2007

Janeiro Julho
Sra. do Monte X - Cometa C/2006 P1 (McNaught) Pátio 251 - Duplas Binoculares
Capuchos XII - Cometa C/2006 P1 (McNaught) II Astrovide
Pátio 240 - Cometa C/2006 P1 (McNaught) III Pátio 252 - Vénus
Pousados IV - Uma noite polar Agosto
Fevereiro Vale da Lama IX
Pátio 241 - Mira, a Maravilhosa Setembro
Março Pátio 253 - Livros
Atalaia XXVIII - Eclipse Lunar Total Atalaia XXIX
Pulo do Lobo VII - Maratona de Messier II Outubro
Abril S.Pedro de Moel XIV - Cometa C/2007 F1 (LONEUS)
Atalaia XXVIII Pátio 254 - Cometa 17P/Holmes
Pátio 242 - Lua Humorada Pátio 255 - Cometa 17P/Holmes II
Maio Pátio 256 - Cometa 17P/Holmes III
Pátio 243 - Ocultação de Saturno Pátio 257 - Cometa 17P/Holmes IV
Junho Novembro
Pátio 244 - Sol Pátio 258 - Cometa 17P/Holmes V
Pátio 245 - Vénus e a Colmeia Pátio 259 - Cometa 17P/Holmes VI
Pátio 246 - Vénus e a Lua Pátio 260 - Cometa 17P/Holmes VII
Pátio 247 - Solistício, ISS e a Atlantis Serra da Estrela IV - Vale das Éguas
Pátio 248 Pátio 261 - Leónidas 2007
Pátio 249 - Vénus e Saturno Dezembro
Pátio 250 - Vénus e Saturno II Pátio 262 - Marte
Pátio 263 - Marte em Oposição e Conjunção

Sra. do Monte X - Cometa C/2006 P1 (McNaught)

2007.01.11
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)

Após quase toda a semana a tentar observar este cometa, eís que finalmente as nuvens deram uma oportunidade antes que este ficasse mais perto do Sol.

Como esperado, o Sol desapareceu no horizonte às 17:30 tendo começado imediatamente a vasculhar o céu com o binóculo 7x50, apanhando logo um planeta Vénus bem brilhante, e avistado o cometa após apenas 10 minutos. A coma apresentava-se extraordinariamente condensada e brilhante, com uma cauda que estimei inicialmente em cerca de meio grau, mas mais impressionante foi ainda se encontrar numa fundo de céu bem azul, praticamente em pleno dia ainda com o Sol a brilhar 9 graus mais abaixo (um punho fechado com o braço esticado). Novamente 10 minutos depois às 17:50, observei-o com a vista desarmada, que honestamente de modo nenhum me faria olhar para lá a segunda vez se não soubesse que era o cometa, mais depressa julgaria que se tratava de um pequeno "contrail" dos aviões. No binóculo, a cauda cresceu para mais de 1 grau de extensão. Fui acompanhando a sua descida para as regiões alaranjadas do crepúsculo, com o cometa a ganhar uma tez dourada mais acentuada.

Para se ter uma ideia aproximada da intensidade e tamanho relativo deste cometa clicar aqui e boa sorte a encontrá-lo (no canto superior esquerdo é Vénus).

Eram já 18:10, com trinta minutos passados após a primeira observação tendo desaparecido de vez na neblina.

Cometa C/2006 P1 (McNaught)

Capuchos XII - Cometa C/2006 P1 (McNaught) II

2007.01.12
Capuchos - Leiria

Outra vez as nuvens! mas ainda deu para dar uma olhadela nuns dos cometas mais brilhante em décadas, e ainda fazer mais uma imagem. Novamente era perfeitamente visível a olho nu tanto a coma branca como a pequena cauda, novamente muito semelhante a um contrail. Hoje achei-o com um brilho mais aproximado mas ainda aquém de Vénus.

Cometa C/2006 P1 (McNaught)

Pátio 240 - Cometa C/2006 P1 (McNaught) III

2007.01.13
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Estou a começar a desenvolver alguma antipatia para com as nuvens! Hoje seria provavelmente o dia que se poderia ver melhor este cometa ainda com o Sol acima do horizonte. Com o binóculo 7x50 lá estava ele, partilhando o mesmo campo com um Sol vermelho e abatatado. Se este cometa não for um dos mais brilhantes de sempre, julgo pelo menos ter assegurado um lugar no pódio.

A imagem abaixo foi feita ainda com o Sol meio grau acima do horizonte mas já tapado pela a frente de nuvens. O círculo marca o cometa nestas condições no mínimo péssimas, e na verdade sei que aquela meia dúzia de pixels ligeiramente mais claros se trata do dito cujo porque me recordo neste momento da sua posição em relação às nuvens. Foi pena a meteorologia não ajudar.

Cometa C/2006 P1 (McNaught) III

Pousados IV - Uma noite polar

2007.01.27
Pousados - Alcanede

Vénus e Mercúrio

Como a imagem acima mostra, a noite começou com um belo crepúsculo com os dois planetas interiores, Vénus e Mercúrio bem brilhantes a mergulhar em desfile, mas ainda demasiados separados para se chamar propriamente uma conjunção. A Lua estava iluminada em quase três quartos da sua superfície o que impossibilitou observar convenientemente praticamente todo o resto do universo e ainda com a agravante que apenas às 4 da madrugada iria finalmente se pôr.

Durante o dia, deu para verificar que a transparência seria de excepção, assim como a certeza de ter o céu limpo de nuvens, não me importando de esperar para ver o quão escuro era o quintal do sôr Mota. O SQM em média chegava a 20.30 após a Lua se pôr, com uma temperatura ambiente a rondar os zero graus e uma total ausência de humidade. A turbulência esteve bastante forte. Estas noites frias de influência polar são algo estranhas, especialmente quando aparecem nuvens que apesar de felizmente de terem sido solitárias, se desfaziam e tomavam formas estranhas e alongadas.

A observação visual esteve muito condicionada pelo o luar intenso, tornando deslavados, e por muitas ocasiões até invisíveis, grande parte dos alvos para onde apontei, restando apenas o planeta Saturno, a Lua e uma ou outra planetária. A turbulência retirou a vontade de me dedicar à separação de estrelas múltiplas, tendo as primeiras horas da noite sido essencialmente preenchidas com petiscada, conversa e a ver o que os restantes companheiros de observação (Barros, Hugo e João Nuno) andavam a fazer.

Resolvi então fazer imagens a grupos de galáxias brilhantes, objectivo este, um pouco absurdo com tanto luar mas na realidade pouco mais era possível fazer sem ter de utilizar filtros de linha devido a tanta luz ambiente.

local

A constelação do Leão, que neste momento parece querer comer Saturno, já estava bem lançado para o meridiano, e escolhi a sua parte posterior e mais afastada da Lua, onde se situa o grupo do Messier Messier 65/ Messier 66 / NGC 3628, distantes em média 50 milhões anos-luz, conjuntamente com a bem mais afastada (na realidade 170 milhões anos-luz mais afastada) NGC 3593, sendo esta última pertencente ao grupo de galáxias de NGC 3607, e com todas elas pertencentes ao Enxame de Galáxias Leo I. Ver os últimos valores em NASA/IPAC Extragalactic Database (NED) . O norte está às 11 horas.

Este é um trio de galáxias em espiral, é muito popular nas noites de Primavera, podem-se observar simultaneamente com a combinação certa de ocular de grande campo - nesta noite estavam muito próximas da invisibilidade.

Usando o MSA, e com a ajuda de uma "moldura" em cartão com a dimensão do campo resultante da combinação Nikon D70 com o Takahashi Sky-90, concertei a imagem abaixo. que ainda contem muito luar à mistura, pois bastavam apenas 4 minutos resultavam numa imagem praticamente branca. O resultado abaixo são de 10 exposições de 2 minutos, como é habitual não-guiadas e focadas a olho.

Messier 65/66/NGC 3628

Abaixo, está a imagem do grupo da Messier 81, este bastante mais perto a apenas 20 milhões de anos-luz. A imagem estende-se por cerca de 3 graus na diagonal que correspondem a 1 milhão de anos-luz à distância média deste grupo (ver aqui a fórmula). Desta vez resolvi aproveitar a ausência de luar e os 0 graus de temperatura ambiente e ser um mãos largas, e lá tive o questionável prazer de disparar 30 vezes a máquina (e de a também reciclar no mesmo número), pacientemente cronometrando os 2 minutos de exposição perfazendo o grande total de 1 hora.

Já alguma vez mencionei que adoro esta montagem ? ;) - cada tiro cada melro - todas as imagens estão pontuais, embora 2 minutos nem sequer ser grande desafio para aquele relógio suíço.

Esta imagem tem galáxias para todos os níveis de paciência, desde as imediatas Messier 81, Messier 82, NGC 3077 e NGC 2976, passando pelas pequenas mas ainda bem presentes NGC 2959, UGC 5302 e UGC 5247 PGC 27688, à quase afogada no ruído de fundo galáxia anã irregular e por fim satélite de Messier 81 UGC 5336 também chamada de Holmberg IX. Esta última tem um brilho de superfície muito baixo, e é para especialistas, pois pode ser confundida com uma dedada no ecrã. O Norte está para as 5 horas.

Messier 81,Messier 82, NGC 3077 e NGC 2976

A imagem abaixo tem o centro de massa entre o enxame globular Messier 3 e a gigante vermelha de magnitude 6 que lhe faz companhia, assim com a pequena e ténue galáxia NGC 5263 mais acima. Este brilhante globular está situado praticamente no meio da recta traçada entre a Arcturo do Boeiro e a Cor Caroli da Cães de Caça, este enxame está localizado numa área relativamente desprovida de estrelas brilhantes mas com o truque anterior é fácil de encontrar, sendo imediatamente visível com qualquer binóculo. São 10 imagens de 2 minutos com o Norte às 10 horas.

Messier 3

Vi alguns meteoros relativamente brilhantes originados no que pareciam ser o radiante das quadrântidas. A imagem animada mostra duas muito ténues que aparentemente partilharam exactamente o mesmo caminho de entrada na atmosfera.

A noite para mim acabou às 5:20 já com as constelações primaveris Hércules e Lira bastante altas a Leste.

meteoro

Pátio 241 - Mira, a Maravilhosa

2007.02.17
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

A Mira (Omicron Ceti) é o protótipo de estrelas variáveis de grande período com variação de magnitude superior a 2.5. Está a 420 anos-luz, distância que não impediu que o seu disco solar fosse medido (0.048 segundos de arco), pois tem um diâmetro de 3 AU, cerca do dobro da órbita de Marte. A Mira já saiu da sequência principal há muito tempo, possuindo um núcleo em contracção de carbono e oxigénio envoltos em conchas de hélio e hidrogénio, e à medida que vai aquecendo vai ficando também instável, forçando que o seu tamanho, temperatura e classe espectral se alterem. Quando está mais quente acerca de 3000K, como é o caso neste momento, irradia uma boa parte da sua radiação no espectro visual ficando assim visível aos nossos olhos. Quando arrefece, a radiação passa a ser maior no infravermelho desaparecendo assim no espectro visível. Na realidade a variação de luminosidade é de apenas duas magnitudes o que realmente muda é em zona do espectro onde irradia - belo truque de magia!

A Mira é uma das estrelas mais observadas no estudo de estrelas variáveis. Curiosamente a primeira observação registada no AAVSO foi feita em 1902 na ilha de S.Miguel, Açores por um português João de Moraes Pereira.
A história completa desta estrela está aqui. Um excelente livro sobre esta e mais 99 estrelas é este The Hundred Greatest Stars de James B. Kaler.

A razão desta imagem é porque a Mira está neste momento no seu brilho máximo, o renascimento é quase anual pois o período é de cerca de 330 dias, tornando-se por algum tempo a estrela mais brilhante da sua gigantesca mas relativamente ténue constelação Cetus (Baleia), da qual na imagem só vemos a cabeça e parte do corpo. Para se ter uma melhor noção da enorme variação de luz que esta estrela atravessa (1500x mais brilhante), o seu mínimo de magnitude 10.0 é mostrado por uma estrela salientada um pouco mais acima da Mira.

- Imagem elaborada com 2 imagens de 1 minuto a 400 ISO Nikon D70 e objectiva de 50mm em cima de uma Teegul Sky Patrol II.

Mira

Atalaia XXVIII - Eclipse Lunar Total

2007.03.03
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

Tal como previsto a Lua passou pela a sombra projectada pelo o nosso planeta.Este foi talvez o eclipse lunar menos escuro dos que presenciei. Na escala de brilho de eclipse de Danjon, encaixa muito bem num valor entre 3 e 4, especialmente tendo em consideração o brilho do limbo mais iluminado.

