2006
Pátio 215 - Marte e Lua›
2006.01.08
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
A Lua fez mais uma passagem por um dos planetas principais, desta vez Marte, distando menos de 1 grau (48'). Como sempre, acho estas conjunções próximas de objectos brilhantes mais interessantes à vista desarmada. O par era bem mais atraente que a imagem abaixo tentou registar, com a magnitude de -0.4 de Marte bem mais exuberante.

Marte e Lua
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Procurando com o Ephemeris Tool, e confirmando com o Guide8 ficam os encontros deste anos entre estes dois corpos celestes. A mais interessante e talvez impossível ou por outro lado, um desafio interessante de observar, será a de 27 de Julho que segundo o Guide8, será uma ocultação mas que se dará em pleno dia. Observar Marte de dia não é impossível como esta observação feita há alguns anos, mas desta vez Marte estará bem menos brilhante a 1,8 magnitudes e a Lua em fino crescente.
05-02-2006
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22:59:28 1°53'
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1°53'
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29-06-2006
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0:53:28
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1°22'
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27-07-2006
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19:35:28
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0°15'
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Pátio 216 - Halo Lunar›
2006.01.12
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Os halos resultam da reflexão de luz lunar ou solar nos cristais de gelo atmosféricos, sendo o abaixo o mais comum, formando uma círculo de 22 graus em volta da origem da luz (pouco mais de um palmo aberto com o braço esticado).

Halo Lunar
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Aqui pode-se ver o halo de 2 graus mas desta com o Sol.
Pátio 217 - Sol e Leituras›
2006.02.11
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Nada existe de especial com o Sol hoje, para além de ter um bocado de tempo para matar as saudades de o observar com o PST da Coronado. Na altura o Sol estava muito sossegado, sem manchas solares e com as proeminências a não ultrapassar os 3000 quilómetros... As imagens do disco e do limbo "following" (o lado do disco onde "nasce") foi obtida em modo afocal com a minha velhinha Canon G1, que pelo aspecto parece prometer alguma actividade nos próximos dias.

Sol hoje às 12:38
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Calendário da Astronomia 2006
Escrevendo do Sol e de muitos mais assuntos saiu em todas as livrarias e nas casas especializadas de Astronomia, o Calendário da Astronomia 2006 de Grom D.Matthies, publicado pela Terra Mágica Editores.
Volto novamente a assinalar esta publicação na nossa Língua, visto ser pertinente para qualquer leitor interessado em astronomia e fenómenos associados, seja astrónomo amador ou não. Este livro contém artigos escritos por astrónomos da nossa praça sobre a história da astronomia, suas descobertas e descobridores e mitologia, como construir telescópios, Iniciação à observação, imagem e desenvolvimento detalhado dos eventos mais relevantes para o ano 2006, e ainda todas a efemérides tais como eclipses, ocultações, trânsitos, conjunções, fases lunares, nasceres e ocasos e muito mais informação organizadas mensalmente, tendo sido estas calculadas para o território português.
Basicamente pode ser descrito nas duas anteriores "críticas", do CdA 2004 e do CdA 2005. Das quais ainda mantenho a minha preferência por um formato mais pequeno Em relação ao CdA 2005, o CdA2006 tem mais páginas (+60) e mais artigos sendo a grande maioria das imagens de origem portuguesa, dentro os quais se encontra este vosso humilde servo, que embora esteja a escrever nesta página de uma forma quase desavergonhada não deixo de ficar impressionado com a quantidade de trabalho que o autor teve para escrever este calendário, tanto mais pela sua natureza obviamente efémera .
Ver aqui a página do CdA 2006 para saber mais e como adquirir
Galaxies and the Cosmic Frontier
William H. Waller, Paul W. Hodge
Talvez uma das melhores introduções/explanações não-matemática sobre as galáxias. Este livro vai mais além do que o capítulo que geralmente reservado em muitos livros de introdução à astronomia, começando onde estes acabam. Acho este livro lucidamente escrito e equilibrado, com boa explanação e figuração dos conceitos ao alcance de todos os leitores, mas mais especialmente daqueles que já sabem alguma e querem saber mais, mas que não querem mergulhar em livros que "obriguem" a algum conhecimento prévio de matemática, ficando este livro nesse aspecto mesmo na fronteira, mas contendo as interpretações (ou interrogações) para além dos números e fórmulas que por vezes falta nos livros mais avançados.
Fundamental Astronomy
Hannu Karttunen et al
Este é um dos livros usados em cadeiras de introdução à astronomia em diversas instituições de ensino superior no estrangeiro, nomeadamente Harvard. Como o seu nome o descreve, os conceitos são fundamentais, mas o texto apresentado requere algum conhecimento de matemática e de física, mas diga-se de sua justiça não demasiada (com algumas excepções). Como trata acerca de praticamente todas as grandes áreas da astronomia, a exposição e desenvolvimento é algo restrito mas fortemente incisivo, com muitos exemplos e problemas práticos como o abaixo.
Um asteróide com 100 metros de diâmetro aproxima-se da Terra a 30km/seg. Calcular a magnitude aparente a) a uma semana antes da colisão, b) um dia antes da colisão. Assuma albedo geométrico de 0.1 e ângulo fase de 0º. E finalmente quais seriam as hipóteses de o descobrir a tempo...
Pode-se considerar um manual de introdução à ciência da astronomia "a sério", destinado a aprender e não só a ler.
Pátio 218 - Sol irrequieto›
2006.02.16
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Enquanto a sopa arrefecia, fui dar uma espreitada ao nosso irrequietamente calmo Sol.Entramos no período chamado Mínimo Solar, em que a actividade solar é muito reduzida mas que ainda proporciona alguns momentos de erupção, como esta e uma outra bem maior há alguns dias antes.

Sol hoje às 13:35
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Pátio 219 - O Guerreiro e as 7 Donzelas›
2006.02.21
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Aproveitando as tréguas das nuvens, peguei no tripé e fiz daqui do pátio o registo do breve encontro do planeta Marte com as Plêiades, que segundo o CdA2006 estiveram no seu ponto mais próximo ano dia 18. Mais vale tarde do que nunca, pois só daqui a praticamente 32 anos os veremos tão próximos. Nesta altura ainda estava a pouco mais de 2 graus da Atlas (27 Tauri) que é a moça da ponta fazendo com as restantes jovens estrelas branco azuladas um belo contraste com o tom alaranjado de Marte, especialmente no binóculo 7x50.

Marte e Plêiades às 22:05
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Pátio 220 - Sol irrequieto II›
2006.02.23
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Sol hoje às 13:35
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Sol hoje às 13:31
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Pátio 221 - Mercúrio›
2006.02.26
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Sendo Mercúrio o planeta mais próximo do Sol, apenas em determinadas alturas é que possível observá-lo facilmente com a vista desarmada. A essas alturas propícias são chamadas as grandes elongações quando o planeta se encontra aparentemente mais afastado do Sol. Embora existam elongações maiores, o parâmetro mais importante para a melhor visibilidade do planeta, o ângulo da inclinação da eclíptica (caminho aparente do Sol), que nesta altura do ano está quase a pique ao anoitecer, ficando Mercúrio (e também os outros planetas) bem mais altos após o ocaso solar.
A conjunção das órbitas da Terra e Mercúrio, nos seus diversos pontos (afélios, periélios), assim como a marcada inclinação e excentricidade da órbita de Mercúrio (só superadas por Plutão), tornam este planeta mais esquivo do que as elongações parecem fazer crer, sendo a mais importante a inclinação da eclíptica, que perto dos equinócios da Primavera e Outono é mais íngreme ao anoitecer e amanhecer respectivamente.
Esta altura também é propícia para observar a luz zodiacal.
Nesta imagem é bem aparente o seu brilho (magnitude 0), ajudado por ser a maior luminária naquela área do céu, apesar de por esta altura já se ter conseguido observar dúzias de estrelas e também Saturno e Marte. As próximas mais favoráveis serão ao cair dos dias de 20 de Junho e 17 de Outubro e ao nascer dos dias de 7 de Agosto e 25 de Novembro do corrente ano. A de 8 de Abril, apesar bem distanciado (27.8°), está muito baixo devido à eclíptica na altura estar muito "deitada".
Mercury Greatest elongation west 08-04-2006 19:39:13 27,8 °
Mercury Greatest elongation west 07-08-2006 1:32:04 19,2 °
Mercury Greatest elongation west 25-11-2006 14:23:40 19,9 °
Mercury Greatest elongation east 24-02-2006 5:46:02 18,1 °
Mercury Greatest elongation east 20-06-2006 21:10:18 24,9 °
Mercury Greatest elongation east 17-10-2006 4:49:39 24,8 °

Mercúrio hoje às 18:57 UTC
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S.Pedro de Moel XIII - Vaso Etrusco e Lua bébé›
2006.02.28
S.Pedro de Moel
Esta é talvez a imagem mais rápida do pátio, nada mais, nada menos que uma exposição não-filtrada de 1/8000 de segundo. Segundo o site Atmospheric Optics este fenómeno (onde o Sol parece possuir uma base semelhante à de um vaso) é causado pela refracção de uma camada ar quente e pouco denso, semelhante a este registado há 3 anos atrás no mesmo local . Embora o efeito não seja muito pronunciado, serviu pelo menos de prémio de consolação para o que realmente queria captar - uma Lua com apenas 18 horas de "idade". Infelizmente não foi possível devido a neblinas distantes que tornaram impossível a sua observação quer visual quer fotográfica, restando cerca de 40 imagens de um sem dúvida belo crepúsculo onde presumivelmente o fino crescente deveria estar. Fica para a próxima...

