apertada. A capa embora macia, parece aguentar bem até uma camada de água em qualquer estado físico, mas impressão em dourado já começou a desvanecer. Inicialmente, tinha pensado por capas de plástico, mas a caixa não me permitia, mas agora já é tarde demais, mas o tempo com certeza dirá mais acerca da durabilidade e qualidade de construção.
No que diz respeito a objectos não-estelares, não existe nenhum índex de objectos de céu profundo catalogados usando números, exceptuando a lista de Messier e listas de objectos estelares e não-estelares do céu profundo que possuem um nome comum popular, sendo estas reimpressas no final de cada um dos volumes. Adicionalmente no volume I, vem um índex para todas as estrelas com letra grega atribuída. Também neste volume se encontram tabelas referindo estrelas mais brilhantes, as mais próximas, as mais rápidas (incluindo um esquema pormenorizado da trajectória da estrela de Barnard e as duplas mais brilhantes. Não possui também quaisquer cartas de pormenor, como por exemplo as que o Uranometria tem para as áreas de grande concentração como no caso zonas muito populadas como as do plano da nossa Galáxia ou enxames de galáxias. Os apreciadores dos últimos podem considerar um aspecto comparativamente negativo.
Em lado nenhum encontrei escrito o número exacto de objectos de céu profundo impressos, (talvez por ser bastante inferior ao do Uranometria), mas pela leitura da introdução que diz ter >10000 objectos não-estelares pode-se ter as seguintes contagens:
Objetos
- Enxames abertos : ~700
- Enxames globulares: 144 + várias dezenas extra galácticos
- Nebulosas : NGC/IC e Ced, vdB etc
- Nebulosas planetárias : >500
- Nebulosas escuras : Barnard e Lynd
- Galáxias : > 8000
- Enxames de Galáxias: 675
- Quasares : ~250
Sky Atlas 2000.0, Uranometria, The Observer's Sky Atlas,
Millennium Star Atlas e Pocket Sky Atlas
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Não existe até à data qualquer manual de referência, dito de companhia, mas o volume 3 do Uranometria (Deep-sky Field Guide) é perfeitamente adequado para cumprir tal função, listando até três vezes mais objectos que os presentes no MSA. Alguns podem achar poucos objectos, mas para observação visual acho o número mais que suficiente para qualquer abertura, com a provável excepção de projectos de observação especiais, mas nesse caso acho que vou ter um grande e raro prazer em os desenhar.
Antes de o levar para o terreno, pratiquei encontrar as cartas de diversos objectos conhecidos para me habituar à sua organização. Achei muito fácil de encontrar qualquer dos objectos que tenha procurado, mesmo só tendo uma vaga noção da sua localização. A divisão em bandas de declinação, com cartas contíguas em A.R é extremamente lógica e natural. Em uso efectivo no terreno veio realmente a comprovar-se que este atlas é prático e eficaz. Embora seja possível usar apenas as cartas índex no final de cada volume, a escala e detalhe não me é muito prática para apontar com buscadores unitários como o QuickFinder ou o Telrad. Para essa tarefa utilizo o Karkoschka e/ou o também recente Pocket Sky Atlas, que sempre serviram de excelentes apontadores.
É difícil não concluir que é o melhor atlas em papel de magnitude 11 que existe, pois parece ser o único correntemente em impressão. A única alternativa que lhe pode concorrer são cartas geradas por um planetário (Guide8, Skymap ou outros), mas se se fizer bem as contas ao papel, tinta e tempo que demora a fazer um que seja no mínimo equivalente em qualidade, é capaz de não ser muito assim tão boa ideia, ou por outras palavras, ambas as soluções não se substituem mas sim completam-se. O preço, esse, é a de uma boa ocular ploss, ou de qualquer outra desculpa de valor semelhante.
Atalaia XXVII
2006.10.14
Atalaia (Montijo 38°44N 8°48W)
O SQM mediu 20.30 de média, muita humidade, com a Lua a nascer pela a uma da madrugada. Chá e bolos por cortesia do João Gregório.