Este eclipse foi passado com a companhia de todos os que estiveram na Atalaia nesta noite, que para além da companhia também me desenrascaram uma bateria para substituir a minha que entregou a alma à reciclagem. Também vários companheiros estiveram na Ponta do Sal (Estoril) a tirar imagens e a mostrar ao público,

A Lua nasceu com a noite a dispor-se para uma grande maratona eclíptica. Céu praticamente limpo na zona, com apenas algumas nuvens passageiras, mas rápidas, tendo-se assim mantido, até praticamente ao fim do eclipse umbral. Muita humidade e temperatura amena.

Eclipse Lunar Total

A fase umbral do eclipse iniciou-se, tornando-se imediatamente notório um difuso escurecer do limbo lunar Sul/Este. Fiz o acompanhamento do avanço da sombra usando o binóculo 7x50, observando o lento reaparecimento de cada vez mais estrelas com o progressivo atenuar do luar. Uma das mais brilhantes (59 Leo de magnitude 5), iria ser ocultada já depois da totalidade (na imagem acima é aquele pontinho à esquerda mesmo quase a ser ocultado).

Uma boa maneira de observar a evolução da sombra na superfície lunar, é utilizando um telescópio de grande abertura. Sem dúvida, as vistas que dei por diversas vezes no 15" do Alberto foram espectaculares e com Lua eclipsada verdadeiramente invulgares. Ver se não me esqueço de levar o meu 20 cm para o próximo.

Como em todos os eventos celestes raros, existe sempre a estranheza de ver a Lua a passar por fases "impossíveis" tanto neste hemisfério como no outro. A gradual reaparição das estrelas, e um hora depois, voltarem a desaparecer, ou ainda, o ver no binóculo uma lua cheia rodeada de estrelas e os olhos não ficarem completamente encadeados.

Este eclipse pareceu-me o mais colorido até à data, com tons que iam do branco passando pelo cinzento azulado, amarelo e terminando finalmente no laranja.

Lua em eclipse máximo 23:21 UTC
Lua em eclipse máximo 23:21 UTC
Lua 3 minutos depois da totalidade 00:02 UTC
Lua 3 minutos após a totalidade 00:02 UTC

Tempos de Eclipse (Guide8):

- Equipamento utilizado para registar as imagens: Takahashi Sky-90 e uma Nikon D70 em cima de uma Takahashi P2-Z.

O próximo eclipse lunar total visível em Portugal, será em 21 de Fevereiro de 2008, mas este será para noctívagos, iniciando a sua entrada na umbra às 01:42.

Outros eclipses lunares aqui no Pátio

Pulo do Lobo VII - Maratona de Messier II

2007.03.17
Pulo do Lobo - Serpa

equipamentoA Maratona de Messier é um exercício que em alguma ocasião na vivência de astrónomo amador, pode parecer ter algum sentido experimentar. A Maratona consiste em observar os 110 objectos da famosa lista de falsos cometas do Messier ao longo de uma só noite. Não existem regras ou obrigações de como executar uma Maratona de Messier. Para quem está a iniciar pode parecer uma tarefa gigantesca o ter que apontar e identificar 110 objectos, e de facto assim é para aquele(a) que não esteja familiar com o céu, mas cada um faz como bem entender, embora achar que a utilização de algum método para apontar o telescópio usando círculos digitais (vulgo "goto") anule um dos objectivos que uma prova deste género por proporcionar: o de aprofundar o conhecimento do céu e da localização dos seus objectos. É um óptimo exercício de revisão, endurance, e uma festa se feita na companhia de amigos.

Uma maratona tem mais a ver com a extensão da lista de observação do que propriamente com observação. Tipicamente, menos de 1 minuto é dispensado em cada objecto e no caso de ser particularmente interessante ou um favorito. Para observações detalhadas, existem sempre outras e mais pausadas noites. Todos os objectos são visíveis em qualquer abertura superior ou igual a 50mm, com magnificações de 15x e acima quando sob um céu escuro. Alguns objectos necessitam de mais magnificação para se distinguirem, como é o caso de muitas das pequenas galáxias constantes na lista. A abertura necessária tem tendência a diminuir com a maior experiência.
A próxima será provavelmente feita com um binóculo 70x16.

A magnificação a utilizar será a menor possível, e usando uma ocular de grande campo, até é possível "facturar" dois ou três Messiers e ainda alguns bónus de uma vez só . Neste caso em particular, a ocular utilizada foi uma Televue Panoptic 24mm e um Takahashi Sky-90, combinação que resulta numa magnificação de 21x e um campo real com mais de 3 graus. Ocasionalmente usava uma Nagler 9mm (56x 1.5 graus) para os pequenos enxames globulares e ainda uma Nagler Zoom 3-6mm para as planetárias e planetas (83x-167x).

Pela a segunda vez fiz maratona nos céus escuros do Pulo do Lobo. As nuvens desapareceram completamente no início da noite. O SQM bateu o record absoluto de 21.60, mais escuro que Bragança ou Serra da Estrela, mas infelizmente houve pouca transparência , sendo esta até aos 5 graus acima do horizonte praticamente opaca, o que se veio a revelar problemático na recta final.

maratona

A Maratona de Messier tem demasiados tempos mortos para me manter entretido a apontar o telescópio ao longo de praticamente 12 horas, isto por saber a localização de mais de metade deles (que parece um grande feito, mas nem por isso). Portanto, decidi adicionar mais alguns alvos à Maratona com sugestões do Karkoschka , que para além dos 110 de Messier inclui mais 140 objectos adicionais, dos quais cerca de 100 podem ser observados em latitudes à volta dos 37-39 graus norte, incluindo os extremos Centaurus A, Omega Centauri e NGC 55.

Segue-se então o relato desta noite

A prova da Pescada

A maratona iniciou-se logo após o Sol se pôr.

Esta foi a altura para afinar os apontadores nos planetas brilhantes como Vénus ou Júpiter se estes estiverem acima do horizonte e ficar realmente pronto para iniciar a longa jornada até o Sol reaparecer no lado oposto. Irá ser o balanço entre o nascer e ocaso dos objectos e a extensão da noite, que vai determinar a dificuldade (ou a impossibilidade) de detectar os objectos posicionados nas extremidades da lista. É extraordinariamente invulgar conseguir conjugar as condições atrás, com uma noite limpa, um céu escuro sem Lua, e tudo isso acontecer num fim-de-semana. Este Sábado não foi seguramente o melhor dia.

No seu início o único alvo verdadeiramente complicado é a galáxia espiral Messier 74 em Peixes. Esta bonita galáxia, já é extremamente ténue em pequenas aberturas, ficando mesmo complicado quando observada durante o crepúsculo, e com a luz zodiacal a piorar ainda mais o contraste. Deve-se tentar observar esta galáxia a partir do momento que se consegue triangulá-la com as estrelas, mas não insistir demasiado, e ir observando os restantes da primeira dúzia da lista e retornando as vezes que forem necessárias. Desta vez, foi apenas à sexta vez e também a última da primeira dúzia a ser observado.

A sequência não é o mais importante, mas convém estar de olho nestas três galáxias: Messier 74, Messier 77 e Messier 33. Pode-se aviar logo o trio Messier 31/Messier 32/Messier 110 em Andrómeda e o par Messier 42/Messier 43 e mas suas redondezas NGC 1981 e a nebulosa NGC 1973 ( "Homem a correr"), todos em Orion, dando um salto aos enxames abertos Messier 52 e NGC 7789 em Cefeu, Messier 34 e Messier 76 em Perseu e Messier 103 em Cassiopeia, região onde se pode encontrar o duplo enxame NGC 869/ NGC 884, o enxame "ET de pernas para o ar" NGC 457.

contagem : 12+6

Depois desta primeira dúzia entra-se num grupo mais pausado e já bem longe da luz do crepúsculo. Todos eles são relativamente populares e brilhantes.

Seguem-se as Plêiades (Messier 45), e aproveitei para ver como anda a transparência na aparência da Mérope (não particularmente boa), a primeira nebulosa do catálogo, Messier 1, subindo depois para os enxames Messier 37, Messier 36 e Messier 38 do Cocheiro e também o Messier 35 em Gémeos (e o pequeno companheiro NGC 2158) não esquecendo a planetária "Esquimó" NGC 2392. Retornando a Orion para o Messier 78, dar um salto à nebulosa da Alnitak (NGC 2024) e ir até lá abaixo à Lebre para riscar o mal jeitoso do globular Messier 79 da lista.

Já perto do meridiano central encontramos o Messier 41 em Cão Maior e mais acima o Messier 50 em Unicórnio (Monoceros) e dai descemos um pouco para Puppis para o Messier 93 e o fabuloso par de enxames Messier 47/Messier 46 (este último com a planetária NGC 2438) e subindo um pouco à direita um dos Messiers que nunca sei em que parte do céu se encontra : o enxame aberto Messier 48. Finalmente acabando nos enxames Messier 44 e Messier 67 em Caranguejo (Cancer).

Como tudo correu bem, já pelas 21 horas (48 minutos após o crepúsculo astronómico) um quarto da lista estava cumprida e o meridiano central atravessado em mais de uma hora havendo então tempo para uma curta pausa podendo-se deixar o céu rodar até cerca de uma hora.

contagem: 28+10

Os preliminares

A natureza arranjou uma boa maneira de proporcionar um aquecimento para a batalhas inter-galácticas que se aproximam, e nada como os Messiers do Leão como uma boa entrada. Começa-se nos pares Messier 95/Messier 96 e Messier 105/ NGC3384 e salta-se para a parte posterior do bicho para o par de Messier 65/Messier 66. Não esquecer de recolher os bónus NGC 3628 perto para anterior, dar um salto à boca do Leão onde está a galáxia que Messier incrivelmente falhou de incluir NGC 2903. Aqui ainda há tempo para a NGC 3606 e a NGC 3344 e também o bónus extra planeta Saturno.

Entretanto muda-se para outra região do céu, atravessando quase meio deste para ir para outro grande predador: a Ursa, com o par de galáxias Messier 81/ Messier 82 (onde se pode ver as pequenas satélites NGC 3077 e NGC NGC 2976), a planetária Messier 97/ galáxia Messier 108, a extremamente bem iluminada Messier 109, e já agora porque não a estrela dupla Messier 40. Também existem aqui uns bónus para amealhar: a NGC 2683 em Lince e a NGC 2403 que são um belo prémio para os mais despachados. Não esquecer um desafio na NGC 2841. Mais para norte temos a controversa Messier 102 e um saltinho à brilhante planetária "olho de gato" NGC 6543.

Passamos então a Cães de Caça iniciando a descida aos saltos de galáxia em galáxia até à sua estrela beta partindo da Messier 106, passando pela NGC 4449 e finalmente a NGC 4490, daí é um saltinho até à Messier 94, Messier 63 e antes de subir dar uma salto à complicada e esticada NGC 4244 (esta é um super-bónus que apenas desconfiei). A Messier 51 e companheira NGC 5195 são um alvo tradicionalmente popular assim como a Messier 101.

Seguem-se dois globulares para desenjoar: o Messier 3 ainda nos Cães e o Messier 53 a já entrar na Cabeleira e a brilhante galáxia Messier 64 às portas dos grandes enxames. Antes de ter atacado a próxima etapa ainda se pode acumular os quase derradeiros bónus desta maratona : o par NGC 4656/ NGC 4631 e as quatro galáxias mais brilhantes da Cabeleira: NGC 4725 NGC 4559 e a NGC 4565 e a pequena elíptica 4494.

Depois deste bom aquecimento já são 23:00.

contagem: 48 + 31

A prova da Virgem Cabeluda

Este é outro dos momentos mais trabalhosos da noite.

A abertura dita a maior ou menor dificuldade de passar a prova da Virgem. Curiosamente, a falta de abertura até se pode pode tornar numa vantagem, pois exclui as dúzias de galáxias que podem surgir num campo de uma abertura superior a 20 cm, tornando a sua identificação por vezes complicada. Com uma pequena abertura, não existe em regra, grandes dúvidas de quais são os Messiers. A melhor a estratégia é começar onde está a virtude que é no meio. Neste caso, entre as estrelas Denebola de Leão e a Vindemiatrix (quem faz a vindimas) da Virgem que marca onde se encontram o par mais brilhante Messier 84/Messier 86. Daqui será sempre um ponto de partida seguro para praticamente todas as galáxias desta região. Aqui só passa quem souber.

Abaixo temos a não menos grandiosa Messier 87, e a pouco mais de um grau a Messier 89 que se pode ver na companhia da Messier 90 acima e a Messier 58 abaixo, desta última partimos para o par Messier 59 e Messier 60. Entretanto retornei ao par Messier 86 / Messier 84 pois já andava perdido. Recomeçando, fiz novamente o caminho Messier 87-89-90 para depois subir quase dois graus até à ténue Messier 91, a qual partilhou o mesmo campo com a Messier 88.

Para a Messier 98 e Messier 99 parti de uma estrela de magnitude 5 que está quase a meio destas duas galáxias que não são propriamente fáceis, seguindo as estrelas brilhantes até à Messier 100. Este conjunto é mais trabalhoso do que o parágrafo anterior faz crer. Houve algumas galáxias que vi por diversas vezes necessitando por vezes de saltar para lá para ter a certeza que estava na galáxia certa. Com 90mm todas elas são semelhantes em forma e brilho e igualmente pouco interessantes, piorando com o facto de serem elípticas.