Sol hoje às 18:24
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... mas no fim de semana seguinte passei os olhos mais uma vez pelas as imagens e não é que uma delas apanhou o finíssimo crescente!!! Pena não ter ficado melhor enquadrada, mas pelo menos valeu a tentativa, apesar das condições adversas de ter como horizonte de fundo o oceano Atlântico. O crescente encontrava-se a apenas 3 graus de altitude, e tendo apenas 0,77% de iluminação, sendo uma Lua com apenas 18 horas e quinze minutos de idade com o Sol a brilhar apenas 10 graus abaixo. O "record" anterior foi em 2004 mas desta vez de um minguante.

Lua a 0,77% 18:53 UTC
Takahashi Sky-90 f/4 (360mm) 4.2"Nikon D70
exp: 1/2.5 seg. ISO 200
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Pátio 222 - Sol de férias›
2006.03.12
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Nos dias que correm até duas cagadelas de mosca na superfície do Sol são dignas de nota. Mínimo Solar no seu melhor.

Sol hoje às 14:31 UTC
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Sra. do Monte IX - Eclipse Lunar Penumbral›
2006.03.14
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)
Nada de espectacular quando comparado com um eclipse total , mas não deixa de ser uma Lua estranha.

Lua no eclipse máximo às 23:47
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Leiria estava completamente afogada em nevoeiro, mas os 400 metros de altitude da Sra. do Monte ficavam suficientemente acima do nevoeiro.

Leiria estava ali
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Eclipse Solar Total - 29 Março 2006›
Akkise, distrito de Ahirli, Konya - Turquia Central
9:40:23 e 12:14:56 (UT)
Local de observação (requere Google Earth)
Akkise foi o local escolhido pelo Grupo Atalaia, para observar um dos mais raros e impressionantes espectáculos da Natureza. O local encontrava-se exactamente em cima da linha de totalidade numa encosta plantada com pedras um pouco acima desta povoação que se situava a cerca de 1350 metros de altitude, proporcionando um palco com um horizonte de vários quilómetros de profundidade delimitada pelos os Montes Taurus , com o lago Sugla a adicionar mais um motivo interessante.
Após um breve reconhecimento do local, seguiu-se a montagem dos diversos equipamentos: máquinas fotográficas, câmaras de video, telescópios de luz branca, h-alpha e binóculos. Por fim, a hora e meia antes de se iniciar o eclipse, estava tudo preparado. Iniciou-se então a espera, até que finalmente a Lua deu a primeira dentada no Sol.

08:02:34
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O eclipse tinha começado.
Alguns de nós foram anotando as mudanças que se sentiam no ambiente, como a temperatura, vento e sons dos animais, outros fazendo exposições fotográficas, tendo todos seguido o avanço da Lua em frente do Sol com o seu instrumento de escolha: telescópios, binóculos ou simples óculos filtrados.
Desde o início do eclipse que se foi notando uma baixa gradual da temperatura, e a partir de certa altura, obrigou a todos a agasalharem-se melhor. Mas apenas decorridos 2/3 de ocultação, é que se começou a sentir a luz ambiente a tornar-se cada vez mais estranha e mortiça, mas em nada semelhante à perda luz sentida por uma nuvem ou de um pôr do Sol.
Existe sempre alguma ansiedade na escolha do local, causada pela a dúvida de alguma nuvem possa encobrir o Sol durante a totalidade. A nós também calhou o nosso momento de "suspense", quando uma das nuvens que se formavam nos Montes Taurus se aproximou perigosamente do Sol 15 minutos antes da totalidade, mas felizmente, acabou por passar bem distante. A 10 minutos da totalidade já estava garantido que nenhuma nuvem iria estragar o espectáculo, tendo certamente todos ficado mais aliviados. Entretanto, já se tinham juntado a nós habitantes, alunos e professores da escola de Akkise e ainda um grupo de húngaros, aos quais íamos mostrando o crescente solar e fazendo brincadeiras com as sombras.
Faltavam então os derradeiros minutos para aquilo que era para mim então, verdadeiramente desconhecido. Com o horizonte Sudoeste a escurecer cada vez mais, Vénus fazia a sua aparição primeiro no binóculo e pouco depois, com a vista desarmada.

08:22:47
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Eis que o primeiro alarme toca - faltavam apenas 45 segundos - olhei para o horizonte Oeste à espera da sombra com a largura de 170 km que iria percorrer a uma velocidade vertiginosa (cerca de 866 metros por segundo) todos aqueles quilómetros desde os picos nevados até a nosso pequeno planalto, tendo olhado uma última vez para o relógio, sendo necessário ligar a luz para poder ler as horas - faltavam 15 segundos...
E fez-se noite.
Um dos momentos mais impressionantes foi a chegada da sombra. Pareceu ser quase instantânea, sensação talvez explicada pelo facto de olhos necessitarem de alguns segundos para se adaptar à repentina quebra de luz ambiente, que se estima ser equivalente a duas vezes a de uma noite de Lua cheia. Foi neste momento que se ouviram exclamações, embora sinceramente, não me recordar praticamente nada do que tenha feito, dito ou ouvido por essa altura. O que se estava a passar a toda a minha volta era tão diferente e belo, que julgo por esta altura ter desligado quase todos os sentidos excepto o da visão.
Encontrei-me repentinamente rodeado da mais estranha paisagem que alguma vez tenha visto. Não tirava os olhos daquele Sol negro a irradiar imensas e fantasmagóricas pétalas brancas com uma fina textura capilar - uma visão verdadeiramente hipnotizante. Todo o horizonte apresentava uma alvorada surreal em tons de amarelo e laranja acabando algo repentinamente no azul profundo da restante esfera celeste, sendo este recortado pela silhueta das cadeias de montanhas que nos rodeavam - o estranho não eram as suas cores, mas sim a sua relativa pouca extensão, e a presença de uma zona mais escura a nível da linha de horizonte, semelhante à sombra da Terra num horizonte anti-solar, mas muito menos extensa e mais escura. A magnífica coroa solar estendia-se pelo menos entre 1 a 2 diâmetros solares.
Apenas consegui observar os planetas Mercúrio e Vénus, apesar de ter procurado mais alguns corpos celestes que infelizmente algumas nuvens teimavam em esconder. A iluminação pública das localidades em redor, enganadas pelo falso crepúsculo, ligaram.
Só o meu alarme a meio da totalidade me despertou da estupefacção para tirar mais uma rápida série de imagens.
No telescópio e no binóculo, eram perfeitamente evidentes as protuberâncias solares cor de rosa, assim como a imensa coroa solar que se espalhava até fora dos limites do campo de visão, mas sem dúvida a imagem mais marcante foi a daquele disco negro a irradiar luz - tão de sobrenatural como de inesquecível .
Já a parte final do eclipse observei através do telescópio, vendo o anel de diamante a crescer num ápice até se tornar insuportável de olhar, tendo mesmo que tirar os olhos da ocular in extremis. Terminei tranquilamente a ver o horizonte cada vez mais brilhante e as cores lentamente a retornarem à paisagem.
Depois foi a grande euforia que tomou conta de todos os que ali se encontravam. E não era para menos, tínhamos assistido a algo que ficava para além de tudo o que se podia imaginar. Observar um eclipse solar total é, e será sempre um daqueles momentos inesquecíveis, especialmente se for o nosso primeiro. Não me vou cansar de insistir se houver a remota possibilidade de ficarem debaixo daquela sombra, fazerem a vós mesmos um grande favor, e não perderem este sublime espectáculo por nada deste mundo. É dos pouco eventos que não deixa indiferente ninguém neste planeta.
Abaixo ficam algumas imagens do eclipse. Clicar nas imagens para maior resolução.

Protuberâncias Solares 10:56:58
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O fim da totalidade
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O fim da totalidade 11:00:34
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Anel de Diamante 11:00:41
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Coroa Solar Exterior
6 imagens empilhadas
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Luz da Terra
6 imagens empilhadas + Lua
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Já no rescaldo, pus-me cá a pensar que apenas bastava ter trazido a minha cadeira reclinável e um binóculo. O período de totalidade é demasiado curto para apreciar visualmente e fazer imagens convenientemente. Estas apesar de imagens serem gratificantes posteriormente, são apenas uma pálida descrição do que realmente se sente ao estar na sombra da Lua.
Passados alguns minutos após a totalidade, a nebulosidade começou a aumentar (curiosamente muitas nuvens lenticulares), ficando diversas imagens da sequência de fases estragadas. Por fim às 12:14 vi a Lua a desaparecer da frente do Sol.
No final fizemos um piquenique, como se pode atestar na imagem abaixo.