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
O primeiro objectivo foi observar o cometa correntemente, mais brilhante no nosso céu, o C/2006 M4 (SWAN). As estimativas do IAU apontavam para quase 8 de magnitude, mas pareceu-me bem mais brilhante, sendo semelhante, mas para menos, à estrela de mag. 6.6 que se encontrava lá perto (a mais brilhante da imagem). A 21x a coma era incolor e tinha forma oval e apresentava-se muito condensado, mas sem qualquer cauda visível.
Abell 426
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Este cometa aparenta ter uma órbita hiperbólica, que pode significar que provavelmente está destinado a saltar fora do sistema solar devido a perturbações que deve ter sofrido ao passar perto dos planetas (os suspeitos do costume são os gigantes gasosos). Outra razão poderá ser de se tratar um visitante interestelar, mas a frequência de visita deste cometas estima-se em 1 em cada 450 anos.
No momento do registo, estava a mover-se 2 graus por dia em AR, distando pouco mais de 160 milhões de quilómetros da Terra, e nesta altura também, em que se apresentou mais brilhante.
Mais informação e bem melhores imagens no excelente http://cometography.com/lcomets/2006m4.html
A imagem ao lado mostra uma cauda com dois terços de grau de comprimento, com a típica cor verde-esmeralda (o mecanismo de emissão mais importante é a fluorescência), que apesar de tudo, conseguiu furar as condições adversas de observação, tais a baixa altitude (10°), neblina, poluição luminosa e eclipses por "aglomerados de carbono". E também não me parece ter ficado lá muito focado. Foram 5 exposições de 2 minutos cada.
Enxame de Galáxias Abell 426 (Perseus A)
É necessário uma considerável dose de boa vontade para considerar a imagem abaixo esteticamente interessante. Nunca tinha feito a imagem um enxame de galáxias a mais de 200 milhões anos-luz e por diversas razões: exceptuado os enxames do Super Enxame Local (Virgo), estes tipicamente são muito ténues, e sendo as galáxias mais pequenas que cagadelas de mosca, sobretudo na escala de resolução em que foi fotografado (4") rondando os membro mais brilhantes os 7, 8 pixels de tamanho, o que mostra bem o que se pode esperar de um enxame de galáxias. A imagem tem uma exposição total de 28 minutos (7x4 minutos), tempo que é notoriamente insuficiente para este tipo de objecto. O Norte está para cima em ambas as imagens.
É relativamente fácil de apontar, estando localizado na constelação do Perseu a dois dedos da Algol (beta Persei). Infelizmente, mas como tinha esperado, não consegui ver nenhuma, nem a mais brilhante NGC 1275, que começa logo com apenas magnitude 12.7, e estou seguro que estive a olhar para as sujeitas por largos minutos (MSA carta 98). É um excelente alvo para grandes aberturas, como podem ver nesta espantosa página de observação.
Segundo o grande catalogador astrónomo George Abell que o baptizou com um número, após ter perdido as pestanas nos anos 1950s a examinar visualmente as placas fotográficas do Schmidt de 48" do Monte Palomar, este enxame é rico (II-III) pela sua curiosa mas inteligente classificação (galáxias vizinhas até 2 magnitudes menos brilhantes que a terceira mais brilhante) tem um "redshift" médio de z=0.01790 que segundo a actual idade do Universo o coloca a pouco mais de 250 milhões anos-luz espalhando mais de 200 galáxias moderadamente brilhantes num diâmetro de 8 graus de céu!, claro que este número aumenta e muito conforme o instrumento utilizado para fazer imagem.
Abell 426
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A galáxia mais brilhante NGC 1275 que está praticamente no meio da imagem, também conhecida por Perseus A, é uma gigante elíptica peculiar que domina o Enxame de Perseu. Esta galáxia é peculiar por diversas razões: tem um núcleo activo (tipo Seyfert) com jatos, formação recente de estrelas, é uma potente fonte de rádio (3C 84), de raios X por talvez estar no meio de uma colisão/digestão.
São muitas galáxias em apenas 1 grau quadrado de imagem, tendo depois de assinalar quarenta e muitas delas, pois existem mais ténues e não visíveis na imagem, com a ajuda do Guide8 deixado por contente a ver como ficou a distribuição das galáxias mais brilhantes deste enxame. Este tema de enxames de galáxias é de vital importância para compreender a organização do Universo na grande escala, principalmente os mais longínquos que mostram como era o Universo e galáxias no princípio dos tempos.