Foi altura para as galáxias mais isoladas, como a Messier 85 em Coma que está perto de outra estrela de magnitude 5, a Messier 49 que faz triângulo recto com a Beta e Delta da Virgem, e colectando o único bónus que me atrevi adicionar nesta fase: a galáxia rodeado por duas estrelas NGC 4526. Terminei finalmente esta região, na Messier 61 que faz um triângulo com a delta e gamma de Virgem.

Depois já em fase de rescaldo, e de descida no horizonte, a sempre popular Messier 104, descendo pelo o Corvo até a secção da enorme Hidra onde se encontra o ténue globular Messier 68, e finalmente a galáxia mais baixa do catálogo a Messier 83.

contagem: 67 + 32

Depois desta prova, é para alguns a altura para comer (e beber), tirar uma soneca, ou então partir para outras actividades tais como a astrofotografia. Ficou a abaixo recordação desta noite. Pensei faer uma imagem à cadeia de Markarian, mas esta é demasiado curriqueira, então apontei para um campo mais acima, onde se encontravam a Messier 100 e a Messier 99. Também andei à procura do Omega Centauri com os companheiros desta noite, sem grande sorte, pois o baixo horizonte esteve mesmo intransponível.

Messier 100 e a Messier 99

A prova da bicharada

Depois da grande pausa, o recomeço sem grande pressa, porque as constelações de Verão demoram ainda um pouco a dispor numa altitude mais conveniente. Este segmento da lista tem alguns sucessos de bilheteira, como os globulares Messier 5, Messier 13, Messier 92 e as nebulosas planetárias Messier 57 e Messier 27, e outros de visita menos frequente como os enxames Messier 56, Messier 29, Messier 39 em Cisne e Messier 71 em Seta. Os objectos adicionais foram a " North America" NGC 7000 (muito pouco contrastada com o filtro UHC), assim como as "Véus", que também estavam praticamente invisíveis, e finalmente a "pisca-pisca" NGC 6826 - que desta vez não piscou.

Rodando mais para Sul, passamos aos globulares de Ofiúco, iniciando por cima em Messier 12 e um pouco mais ao lado o Messier 10. Messier 14 faz um triângulo achatado com a Gamma e a Nu desta constelação. Messier 7 é de tiro directo ao pé da Zeta e o Messier 9 perto da Eta e nesta altura também de Júpiter.

A cabeça do Escorpião já se encontrava bem levantada, com o Messier 80 e mais abaixo perto da Antares o Messier 4, concluindo a sequência com os últimos globulares de Ofiúco Messier 19 e Messier 62. Terminei esta secção com os enxames Messier 6 e Messier 7 na extremidade da cauda o Escorpião.

Eram 03:35 e fiz uma breve pausa para me preparar para cascata de objectos que se aproximavam.

Segue-se então uma grande cadeia de objectos a iniciar bem alto na constelação do Escudo com os enxames Messier 11 e o Messier 26, descendo até Messier 16 (nebulosa da "Águia"), Messier 17 (nebulosa do Cisne), o enxame Messier 18, passando a nuvem de estrelas Messier 24, indo por um lado a Messier 25 e pelo o outro oposto a Messier 23. Descendo um pouco mais chega-se a uma região muito familiar da Messier 20 (nebulosa "Trifida") e Messier 8 (Nebulosa da "Lagoa") e lá perto o Messier 21, todos estes no mesmo campo da ocular. A caminho de um dos globulares preferidos o Messier 22 passa-se pelo Messier 28. Precisei de aguardar mais algum tempo para os pequenos e ténues globulares da base da cafeteira Messier 69, Messier 70 e Messier 4 estivessem mais altos, tendo o do meio dado bastante luta.

A transparência naquela área do céu esteve péssima, mas o calendário foi integralmente cumprido até a esta altura : 04:43

contagem:103 + 36

A prova final (e morrer a chegar à praia)

Chegou finalmente o último septeto.

Nesta fase, não pode haver dúvidas: devia ter treinado a triangulação destes objectos com o mínimo de estrelas possível, isto é algo que nunca faço e depois tramo-me. O fim da noite astronómica já estava muito perto, com as estrelas rapidamente começam a desaparecer. Aqui a abertura dá uma sincera vantagem, pois permite grande magnificações de modo a aumentar o contraste que se vai perdendo a olho(s) visto(s).

Apenas os globulares Messier 15 em Pégaso e Messier 2 em Aquário (in extremis às 05:05) foram detectados, embora tenha tentado os restantes Messier 55, Messier 75, Messier 2 e Messier 73. O Messier 30 estava irremediavelmente abaixo do horizonte.

contagem final : 105 + 36

A servir de lembrete para mim próprio, fica o que teria sido o itinerário para os restantes não-detectados:

Messier 55 é o objecto a ficar de atalaia, não só é um dos Messiers com a mais baixa altitude da maratona, mas também dos mais isolados da lista, com muito poucas estrelas para o triangular. Embora seja de grande dimensões, não é especialmente brilhante, e devido à sua baixa altitude e consequente extinção atmosférica, pode ser muito complicado de se observar com pequenas aberturas.

Já a caminho de Aquário e Capricórnio, encontra-se o pequeno e ténue Messier 75, que mesmo em condições normais não é pêra doce. Em Aquário estão o Messier 72 e as 4 estrelas do Messier 73, se não tiverem pressa (o que duvido), ver também a nebulosa Saturno mais acima e finalmente o último: o sempre elusivo globular Messier 30 em Capricórnio.

O fim

maratona

Aeródromo XXV - Crescente

2007.04.18
Aeródromo da Gândara do Olivais (39.77N 8.82W alt. 52m)

Depois de no dia anterior de ter tentando o objectivo impossível, de observar uma Lua com apenas 8 horas de idade e ainda por cima com as nuvens a chatear, restou-me apenas a imagem dela no dia seguinte. Esta imagem é muito semelhante ao o que se pode observar com binóculo ainda com o céu bem azul, tendo também esta sido a estreia crepuscular do recém-chegado Fujinon FMT-SX 16x70.

O cometa 2P/Encke era suposto ter sido fácil de avistar, mas novamente sem sorte. Não me pareceu que tivesse a magnitude 4 das previsões, ou então o mais provável, foi a costa Atlântica ter feito novamente das suas. É necessária a perfeita conjugação de muitos factores, em especial, sorte e persistência, para conseguir registar crescentes muito finos, mas por vezes, lá se consegue.

O crescente mais fino que consegui registar foi na praia de S. Pedro de Moel em Fevereiro de 2006 e ainda um outro na cidade de Leiria em Outubro 2004.

Crescente
Lua a 2,64% 19:51 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Nikon D70 3,95"
exp: 4x1/2 seg. 200 ISO

Atalaia XXVIII

2007.04.21
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

binosNoite tipicamente atalaica, com muitos "habitués" e algumas visitas. O céu ficou praticamente limpo toda a noite, com alguma humidade e temperatura amena. A magnitude limite zenital a chegar 5.5 após a Lua se pôr. Esta foi a primeira luz efectiva do binóculo 16x70, tendo começado por alvos fáceis para treinar a apontar o binóculo, e para me habituar ao seu campo de 4 graus.

Os candidato mais óbvios foram os planetas. Primeiramente Vénus que se apresentava-se quase redondo, os anéis de Saturno perfeitamente resolvidos com o seu satélite Titan. No 15" estava um interessante arranjo dos 5 satélites interiores mais brilhantes.

Entretanto no Obsession do Alberto a Lua proporcionava no seu terminador uma dramática vista parcial de uma falha lunar semelhante à Rupes Recta, a Rupes Cauchy que tem uma extensão semelhante de 120 km, mas esta parece bem mais contrastada. Na altura pensamos estar a olhar para a Rupes Recta (que está precisamente na longitude de sinal contrário), que tem outra rima quase paralela, esta paisagem lunar é a 26 do Rukl, e tem por nome "hiperboles". A Petavius de 80 km de diâmetro estava magnífica com a sua proeminente rima a atravessar, assim como o Mar das Crises com o seu bordo verdadeiramente montanhoso. Realmente chego à conclusão que não existe tal coisa como abertura demais para observar a Lua. O lado iluminado pela a Terra tinha uma estranha tonalidade azulada com estrelas a despontar até muito perto do limbo, fazendo lembrar as que se veem durante um eclipse lunar.

Continuando no binóculo 16x70, o limbo da Lua exibia demasiada cor lateral (que não é aberração cromática mas igualmente inestética) e foi quase impossível fixar uma posição para a despistar. A Lua perto do Quarto ou mais velha não é propriamente um alvo muito aconselhável. De qualquer modo o recorte e nitidez da imagem foi exemplar. O binóculo ficou grande parte da noite montados num paralelogramo sobre um tripé de médio porte de fotografia, mas que era no seu conjunto algo sub-dimensionado. Sem qualquer apoio é quase impossível de mantê-los quietos quando usados de pé, mas para mim foram espantosamente utilizáveis se tivesse sentado. Têm os sólidos 2 quilogramas (certos), mas bem equilibrados.

Depois andamos a tentar observar uma nova recorrente (var. 9-18 mag.): a GW Librae. Com ajuda de uma carta do AAVSO e da carta 861 do MSA, zeramos a sua localização, mas não houve confirmação positiva no binóculo, embora no Obsession a magnitude de perto de 10 não fosse propriamente um desafio. Nesta busca deu para verificar que o binóculo quase que atingiu o seu máximo teórico de visibilidade que é de cerca de magnitude 11 (a magnitude limite do Millennium Star Atlas), e isto apesar da esta região ter estado longe de ser escura.

Um dos momentos altos foi a observação do cometa Lovejoy C/2007 E2. Este cometa recentemente descoberto subiu bastante desde a última vez que tentei ver no Pulo do Lobo, estando naquela altura a passar por Sagitário, neste momento está a atravessar a bom ritmo a constelação da Águia. Detectei-o rapidamente, mas nessa altura estava a passar por cima de uma estrela brilhante (SAO 124372 de mag. 8), ficando na dúvida se não seria um ligeira condensação nas lentes do binóculo, no entanto a condensação moveu-se :). Era bem notória a sua velocidade mesmo a 16x. A coma era muito pouco condensada e incolor e não apresentava cauda. O seu tamanho era ligeiramente maior que a Messier 27 tendo cerca de 7-8' de dimensão, mas bastante mais ténue.

Comecei então a saltitar aleatoriamente por todo o céu a ver o que se podia ver. Na Ursa Maior o para Messier 81/Messier 82 (belo campo), Messier 101, em Cães de Caça a Messier 94, Messier 106 e Messier 63, Messier 51/NGC 5195 (bem distintos os núcleos e dimensões) e ainda Messier 3, em Leão Messier 65/Messier 66, Messier 104 (bem alongada) em Virgem esta no campo acompanhada por uns trios de estrelas, em Lira Messier 57 (muito pequena) e Messier 56, Messier 13 e Messier 92 em Hércules, Messier 71 em Seta, Messier 27 em Raposa, Albireo e Messier 29 em Cisne.

Depois de Ofiúco e seus globulares Messier 10, Messier 12 e Messier 14, Messier 5 em Serpente tendo sido este o globular mais interessante da noite com este instrumento. Interessantes também as estrelas duplas não muito apertadas como a Nu Draconis e Beta Capricorni.

Começando no Escudo no Messier 11 e Messier 26 fui descendo por aí abaixo por Messier 16, Messier 17, Messier 18, Messier 24, Messier 25, Messier 21, Messier 20, Messier 8, Messier 21, Messier 28, Messier 22, os globulares da base do pote Messier 70, Messier 69 e Messier 54. Messier 55 deu luta assim como o Messier 75. Passei por Escorpião no Messier 80, Messier 4 e os enxames Messier 6 e Messier 7. Decidi tentar acabar a última maratona nos Messier 72 e Messier 73, tendo vergonhosamente esquecido de ver o Messier 30... nem assim a completei.

Esta foi também a noite do máximo das Líridas - vi algumas e bem brilhantes, mas nada de actividade muito anormal, não maior que a dos esporádicos.

De resto foi até o Sol nascer. E como sempre o habitual relato e imagens dos companheiros da noite.

Pátio 242 - Lua Humorada

2007.04.28
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Pequena sessão entre nuvens aqui no Pátio com o Fujinon 16x70 e com o dobsoniano de 20cm.

Já fazia algum tempo que não olhava através do meu Dobson de 20cm. Com ele estive a observar a Lua e Saturno com os seus satélites interiores Dione, Rhea e Thetis e ainda o Titan bem afastado do seu planeta. Neste momento a colimação está um pouco ao lado, porque a cabeça de um dos parafusos de colimação partiu e ficou lá encalhado o seu resto e por consequência, magnificações acima de 100x são bastante sofríveis.