12:20:47
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Circunstâncias locais - Akkise, Turquia *
Posição
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Duração
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Máximo de Eclipse
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Latitude
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Longitude
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UT
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g
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+37 22
|
-32 09
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3 47,4
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10 58 38,5
|
1,025
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1ºContacto
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2ºContacto
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3ºContacto
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4ºContacto
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9 40 23,8
|
10 56 44,7
|
11 0 32,1
|
12 14 56,3
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* fonte : Institut de Mécanique Céleste et de Calcul d'Éphémérides Observatoire de Paris - Bureau Des Longitudes

Istambul
2 dois e meio após o eclipse
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Estivemos uma semana na Turquia. Nos dias que rodearam o eclipse, percorremos várias regiões deste país que é extremamente rico em locais de interesse histórico, desde as cidades subterrâneas e capelas cristãs com frescos do século XI escavadas na rocha macia dos diversos e gigantescos vulcões em Capadócia, o grande anfiteatro romano de Aspendos e a enorme cidade helénico-romana de Perges na costa mediterrânea. Já na imensa Istambul passando pela monumental catedral bizantina de Hagia Sofia, a Mesquita Azul (na imagem acima), a cisterna de água subterrânea de Yerebatan, o sumptuoso palácio Topkapi, um passeio no Bósforo, culminando numa grande jantarada na panorâmica Torre de Gálata
Clicar na imagem abaixo para ver algumas imagens da Turquia.
Equipamento utilizado:
- Takahashi FC-60 60mm f/6.8 (407mm) + Nikon D70 , filtro solar 1000 Oaks (exposições de 1/800s a 200 ISO)
- Takahashi Sky Patrol II
AVISO IMPORTANTE
Nunca olhar para o Sol através de algum telescópio ou binóculo sem o filtro apropriado, pois pode causar instantaneamente danos graves e irreversíveis tais como a cegueira total ou parcial
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Algumas ligações relacionadas
Luís Carreira, Abril de 2006
Pátio 223 - 73P/Schwassmann-Wachmann›
2006.04.22
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Este cometa periódico, está neste momento a desintegrar-se em mais de 30 fragmentos, naquela que deverá ser a sua última volta ao Sol, estando neste momento a 0.18626446 AU (27,864,766 km), mas irá aproximar-se até 0.079 AU (11,800,00 km) em 12 de Maio.
A apenas 2 graus da Alphekka, a Alfa da Corôa Boreal, foi muito fácil de encontrar, mesmo tendo em conta a magnitude limite do Pátio com cerca de 4.5. Ao telescópio e a 86x, a magnitude estelar chegava a 12.5. O coma era bastante condensado e o pseudo-núcleo quase pontual, mas notoriamente alongado, e com a cauda muito pequena e ténue. Não consegui encontrar o fragmento B e detectar o "bocado" que se separou faz um dia, pois e julguei que este estivesse mais próximo.
A estrela que me pareceu mais semelhante em brilho pelo método de desfocagem foi a Hipparcos 76999, assinalada por +- na borda direita do esboço que apresenta uma magnitude de 9.2, que de resto é a sua magnitude estimada. No período que durou a observação, (45 minutos), foi bem notório o seu movimento em relação às estrela próximas, que por esta altura era 3 minutos de arco por hora.
Também naquela região passaram 2 meteoros (3-4 mag) provenientes actual chuva das Líridas.

73P/Schwassmann-Wachmann - C 20060423 00:00 UTC
reflector 20cm f/6 rad14mm (86x)
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Abaixo fica a previsão até 2 de Maio dos três fragmentos mais brilhantes usando o Guide8 com os dados orbitais de Minor Planet Center em http://cfa-www.harvard.edu/iau/mpec/K06/K06G24.html

73P/Schwassmann-Wachmann - fragmentos C B G 00:00 UTC
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Pátio 224 - 73P/Schwassmann-Wachmann II›
2006.04.27
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Continuação no acompanhamento deste cometa moribundo, tendo aproximado mais 5 milhões e 700 mil kms desde da última vez que o observei, movendo-se quase dois graus por dia em relação às estrelas.
O fragmento C continua a ser o que apresenta maior dimensão e brilho, com magnitude aproximada da SAO 65163 9.2 mag. apresentando também uma pequena cauda. O fragmento B é bem menor em dimensão e com cerca de uma magnitude de brilho. Neste último demorei um bom bocado a tentar encontrar sinais da sua fragmentação recente sem ter tido sucesso. Ambos eram invisíveis no binóculo 7x50. A magnitude limite visual era de 4.5 .

73P/Schwassmann-Wachmann - C 20060427 22:50 UTC
reflector 20cm f/6 rad14mm (86x)
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73P/Schwassmann-Wachmann - B 20060427 23:00 UTC
reflector 20cm f/6 rad14mm (86x)
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Vale da Lama V›
2006.04.29
Vale da Lama - Alpiarça
Já fazia alguns meses que não passva uma noite inteira sob as as estrelas.
Este dia começou para grande parte do grupo, numa almoçarada de Sopa da Pedra, e uma saborosa carne espetada em pau de louro em Almeirim, acompanhados por pão e tinto da casa, depois da qual, tendo-se juntado mais alguns companheiros, seguimos todos para o Vale da Lama ainda com o Sol a um punho do seu poente. Com o pessoal da imagem no longo ritual de montagem de toda aquela parafernália, pus-me a desmontar o espelho do meu dobson, que entretanto ficou com um parafuso de colimação com a cabeça partida, ficando sem possibilidade de sequer poder usar aquele ponto de colimação. Apesar disso, e com a preciosa ajuda do Luís Evangelista, lá conseguimos os dois com alguma paciência pô-lo com a colimação relativamente decente.
Entretanto, a Lua com um fino crescente e uma sempre fascinante face nocturna iluminada pela Terra, punha-se atrás de uma azinheira de que já não sabia a idade, tendo sido esta imagem ainda mais memorável no binóculo 7x50. O pessoal entretanto ia-se entretendo a matar melgas (tendo algumas delas morrido naquilo que por alguns pode ser considerado no paraíso - afogadas em abafadinho olho-de-lebre) e a acender as brasas para as febras, entremeada (conhecida por entrecosto em Alpiarça :)) e chouriça que seriam a ementa principal para o jantar, habilmente preparada pelos mestres assadores Paulo Barros e Mário Santiago.
Para além dos acima mencionados, estiveram também: Paulo Guedes, Fernando Delgado, Rui Tripa, Pedro Mota, Hugo Silva e Canela. E ainda a Patrícia, a João, a Cármen e as pequenitas Madalena, Joana e Raquel. Também apareceu uma família da redondeza a começar a descobrir a céu com o seu recentemente adquirido dobson de 20cm.
Depois de jantar, fiz uma rápida consulta a uma dúzia de objectos que não me canso de revisitar: Messier 104 , Messier 51 e companheira, Messier 63, Messier 94, Messier 81 e Messier 82, Messier 101, Messier 65/Messier 66/NGC3628, NGC 2903, Messier 95/Messier 96/Messier 105 entre outras.
De seguida com o binóculo 7x50, fui descobrir a localização dos fragmentos B e C do cometa 73P/Schwassmann-Wachmann que se revelaram bastante óbvios, com tão pouca abertura e magnificação. O fragmento C foi de longe o maior e mais brilhante, apresentando uma cauda já bem extensa.

73P/Schwassmann-Wachmann - C 20060430 00:45 UTC
reflector 20cm f/6 rad14mm (86x)
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O SQM marcou cerca de 21.00 de brilho de superfície ao longo da noite, com magnitude limite nas melhores regiões a chegar a 6.5 de magnitude. A humidade relativa chegou a ter momentos de alguma intensidade e a temperatura baixou até aos 7 graus. As noites já começam a ser curtas tendo o crepúsculo astronómico chegado às 5 da manhã.
Tinha mais ou menos planeado fazer um reconhecimento sistemático de galáxias nas insuspeitas constelações do Leão Menor e do Lince, onde na carta correspondente do Sky Atlas 2000.0 (Tirion)já tinha "pintado" os objectos NGC mais interessantes do catálogo Herschel 400 e de Dyer. Desta vez experimentei uma estante de maestro para pôr as cartas, acessório que se veio a revelar bastante prático.
Praticamente todas as galáxias observadas nesta sessão podem ser descritas como ténues, pequenas e com forma a variar entre a redonda a moderadamente alongada, e na sua generalidade sem praticamente qualquer detalhe digno de nota. Algumas delas tinham estrelas brilhantes a servirem de núcleo, como a NGC 3193, ou encontravam-se aos pares, mas infelizmente outras revelaram-se invisíveis (as assinaladas com o sinal '?'), que para além dessa particularidade fizeram perder bastante tempo e alguma paciência. Começo a achar 20cm de abertura muito pouca para apreciar (ou até ver) muitos objectos da lista de Herschel 400.
Leão Menor (Leo Minor)
NGC 3344, NGC 3396, NGC 3395, NGC 3432, NGC 3294, NGC 2859, NGC 3003?, NGC 3504, NGC 3486, NGC 3414
Lince (Lynx)
NGC 2683 - Esta galáxia foi a mais interessante e maior deste conjunto, grande, moderadamente brilhante e alongada, ficando marcada para uma próxima visita.
Leão (Leo)
NGC 3193, NGC 3226, NGC 3227, NGC 2964, NGC 3626, NGC 3900?, NGC 3912?.
Depois deste reconhecimento, e até antes do espelho primário embaciar por volta das 4 da manhã, saltitei aleatoriamente por alguns objectos tipicamente de Verão, como Messier 13, Messier 92, Messier 57, Messier 27, e algumas das gemas de Sagitário, Escudo e Escorpião como Messier 8, Messier 20, Messier 17, Messier 8, Messier 6, Messier 7 entre outros. Depois foi andar na galhofa o resto da noite.
Saimos do local já eram 6:20 da manhã, tendo parado num pastelaria em Alpiarça, que após um bom reforço, seguimos viagem até casa.
Como é habitual, os resultados e mais relatos podem-se encontrar no www.atalaia.org.
Pátio 225 - 73P/Schwassmann-Wachmann III›
2006.05.04
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Continuação do seguimento dos fragmentos doP/Schwassmann-Wachmann 3.
Quando há nuvens no céu, aqui no pátio tem a tendência a ser mais transparente nas abertas, podendo até chegar muito perto de uma magnitude visual limite de 5 (viam-se as estrelas que desenham a Ursa Menor) nas zonas com poluição luminosa indirecta. E foi numa dessas abertas de 1 quarto de hora, que bastou para fazer mais um esboço do fragmento B e uma estimativa de brilho do fragmento C.
Ambos eram visíveis no binóculo 7x50, tendo entretanto estes cometas já percorrido um grande caminho desde a madrugada do passado Domingo, com o fragmento C a já ter atravessado a constelação de Hércules, e o fragmento C a passar perto da estrela que serve de ombro direito à figura da constelação.
Embora o fragmento C fosse de maior dimensão (estimaria o dobro da cauda), tinha um brilho de superfície mais ténue que o B, que por outro lado compensava a sua menor dimensão com uma coma muito mais condensada e brilhante, sendo este bem fácil de encontrar e observar neste céu - a sua magnitude estimada foi 8.5.