Vale da Lama VIII
2006.10.28
Vale da Lama - Alpiarça
Swan e o Messier 13
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Mais uma ida ao Vale da Lama, que apesar das recentes inundações na região ainda se encontrava transitável.O SQM marcou uma média de 20.70, reflexo de uma noite não muito escura, comum céu um de aparência leitosa e nuvens altas traiçoeiras sempre à espera de arruinar uma exposição, mas que serviram de pausas para simplesmente olhar para o céu. A humidade acentuou-se até ao início da madrugada, mas depois a noite ficou serena e agradável. Como sempre, boa companhia e a tradicional petiscada de grelhados. As imagens resultantes desta noite podem-se ver aqui .
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
Adoro quando os cometas fazem isto!
Andei a seguir com o 7x50 este cometa nos dias anteriores aqui do Pátio desde que entrou em "outburst", e não lhe dava mais de magnitude 5. Parecia que já não tinha mais nada para dar nesta sua passagem à volta do Sol, e ei-lo fulgurante como nunca. A imagem foi registada durante cerca de uma hora, sendo esta a posição do cometa pelas 20:07 UTC.
Um contra-tempo que quase foi fatal. Esqueci-me de acertar a data e local na folha de cálculo que utilizo para calcular a hora sideral para alinhar a montagem. Os parâmetros que dei eram da Atalaia faz duas semanas atrás... (ver a entrada mais abaixo). Escusado será dizer que as imagens sofreram alguma rotação. A rotação de campo é quase impossível de se detectar de imagem para imagem, só quando se regista para empilhamento é que se vê o efeito, mas não foi nada que IRIS não resolvesse.
A cauda de poeira que a imagem mostra tem um tamanho impressionante, estendendo-se ao longo de quase 3 graus (6 diâmetros da Lua ou do Sol), embora muito pouco desta fosse visível no binóculo 7x50, e muito leves indícios no 90mm a 21x, talvez devido ao luar e também a alguma luminosidade naquela área. O brilho da coma era ligeiramente semelhante ao enxame Messier 13 que estava alguns graus mais acima. Tentei vê-lo a olho nu várias vezes sem sucesso.
A título de curiosidade, o cometa encontrava-se a 1.07153668 AU (160,299,606 km) que é pouco mais que a distância da Terra ao Sol. Sabendo que o Sol tem 1.39 milhões de quilómetros diâmetro com um tamanho aparente de 32' podemos estimar facilmente com regra 3 simples o tamanho real da cauda registada na imagem vista da nossa perspectiva: cerca de 5 milhões quilómetros, embora a cauda tenha o dobro do tamanho mesmo quando fotografada com pequenos telescópios. Um pormenor interessante é que apesar de todo este aparato em que parece que se está a desfazer todo (o que por vezes acontece), tipicamente um cometa apenas perde entre 0.1 e 1% da massa em cada órbita.
A imagem de grande campo no início mostra o brilho relativo deste cometa quando comparado com enxame globular Messier 13 em Hércules, que está situado mais acima à 1 hora, e apresenta curiosamente uma cor muito aproximada. As condições já não eram muito favoráveis, com o cometa e Hércules a afundarem-se no horizonte, mas ainda se pode ver com boa vontade um leve indício da extensa cauda.
Enxames abertos Messier 35, NGC 2158, IC 2157 e IC 2156
Na constelação de Gémeos, a 2800 anos-luz , 13000, 6120 e ???? anos-luz respectivamente. Os dois primeiros enxames têm a mesma dimensão, mas estão separados entre eles 10000 anos-luz. É facilmente detectável com vista desarmada, e uma vista impressionante em binóculos ou telescópios a baixa magnificação, embora a diferença de cor só seja bem notória com grandes aberturas - o NGC 2158 é um bom exemplo de "reddening" causado pela poeira interestelar pois nem é um enxame muito velho.