O terminador lunar tem sempre algumas regiões interessantes, e neste caso no seu sudoeste onde se encontra o Mare Humorum com a quase perfeito círculo de 110 km da cratera Gassendi na sua borda e mais a Sul a então saliente e alongada Schiller. Imagem capturada da ocular televue radian 14mm no 20cm.

Continuo o treino de apontamento com este binóculo sem usar apontador e a tentar mantê-los firmes sem qualquer apoio. O luar e a poluição luminosa não permitiu a observação de muito mais que estrelas duplas e uma ou outra galáxia ou enxame aberto. O cometa Lovejoy ainda se encontrava na zona vermelha da poluição e passou despercebido estando neste momento está a passar com magnitude 9 entre a Lira e Hércules em direcção ao Dragão.

Lua Humorada

Pátio 243 - Ocultação de Saturno

2007.05.22
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Não são todos os dias em que se pode observar simultaneamente e a grande magnificação, dois dos mais interessantes membros do nosso sistema solar. Felizmente, graças a tréguas de última hora na meteorologia, ainda deu para ver o reaparecimento de Saturno eclipsado pela a Lua

A última ocultação que observei deste planeta foi há mais de 5 anos em Novembro de 2001 e a próxima ocultação completa que será visível aqui em Leiria (e arredores) será só para 25 de Outubro de 2014, esta em em pleno dia...

Saturno e Lua 20:10 UTC
Saturno e Lua 20:10 UTC
Saturno e Lua 20:27 UTC
Saturno e Lua 20:27 UTC

Longos e por vezes curtos, foram os minutos durante a cerca da meia-hora que durou o desaparecimento e reaparecimento de Saturno por detrás da Lua. Dava a sensação que os buracos entre as nuvens passavam depressa demais e o próximo buraco parecia sempre que vinha devagar demais.

Ainda com o céu bem azul, acompanhei o reaparecimento com o Dobson de 20 cm e ia disparando algumas imagens no Takahashi Sky-90. Apesar do despontar dos anéis de Saturno ter feito surgir uma inesperada mas extremamente bem recortada montanha no limbo lunar, achei mais espectacular o planeta já completamente destacado, como que se estivesse a pairar na superfície lunar, esse efeito era maior usando uma grande magnificação. Depois o evento, terminou em glória, ou melhor, com uma coroa lunar com o pequeno mais brilhante Saturno que fez tornar esta vista fascinante e rara.

Saturno e Lua 20:17 UTC
Saturno e Lua 20:17 UTC

As ocultações de planetas são fenómenos cíclicos com um período não muito exagerado. No caso de Saturno existem duas séries de ocultações num período de 11.4 anos (Mathematical Astronomy Morsels, Meeus). A posição geográfica do observador é o que vai determinar se vemos uma ocultação, rasante ou simplesmente a passar ao lado. E para tal suceder bastam algumas dezenas de quilómetros para termos qualquer uma das situações. Em Leiria ocorreu uma ocultação mas bastaria ter deslocado 50 quilómetros mais a sul para ser uma rasante, tal como sucedeu aos observadores em Lisboa como se pode ver neste filme da "quase" rasante.

Abaixo fica a tabela de ocultações de planetas pela a Lua para Leiria (e arredores) até 2025 calculadas pelo LOW 3.1:

Planeta Mag Data Dia Hora D/R Limbo RA Dec Alt Az Const
d m y h m s h m s º ' " º º
Saturno 0.7 22-05-2007 Ter 19:50:40 D B 09h27m46.1717s +16ー18'37.302" 57 233 Leo
Saturno 0.7 22-05-2007 Ter 20:08:17 R B 09h27m46.3336s +16ー18'36.492" 54 239 Leo
Marte 1.4 10-05-2008 Sáb 11:49:37 D D 08h11m45.6926s +21ー46'13.746" 17 75 Can
Marte 1.4 10-05-2008 Sáb 12:53:01 R B 08h11m51.6168s +21ー45'53.393" 29 85 Can
Venus -3.6 01-12-2008 Seg 15:27:24 D D 19h39m13.4935s -23ー54'22.877" 27 179 Sag
Venus -3.6 01-12-2008 Seg 17:09:01 R B 19h39m34.9624s -23ー53'33.049" 23 204 Sag
Jupiter -1.6 15-07-2012 Dom 02:08:36 R D 04h21m52.7072s +20ー44'38.898" 0 62 Tau
Saturno 0.7 25-10-2014 Sáb 16:19:41 D D 15h25m02.8450s -16ー40'40.578" 23 221 Lib
Saturno 0.7 25-10-2014 Sáb 17:08:32 R B 15h25m03.7791s -16ー40'44.239" 16 231 Lib
Saturno 0.7 02-02-2019 Sáb 06:16:04 R D 19h05m18.7630s -22ー08'05.011" 1 120 Sag
Jupiter -1.3 28-11-2019 Qui 10:07:42 R B 17h55m48.8101s -23ー17'24.203" 7 128 Sag
Venus -3.8 19-06-2020 Sex 07:16:18 D B 04h18m39.3508s +18ー34'21.014" 37 96 Tau
Venus -3.8 19-06-2020 Sex 08:06:18 R D 04h18m37.5518s +18ー33'56.422" 47 106 Tau
Marte -1.7 06-09-2020 Dom 06:03:39 C D 01h50m18.2545s +06ー47'57.550" 41 241 Pis
Urano 6.0 14-09-2022 Qua 22:01:25 R D 03h05m32.1424s +17ー02'14.880" 10 76 Ari
Marte -1.6 08-12-2022 Qui 05:25:55 D D 04h58m34.4974s +24ー59'34.600" 27 281 Tau
Marte -1.6 08-12-2022 Qui 06:03:48 R D 04h58m31.8122s +24ー59'34.308" 20 287 Tau
Saturno 0.8 21-08-2024 Qua 03:12:31 D B 23h16m55.9017s -06ー58'44.317" 40 206 Aqu
Saturno 0.8 21-08-2024 Qua 04:19:30 R D 23h16m55.1860s -06ー58'49.253" 32 225 Aqu
Marte -0.7 18-12-2024 Qua 09:47:42 D B 08h34m03.0674s +22ー11'33.932" 9 292 Can
Saturno 1.2 04-01-2025 Sáb 17:03:42 D D 23h07m07.7659s -07ー47'47.997" 42 187 Aqu
Saturno 1.2 04-01-2025 Sáb 18:17:38 R B 23h07m08.6779s -07ー47'41.876" 38 210 Aqu
Venus -3.3 19-09-2025 Sex 12:19:59 D B 10h09m38.3066s +12ー21'14.339" 56 222 Leo
Venus -3.3 19-09-2025 Sex 13:22:37 R D 10h09m50.6548s +12ー20'12.212" 47 242 Leo

nota: D/R (D)esaparece/(R)eaparece, Limbo ((B)right/(D)ark)

Pátio 244 - Sol

2007.06.03
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Fui durante alguns anos observador/fotógrafo quase diário do nosso Sol. Nos anos 2002-2005, o Sol teve o seu máximo de actividade magnética que é indiciada pela a maior ou menor existência de manchas solares na sua superfície.

Nesta altura, o Sol já se lentamente se encontra na fase ascendente do máximo Solar, tendo entretanto invertido o seu pólo magnético, com a consequência mais notória a maior incidência de grupos activos acima do seu equador.

Sol 14:02 UTC
Sol 14:02 UTC

Pátio 245 - Vénus e a Colmeia

2007.06.12
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Hoje o brilhante Vénus fez uma visita ao grande enxame aberto em Câncer Messier 44, sendo este também conhecido por "Beehive" (colmeia) ou Presépio, pois quando visto através de binóculos se assemelhar a um enxame de abelhas.

A título de curiosidade, Vénus a brilhar a -4.3 magnitudes é equivalente ao brilho de uma supernova Tipo 1a que explodiu há (ou a) 33000 anos (luz) *, isto ignorando a absorção do espaço interstelar. Mas na verdade nunca poderia ser um estrela membro do enxame Messier 44 que está bem mais perto a 577 anos-luz segundo o Hipparcos, ou 600 anos-luz segundo um "paper" recente.

Curiosidade matemática à parte, mesmo com a poluição luminosa intensa e muita nebulosidade, foi uma vista interessante no binóculo 16x70, no qual o conjunto ficou bem enquadrado nos seus 4 graus disponíveis, com uma copa de um pinheiro a dar um toque terráqueo à cena.

* usando a formula do módulo-distância m - M = 5 log(d/10) podemos reescrever d = 10^((m - M + 5)/5) - com m=-4.3 (magnitude aparente de Vénus) e M= -19.33 (magnitude absoluta estimada de uma supernova tipo 1a) resultando em 10140 parsec (33000 anos-luz).

Vénus e Messier 44 22:05 UTC
Vénus e Messier 44 22:05 UTC

Pátio 246 - Vénus e a Lua

2007.06.18
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Exceptuando o Sol, os dois únicos astros que podem ser visíveis em pleno dia encontraram-se hoje ao princípio da tarde.

Esta conjunção próxima foi perfeitamente visível a olho nu, mesmo na altura de separação mínima (2,5') às14:32, 15:32 locais, Vénus brilhava bem destacado, mas apenas no telescópio (Dobson de 20cm a 34x) é que foi possível observar a sua fase que se apresentava bastante similar à da Lua. Uma vista impressionante, tendo em conta com o Sol a a brilhar em todo o esplendor a dois palmos bem medidos. Apesar de ser comum a ideia de que não é possível observar planetas durante o dia, Vénus e Júpiter são bastante fáceis de ver com a vista desarmada, só é preciso uma pequena ajuda da Lua para saber onde olhar.

Outras conjunções diurnas aqui no Pátio:

Vénus e Lua 14:44 UTC
Vénus e Lua 14:44 UTC

A imagem abaixo, mostra a curiosa fase de Vénus, com a característica forma que as cúspides (extremidades da fase) lhe dá por não serem tão agudas como as da Lua, devido à existência de atmosfera, assemelhando-se a um dente de alho celestial.

Vénus e Lua 15:02 UT
Vénus e Lua 15:02 UTC

Pátio 247 - Solstício, ISS e a Atlantis

2007.06.21
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

O adiamento da reentrada do Space Shuttle Atlantis após a vista à ISS, permitiu mais uma vez o desfile destas duas máquinas. Na imagem vê-se os rastos deixados por ambos em 53 segundos de exposição, passando pela as estrelas da Ursa Maior Alioth, a dupla visual Alcor/Mizar e a Alkaid. Foi interessante observar a diferente tonalidade, sendo o Atlantis branco, e também menos brilhante que a amarelada ISS. A Atlantis era notoriamente mais brilhante que a Arcturus, seguramente com magnitude negativa. A ISS pareceu-me quase tão brilhante como Júpiter (deve ser por causa dos novos painéis solares), mais brilhantes do que a previsão do Heavens-above (-0.9 mag).

Também hoje, foi o solstício de Verão. A partir deste momento e até ao solstício de Inverno, as noites vão ficando cada vez maiores.

Imagem feita com uma Nikon D70 com uma objectiva de 50mm em cima de um tripé fixo. Mesmo usando uma distância focal tão pequena e pouca exposição, as estrelas arrastam bastante, para tal, existe um processo de "endireitar"estrelas no PS, aqui descrito para servir de lembrete pois estou sempre a esquecer-me:

Fiz este processo duas vezes. A primeira vez para tirar as estrelas e deixar só os rastos, e a segunda para por estrelas redondas, adicionando finalmente as duas. Este processamento é bastante destrutivo no que diz respeito às estrelas mais ténues, mas as que sobram, chegam para o efeito pretendido.

ISS e Atlantis 21:08 UTC
ISS e Atlantis 21:08 UTC

Pátio 248

2007.06.23
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

A sessão caseira começou às 0:00 UTC (01:00 locais) da madrugada de Sábado, tendo terminado devido ao aumento da nebulosidade cerca de 2 horas depois. No início da sessão, a Lua no seu Quarto Crescente já se encontrava muito baixa, contribuindo bem menos para a claridade do céu do que a poluição luminosa local. Flanqueado a Sul pela a imensa, de tão perto, abóbada de luz da cidade de Leiria, e a Sul e por prédios em toda a volta, apenas sobreviveu um circulo de 15 a 20 graus em torno do zénite como janela para o resto do Universo. O SQM marcava uns desapontadores 18.82, valor que se podiam considerar péssimo para a prática de astronomia visual que não seja planetária ou de sofá, mas contudo, a estimativa visual na região da Ursa Menor ainda deu umas esperançosas 4.5 magnitudes. O céu esteve praticamente limpo com apenas algumas nuvens que ocasionalmente passavam apressadamente. Noite de Verão com temperatura agradável.

Apesar do cenário desfavorável, decidi trazer o meu estimado dobson de 20cm para o pátio, junto com um par de oculares, a Panoptic 24mm (51x 1.34º) e a Nagler de 9mm (131x 0.6º) e ainda os Sky Atlas do Karkoschka (3ª edição a sair brevemente), Millennium Star Atlas e o Pocket Sky Atlas.