73P/Schwassmann-Wachmann - C 20060504 00:55 UTC
reflector 20cm f/6 rad14mm (86x)
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Pátio 226 - 73P/Schwassmann-Wachmann IV›
2006.05.06
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Noite com algumas abertas e com a Lua próxima do seu quarto crescente. Já há alguns meses que não fazia umas imagens de maior exposição que algumas fracções de segundo e queria verificar se a Takahashi P2-Z , o Takahashi Sky-90 e as câmaras ainda se encontravam em condições. A Atik 1HS já provavelmente entregou a alma ao criador, restando apenas a Philips Toucam alterada para (pouco) longa exposição ainda no seu invólucro original.
Para atenuar uma das a tarefas mais demoradas da astrofotografia, a focagem, experimentei usar um paquímetro (também conhecido por craveira ou calibre) para medir e nele fixar a distância de focagem em foco primário. Quando se usa uma montagem sem GO TO, a alternância entre em localizar e centrar um objecto com uma ocular e o foco preciso para a câmara faz perder bastante tempo, coisa que não tinha de modo a aproveitar as raras abertas que surgiam.
Funcionou na perfeição, tendo apenas que focar para a câmara uma única vez, solução simples e eficaz e com uma resolução superior a 0.05mm (que é o que se pode medir com o paquímetro utilizado), que é mais que suficientemente para as focais curtas que utilizo.
O fragmento B foi o principal objectivo da noite - tentar registar o núcleo fragmentado. Este cometa era extremamente ténue no 90mm talvez devido ao já intenso luar e tive alguma dificuldade para o encontrar. Contudo, a imagem baixo mostra distintamente a dupla coma embora numa escala reduzida. É impressionante o que mais algum luar afectou na visibilidade deste cometa em apenas dois dias, visto que na observação anterior era perfeitamente visível com apenas um binóculo de 50mm.

73P/Schwassmann-Wachmann - B 20060506 01:26-01:32 UT
Takahashi Sky-90 f/5.6 (500mm)+Toucam SC1 2.3" res
18x20 seg
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O fragmento C por outro lado já atingiu a impressionante velocidade de movimento aparente de 10.511'/hora, equivalente a percorrer um terço de uma lua cheia em apenas 1 hora! mas a uma confortável distância de mais 14 milhões de quilómetros. Este fragmento era notoriamente maior e mais brilhante.
Na imagem abaixo parece que se está a tornar visível outra cauda, talvez por naquele momento estar praticamente "de frente" ou em oposição em relação à Terra. A intensa nebulosidade impediu registar um grande período.
Pátio 227 - 73P/Schwassmann-Wachmann e Messier 57›
2006.05.07
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Na madrugada de segunda-feira 8, o fragmento C passou extremamente perto da mais famosa nebulosa planetária do catálogo de Messier, a Messier 57 - Nebulosa do anel. Não é vulgar conseguir colocar no mesmo campo com uma magnificação já grande (136x) dois objectos "nebulosos" tão brilhantes.
A observação iniciou-se com o binóculo 7x50, onde o cometa era imediatamente perceptível, mesmo com o forte luar. Achei uma vista muito interessante, a sua passagem perto da estrela variável de eclipse branco azulada Beta Lyrae (Shelyak), que é uma estrela múltipla rodeada de um pequeno e curioso enxame, sendo todas elas pertencentes à nossa Associação Local (grupo Plêiades).
Esta zona é ricamente populada de estrelas, tendo demorado a pontuar as estrelas e Messier 57, desenhando em intervalos mais ou menos regulares a posição do cometa. Sim, em pouco mais de 1 hora a sua posição mudava a uma velocidade que nunca antes tinha visto. Infelizmente, fui obrigado a recolher bem antes da sua maior aproximação a Messier 57, pois o dia seguinte era de trabalho.

73P/Schwassmann-Wachmann - C 20060507 00:55-02:00+ UTC
reflector 20cm f/6 pan24mm (51x)
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73P/Schwassmann-Wachmann - C 20060508 01:55 UTC
reflector 20cm f/6 rad14mm (86x)
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Pátio 228 - Lua Coroada e Júpiter›
2006.05.12
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Fenómeno muito vulgar causado pela difração do luar (neste caso de uma Lua cheia) nos cristais de gelo nos cirros e outras nuvens da alta atmosfera. Este era particularmente colorido, mas um mau sinal para observar todo o resto.

Corôa lunar
Canon G1 - composto de 2 exposições 1/100s e 1 seg
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Pátio 229 - 73P/Schwassmann-Wachmann VI›
2006.05.14
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
O fragmento B tem estado na última semana ou "outburst", ou por outras palavras, com aumento súbito de actividade, tendo chegado a uma magnitude que permitiu observá-lo a olho nu em céus escuros. Mesmo com a Lua praticamente cheia, foi bem visível com o binóculo 7x50, mostrando no reflector 20cm um pseudo-núcleo alongado mas não resolvido em dois e curta mas gorda cauda de formato triangular que terminava numa ténue cauda com visão indirecta. Fez-me lembrar um dardo. Foi bastante fácil de localizar, pois tinha como luminária de sinalização a epsilon cygni, estrela de magnitude 2.5 que marca o meio da asa Leste da constelação do Cisne. O seu deslocamento era notório, principalmente quando perto de alguma estrela.

73P/Schwassmann-Wachmann - C 2006-05-14 02:57 UTC
reflector 20cm f/6 nag9mm (136x)
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O cometa pode-se considerar relativamente pequeno, se atendermos à dimensão na diagonal do recorte abaixo, que cobre cerca de 15 graus de céu (um palmo aberto à distância de um braço esticado), que vai desde o coração do Cisne até à ponta da asa. A típica cor azul marinho ainda conseguiu ser subtraída ao luar e à poluição luminosa, mostrando ainda cerca de meio grau de cometa.