Os IC 2157 e IC 2156 são praticamente imperceptíveis no 90mm... O IC 2156 é um ilustre desconhecido, muito provavelmente apenas um asterismo naquela pequena concentração às 11 horas do IC 2157. A estrela brilhante que compõe o ramalhete, e dá uma ajuda a equilibrar as cores, é a 5 Geminorum, uma gigante K0 a brilhar a quase 6 de magnitude.
Messier 35, NGC 2158, IC 2157
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Barnard 33, IC 431, IC 432, NGC 2024, IC 435, IC 434, NGC 2023 e NGC 1990
Decidi incluir esta imagem sofrível duma das regiões mais populares da astrofotografia, apenas porque estive mais de duas horas a expõ-la. Foram 30 exposições de 2 minutos, cronometradas manualmente com o consequente desligar/ligar da máquina fotográfica (devido à maldição do RAW Nikon), isto foi o que sobrou depois de ter perdido mais de 10 exposições por causa de nuvens sorrateiras. Uma hora de exposição, e ficou óbvio que não chega, muito menos com uma câmara praticamente cega em h-alpha. De qualquer modo, fica o resultado do momento.
Raras foram as vezes que observei visualmente a Cabeça do Cavalo (Barnard 33), ou melhor, a nebulosa escura da nebulosa de emissão IC 434, mas a "Flame" (NGC 2024) é prontamente vista no 20cm e no 90mm. As IC 431, 432, 435 são nebulosas de reflexão com a sua cor tipicamente semelhante à estrela que as ilumina. As duas grande luminárias, são duas jovens supergigantes azuis do cinturão de Orion: a Alnitak (Zeta 800 anos-luz) e a Alnilam (Epsilon 1300 anos-luz) cujo o clarão azulado será o início do NGC 1990 que se espalha em toda a volta da estrela.
Barnard 33, IC 434, NGC 2024
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• elaborado ao som de Quartetos de cordas "Haydn" K.387,K.421, K.428, K.458 K.464 e K.465 de W.A.Mozart pelo Quarteto Hagen (Deutsche Grammophon)
Pousados III - Magusto em Pousados
2006.11.11
Pousados - Alcanede
O "Sôr" Mota, mais uma vez pôs à disposição o seu quintal para mais uma noite sob as estrelas em Pousados, perto de Alcanena. Sendo esta noite de S.Martinho com magusto não faltaram as castanhas, as febras, as morcelas e água pé.
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
O cometa SWAN ainda se encontrava com algum fulgor, mas desta vez não foi possível registar praticamente nenhuma cauda.
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
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Os 3 grandes enxames de Cocheiro - Messier 36, Messier 37 e Messier 38 & companhia
Exposições de 16x60 seg
Depois nasceu a Lua, sendo o último alvo da noite, e o planeta Saturno, que não via desde a sua volta por trás do Sol. Os anéis já estão notoriamente menos inclinados. Viam-se os 3 satélites mais brilhantes.
Calar Alto
2006.11.18-19
Calar Alto
A primeira noite
No local (que são casas de mineiros restauradas) em que estivemos hospedados em Las Menas de Serón, o céu era bastante escuro apesar ou talvez devido a estarmos rodeados por montanhas e já a mais de 1500 metros de altitude. Mesmo com uma viagem de quase 1000 km em cima, não nos foi possível deixar passar impune aquele céu sem uma observação. Todos os telescópios do grupo sem excepção foram montados, e não eram nada poucos: um Obsession de 15", um Dobson de 8", um maksutov-newtoniano de 8" em cima de uma G11, um Takahashi Sky-90 , um TMB 80mm e diversas pequenas montagens com câmaras a fazer imagem.
Apesar das luzes do local (que entretanto foram gentilmente apagadas pelo o responsável do local), o céu esteve de grande categoria, com, entre outros objectos, a cabeça do cavalo de visão directa no Obsession, isto tudo no meio da pouco habitual cena de ver as constelações a nascerem no cume do maciço mas já bem altas a Oeste. Fomo-nos deitar cedo para o longo dia e noite que se seguia.