Iniciei uma pequena ronda por diversos alvos aleatórios, enquanto o telescópio a temperatura exterior se equilibrava, a fazer tempo para que a constelação de Cisne galgasse o telhado do meu prédio. Comecei na sua "asa" precedente que se encontrava mais elevada.

A nebulosa planetária NGC 6826 (ver imagem), é também conhecida por planetária "pisca-pisca" que desta vez não deu ou não tive a paciência. para ver o efeito. Já denunciada a 51x com a Pan24, a 131x mostrava uma forma ligeiramente alongada e relativamente homogénea, mas pouco mais há a relatar desta vez. Esta nebulosa está no meio de um interessante contexto estelar, podendo-se encontrar nas suas redondezas alguns pares de duplas, dentro dos quais se salienta a brilhante 16 Cygni que é um verdadeiro sistema duplo de estrelas anãs amarelas de espectro G muito semelhantes ao nosso Sol, situado a 70 anos-luz e onde pela a primeira vez num sistema duplo, foi encontrado um planeta extrasolar do tipo joviano. Este sistema binário encontra-se no livro de Kaler, The Hundred Greatest Stars, onde o autor faz algumas deduções curiosas como por exemplo : "para 0s 16 cygnianos o segundo Sol seria 2x mais brilhante que a nossa Lua Cheia", ou ainda porque razão do acolhedor planeta Tatooine do jovem Luke Skywalker com os seus dois Sois ser quase uma impossibilidade...

Seguindo alguns dos objectos marcados na mesma página do Pocket Sky Atlas, passei por três enxames abertos na região. No NGC 6811 podiam-se contar cerca de 40 estrelas de 10 e 11 de magnitude uniformemente espalhadas sobre um área difusa de estrelas não resolvidas. O NGC 6866 mostrava bastante menos estrelas e ligeiramente mais pequeno mas com uma saliente cadeia formada pelas suas estrelas mais brilhantes. Finalmente, cheguei ao NGC 6910. Este interessante enxame situa-se apenas meio grau da gamma de Cisne Sadr (no coração/peito do Cisne). Uma dúzia de estrelas desenham uma forma a fazer lembrar um Y invertido um fundo não resolvido, duas estrelas de magnitude 7 muito proeminentes, que o torna provavelmente apelativo.

NGC 6910
NGC 6910

Já na asa Oeste, passei pela a pequena mas brilhante planetária NGC 7027, já distinta a 51x e oval a 131x sem contudo me ter apercebido de qualquer outro detalhe relevante.

A 61 Cygni é uma estrela, ou melhor, um par de estrelas que é notável por diversas razões. A primeira e a mais imediata através de qualquer telescópio. é a de ser um belo par de estrelas dourado/alaranjado. Mas para além da sua beleza intrínseca tem uma maior importância histórica.

Foi a primeira estrela para à qual foi medida com alguma precisão a sua distância real. Em 1838, Friedrich Bessel anunciou que apresentava uma paralaxe de 2 terços de segundo de arco (0.66"), o valor corrente da paralaxe formal é metade daquele valor, cerca de 0.287.13". Isto resulta numa distância de 11.359 anos-luz, sendo as 12ª e 13ª estrelas mais próximas do nosso Sol. É uma estrela dupla visual constituída por duas estrelas alaranjadas de magnitude e tonalidade semelhantes: 5.20 (K5) e 6.05 (K7) que são também ligeiramente variáveis, como é o caso de quase todas as estrelas deste espectro. A sua órbita foi calculada em 659 anos com uma distância média entre as estrelas de 85 UA, e graças à sua grande excentricidade ( 0.48) a órbita varia entre 51 UA e 119 UA, muito além e quase o triplo da órbita de Plutão (40 UA). Outra característica interessante, é por serem as únicas anãs vermelhas (pouco luminosas e frias) que com as magnitudes combinadas a serem visíveis a olho nu . Com a luminosidade de 0.08392x e 0.03882x em relação ao Sol, são estrelas muito pouco luminosas que têm de obrigatoriamente situar-se bastante perto de nós para serem visíveis com esta magnitude.

E finalmente, o seu grande movimento anual em relação a outras estrelas que que as coloca em 7º e 8º na tabela das mais rápidas e a 1ª e única das visíveis a olha nu (novamente a magnitude combinada de ambas), deslocando-se aparentemente cerca de 5" por ano. Desse facto originou a sua alcunha anglo-saxónica de "Piazzi's Flying Star" ("Estrela Voadora de Piazzi") em honra de Giuseppe Piazzi (1746-1826) do Observatório de Palermo. que primeiro mediu o seu grande movimento próprio. O movimento próprio é um bom indicador de proximidade, daí Bessel ter escolhido esta estrela como boa candidata a obter-se uma paralaxe observável. Realmente, um belo par de estrelas interessante em todas as vertentes.

Neste momento, este sistema binário está a aumentar a sua separação: 2000.0 202.1º 30.74" - 2010.0 200.4º 31.34" - 2020.0 198.7º 31.89"

A "Egg nebula", AFCRL 2688, PK 80+6.1 é uma das planetárias mais estranhas do céu, estando neste momento classificada como proto-planetária bipolar, estágio intermédio da formação de uma nebulosa planetária. Nunca julguei que fosse possível observar visualmente tão raro e ténue objecto aqui do céu do Pátio, que apesar da sua magnitude fotográfica de 13.5, pareceu-me apesar do das condições de observação mais acessível visualmente. Quase dois anos após ter lhe feito uma imagem e pequena descrição, Recordo-me de ter tido alguma dificuldade em o colocar no campo da minha falecida Atik-1hs, que mesmo com uma grande exposição a sua natureza nebulosa não se revelar muito aparente.Desta vez tive a ajuda do MSA, carta 1147 para a colocar no campo. Na carta não havia muitas estrelas para referência, excepto uma alaranjada de magnitude 8 SAO 70809 e outra de magnitude 10, que de resto foram suficientes para ter a certeza de para onde olhar.

Suspeitei-a inicialmente com 131x, como uma ténue dupla apertada de estrelas de 12-13 de magnitude, e fiz um esboço da sua posição e orientação para mais tarde confirmar se realmente a tinha detectado. Sem qualquer nebulosidade presente, não deixou de ser estelar e podia bem passar por mais um par de estrelas ténues. O filtro UHC não ajudou, antes pelo o contrário. Depois de detectada, mesmo a 51x deu para ver que alguma coisa estava na posição "certa", e fiz o esboço abaixo para confirmar com o Guide8, que aquilo que observei só poderia ser a planetária e não duas "vulgares" estrelas, o que veio a acontecer, pois naquela posição apenas existem estrelas de 15 e de 16 de magnitude, alvos completamente impossíveis de se ver com 20cm de abertura e naquele céu.

AFCRL 2688, PK 80+6.1
AFCRL 2688, PK 80+6.1

Pátio 249 - Vénus e Saturno

2007.06.29
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Hoje ao fim do dia.

Vénus e Saturno

Pátio 250 - Vénus e Saturno II

2007.06.30
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Uma conjunção de planetas relativamente rara aconteceu hoje ao fim do dia. O par em causa é "sui generis", com ambos mostrando as suas características típicas: a fase crescente de Vénus, e as "orelhas" de Saturno. Apesar de estarem separados 3/4 de 1 grau, essa separação é imensa quando comparada com o tamanho aparente dos dois planetas, que se tivermos em conta com os anéis de Saturno, eram praticamente iguais com cerca de 33-35 segundos de arco (80x a sua separação). Ambos eram visíveis mesmo antes do Sol se pôr no binóculo 16x70. A diferença de magnitudes era muito grande, com Vénus 100x mais brilhante, mas diferença essa que a nossa visão consegue devidamente processar sem que ocorra qualquer saturação.

Mas registar intensidades de brilho tão díspares é outra história. Abaixo, está uma imagem que se assemelha ao que se poderia observar através do binóculo, neste caso 2 minutos após o Sol se pôr. A exposição crítica necessária para não saturar Vénus e registar a sua fase, e simultaneamente conseguir arrancar do brilho de fundo o bem menos brilhante Saturno necessita da ajuda de uma boa dose de sorte.

Vénus e Saturno II

Depois as nuvens voltaram a cobrir o céu, e tentei usá-las com um filtro natural (H2O), que simultaneamente obscurecesse Vénus e não cobrisse Saturno, numa tentativa de lhes fazer uma imagem em que o brilho de ambos fosse semelhante. Abaixo está a imagem que correu melhor.

Vénus e Saturno II

Pátio 251 - Duplas Binoculares

2007.07.04
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Aqui no pàtio, as noites posteriores a grandes períodos de céu nublados têm a característica de serem relativamente transparentes. Na melhor região do céu, a magnitude limite chegou a atingir a magnitude 5, que é uma condição um pouco invulgar por estes lados. Peguei então numa cadeira e no Fujinon 16x70, e pus-me a observar duplas que fossem adequadas para este instrumento.

16,17 Draconis
Sistema binário verdadeiro (visto partilharem o mesmo movimento próprio ) separado em 90" de duas estrelas bem quentes (B9V e B9) a cerca de 400 anos-luz. Este par é interessante em todos os binóculos. A sua grande separação e por ser constituído por estrelas brilhantes com brilhos e tonalidades semelhantes (5.5 e 5.4 respectivamente) não são uma visão rara mas no mínimo curiosa, fazendo sempre parar o varrimento binocular do céu.

25 (Nu) Draconis
A separação deste par é praticamente a definição de 1 minuto de arco (62") sendo um dos vértices da cabeça do Dragão, também conhecido por Kuma ((Starnames, Their Lore and Meaning, de Allen não faz referência a este nome, mas menciona que é uma das quatro camelos fêmea para os nómadas ), sendo este talvez o mais brilhante perfeito exemplo de um par gémeo de estrelas brancas com magnitudes de 4.89 e 4.86 respectivamente, sendo ambas do espectro Am. O "m" é por possuir linhas de absorção metálica bem largas, característica que indica que possuem uma rotação lenta, sendo esta encontrada em binárias próximas deste espectro cuja desaceleração é provavelmente causada por efeitos de maré num efeito muito semelhante ao que se passa no sistema Terra-Lua (Kaler, Stars and their spectra). Está a 100 anos-luz de nós e à semelhança do par anterior é também um verdadeiro sistema binário.

Nu Draconis
Nu Draconis

31 Psi Draconis (Dziban)
Dupla bem mais apertada (30") que as anteriores, cuja diferença de magnitude dificulta ligeiramente a sua resolução . Estrelas 4.555 F5IV e 5.532 G0V respectivamente ambas situadas a 72 anos-luz.

Epsilon Lyrae
Esta é a famoso duplamente duplo sistema de estrelas, situada numa das mais emblemáticas constelações de Verão - a Lira. Tentei resolver a olho nu, mas sem chegar a grande certeza se o alongamento era real ou produto do astigmatismo. No binóculo, é um belo par de estrelas bem folgadas, mas obviamente não resolvido nos seus mais pequenos componentes. Os 70mm de abertura do binóculo são mais que suficientes para resolver os 2-2.5" que separam cada uma das epsilon, mas com 16x é praticamente impossível (com o meu refrator 60mm pelo menos a 71x e a custo). Apesar de ser tradicional usar esta dupla para testar a capacidade de resolução de pequenas ópticas, na realidade qualquer abertura superior ou igual a 60mm com o mínimo de qualidade faz saltar os quatro componentes, isto é, se a turbulência não atrapalhar e desde que se utilize o mínimo de magnificação, que nas noites mais estáveis pode começar em 50x. Se se orientar a imagem da ocular fazendo um recta sem inclinação, a epsilon-1 é a mais fácil de resolver com as estrelas uma ao lado uma da outra (PA=347), sendo uma delas notoriamente menos brilhante. A epsilon-2 as estrelas estão praticamente uma por cima da outra (PA=80).

As 4 estrelas estão situadas a 160-162 anos-luz (49.8 parsec), sendo um sistema binário composto por sua vez por dois sistemas binários. A separação destes dois sistemas é cerca de 3.5' correspondendo à nossa distância a 0.165 anos-luz (10458 UA)*. Esta é uma distância que se pode considerar um pouco menos que inconsolavelmente inatingível (a sonda Pioneer 10 em 24 anos apenas se afastou quase 95 UA da Terra, encontrando-se neste momento no "corno" Oeste da constelação de Touro a brilhar a umas míseras 52 magnitudes). Com esta separação o período orbital entre as duas epsilon nunca será a inferior a meio milhão de anos...

* 49.8x210 (distância ao objecto em parsecs) x (segundos de arco) = 10458 UA/206265 = 0.05 pc = 0.165 anos-luz

A Epsilon-1 é composta por duas estrelas anãs F de 4.67 e 5.81 que têm um período de 1655.6 anos estando separadas neste momento em 2.53" (126 UA) que é cerca de 3 vezes maior que a órbita média de Plutão. Por outro lado a Epsilon-2 é composta por duas estrelas novamente anãs espectro A de 4.59 e 4.80 e têm um período de 724 anos estando separadas neste momento em 2.36" (117.5 UA).