73P/Schwassmann-Wachmann - C 2006-05-14 02:44 UTC
Nikon D70 50mm f/2.8
8 exposições de 10 segundos num tripé fixo
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Vale da Lama VI›
2006.05.27
Vale da Lama - Alpiarça
Mais uma Lua nova neste montado à beira de arrozais plantado.
Não me recordo de ter sido tão mordido por melgas como nesta noite. As #$&*$% das melgas até o couro do cabelo picavam!!. As rãs deviam fazer menos barulho e comer mais...adiante...
Como sempre, houve uma petiscada que desta vez se prolongou com muita conversa até depois da meia noite, altura em que o céu começou a descobriu.
Ainda hesitei, mas o Takahashi Sky-90 já andava com alguns ciúmes do Dobson de 20cm decidi desta vez levá-lo "prá night", assim como o novo Pocket Sky Atlas (PSA) da Sky & Telescope para ver como se comportava no terreno.
A noite foi típica de Verão, apesar de ter estado nublado até depois da meia-noite. A humidade praticamente não apareceu e a temperatura não deve ter baixado dos 12, 14 graus. A transparência não foi das melhores, mas houve um período a meio da madrugada bastante bom, tendo a magnitude limite zenital andado por volta dos 6 (SQM 20.80), e a turbulência ter sido mediana.
De nota em visual, vi o melhor Messier 13 com o Takahashi Sky-90 até à data, e mais uma vez a "Veil" no Obsession 15". Depois dediquei-me a percorrer algumas cartas do PSA, cuja escala e organização ainda tenho de me acostumar melhor. Este pequeno atlas de 80 cartas argoladas com estrelas até 7.6 de magnitude, que apesar de ter muitos mais objectos que o Karkoschka , não deixa de ser uma colecção de cartas sem informação básica (como a magnitude que com jeitinho até cabia no índex) sobre os objectos de céu profundo lá desenhados, tendo que se usar conjuntamente com outra referência para não andar à caça de gambozinos com telescópios de pouca abertura. Continua com o curioso hábito de coloração das galáxias com a cor vermelha, que sob a luz da mesma cor, fica invisível (a laranja ficaria cinzento claro), embora diga-se de verdade, que não vemos lá muita a cores em visão nocturna. Ainda vou ter que pensar num "companheiro" para este atlas.
Continuando, pus-me a capturar imagens com a Nikon d70 atarrachada ao rabo do Takahashi Sky-90.
As paisagens abaixo, têm uma diagonal de 2 graus e meio, sendo a técnica utilizada a do menor esforço possível. Apontava o telescópio com quickfinder, fazia uma imagem de 2 minutos e depois ia para a galhofa, por vezes não ficava lá muito centrado, e lá tirava outra retornando novamente para a galhofa, focando pelo método do (meu) astigmatismo galopante, ou por outras palavras quando os riscos das estrelas me pareciam mais finos estava no ponto. Quando faço focagens a olho nunca arrisco grandes exposições pois não existe pior perda de tempo que uma imagem ou pior, várias delas, de 5 minutos ligeiramente desfocadas e não é preciso muito para tal acontecer a f/4.5. Sairam apesar da balda, razoavelmente bem focadas.
Estes grandes campos são as vizinhanças de quatro dos objectos mais visitados durante o Verão, fazendo-me lembrar em área as vistas atravé do Takahashi Sky-90 e Panoptic 24mm, que tem sensivelmente o mesmo campo, embora não chegue nem perto da magnitude estelar 14 das imagens abaixo, sendo estes apenas breves instantâneos um pequeno exercício de escala e de (muito) contexto. Não por achar muita piada uma Messier 57 com 10 pixels de diâmetro, mas o seu enquadramento entre a Beta e a Sigma da Lira, resulta numa composição que aprecio muito.
O globular Messier 13 em Hércules é um dos incondicionais, que como já tinha escrito atrás, deu a sua melhor vista com o 90mm, apetecendo mesmo fazer-lhe uma imagem apesar de não ter conseguido vislumbrar a pequena galáxia de magnitude 12, NGC 6207.
De seguida foi a planetária Messier 27 na Raposa, que também se estava a por bem alta, terminando com o enxame Messier 11 em Escudo, cuja as redondezas possuem várias áreas de poeira interstelar, como é característico naquela zona populosa da Galáxia, mas entretanto devo ter dado um pontapé no tripé porque as estrelas não me parecem lá muito pontuais.
As imagens não foram reduzidas, mas sim "binadas 2x2 em matriz de bayer" para o canal de luminosidade e depois adicionado o rgb também este "binado", tudo usando a mesma exposição, usando essa pérola de programa chamada Iris. As estrelas estão um pouco estralhaçadas, mas estas imagens são para ser vistas a pelo menos 1 metro de distância do monitor. Algumas das estrelas são "hot-pixel" e não asteróides porque também não usei "darks". E nem "flats".
A sessão terminou como começou, com o Sol no horizonte medianamente nublado e enevoado e com um novo ataque de melgas.

Messier 57
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm)+Nikon D70 4.5" res
1x120 seg. 400 ISO
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Messier 13
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm)+Nikon D70 4.5" res
1x120 seg. 400 ISO
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Messier 27
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm)+Nikon D70 4.5" res
1x120 seg. 400 ISO
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Messier 11
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm+Nikon D70 4.5" res
1x120 seg. 400 ISO
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Como é habitual pode-se encontrar aqui o relato e instantâneos do pessoal que por lá andou.
Pátio 230 - Lua baixa e Antares›
2006.06.10
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
A menos 27 graus em relação ao equador celeste a Lua anda mesmo na mó de baixo. Aqui estava a passar um pouco abaixo da vermelha alfa de Escorpião, Antares.

Lua e Antares 20060610 20:06 UTC
Nikon D70 zoom 80mm f/8 - 2 exposições 1/50 e 1/15 segundos num tripé fixo
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Pátio 231 - Raios e Coriscos›
2006.06.13
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Grande tempestade e trovoada que passou por cima do pátio. Desta vez de relevância astronómica só tem que geralmente impede a sua prática, mas com a atenuante que é uma imagem de longa exposição e ainda que descargas eléctricas são bastantes comuns em Júpiter que à escala deste planeta são várias vezes maiores e possivelmente também nos restantes gigantes gasosos. Também existem sinais de acontecerem em Vénus .

Raios e Coriscos
Nikon D70 zoom 80mm f/5.6 - 30 segundos num tripé fixo, tudo debaixo de um chapéu-de-chuva
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Pátio 232 - Saturno e Marte›
2006.06.17
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Parecia impossível com estas nuvens, mas num buraco (ligeiramente menos nublado), foi possível observar este par que estava separado em pouco mais de meio grau. Chegou a ser visível com a vista desarmada, e faziam um belo contraste no binóculo 7x50. A delta de Cancer com quase 4 de magnitude (às sete horas de Saturno) não conseguiu furar a nebulosidade, mas cá ficou registado mais outro encontro celestial do nosso sistema solar. Teria dado uma bela imagem com o enxame Messier 44, mas fica para a próxima.

Saturno e Marte Antares 20060617 21:21 UTC
Nikon D70 zoom 80mm f/6.3 5 segundos num tripé fixo
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Pátio 233 - Peças e opiniões›
2006.06.22
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Pequena sessão para diversos testes e melhorias no equipamento, sob um céu que se poderia considerar péssimo, mas ainda suficiente para testar uma modificação que já há algum tempo queria fazer, a de arranjar um "nariz" mais curto para a diagonal de 2" da Takahashi. Quando utilizada com o CAA (camera angle adapter) ficava com 8mm fora, impossibilitando a utilização de algumas oculares que necessitavam de um curso de foco mais curto. A peça é simples, mas a sua execução com a qualidade semelhante da original não o é, mas no entanto não pareceu ter sido grande desafio para o meu torneiro particular (pai), não dando para destrinçar qual a original. Até fez o roscado interior e tudo! só falta encontrar um primário preto fosco para o último retoque.

O novo nariz
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Com este nariz mais curto já praticamente todas as oculares, nomeadamente as ortoscópicas, chegam a foco com folga que chegue para eventuais filtros, mas a Celestron micro-guide infelizmente não tem a mínima hipótese de chegar a foco com o CAA.
Após verificar com o planeta Júpiter que não havia reflexos na peça nova, que cujo o interior tinha sido pintado provisoriamente com caneta de acetato preta, dei ainda um toque na colimação, que cujos os anéis de difração não tinham a luz uniformemente distribuída. Com esta nova folga já foi possível fazer uma nova comparação da Nagler 9mm tipo 6 com a ortoscópica 9mm da Kasai. Os alvos foram o Messier 13, Messier 57, a dupla-dupla (epsilon lyrae) e a albireo. A conclusão desta vez com o Takahashi Sky-90 foi que Nagler ganhou em todas as categorias excepto no preço. Foi mais nítida, tinha melhor contraste e cores mais vibrantes , e por fim mais confortável de usar. É necessário salientar que estas diferenças embora existam, são quanto muito mínimas, mas esta Nagler tipo 6 é realmente excepcional para uma ocular tão complexa.
Raio da Morte›
2006.07.07
Praia da Rocha - Algarve
Esta imagem fez-me lembrar uma cena de um qualquer filme de um ataque alienígena ao nosso planeta. De facto é apenas o reflexo da Lua já em idade avançada no mar ajudado por um efeito de difração e refracção. Imagem feita no cima da rocha que deu o nome à praia.

Raio da Morte
Nikon 950 - 8 segundos
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Pátio 234 - "Trovoada Perfeita"›
2006.07.19
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Mais uma grande trovoada de Verão . Esta em particular foi das mais activas que tenho observado. Um mosaico de alguns raios mais espectaculares e uma composição de 6 imagens de 30 segundos com Nikon D70 zoom 50mm f/4 durante um período de 3 minutos. Eu sei onde não gostaria de estar... .
Atalaia XXV›
2006.07.22
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)
Já faz alguns meses que aqui não fazia uma visita. A noite esteve bastante boa, com magnitude limite por volta dos 6, sendo a Via Láctea de visão instantânea. Houve alguns períodos em que caiu alguma humidade e também de passagem de algumas nuvens. Boa transparência e baixa turbulência. Tinha planeado começar a noite a tentar separar a Antares com o 90mm , mas um percalço não me permitiu estar a horas do seu trânsito no meridiano. Segui então para um tipo de estrelas que me despertou a curiosidade. As mais vermelhas e frias que se podem observar - as estrelas de carbono.
As estrelas de carbono têm luminosidades que vão de anãs até gigantes e encontram-se na fase de fusão de carbono, libertando vastas quantidades deste elemento para a sua atmosfera e para o meio interstelar. Estas estrelas têm a particularidade de apresentarem no seu espectro largas linhas de absorção por moléculas que contém carbono, responsáveis por absorver grande parte da luz azul, que combinado com baixa temperatura resulta numa aparência visual extremamente vermelha. É o caso da estrela de 7.5 de magnitude T Lyrae (SAO 67087, HIP 90883), que se fosse uma estrela "normal" seria classificada como M5 ou M6, com temperaturas a rondar uns soalheiros 2000 K à superfície, mas devido à elevada abundância de carbono por ela foi produzida, cria um filtro tornado-a numa das estrelas mais vermelhas que é possível observar através de um pequeno telescópio.
E de facto, no Takahashi Sky-90 podia-se descrever como um ponto vermelho-alaranjado, com a ligeira impressão de parecer ter menos brilho que a sua magnitude indicava. No Obssession 15" do Alberto a sua cor era um espectacular SPA de luz vermelha.
A sua classificação espectral é C6,5(R6) em que 6 é a temperatura (decrescente de 0 a 9) e o 5 a "força" das linhas de carbono (crescente de 0 a 5). A classificação mais actual no entanto aponta para C8. As estrelas muito frias são notoriamente difíceis de caracterizar, mesmo o Hipparcos dá uma distância de 2060 ± 980 anos-luz, uma luminosidade de 310 ± 300 x a do Sol em uma magnitude absoluta de -1.4 ± 1.0. Vista impressionante, a não perder não muito longe de Vega.
O pequeno quadrado acima são estrelas arrastadas de uma imagem de 30 segundos de forma a mostrarem (ou melhor espalharem) as suas diferentes cores. A estrela mais vermelha é a T Lyrae e a seguinte HK Lyrae outra estrela produtora de carbono, a estrela mais azul é uma B9. A imagem abaixo é um recorte da mesma área e tem perto de 1 grau quadrado em volta da T Lyrae.