Um dia no Observatório de Calar Alto
O Observatório de Calar Alto está situado na cadeia de montanhas andaluza de Los Filabres, que serve de imponente pano de fundo à cidade costeira de Almeria. Com uma elevação de 2160 metros e numa região árida e semi-desértica, proporciona cerca de 200 noites de céu limpo por ano. O recinto de 100km quadrados está naturalmente rodeado por belas paisagens. A Sul via-se o Mediterrâneo, a Norte, uma paisagem quase de "Western" americano, e a Oeste os cumes nevados da Sierra Nevada. O dia esteve solarengo, com apenas algumas nuvens altas, mas naquela altitude já o ar é bem fresco. Passou também por lá uma migração do que pareciam ser abutres, que aproveitavam as correntes ascendentes para ganhar altitude, mas parecia que tinha morrido alguma coisa por lá, pois assemelhava-se bastante ao típico voar em círculos à espera do almoço.
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Com a generosa autorização do director do Observatório dr. João Alves (português!), e com a amável orientação e paciência do nosso anfitrião Juan Capel, foi-nos oferecida uma memorável visita a alguns dos telescópios e instalações. Não existe agradecimento que chegue por nos terem tornado realidade esta visita.
O observatório foi iniciado em 1973 e aloja neste momento cinco telescópios: um Schmidt de 0.8m, três Ritchey-Chretien de 1.2, 2.2 e 3.5 metros, todos eles manufacturados pela a prestigiosa Zeiss (não seja este um observatório do Instituto Alemão para a Astronomia Max Planck) e ainda o telescópio de 1.5m (Reosc) do observatório Nacional de Madrid. Passamos por quase todos eles e entramos na cúpula do Schmidt 0.8m e na verdadeira catedral tecnológica do 3.5m.
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O mais imponente certamente foi o Zeiss de 3.5 metros, no qual estivemos numa demorada visita, tendo percorrido a sala das máquinas, a sala de "banho" do espelho e finalmente a grande cúpula. Com uma massa de 230 toneladas, foi último da geração de telescópios com ume espelho monolítico (espelho de 1 só peça), tendo este um impressionante peso de 13 toneladas. Desenhado com inspiração no gigantesco telescópio Hale de 5 metros do Monte Palomar, também foi o último dos telescópios gigantes a utilizar uma montagem equatorial do tipo "ferradura", que de resto é bastante evidente na imagem ao lado. Este espelho de 3.5m é um f/3.5 feito de zerodur que possui características de baixo coeficiente de expansão, garantindo uma boa estabilidade térmica, sendo também muito versátil nas configurações ópticas, podendo ser utilizado em foco primário, Coudé ou Cassegrain com um engenhoso e rápido sistema de configuração.
Não me recordo de ver uma máquina de 230 toneladas a mover-se tão graciosamente e ao mesmo tempo tão silenciosamente, elegância da engenharia alemã no seu melhor com certeza. O operador teve a grande amabilidade de virar para nós o telescópio, e abrir as pétalas que protegem o seu grande espelho. Ainda tivemos a oportunidade de observar o carregamento de nitrogénio líquido dos 4 CCDs de 4mp que cobrem cada um 45 minutos de arco na configuração "wide-field". O telescópio, acessórios, secundários, CCDs, espectrógrafos eram para nós familiares, mas todos numa escala faraónica. Um verdadeiro monumento. Um agradecimento especial ao astrónomo que adiou em meia hora o início da sua sessão devido à nossa visita.
Ver mais imagens deste telescópio.
Noite no recinto do 1.23m
Logo após a visita, dirigimo-nos para o recinto do Zeiss 1.23 que se encontra no momento desactivado, tendo sido por essa razão o local escolhido de modo a perturbar o menos possível a actividade do observatório. Por vizinhos tínhamos a algumas dezenas de metros os Zeiss 2.2m e o mais distanciado de 3.5m, ambos com intensa actividade durante toda a noite. Este recinto é um dos pontos mais alto do observatório quase a par do marco geodésico, tendo um largo horizonte e uma vista geral de todo o observatório, bem no meio da, sem sombra para dúvida, maior concentração de telescópios Zeiss do planeta.
Chegámos antes das 18:00 horas ainda com o Sol acima do horizonte e saímos um pouco mais de 12 horas depois. Foi uma longa noite que chegou para fazer de quase tudo: fazer imagens, comer, beber, conversar, olhar através dos telescópios ou simplesmente para o céu.