Este aparato será decerto mais incrível do que o da 16 Cygni. Para termos um planeta humanamente habitável teria que ter uma órbita equivalente à de Júpiter numa das estrelas (estas estrela tem o dobro da massa do Sol) ficando assim com um segundo Sol a brilhar como 500 luas cheias. As estrelas da outra epsilon brilhariam 1 grau separadas com a intensidade de um quarto de Lua... a resultante mitologia local seria deveras interessante.

Ainda passei de relancei pela as Zeta e Beta da Lira, sem conseguir discernir a parceira da Beta.

13 Cygni
Este é o folgado e bem brilhante par (300") que se pode observar no campo da 16 Cygni e da planetária NGC 6826 (pisca-pisca). A mais brilhante é uma anã F4 a 60 anos-luz a brilhar a 4.49 e a menos brilhante é uma gigante 10 vezes mais distância com mais duas magnitudes.

16 Cygni
Revisitei este sistema de duas estrelas amarelas de magnitude semelhante (~6) ao nosso Sol que foi mencionado num relato do passado mês, está separado por 40", resolvido sem grande dificuldade.

Beta Cygni (Albireo)
Se existem verdadeiras estrelas mediáticas, julgo crer que poucas o são mais que este par. Merecidamente o primeiro par de estrelas telescópico que iniciou muitos na beleza colorida das estrelas. Com a vista desarmada poucos se terão apercebido que as estrelas possuem cores que vão do azul mais intenso até ao vermelho vivo. Os binóculos e telescópios, que são essencialmente concentradores de luz, fazem estimular os sensores de cor nossos olhos que quando a trabalhar em modo de visão nocturna só "vêem" tonalidades cinzentas. Quanto mais brilhante, maior a probabilidade de se poder ver cor. A Albireo é tão brilhante e colorida que praticamente qualquer abertura pode servir, mas a 16x de magnificação já mostra um belo e contrastado par de estrelas ouro e azul.

Estando no lugar da cabeça de uma das constelações mais reconhecíveis, a do Cisne, é extremamente fácil de encontrar, mesmo estando no meio de uma cidade, visto a magnitude integrada resultante da contribuição das magnitudes 3.05 e 5.12 ser 2.9. O catálogo Hipparcos dá as distâncias de 386 ± 26 ano luz para a gigante vermelha K3II e 376 ± 28 anos-luz para a anã branco-azulada B8V, cuja a diferença de 10 anos-luz está confortavelmente dentro do intervalo de incerteza, podendo ser um sistema binário ou simplesmente duas estrelas na mesma linha de vista. Com este brilho e quase a 400 anos-luz de nós, são obviamente estrelas muito brilhantes, como grande parte das estrelas mais proeminentes do nosso céu, brilhando respectivamente 700x e 100x mais que o nosso Sol, que teria aquela distância uma ténue magnitude de 10.13, quase no limites do binóculo de 70mm. Um par a nunca perder.

Beta Lyrae
Beta Lyrae

Seleccionei as quatro duplas para testar os limites de resolução, sendo sucessivamente mais "íntimas".

K Herculis (Marfik)
Par óptico 5.3 mag. G8II e 6.5 mag. K1III separadas por 28"

63 Serpentis (Alya. Alga)
Apenas separadas por 22.3", a diferença de magnitudes torna-as tão complicadas de resolver com a bem mais apertada dupla abaixo mencionadas: as componentes são uma estrela A5V de 4.5 e a companheira do mesmo espectro com 5.4 magnitudes.

100 Herculis
Outro par aparentemente óptico de estrelas gémeas A3V com 5.81 e 5.84 magnitudes, separadas por apenas 14".

95 Herculis
Espantosamente resolvida com apenas 16x! Com uma separação de apenas 6.3",as magnitudes semelhantes de 5.0 (G8III) e 5.1 (A5III) permite que se consiga ver as duas estrelas distintamente, embora não propriamente separadas. Não chegou no entanto para distinguir as suas cores. Apesar de partilharem o mesmo movimento próprio não parece haver movimento relativo entre elas.

IC 4756 e NGC 6633
Quando andava a perscrutar o céu pela a dupla anterior deparei com este par de enxames fronteiriços da Serpente e de Ofiúco. É um belo alvo para este binóculo. O IC é enorme, muito homogéneo mas rico, o NGC mais pequeno com cerca de metade da dimensão do anterior, mais concentrado, mas ambos com uma estrela brilhante com vizinha. Podem-se ver simultaneamente nos 4 graus de campo disponibilizados pelo o binóculo, embora não propriamente com muita sobra. Estes enxames estão quase à mesma distância a 388 pc e 312 pc respectivamente. Acho intrigante de somente em 1922 o IC 4756 ter sido reconhecido com enxame aberto, sendo este também chamado "Graff cluster" em honra do seu descobridor (Star Clusters, Archinal/Hynes). Um par binocular a revisitar em melhores céus.

Astrovide

2007.07.14
Barragem da Póvoa - Castelo de Vide

Cometa Linear c/2006 VZ13
Cometa Linear c/2006 VZ13

Depois de uma grande proliferação há alguns anos atrás, as astrofestas têm vindo gradualmente a desaparecer, bastando apenas uma mão (com alguns dedos amputados), para contar todos os eventos que decorreram ou vão decorrer este ano, isto, excluindo a Astronomia no Verão, que são actividades geralmente realizadas, e apropriadamente, em locais onde as pessoas estão e não em locais apropriados. Embora não consiga arranjar grande explicação, o facto é que a astronomia amadora feita no seu meio ambiente tem cada vez menos oportunidades de se mostrar ao público em geral.

Mas uma coisa é para mim certa, o principal ingrediente para uma astrofesta é um céu escuro, e muitos telescópios com os respectivos donos.

Seja-se astrónomo amador experiente ou um ocasional visitante, nada causará maior assombro do que a nossa Via Láctea em todo o seu deslumbramento, assim como tudo o que os telescópios ou binóculos irão acrescentar a essa experiência vivida em directo. Estar sob um céu escuro, é uma experiência cada vez mais inacessível e rara para a grande maioria da população - e o mais triste é que muitos nem o sabem, nem o que também estão a perder.

Também as actividades que podem ocorrer durante o dia, tais como palestras, lojas da especialidade, e simples tertúlias nos intervalos, podem ser uma mais valia para um dia bem passado com a astronomia, sobretudo com toda a troca de conhecimentos, novidades e confraternização que respectivamente daí advêm.

O Astrovide costuma ter sempre cada um destes ingredientes, (excepto infelizmente um bar/snack com luzes vermelhas), tendo este ano notado a ausência das lojas, que para mim são como miúdos numa loja de brinquedos, pois um crescido é um sempre um miúdo, só o preço dos brinquedos é que muda...

As palestras deste ano foram variadas, desde o Filipe a mostrar com consegue fazer as imagens e toda aquele virtuosismo e criatividade técnica que já nos habituou, passando pela experiência de décadas do José Ribeiro que neste momento é um colaborador em projectos internacionais, à descrição do processo de descoberta científica do Carlos Santos usando alguns dos maiores telescópios do Mundo, até à descontraída da história da Astronáutica contada pelo jovem autóctone José Leite. No intervalo, os participantes (e qualquer transeunte) tiveram a oportunidade de observar o Sol através de um espectrómetro de alta resolução do José Ribeiro, que mostrava o arco-íris com as diversas linhas de absorção correspondentes aos diversos elementos que constituem o Sol e também a atmosfera que se interpõe - demonstração que julgo ter sido inédita por cá. Tive pena que sessões com um planetário portátil que estava previstas não tenham acontecido.

Messier 8, Messier 20 & Messier 21
Messier 8, Messier 20 & Messier 21
Reparar no par de estrelas e pequena nebulosa de reflexão (IC 4678 ou GN 18.03.5) às 11 horas de Messier 8

Já na barragem da Póvoa, e depois do jantar ao ar livre todos seguiram para um local elevado na sua margem.

A noite esteve perfeita. Não havia a Lua, nuvens, nem bicharada inoportuna, estando uma temperatura amena até bem tarde (estive de t-shirt até perto das duas horas da manhã). O SQM marcou um máximo de 21.45, que é um valor excelente para uma noite de Verão. Em quase todo o céu a magnitude foi superior a 6, apenas interrompida por algumas luzes de automóveis, devido ao local se encontrar perto de uma estrada. A única circunstância a lamentar foi a falta de civismo (e educação) de alguns (presumo jovens) campistas que por lá estiveram acampados, que até à minha saída perto das 4 da manhã, insistiam em por música(?) com grande volume e até apontar focos de luz.

Marcaram presença dois telescópios de grande porte, por sinal ambos Obsession , o 18" do Anselmo e o 15" do Alberto, que conjuntamente com o "divã" binocular, uma engenhoca do Carlos Seabra, granjearam grande parte da atenção dos presentes. Como tinha o meu próprio equipamento para assistir, não me desloquei muito do meu canto, ficando sem grande ideia de quantos telescópios e pessoas que por lá estiveram, mas o local pareceu-me bastante composto e animado.

Trouxe comigo o costumeiro equipamento para fazer os meus instantâneos astrofotográficos (a Takahashi P2-Z e o Takahashi Sky-90 ) e ainda os dois binóculos Fujinon 7x50 e o 16x70. Durante a cronometragem dos 5 minutos de cada uma das exposições, passeava no céu de binóculos com a ajuda do Karkoschka, tendo percorrido diversas cartas com bastante êxito.

Nessa noite, também foi a a estreia dos Fujinon 16x70 sob um céu escuro. Este binóculo apesar de já ser um modelo clássico, é aquele pelo qual todos os outros binóculos se comparam, e poucos favoravelmente dentro desta abertura, segundo a opinião generalizada. Independentemente da sua fama, superaram todas as minhas expectativas, e como assim dizer, abriu-me os dois olhos para o Universo. O "hype cyberespacial" neste caso, é perfeitamente justo.

Comecei a observação pelo o cometa mais brilhante do momento, o Linear C/2006 VZ13 que está a caminho do Boeiro, aparentando este brilhar mais que os 9.8 magnitudes previstas, apresentando uma grande coma, mas no entanto sem cauda visível tanto nos binóculos, como no 90mm.

Durante toda a noite obtive vistas espantosas da Messier 31 e satélites em Andrómeda, do duplo de Perseu, da Messier 33 em Triângulo, Messier 101 e Messier 51 em Cães de Caça, dos inúmeros enxames de Cassiopeia, e de toda a amálgama de nebulosas, enxames, globulares e nebulosas escuras que povoam os braços da Galáxia desde o Cisne até à base do pote de Sagitário. E ainda houve tempo para passar pelos Messier 30 de Capricórnio, os Messier 72 e Messier 73 e até a Hélix de Aquário, terminando a noite já nas Plêiades e no bem vermelho planeta Marte. Foi um verdadeiro festim binocular.

Já para o fim da noite, resolvi fazer uma imagem de um alvo particularmente complicado de observar em céus menos que escuros. A galáxia de Barnard (NGC 6822) possui um brilho de superfície extremamente baixo (14.4), pelo que a sua observação é um bom indício de uma noite escura e transparente. Durante toda a hora que demorou a ser exposta, tentei vê-la com o binóculo, mas só ficou a ligeira impressão que talvez houvesse lá qualquer coisa, algo insuficiente para ser uma vista positiva. A galáxia em si não é particularmente um alvo interessante, salvo o desafio em a conseguir observar (ou antes detectar), mas é o se pode arranjar mais parecido com as Nuvens de Magalhães aqui para os lados do nosso hemisfério. A nebulosa planetária NGC 6818 que está bem presente como uma bolinha azul no topo da imagem.

NGC 6822 & NGC 6818 (full frame)
NGC 6822 & NGC 6818

Pátio 252 - Vénus

2007.7.27
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

O minguante de Vénus está cada vez mais fino, assim como a sua altitude ao fim do dia, causando neste "pôr-de-Vénus" um colorido psicandélico, que na altura da imagem se encontrava com apenas 12 graus iluminados. Devido turbulência da atmosfera parece ter uma iluminação maior e ao seu efeito refrator causa a coloração.

Vénus
Vénus

Vale da Lama IX

2007.08.14
Vale da Lama - Alpiarça

Mais uma noite passada sob céu ribatejano, onde ainda consegue sem dificuldade mostrar os braços da Via Láctea. A noite astronómica começou com algumas nuvens mas limpou definitivamente ainda antes da meia-noite. A magnitude limite rondava os 6 no zénite, com o SQM a marcar cerca de 21.10, tendo havido alguns períodos de maior humidade e turbulência.