T Lyrae
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De seguida coloquei o filtro UHC e fui dar uma volta por Cisne, começando pelas Véus que quase se podia observar o grande "parentesis" formado por ambos os segmentos. A "América do Norte" desta vez incluia também e todo o Canadá e talvez o estado do Alasca - nebulosidade por todo o campo de três graus que a Panoptic 24mm conseguia mostrar. Passei então para o objecto desafio - a nebulosa NGC 6888 também conhecida por "Crescente". Não estava muito esperançado de a ver com apenas 90mm, mas para meu espanto desconfiei da sua presença mesmo sem o filtro UHC. A 21x a sua descrição é apenas simplesmente uma pequena área de ténue nebulosidade as vizinhanças de um triângulo de estrelas relativamente brilhantes, nada que se assemelhasse a um crescente, mas o mais importante neste caso foi a observação positiva com um telescópio pequeno. Terminei com um pequeno salto às pequenas e brilhantes planetárias, NGC 6826 e NGC 7027, sem deixar de passar pela a Messier 27.
Mudando de tema, fui à caça dos planetas exteriores Urano e Neptuno. Urano está a brilhar com 5.8 de magnitude tendo sido muito fácil de encontrar com apenas 56x como uma pequena estrela gorda, muito semelhante a uma pequena nebulosa planetária. A 167x era sem dúvida um pequeno e uniforme disco de cor verde-azulado muito pálido. Neptuno escapou-me completamente. A sua magnitude de 7.8 não era de modo nenhum um desafio, mas o seu tamanho de apenas 2,35", está perigosamente perto do tamanho do disco de Airy para 90mm de abertura que veio a revelar-se fatal para o conseguir distinguir das estrelas. Para a próxima tenho de ir preparado com um mapa.
Para o fim da noite, a constelação de Cassiopeia já se encontrava suficientemente alta e aproveitei para dar uma espreitada a alguns dos objectos mais interessantes. O primeiro deles foi o NGC 7789 que apesar de se encontrar numa região muito populada de estrelas, destaca-se facilmente com apenas 21x. Com um bocado mais de magnificação (56x) faz resolver dúzias de estrelas concentradas sobre um fundo muito difuso, sendo este sem dúvida o meu enxame favorito nesta constelação.
Passei brevemente pelo NGC 457 (o enxame "ET") a caminho do NGC 281 (IC11), sendo este último envolvido pela a nebulosa "pacman" que era o desafio nesta região. Com o filtro UHC era possível observar sem dificuldade que a região tem uma ténue nebulosidade, embora (novamente) não tenha reconhecido a forma que lhe dá a alcunha. E ainda uma passagem obrigatória pelo o "duplo".

NGC 7789
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Depois de uma espreitadela rápida na galáxia Andrómeda e as suas duas satélites passei para uma galáxia que não poderia estar melhor assinalada, visto a encontrar-se a apenas 8 minutos de arco de alaranjada Mirach, a estrela beta de Andrómeda. A elíptica anã / lenticular NGC 404 é uma pequena e redonda nebulosidade com 11 de magnitude, mas suficientemente concentrada para conseguir sobreviver a luz emitida de tão brilhante vizinha. É bem mais acessível que alguns Messiers.
E finalmente nasceu a já idosa Lua com o minguante perto de 4% de iluminação, que do meu local ainda demorou algum tempo a galgar as árvores que recortavam o horizonte. Mas a vista que deu conjuntamente com Vénus (este a brilhar a -3.9! a apenas cinco dedos da Lua) fez valer a pena quase ver o dia a nascer na Atalaia. A luz da Terra reflectida na noite lunar esteve surreal, tendo proporcionado um grande final para uma noite bem passada.
Como é habitual ver também os resultados e relatos em www.atalaia.org.

Crescente
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O nascer do dia
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Serra da Estrela III - Serra Láctea›
2006.07.29
Vale do Rossim - Serra da Estrela
A noite de Verão que não poderia ter sido mais perfeita: céu escuro (magnitude 6.5 e SQM 21.30), sem nuvens (que embora ameaçadoras no horizontes litoral, as mais atrevidas era desfeitas pela a serra), sem nenhum vento, sem frio (12º), sem absolutamente humidade nenhuma, e boa companhia do Seabra, do Fausto e respectivas famílias.A barragem do Vale de Rossim situa-se um pouco abaixo das Penhas Douradas a cerca de 1430 metros de altitude.
Em céus deste calibre têm a particularidade de serem um verdadeiro deleite à vista desarmada, contam-se pelos os dedos as vezes que tive a oportunidade de ver a Via Láctea de Verão tão extensa, rasgando da cauda do Escorpião às pernas de Perseu atravessando de horizonte a horizonte com uma envergadura fora de normal, ficando as mais brilhantes constelações quase irreconhecíveis de tanta estrela que graças à escuridão surgiram, tendo algumas das constelações mais modestas ganho a forma e fazerem mais jus ao seu nome. Em céus escuros, a nossa própria Galáxia torna-se sem dúvida o objecto mais espectacular, sendo simplesmente necessário um par de olhos para ter a sensação que realmente dela fazemos parte e que por muito vezes se experiencie, é e será sempre uma visão fascinante. Valeu a pena a viagem só por isto.
Pegando no binóculo, foi possível passear com um pouco mais de detalhe por infindáveis rios de estrelas e vales de poeira interstelar, com as pequenas concentrações de estrelas que marcavam os enxames, assim como algumas regiões de nebulosidade, como a gigantesca "North America" ou então a Hélix que nos binóculo me fez lembrar a que vi em La Palma . Durante toda a noite choveram os bem mais próximos meteoros esporádicos, e até alguns a anunciar as Perseidas, tendo alguns deles fragmentado e deixado atrás um rasto de poeira iluminado.

Nebulosa Escura do Cachimbo
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Usando o Takahashi Sky-90 comecei em Sagitário como um belo quadro da M8 e Messier 20 no mesmo campo, subindo vagarosamente por ali acima até ao Escudo onde se situa o enxame aberto Messier 11. Quando passei por este último a 21x, associei melhor a alcunha de "Patos Bravos" que dão a este enxame, pois com esta magnificação e abertura realmente tem uma forma semelhante a um bando de aves bem compactado, mesmo estando imerso em tanta estrela.
Finalmente consegui observar a galáxia de Barnard (NGC 6822) usando apenas 21x , que tal como previamente no 20cm, esta galáxia continua a ser um objecto extremamente difuso, tendo que inicialmente mover o telescópio para detectar a sua presença, passando pouco depois com alguma insistência a objecto de visão directa. No 18" polegadas do Seabra a sua forma alongada era bastante evidente. Também a vizinha extraordinariamente brilhante , mas pequena planetária NGC 6818 "A Pequena Pedra Preciosa", revelava a sua presença com apenas 56x, não passando no entanto de uma pequena e difusa bolinha.
Ainda na região fiz uma visita aos globulares Messier 55 e Messier 75, sendo o primeiro bastante grande com dúzias de estrelas resolvidas, e o último quase a sua antítese: pequeno e sem praticamente resolução. Fiquei no entanto bastante surpreendido com a resolução obtida no Messier 15, este já em Pégaso. Ainda tentei em vão detectar a NGC 891 em Andrómeda, mas julgo precisar de subtrair mais um ou dois quilómetros de atmosfera para o conseguir, restando dessa tentativa apenas a visão da bonita dupla amarela e azul Gamma Andromedae (Almach). Não deixei de passar pela a Messier 31 que atravessava os três graus da 24mm, que também incluía as galáxias satélite Messier 32 e Messier 110 num belo enquadramento.
Já o começo do crepúsculo foi uma verdadeira parada de satélites artificiais com destaque para a ISS e uma formação triangular de satélites ,que segundo o Heavens Above se tratavam de satélites militares de vigilância "top-secret" da Marinha norte-americana NOSS 2-1 (C). Estes satélites costumam ser discretos, brilhando normalmente à volta da magnitude 5, mas neste caso apresentaram pelo menos uma magnitude 2 a 3, sendo facilmente visíveis a olho nu formando um triângulo com 3 graus de lado, o que dá para apreciar o que são 50 a 60 km vistos a cerca de 1000 kms de distância. Para saber mais ver aqui. Depois de ver o par Space Shuttle e ISS logo após a sua separação há alguns anos atrás, é sempre bom sinal ver estas máquinas em queda livre ao início da noite e melhor sinal ainda ao fim da noite.
Por falar em imagens, não resisti de tirar umas recordações daquele céu escuro. É sempre um raro prazer conseguir fazer exposições de 4 e 5 minutos sem filtro a f/4.5 e não saturar as imagens. Abaixo estão as imagens de duas das galáxias de maior dimensão aparente daqui do hemisfério Norte, a Messier 31 e companheiras e a Galáxia Messier 33 do Triângulo. Ambas razoavelmente sub-expostas com apenas 20 minutos (5x4 minutos) cada, mas julgo que o suficiente para capturar uma ideia geral. A imagem da NGC 404 ("Fantasma de Mirach") foi mais teste de focagem com apenas 2 minutos, mas lá fica uma imagem do insólito par que está mencionado no relato mais abaixo.