A noite no observatório como esperado, foi de alguma dureza apesar de ter havido temperaturas mais altas do que nos dias que a circundaram. Segundo os dados da estação meteorológica do observatório, o termómetro não baixou dos 4 graus Celsius, mas essa era a temperatura do ar sem vento. Durante toda a noite soprou uma brisa nos locais menos resguardados, que por vezes, soprava com algumas rajadas de enregelar verdadeiramente os ossos. A pouca ou nenhuma humidade felizmente não acentuou mais o desconforto. Apesar de tudo, não foram propriamente condições extremas e a maioria aguentou a sessão ininterruptamente.
Foi algo decepcionante verificar os estragos que o inexorável avanço da poluição luminosa já causou na maior parte de todo o baixo horizonte, fazendo perder a classificação de lugar muito escuro, pelo menos para observações no espectro visual, mas não alterou em muito a qualidade científica do local pois fazem estudos com instrumentos que não são muito afectados pela poluição no visível, nomeadamente com utilização de espectrógrafos.
O SQM chegou a um valor máximo de 21.40, não atingido os valores máximos de 21.50 verificados em Montesinho, Bragança e Pulo do Lobo, Serpa. Mas 2000 metros continuam a ser sempre 2000 metros e a transparência que daí advém garantiu um céu de 6.5-7 de magnitude nas áreas de céu mais escuras, de modo nenhum abaixo de espectacular, ainda com uma extraordinária turbulência extremamente baixa sendo esta menor que 1 segundo de arco!. Surgiram algumas nuvens mas foram de pouca dura sendo de boa maneira aproveitadas para pausas para conversar, dar um giro pelos restantes convivas, e claro petiscar. A cúpula aberta do nosso vizinho de 2.2m foi sempre um bom indicador que noite era para continuar.
Adicionalmente ao equipamento acima mencionado, juntaram-se a nós meia dúzia de astrónomos amadores espanhóis com um estratosférico Obsession de 25" e ainda outro telescópio a registar imagens de planetas.
A primeira parte da noite andei entretido, assim como muitos companheiros, a fazer imagens com a objectiva de 50mm, das quais se podem ver muitas aqui e aqui. De seguida fui dar uma boa volta a objectos que vale a pena rever sob céus escuros: as nebulosas em Cisne, as Véus, America do Norte e Pelicano, Crescente e toda região até à Deneb, assim como a constelação do Cocheiro e Cassiopeia, com os seus enxames e nebulosas. Também dei um olhadela no cometa Swan que estava na altura muito próximo da Zeta (ζ) Aquilae (no 25" tinha uma pujança impressionante).
No meu canto esteve o TMB de 80mm do Alcino e filho Rodrigo, tendo nós em certa altura enveredado pela observação integral de todos os objectos sugeridos em algumas das cartas do Karkoschka. Achei divertido conseguir comparar directamente as cartas com o céu. Viam-se todas as estrelas directamente e sem dificuldade chegando até achar ser demasiado fácil de encontrar e observar. Digno de registo, ficam a ténue e pequena galáxia satélite de Messier 81, NGC 2976, a surpreendentemente grande NGC 2403 em Camelopardalis, a pequena galáxia NGC 1023 e a ainda mais pequena nebulosa NGC 1491, ambas em Perseu.
Nos desafios pessoais (por vezes, reconheço, um pouco exagerados), tentei ver a Sirius B, mas a Sirius (A) além de ser a estrela mais brilhante do firmamento, tem o raro e especial dom de me fazer lembrar que tenho um refrator dupleto, embora não julgue ter sido essa causa de não a conseguir ver. A quinta estrela do trapézio também ficou por ver, apesar da perfeita solidez da imagem apenas limitada por difração - a turbulência era nitidamente inferior à resolução teórica do telescópio... Faltou um bocado mais de transparência ou talvez de paciência.