Desta vez, tivemos a companhia de um jornalista (Ricardo Nabais) e um fotógrafo (José Santos) do semanário "Sol" que estiveram connosco até perto das duas da madrugada (!). A reportagem saiu na revista Tabu da edição de 18 de Agosto e descreve (a meu ver bem) o que é uma noite típica passada sob as estrelas com estes e outros companheiros. Os meus parabéns à equipa de reportagem, que prestou um bom serviço à astronomia amadora na sua vertente mais "outdoor". E as meeelgas ? para cima de duzentas... para cada um.

Esta foi também a noite anterior à do pico previsto para as Perseidas, mas como é habitual algumas delas não se fizeram rogadas e escolheram ter um brilhante final um pouco antes. Apesar de não ter andado a contá-las, a cadência foi significativa durante toda a noite, tendo algumas delas feito um espectacular espalhafato.

Entretanto no telescópio, apenas observei um (1) objecto: NGC 7331 na constelação do Pégaso.

A sua descrição visual é de uma pequena e alongada nebulosidade obrigatoriamente solitária através da abertura utilizada. Tendo consultado o MSA (carta 1142), verifiquei que para além do famoso Quinteto de Stephan ainda se podiam encontrar duas galáxias um pouco pindéricas no generoso campo da Nikon D70 (quase 4 graus na diagonal). Passei cerca de 3 horas a expo-la.

Depois de "revelar", surgiram quase cinquenta galáxias...

NGC 7331
NGC 7331 e Quinteto de "Stephan"

Por vezes não existe outra alternativa senão atarraxar engenhocas atrás do telescópio para se conseguir obter alguma coisa interessante em observação. Galáxias em visual não é o prato forte para um telescópio de 90mm, por muito que insista...

A constelação do Pégaso já se encontra afastada dos braços poeirentos da Via Láctea, proporcionando uma boa janela para o restante Universo. È uma das áreas que passa no nosso zénite, que permite observar fotões já velhinhos de galáxias longínquas.

O Quinteto de "Stephan", também conhecido por Hickson (HCG) 92 do qual são membro as galáxias NGC 7317, 7318A, 7318B, 7319 e 7320B/C é um dos mais estudados grupos compactos de galáxias, com centenas de "papers" a referi-la. Estas galáxias estão neste momento em interacção, havendo vestígios de colisões recentes e anteriores. O Quinteto é um interessante desafio visual para quem possua um telescópio com abertura superior ou igual a 15", tendo já observado este grupo neste mesmo local no Obsession 15" do Alberto (Vale da Lama III).

A NGC 7331 é a rainha absoluta visualmente (mas só de aparência, porque não parece ter muitas galáxias suas súbditas) estando a "apenas" 22 milhões de anos-luz. As galáxias que parecem ser sua satélites, na realidade pertencem a um pequeno grupo de galáxias situado entre 250-350 milhões anos-luz mais atrás, e há quem sugira que esteja relacionado com o Quinteto. A NGC 7320 por outro lado está à mesma distância de NGC 7331 (20 milhões de anos-luz), com grande probabilidade de não pertencer fisicamente ao grupo Quinteto que está situado uns longínquos 250 milhões de anos-luz mais atrás.

O grupo compacto de meia dúzia de galáxias UZC-CG 280 (Updated Zwicky Catalog-Compact Group), onde estão incluídas as galáxias NGC 7345 e 7342 e a PGC 069385 (esta última curiosamente é mais brilhante por estar mais próxima, sendo uma elíptica com "jets" como a Messier 87) que está situado perto das duas estrelas amarelas/vermelhas de magnitude 6, está a uns impressionantes 350-400 milhões de anos-luz da nossa Galáxia.

A imagem resulta de 12 exposições de ~5 minutos (uma delas com 6 minutos por distracção), num espaço de três horas por causa da conversa e dos petiscos. Com este alinhamento arrítmico, não há "dark frame" que safe o ruído térmico, de resto como está bem demonstrado na imagem abaixo, embora não esteja muito mau para uma câmara fotográfica de trazer por casa.

De resto andei entretido a vaguear pelo o céu com o binóculo 16x70, e a olho nu a ver as Perseidas a cair.

Ler o relato no www.atalaia.org , a do Hugo e o artigo na revista Tabu do semanário Sol

Pátio 253 - Livros

2007.09.20
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

(em construção)

Últimos livros a chegar aqui ao Pátio.

Atalaia XXIX

2007.10.13
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

Grande e bem frequentada noite de Lua ausente na Atalaia, tendo havido mais de 30 comparências entre os habituais, os menos habituais e estreantes. Céu praticamente limpo com uma temperatura agradável para a época, sem vento mas com alguma humidade, exigiu alguma roupa mais acolhedora a partir do meio da madrugada. A magnitude limite rondou os 5.5 nas áreas mais escuras.

Não podendo no momento carregar telescópios, apenas trouxe comigo o binóculo Fujinon 16x70, Karkoschka e o MSA , tendo abusado da cortesia de quem levou os seus bem mais volumosos telescópios.

A primeira vista da noite, foi a de um crescente lunar dourado com pouco mais de 5% de iluminação, a mergulhar numa pequena aberta no densamente nublado horizonte a Oeste, que não permitiu no entanto observar o cometa LONEOS (C/2007 F1), na altura a passar pela a Cabeleira de Berenices com uma provável magnitude de 7.6.

Crescente Dourado
Crescente Dourado

Entretanto o local começou a encher até quase ter ficado lotado. É francamente animador e ao mesmo tempo espantoso contemplar tal concentração espontânea aqui neste que se pode considerar o maior e mais frequentado local de Astronomia Amadora de Portugal, e quem sabe, da Europa :)). Mas certamente será difícil encontrar em qualquer lado, um grupo com actividades tão díspares que vão desde exoplanetas e cometas de magnitude 19 até observações comentadas com binóculos.

Montei o binóculo 16x70 num tripé, e pus-me a saltar de alvo em alvo, que passaram pela a galáxia de Andrómeda e satélites Messier 32 e Messier 110, as Plêiades (Messier 45), o Duplo Enxame de Perseu e Orion e suas redondezas. Todas estas obras-primas assentando como uma luva no campo deste binóculo. A nebulosa de reflexão Messier 78 em Orion esteve particularmente óbvia, assim como a galáxia do Triângulo Messier 33. O alvo-desafio da noite foi a galáxia mais brilhante do Pégaso, NGC 7331 (mag. 9.5, brilho de superfície 13.2, dim. 10.5'x3.5') que foi o centro das minhas atenções fotográficas há dois meses atrás, dando que fazer durante um quarto de hora com muita ajuda da carta 1142 do MSA .

No Obsession 15" do Alberto, tive oportunidade de observar a nebulosa planetária NGC 1514, que tem como estrela central uma brilhante estrela de magnitude 9.5, rodeada por uma considerável nebulosa com uma forma arredondada e textura irregular, notando-se algumas "falhas" de brilho. Também em Taurus, estivemos a tentar observar, sem chegar a grande conclusão, a nebulosa variável de Hind, que varia com com as estrelas variáveis que as iluminam. O trapézio de Orion mostrava 6 das suas estrelas sem qualquer dificuldade.

Vénus e Saturno partilhavam o campo do 16x70, sendo perceptível a fase no primeiro e as "orelhas" no último tendo sido este o meu final da noite por volta das 4:30 da madrugada.

Como sempre muitas coisas se passam por lá que eventualmente irão parar à página da noite em www.atalaia.org.

S.Pedro de Moel XIV - Cometa C/2007 F1 (LONEUS)

2007.10.20
S.Pedro de Moel

Hoje fui à praia de S.Pedro de Moel, apanhar um pouco de maresia e ver um cometa. Cheguei cedo para poder admirar uma vez mais o pôr do Sol, que por vezes pode ser realmente diferente. Hoje quase que ia acontecendo um flash verde.

Um flash verde quase a libertar-se
Um flash verde quase a libertar-se

Apesar de achar que já estar mais junto ao pôr do Sol, este cometa passou muito perto da Arcturus, um pouco mais de 3 graus abaixo, que mesmo com a ajuda de um conveniente farol estelar a marcar a sua posição, não foi fácil de detectar, só às 18:55 é que tive observação positiva com o binóculo 16x70, mas não tendo dele sinal no 7x50. Com apenas uma estrela de 6.3 magnitudes para comparação nas redondezas, pareceu-me ligeiramente mais ténue, com uma pequena coma não maior que 3-4 minutos de arco e sem apresentar qualquer cauda. A sua baixa altitude e a neblina costeira que se ia formando não ajudou muito a sua observação, nem a sua captura (imagem abaixo o resultado de imagens de 8x30 segundos) que mal mostra a sua extensa cauda, e a sua pequena cauda de iões.

Cometa LONEUS c/2007 F1
Cometa LONEUS c/2007 F1

Este cometa foi descoberto a 19 de Março deste ano com apenas 19.5 magnitudes pelo o programa LONEUS do observatório de Lowell para detecção de asteróides e cometas com risco potencial de impacto com o nosso planeta. Neste caso o mais próximo que ficará da Terra é 0.72 AU (cerca de 108 milhões de quilómetros).

Pátio 254 - Cometa 17P/Holmes

2007.10.25
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

A constelação de Perseu tem uma nova estrela. É extraordinário, especialmente porque este cometa deveria ter uma magnitude de 16.9, cerca de 14 magnitude mais ténue (500000x mais brilhante!). Hoje está a 1.63 AU (244,194,387 km) da Terra e a brilhar quase tanto como a Mirfak (Alpha Persei). O seu aspecto pouco convencional é porque é uma "pega de caras", ou seja, o cometa parece estar a dirigir-se quase na nossa direcção, mas na verdade, a sua orbita é na cintura de asteróides situada entre Marte e Júpiter, estando quase em oposição, daí esta perspectiva invulgar. De qualquer modo, este é um evento extremamente raro pela sua magnitude, embora seja vulgar cometas terem "outbursts", não é nada vulgar ficarem visíveis ao olho nu de um dia para o outro.

Mesmo no binóculo 7x50, é impossível confundir este cometa com uma estrela. Visualmente, apresenta uma cor dourada, com um pseudo núcleo central extremamente brilhante ligeiramente descentrado da coma, sem sinal de qualquer cauda. Não consegui ver visualmente, mas a imagem abaixo revela uma ligeira auréola verde, típica de cometa - não fosse a cor seria muito semelhante uma nebulosa planetária com um estrela central anormalmente brilhante.

Estar hoje a Lua Cheia (ainda por cima no perigeu), ou viver no meio de uma cidade é completamente indiferente - é visível a olho nu em qualquer lado.

Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC
Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70 , imagem : 6x6seg ISO 200

Cometa17 P/Holmes
Cometa17 P/Holmes

Pátio 255 - Cometa 17P/Holmes II

2007.10.27
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Este cometa tem sofrido grandes alterações nestas últimas 48 horas. A olho nu assemelha-se a uma estrela ligeiramente difusa, mas apesar de ter aumentado de tamanho tem mantido o seu brilho aparente (uma boa demonstração da definição de brilho de superfície). A sua cor já não é dourada como na observação anterior, apresentando uma tonalidade geral para o branco levemente esverdeado. Possui um pseudo núcleo quase pontual e uma coma interior já algo desviada do centro.

A imagem é uma comparação de hoje e de quinta-feira.

Cometa 17P/Holmes 23:12 UTC
Cometa 17P/Holmes 23:12 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70 , imagem : 8x30s ISO 200

Pleaides e Lua 22:00 UTC
Pleaides e Lua 22:00 UTC

Também esta noite, a Lua chegou a ocultar algumas estrelas das Plêiades, mas com esta fase tão brilhante, pode-se considerar uma conjunção muito iluminada, bastante mais interessante no binóculo 16x70.

Pátio 256 - Cometa 17P/Holmes III

2007.10.29
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Passadas mais 48 horas, o cometa duplicou de tamanho, e mudou a sua tonalidade, mas curiosamente continua a ter o mesmo brilho aparente.

Cometa 17P/Holmes 21:18 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:18 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70 , imagem : 9x30s ISO 400.

Pátio 257 - Cometa 17P/Holmes IV

2007.10.31
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Passadas mais 48 horas. Já me estou a interrogar se daqui a 48 horas o cometa caberá no fotograma...

Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 4x30s ISO 400

Pátio 258 - Cometa 17P/Holmes V

2007.11.02
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 4x30s ISO 400

Pátio 259 - Cometa 17P/Holmes VI

2007.11.04
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC
Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC

Equipamento: Takahashi Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 3x120s ISO 400

Pátio 260 - Cometa 17P/Holmes VII

2007.11.06
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Cometa 17P/Holmes 21:19 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:19 UTC

A imagem abaixo mostra a extraordinária evolução deste cometa no espaço de duas semanas.

Cometa 17P/Holmes
Cometa 17P/Holmes
Dias 25,26,28 e 31 de Outubro, e 2,4,6 e 10 de Novembro

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 4x120s ISO 400.