Messier 33
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Messier 31, Messier 32 e Messier 110
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NGC 404 e Mirach
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Pátio 235 - "Red Moon Rising"›
2006.08.09
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
É bonita. mas por razões erradas, as cinzas dos vários fogos na região fizeram desta lua cheia um quase Sol nascente. Também esta Lua, é uma das mais próximas da Terra este ano, distando esta apenas 360,134 km.

Lua Cheia
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Lua Cheia
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Pátio 236 - Manchas Solares 904›
2006.08.11
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Eis um grupo de manchas solares jeitoso para esta altura do ciclo. Se há imagens que custam o suor da cara, esta é uma delas - aqui no pátio estavam 39 graus na altura da aquisição. A configuração continua a mesma de sempre, só que neste caso foi usado um filtro 1000 oaks.

Sol
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Pulo do Lobo VI›
2006.08.19
Pulo do Lobo - Serpa
Noite passada num dos buracos negros da Europa, onde o céu continua a ser um dos mais escuros de Portugal. Com o SQM a bater em média nuns espantosos 21.51 de valor em média, sendo esta a melhor marca que registei até hoje, apesar de contudo não ter a transparência de um céu a grande altitude. De resto a noite foi amena, sem humidade mas com algum vento forte no início.
Ainda com o Sol em cima tive oportunidade de observar pela a primeira vez e ao vivo e a cores o seu espectro (e também o próprio espectrógrafo) - máquina para mim verdadeiramente extraordinária pelo que é possível através dela descobrir. Percorrendo a "banda", via-se facilmente as riscas de absorção no h-alpha, Sódio, Ferro entre muitas outras e também diversas moléculas da nossa atmosfera que formava bandas cada vez mais fortes à medida que o Sol descia. O que se via era semelhante a esta imagem .
Após um agradável fim de tarde com uma petiscada, a noite começou com mais uma passagem da ISS que brilhava tão forte como Júpiter.
Neste céu escuro foi possível observar com apenas 7x50mm de binóculo, objectos que tipicamente ficariam fora de alcance. Não me lembro de tão evidentes e sem utilizar qualquer filtro as nebulosas América do Norte e Pelicano e mais especialmente as Véus. Foi realmente fácil de percorrer uma pequena mini-maratona de Messier com alguns extras, que pude contar pelas dúzias: Messier 51, Messier 101, Messier 81, Messier 82, Messier 33, Messier 32, Messier 31, Messier 110, Messier 27, Messier 71, Messier 56, Messier 36, Messier 37, Messier 38, Messier 45, Messier 44, (grande parte dos Messiers de Sagitário e Escorpião), Helix entre outros.
No telescópio ( Takahashi Sky-90 ), mais uma vez a Antares ficou por separar devido ao vento e respectiva turbulência que se fez sentir no início da noite aquando o seu trânsito, mas ficou compensado pela a vista do par NGC 253 "Galáxia do Escultor" e o globular NGC 288, par este situado muito perto do polo Sul galáctico que ficou retratado abaixo. Passei ainda por um dos globulares favoritos, o Messier 22 e o enorme Messier 7 (este registado no meio de uma ventania). Também andei em vão à procura da anã do Escultor (PGC 3589) e também da anã de Fornax (PGC 10074).
As imagens foram obtidas com um Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm)+Nikon D70 4,5" res em cima de uma Takahashi P2-Z fazendo sub-exposições não-guiadas de 5 minutos a 400 ISO, sendo algumas de 6 e 7 minutos por andar na conversa. Convertidas e empilhadas (sigma-clip) no IRIS e finalização no PixInsight e PS.
Mais imagens dos companheiros de céu em atalaia.org.

"Snake" & Co
(manter rato sobre a imagem para legendas
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O catálogo de 370 nebulosas escuras de Barnard (prefixo B), foi elaborado a partir de A Photographic Atlas of Selected Regions of the Milky Way que nesta imagem podem-se ver meia dúzia delas, para além de uma pequena planetária (NGC 6369) e um pequeno enxame globular (NGC 6325). A "Snake nebula" faz parte do fumo da imensa "Nebulosa do Cachimbo".

NGC253 & NGC 288
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Esta grande galáxia em Escultor é, para todos os efeitos, uma das galáxias a sempre revisitar, é extremamente brilhante e grande (7.2 magnitude e 29'x7' de dimensão), sendo um bom alvo para pequenas aberturas. A 21x ambos os objectos ficavam bem enquadrados, com uma boa extensão da galáxia visível, mas o globular a não resolver praticamente nada, nem com mais magnificação. O polo sul galáctico fica um pouco abaixo e à esquerda do globular NGC 288.

Messier 22 & NGC 6642
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Apesar do Messier 13 ter o crédito de ser o mais impressionante do nosso hemisfério, este fica a perder no tamanho aparente e no brilho total, sendo Messier 22 o terceiro nestes parâmetros após os "sulistas" Omega Centauri e 47 Tucanae. É também o mais próximo dos que são visíveis a partir do hemisfério norte, mas devido à sua posição perto do plano da galáxia muito do seu brilho é ofuscado pela abundante poeira interstelar , senão seria sem dúvida o rei incontestado dos globulares. A sua proximidade (10100 anos-luz) permite pequenos telescópios resolver mais algumas estrelas que o habitual, sendo no entanto uma vista impressionante em qualquer abertura. Abaixo ficam umas experiências usando apenas uma exposição de 5 minutos. Os canais de RGB foram todos somados e depois binado a 2x. Com este procedimento é possível obter imagens mais profundas à custa da cor e de resolução. De qualquer modo a diferença de população de estrelas entre estas duas imagens é extraordinária.
Pátio 237 - Eclipse Lunar Parcial›
2006.09.07
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)
Muita neblina e nuvens, mas valeu a pena ver no binóculo durante os 2 minutos de trégua um eclipse lunar a nascer, o segundo este ano. Como bónus esta é a "maior" lua cheia deste ano estando a apenas 356,626 km na altura da imagem.

Eclipse Lunar Parcial 19:30 UTC
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Atalaia XXVI›
2006.09.16
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)
O SQM esteve a medir 20.25 de média com a Via Láctea bem presente, pouca humidade, temperatura agradável.
A Lua nasceu às 02:00 com também algumas nuvens a aparecer, tendo a partir daí a noite se estendido por mais 1 ou 2 horas para a grande maioria dos presentes.Não vim especialmente preparado para esta observação, não tendo objectivo nenhum a seguir fui saltitando de telescópio em telescópio a ver o que o pessoal andava a fazer, em especial um protótipo da Atik Instruments que o Rui Tripa e Pedro Mota estavam a testar que parece prometer baixar bastante a "jóia" de entrada no económico-selecto clube das câmaras CCD refrigeradas de 16 bits. O Gregório andava a detectar a perda de alguns fotões de uma estrela por causa de um trânsito de um exoplaneta. Entretanto, Capricórnio estava a transitar com Aquário logo atrás (e acima) e decidi dar uma volta pelos seus objectos mais brilhantes com o Takahashi Sky-90 .
NGC 7009 "Nebulosa Saturno" - Brilhante e notável, com as orelhas a tornar a sua forma alongada, mas não resolvidas (Nagler Zoom 3mm)
Messier 73 - Dá para tentar entender o efeito nebuloso que várias estrelas juntas podem causar quando usamos pequenas aberturas.
Messier 72 - globular difuso e pequeno
Messier 30 - um bocado melhor que o acima, mas com uma estrelita ou outra a despegar. Já na região Andrómeda/Pégaso/Triângulo, dei a habitual volta pelos messiers locais (Messier 15, Messier 31, Messier 32, Messier 110, Messier 76,Messier 33) e ainda NGC 7331.
NGC 404 - é uma vista notável desta galáxia tão perto de uma estrela de segunda magnitude (Mirach).
NGC 891 - mais uma vez impossível de vislumbrar, nem com imaginação indirecta, o que não me admira pois nem sob um céu com menos 1 magnitude de brilho também não consegui tal feito, ficando apenas a sua observação no 20cm. Fiz então algumas exposições da malvada. A imagem de 3x5 minutos mostra o quão ténue esta galáxia se apresenta, com os suas 13 magnitudes de brilho de superfície. Como sempre lá perto a dupla laranja/azul Gamma Andromedae que até julgo ser mais impressionante que a albireo.
Messier 74 - galáxia muito ténue de forma arredondada sem apresentar qualquer condensação no núcleo.
Para refrescar a memória, fiz um reconhecimento a olho nu pelas constelações de Peixes e Baleia, Aries.
http://www.atalaia.org/encontro.php?id=196