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O Obsession de 25" foi naturalmente um centro de grandes atenções, com por vezes alguma hora de ponta. Entre outras, ficaram as visões quasi-fotográficas da caótica galáxia Messier 82, a NGC 2392 ("Esquimó"), esta com um detalhe espantoso das múltiplas conchas de gás que considerei como visão definitiva desta nebulosa, pelo menos nos próximos tempos, e ainda da extraordinariamente colorida e complexa nebulosa de Orion Messier 42 / Messier 43. Os gigantes gasosos mais distantes eram de um tamanho abismal com a mínima de Encke em Saturno fácil, embora tenha preferido a do obsession 15" que me parecia um nada mais colimado. A altura da ocular por vezes não era aconselhável a quem tivesse vertigens, mas julgo que a curiosidade se sobrepunha largamente ao medo de cair de lá de cima do escadote de calibre "lidliano". Por outro lado, os telescópios mais pequenos também beneficiaram (talvez até mais) deste céu, e todos eles mostraram aos respectivos donos e a quem quisesse neles observar, vistas de rara beleza que só um bom céu pode permitir.
Durante toda a noite foram caindo algumas Leónidas, tendo algumas delas atravessado meio hemisfério, e por vezes vinham aos pares, mas de qualquer modo numa cadência algo superior à dos meteoros esporádicos. Pena que não tenha sido tão intensa como algumas previsões anunciavam, defraudando de certo modo muitos de nós que tínhamos levado câmaras para as capturar.
A noite terminou com a mais intensa e extensa luz zodiacal que alguma vez me lembra ter presenciado. Estendia-se de canto a canto dos olhos por mais de metade do hemisfério ao longo da eclíptica, desde a constelação de Leão (esta desfigurada por Saturno), até aos pés de Gémeos. Era tão notória que julguei ser mesmo nebulosidade a formar-se, pondo um carimbo final de qualidade neste céu.
Fomos todos embora por volta das 6:20, alguns congelados mas felizes. Estiveram Alberto, Alcino e o filho Rodrigo, Anselmo, Filipe Alves, José Ribeiro, Licínio, Luís Carreira, Luís Evangelista, Paulo Barros, Paulo Bénard Guedes e cerca 6 ou 7 astrónomos amadores locais cujo o nome me escapou. Também nos acompanharam na viagem a Claudia e a irmã e a Patrícia.
Ver mais imagens do local de observação.
Adenda Turística - Recuerdos de la Alhambra
No dia de regresso a casa, uma boa parte do grupo acordou mais cedo para no caminho parar e visitar um dos mais famosos conjuntos de monumentos de Espanha.
Sempre fiquei curioso da origem da inspiração da peça de guitarra clássica "Recuerdos de la Alhambra" de Francisco Tárrega (1852-1909), uma das mais belas deste instrumento que se pode ouvir, ou melhor ainda, tocar. Depois da visita, acho que faz bem jus à recordação que me da visita à cidadela de Palácios e jardins de Alhambra situada nos arredores de Granada com a imponente Sierra Nevada a servir de fundo. Um cenário de luxo.
Estivemos por lá pouco menos de 2 horas. Mas usando um passo acelerado, foi possível visitar uma boa parte dos jardins com muitas fontes do Generalife (Jardins do Paraíso) e ainda os dois dos alcázares (palácios) mais interessantes, o Carlos V e a obra-prima mourisca Nazaries, ficando a Alcazaba (fortaleza) para a próxima vez.
Sem dúvida merece uma nova visita mais pausada, embora tenha o inconveniente de talvez ser um local demasiado saturado de turistas, nem devo suspeitar como será na época alta, altura em que deve ser verdadeiramente de loucos lá ir.
Ver mais imagens de Alhambra
De resto, a viagem decorreu sem qualquer percalço.
Como é habitual nestas expedições pode-se ler um relato pormenorizado no www.atalaia.org, ornamentado por muitas imagens do grupo, tendo também o Paulo Guedes feito uma página sobre esta viagem.
Pátio 239 - Conjunção Natalícia de Urano e Lua
2006.12.25
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m),
Na realidade, esta conjunção ia a caminho da ocultação do planeta Urano pela a Lua, que se iria dar em pouco menos de uma hora. Um "contrail" ajudou ao obscurecer o lado iluminado da Lua e permitir expor um bocado mais para registar o relativamente ténue planeta que nem sequer se avistava com os binóculos.