Serra da Estrela IV - Vale das Éguas

2007.11.10
Penhas Douradas - Serra da Estrela

A Serra da Estrela uma vez mais, proporcionou uma noite inesquecível.

Estou cada vez mais a tornar-me aficionado do ar de montanha, ou melhor, de ter menos um quilómetro e meio de atmosfera por cima da cabeça. As Penhas Douradas é um dos locais mais altos de Portugal Continental, que apesar da sua altitude e de se situar praticamente no meio da Serra da Estrela, não o torna infelizmente imune ao avanço implacável da poluição luminosa. Ficamos no Vale das Éguas, sendo uma zona relativamente plana que até tem um pequeno bosque. Ignorando o baixo horizonte, ainda se pode considerar um céu escuro, mantendo ainda os momentos de silêncio e solidão que apenas lugares como este podem oferecer.

local

Nas noites anteriores, a meteorologia esteve um pouco incerta, mas valeu a pena arriscar, pois salvo algumas nuvens passageiras já para o final, o céu permaneceu limpo durante toda a noite. O SQM marcou 20.90, que não se pode considerar um valor excelente, mas terá sido provavelmente uma leitura influenciada em parte pela a reflexão das nuvens que rodeavam a Serra, mas no zénite era 6.5 magnitudes sólidas. Houve alturas de turbulência forte, talvez por passagem de nuvens altas de outro modo invisíveis. A temperatura rondou os 3-4 graus, sem humidade, mas por vezes soprou uma brisa que podia tornar-se desagradável. Estiveram comigo, o Alberto, o Filipe e a Rute, e o Zé Ribeiro e a Fátima.

Cometa 17P/Holmes e Melotte 20 (associação OB3 de Perseu)
Cometa 17P/Holmes e Melotte 20 (associação OB3 de Perseu)

O cometa Holmes tem sido nestas duas últimas semanas, a sensação da nossa abóbada celeste. O desenvolvimento do "mega-outburst" deste cometa tem sido muito interessante de seguir, e acredito que no mínimo virá ser considerado um dos mais estranhos e espectaculares acontecimentos no nosso sistema solar nas últimas décadas.

Neste momento, está a aproximar-se da Mirfak, que, para além de ser a estrela mais brilhante da constelação de Perseu, também domina o enxame Melotte 20, uma associação mais ou menos esparsa de estrelas quentes do tipo O e B a pouco mais de 500 anos-luz de nós. As suas estrelas são todas muito novas e alvo de muitos estudos sobre a evolução de enxames galácticos.

Talvez fosse por estar sob um céu escuro, mas o cometa Holmes pareceu-me ter uma magnitude integrada mais brilhante que a alfa de Perseu. Ambas as vistas dadas através do binóculo 16x70 e do Obsession 15" eram espantosas, o primeiro pelo contexto, mostrando um campo muito semelhante ao da imagem acima, e o segundo pela grandiosidade e imponência. Foi uma das visões mais estranhas que tive.

Fartei-me de lhe tirar imagens. Durante as exposições, ia pegando no binóculo e fui dizendo um até breve às constelações que passaram o meridiano a Sul a horas decentes durante o Verão. Não me restam muitas dúvidas que um bom binóculo com um céu escuro são literalmente um casamento feito céu. Este foi até à data, o céu mais escuro em que estive com este binóculo, e fiquei bastante impressionado com as vistas verdadeiramente telescópicas que proporcionou. É também o instrumento ideal para ajudar a cumprir o penoso tempo ao serviço do obturador da máquina fotográfica.

Cometa 17P/Holmes 20:49 UTC
Cometa 17P/Holmes 20:49 UTC

A transparência oferecida pela altitude, permitiu observar sem qualquer ajuda de filtros o grande entre-parêntesis formado pela a nebulosa "Véu" e a "America do Norte" ambas na constelação de Cisne, onde percorrer o braço da Galáxia era mesmerizante. A Messier 31 quase rasgava completamente o campo de 4 graus do binóculo. Alguns desafios foram fáceis como o par Messier 97 / Messier 108 e a Messier 109 na Ursa Maior ou a "Helix", a Messier 1 em Touro incluindo ainda as pequenas planetárias Messier 57 e a "Saturno" NGC 7009 que se apesar de muito pequenas a 16x apresentavam-se obviamente nebulosas. Muitos outros ficaram aqui por relatar.

O Obsession 15" presenteou-nos com a "Cabeça do Cavalo" (pessoalmente talvez uma das melhor vistas de sempre), 6 das estrelas do trapézio de Orion, outra vista memorável da Messier 42/ Messier 43 e redondezas, Messier 2 resolvido até ao núcleo, isto apesar da noite não ter sido ideal para grandes resoluções.

Vulpes Vulpes
Vulpes Vulpes

Como é habitual, houve a grande petiscada à luz das estrelas, com pão, queijo, presunto, carnes e doces da região, a que não ficou alheio um predador situado logo abaixo de nós na cadeia alimentar local. Pareceu-me que já nos conhecia de outra altura ... Segundo o Guia Fapas de Mamíferos, esta é uma Vulpes Vulpes, ou raposa vermelha, que é vulgar encontrar-se em qualquer sitio vagamente habitado de Portugal, sendo geralmente um animal muito arisco, mas esta era bastante atrevida, não se fazendo nada rogada, e com uma subtileza notável, ia-nos subtraindo de toda a comida que tinha restado na mesa, tendo sido apenas denunciada pelo o barulho que fez num saco pendurado na mesa com garrafas vazias.

Estivemos lá no cimo da Serra mais de 12 horas, e houve tempo para simplesmente ficar sentado a olhar o céu por longos períodos, e posso afirmar que a actividade meteórica não foi muito intensa, mas algumas Leónidas decidiram entrar mais cedo e também alguns meteoros esporádicos.

IC 2118 - "Cabeça da Bruxa"
IC 2118 - "Cabeça da Bruxa"
Luminância

A imagem é um dos resultados de 21 exposições de 4 minutos a 1600 ISO usando uma Nikon D70 e o Takahashi Sky-90 a f/4.5 em cima duma Takahashi P2-Z . Esta nebulosa é extremamente ténue, e mesmo com 4 minutos a f/4.5 ISO 1600 mal se notava a sua presença.

A IC 2118 é uma nebulosa de reflexão também conhecida por "Cabeça da Bruxa" (o nariz corcovado é aquele apêndice no meio da imagem - falta completar o resto) situada na gigantesca mas esguia constelação de Eridanus ("Rio"). Não foi de modo nenhum acessível visualmente, embora com o binóculo talvez suspeitei que pudesse por lá haver alguma coisa, mas longe da forma captada na imagem, os filtros não ajudam em nada neste tipo de nebulosa, bem pelo contrário, precisamos de toda a luz que houver.Esta nebulosa de reflexão que se pensa ter tido origem na explosão de uma supernova, é em parte iluminada pela super-gigante azul Rigel (Beta de Orion) que lhe dá a cor azul, sendo o resto causado por dispersão da poeira interstelar num processo muito semelhante que faz com que o nosso céu seja azul. A sua distância varia entre os 600-1000 anos-luz conforme a fonte.É de facto uma nebulosa enorme, ocupando em extensão quase a totalidade do campo 3x2 graus do campo disponível da Nikon D70, situando-se ainda numa região com muita nebulosidade de emissão e com uma boa densidade de estrelas, e, como se não bastasse para a confusão, também se podem encontrar algumas galáxias, sendo a mais brilhante e notória a de perfil NGC 1752 no topo esquerdo.

Foi uma grande noite fechada por um fulgurante Vénus. A não perder o relato e imagens no atalaia.org

Outros relatos serranos:

Pátio 261 - Leónidas 2007

2007.11.18
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

As únicas Leónidas que vi foi no fim-de-semana passado.... Da chuva dos restos deixados pelo cometa 55P/Tempel-Tuttle, só caíram apenas uns pinguitos e julgo que consegui a extraordinária proeza de ter estado um total 4 horas no pátio na madrugada e noite do dia 18, a olhar para o zénite/nascente e não conseguir observar UM ÚNICO meteoro, nem sequer um esporádico... O céu esteve sempre limpo com uma magnitude zenital limite perto de 4, que daria para ver perfeitamente alguns meteoros mesmo que que não muito brilhantes. Mas ficou a vista da Mirfak embaciada pelo 17P/Holmes.

A título de consolo, fica a imagem abaixo que é um teste de focagem com apenas 2 minutos tendo sido feita na Serra da Estrela na semana passada. Consegue-se ver o que julgo ser uma pequena leónida (a orientação parece vir do radiante), que provavelmente teria sido visível a olho nu. É normal a actividade meteórica começar alguns dias antes, e acabar uns dias após os picos de actividade previstos. As Leónidas são meteoros muito rápidos, chocando com a nossa atmosfera a mais de 70 km por segundo (cerca de 250000 km/hora!!), sendo a grande maioria não muito brilhantes e geralmente só as mais brilhantes ficam registadas nas imagens.

Uma lénida em Orion
Uma leónida em Orion

Pátio 262 - Marte

15/12/2007
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Marte vai atingir o perigeu no dia 18 às 23:51, ou melhor, a Terra vai galgá-lo, visto ser o planeta mais rápido. Nesta aparição, encontra-se a pouco mais 88 milhões de quilómetros, a brilhar -1.6 magnitudes durante toda a noite , e que na ausência de Júpiter é o planeta superior mais brilhante.

Marte (20071216 01:03 UTC)
Marte 20071216 01:03 UTC
Takahashi Sky-90 f/49 (4450mm)+Toucam 0.26"


Sky90Na altura da imagem, o seu tamanho aparente era significativamente inferior ao da oposição favorável em Agosto de 2003, com apenas 15.85 segundos de arco de diâmetro. É possível notar-se o limbo Oeste ainda não completamente iluminado pelo o Sol. A longitude heliocêntrica (posição angular na sua órbita) é de quase 90º, significando que se encontra praticamente no Equinócio de Primavera (para os marcianos do hemisfério Norte, claro), apresentando o típico "véu" denso branco-azulado no pólo Norte devido ao degelo, formando neblinas que também se podem ver no limbo Oeste como neblinas matinais.

O meridiano central da imagem é 314º, correspondendo sensivelmente às coordenadas da Syrtis Major, que é das maiores superfícies escuras de Marte (albedo), que mesmo um telescópio de 60mm consegue facilmente discernir. A região mais clara às 6 horas trata-se da grande bacia de impacto Hellas com 2100 km de diâmetro e perto de 9 km de profundidade. Na imagem, o Norte é para cima e Oeste para a direita.

O intervalo entre as aparições do planeta vermelho, varia entre 764 e 810 dias, não sendo portanto, de desprezar nenhum destes eventos, mesmo que o planeta tenha quase metade do tamanho quando comparado com uma aparição favorável (chamada também de periélica), em que pode ultrapassar os 25 segundos de arco. Infelizmente, estas oposições surgem num período médio de 15 anos, mas aquelas que são realmente próximas como a de 2003, apenas acontecem de 79 em 79 anos (Meeus, More mathematical Astronomy Morsels).

Desta vez, a sua oposição irá dar-se no dia 24. A oposição (ponto em que a Terra se encontra exactamente entre Marte e o Sol), quase nunca é coincidente com o perigeu (ponto mais próximo da Terra) devido à grande excentricidade da órbita de Marte, que pode causar uma grande disparidade de aproximação entre duas oposições, podendo ser estas tão próximas a cerca de 56 milhões km, e tão afastadas a 100 milhões km. A menor distância não é uma simples subtracção entre os pontos de afélio da Terra e do periélio de Marte, porque tem que se ter em conta a inclinação das órbitas de ambos os planetas, que fazem com que a distância mínima seja um pouco superior.

A título de curiosidade, apenas em 25 Setembro do ano 3818, é que Marte estará mais próximo em 4000 anos, a uns modestos 55.442.451 km, sendo nessa altura até possível observar as bases lá instaladas usando o nosso telescópio orbital particular, mas entretanto, fica acima um exemplo do que se pode obter com um telescópio "smokey-pateo-based" com 90mm de abertura, também este na sua configuração planetária com um aspecto de papa-formigas alienígena...

Pátio 263 - Marte em Oposição e Conjunção

2007.12.24
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Um dia cheio de acontecimentos. É hoje que o nosso planeta vai estar precisamente entre Marte e o Sol, e que em modo de comemoração, fez um belo par com uma Lua acabadinha de ficar cheia. Ambos mostravam praticamente a mesma fase, 99.96% e 99.87% respectivamente, ficando a pouco menos de um grau perto das 3 da manhã, com Marte chegando à oposição 14 horas depois. Como habitual, é um evento muito mais espectacular ao vivo.

Marte e a Lua (20071224 0003 UTC)
Marte e a Lua 20071224 0003 UTC

Imagem obtida com uma objectiva 28-80 a 1/4 seg. f/11 com a ajuda de uma colher de pau pequena de fazer refugados a amortecer o brilho da Lua, que estava cerca de 25000x mais intenso que o do seu companheiro avermelhado.

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