NGC 891
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Messier 74
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Vale da Lama VII›
2006.09.30
Vale da Lama - Alpiarça
Anoiteceu com um céu pouco convidativo, mas ao soar a meia-noite e num exemplo da mais perfeita concentração entre a gravidade e a atmosfera, foram-se embora a Lua e as nuvens. A humidade foi intensa, transformada em nevoeiro pelas quatro da madrugada. O SQM chegou a 21.00 a meio da sessão.
Por companhia tive diversos companheiros que se dedicaram a fazer astro-imagens que se podem ver aqui.
Enxame aberto NGC 188

NGC 188
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Este enxame galáctico é considerado o terceiro mais antigo, tendo uns simpáticos 7 mil milhões de anos (7 Ga) de idade, mais 2,500 que o nosso Sol, que no entanto, é provavelmente membro de um enxame com a mesma idade. Logo após, o bem mais ténue NGC 6791 em Lyra e o perdido algures em Cocheiro (Auriga) Berkeley 17. Embora este enxame tenha estrelas bastante antigas, ainda fica bastante aquém da idade dos enxames globulares mais novos (a partir de 13 Ga). È maioritariamente constituído por estrelas de magnitude superior a 10 com espectro F, G e K, sendo o estudo destes velhos enxames importantes para ajudar datar melhor a idade do disco da nossa Galáxia.Está situado muito perto da estrela Polar, a cerca de 4 graus mas já pertence à constelação de Cefeu, podendo-se descrever visualmente como uma ténue nebulosidade a roçar bastante a vaga impressão, sem ter conseguido firmar qualquer forma. A estrela mais brilhante começa em 10.0 de magnitude (e são poucas), como é muito esparso não ajudou muito os 90mm de abertura utilizados. A carta 2 do Millenium Star Atlas (MSA ) foi instrumental na sua detecção.
Um bom exemplo de uma estrela gigante K0 de magnitude 4.2 2 UMi (2 Ursae Minoris) está no fundo da imagem. Esta estrela é também um bom ,ou antes um flagrante exemplo, de um nome histórico, pois esta estrela não pertence correntemente à Ursa Menor, mas sim a Cefeu, o que perdura ainda e incorrectamente é o número que Flamsteed lhe atribui.
Polaris (Alpha Ursae Minoris)
Finalmente fiz uma imagem à zona do céu boreal mais vista (não observada), por quem possui uma montagem equatorial móvel. Aquela cruzinha marcada abaixo, è a razão de muitas imagens estragadas e de muito GoTos ao lado. A Polaris forma com outras estrelas um asterismo triangular telescópico, que é invariavelmente a primeira visão telescópica que tenho sempre que monto na Takahashi P2-Z com o Takahashi Sky-90 ou com o FC-60, primeiramente com o buscador polar, e logo de seguida com a habitual ocular de "arranque", a Panoptic 24mm que magnifica 21x e, com a qual, é logo possível notar a duplicidade da estrela que nos dá rumo acima do equador. Sendo esta uma estrela variável, tipo Cefeída, e a mais próxima do sistema solar, serve ainda para calibrar melhor o nosso sistema de distâncias e ao conseguir fazer uma imagem da uma estrela ainda mais próxima com o Hubble, vai ser possível determinar com grande precisão a sua massa daqui a alguns anos.
Dados fundamentais:
- Magnitude V (Johnson): 1.97
- Tipo Espectral : F7:Ib-IIv SB
- Distância: 132.3 ± 8.4 parsecs (431 ± 27 anos-luz)
- Luminosidade: 2370 ± 300 x a do Sol
- Magnitude absoluta : -3.64 ± 0.14
- Outro nomes : POLARIS; Alruccabah; Cynosura; Phoenice; Lodestar; Pole Star; Tramontana; Angel Stern; Navigatoria; Star of Arcady; Yilduz; Mismar.

Polaris
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Galáxia de perfil NGC 891
Finalmente!!! Esta galáxia já se estava a transformar num traumatizante caso perdido de não-observação.
Com a preciosa ajuda do MSA (carta 101, e para quem vem da Almaak ou, na carta 100 para quem vem do Messier 34). Não houve espaço para dúvidas onde tentar encontrar esta fugidia galáxia, foi longo o tempo para a sua detecção, movendo o campo de vista para cima e para baixo e até que finalmente surgiu: um risco muito, mas muito ténue que mesmo com visão indirecta era impossível de reter. Mas a orientação do risco foi condizente com a carta.
Galáxia Anã de Fornax
Esta galáxia anã do Grupo Local estava a ser escrutinada antes da neblina intensa cair. A carta 403 zerou a sua posição, mas permaneceu totalmente invisível, tendo até começado a fazer uma imagem para verificar se estava a apontar para o sítio correcto, mas só apanhou vapor de água - tinha chegado o nevoeiro.
05/10/2006
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Millennium Star Atlas e Pocket Sky Atlas
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A observação passada foi também a "primeira molha" do recentemente adquirido Millennium Star Atlas de Roger W. Sinnott e Michael A.C. Perryman, Sky Publishing/ESA, 1997, ISBN: 978-1931559270
É conveniente fazer uma pequena advertência, a de que sou um grande apreciador e utilizador de cartas estelares impressas em papel. Este tipo de suporte, pouco a pouco vai-se tornando extinto nos habituais acessórios de campo, face à cada vez maior utilização de GOTO's ou sistemas de apontamento assistido. Considero o caminho para encontrar os alvos por vezes tão importante e fascinante como o alvo em si, e como sou apreciador dos modos tradicionais, ainda que lentos, e em especial aqueles que são simples, eficazes, e que nunca falham, cá ficam as minhas impressões iniciais.
O Millennium Star Atlas (MSA) é um conjunto de 1548 cartas baseadas no catálogo Tycho, onde estão impressas cerca de 1 milhão de estrelas, conjuntamente com informação adicional do catálogo Hipparcos cobrindo a totalidade dos dois hemisférios. Cada carta cobre um área de 5.4ºx7.4º, área semelhante ao campo de vista através de binóculo de 7x50 com uma escala de 100 segundos de arco/mm, 16,7 minutos de arco /cm, 1 grau tem 3,6 cm. Os volumes têm 33x23.5x3.2 cm e pesam pouco mais de 2kg cada.
O MSA está dividido em 3 volumes, cobrindo cada um deles 8 horas de ascensão recta de pólo a pólo. Tal arranjo pode dispensar pelo menos um volume na bagagem a levar, que no caso de se querer andar com os 3 volumes e a sua caixa pode atingir uns pouco portáveis 6,7kg, o que curiosamente na altura da sua primeira edição em 1997, era o peso que alguns computadores portáteis começavam a deixar de pesar. Nos dias de hoje, tudo o que lá está impresso e mais informação suplementar pode vir dentro de um bolso bem pequeno da camisa. Mas por muito que aprecie a conveniência do meu Palm Tungsten ou portátil, simplesmente não os acho adequados para os utilizar em locais de observação visual, não só pelo tamanho e escala mas também por causa da retro-iluminação destes dispositivos que arruinam a visão nocturna, a do seu dono e a dos seus vizinhos.
Apesar destes atlas serem tipicamente considerados uma referência melhor adequada a observadores avançados com telescópios de grande abertura, considero antes que é uma representação quase fiel das estrelas até uma magnitude estelar limite 11 que podem ser prontamente observadas através de telescópios e binóculos com cerca 50-100 mm de abertura, o que me faz lembrar que observadores atrás referidos considerarem estes telescópios meros buscadores... De qualquer forma assenta como uma luva em pequenos instrumentos. O nível de profundidade estelar mostra suficientes estrelas para permitir colocar com grande exactidão qualquer objecto visível ou invisível no centro do campo de uma ocular. Também considero este atlas muito útil na observação de cometas e asteróides brilhantes, pois existem impressas suficientes estrelas de comparação para fazer estimativas, podendo-se também desenhar a sua posição e anotar as estrelas mais semelhantes.
As estrelas com movimento próprio apreciável em algumas décadas possuem setas de diversos comprimentos que mostram esse a direcção e dimensão desse movimento, garantindo muita longevidade deste atlas. As estrelas variáveis (8200) são também anotadas de maneira a dar ideia da magnitude de variação, usando um circunferência estilizada em volta das estrelas (sólido, ponto, traços). As estrelas duplas (22000) também têm uma notação "sui generis ", um tracinho que mostra a orientação e separação aproximada.
Acho estas notações de estrelas bastante úteis no campo e na falta de informação escrita mais detalhada. É raro parar numa carta e não procurar que mais existe para ver naquele rectângulo de céu.
A projecção usada foi a cónica simples segundo Raisz (1934), que permite medir ângulos com erros inferiores a 0.2º em todas as cartas. Segundo a extensa introdução, a exactidão das posições das estrelas é maior que o provavel envelhecimento ou deformação do papel depois de ter apanhado alguma humidade. O papel utilizado embora considero decente (semelhante ao do Uranometria), também não parece muito adequado para expôr aos elementos. Para esse tipo de utilização isso teria de ser plastificado. O papel não tem também suficiente espessura para ser absolutamente opaco pois consegue-se ainda ver estrelas mais marcadas do verso da página, mas não me parece ser realmente incomodativo.
Um primeiro problema surgiu quando expus estes volumes a um céu aberto notoriamente húmido.
De alguma forma os livros mudaram a sua volumetria tanto devido ao uso como pela humidade, já não cabendo os três na sua caixa. que pelo menos no meu caso, foi feita com tolerância demasiado apertada. A capa embora macia, parece aguentar bem até uma camada de água em qualquer estado físico, mas impressão em dourado já começou a desvanecer. Inicialmente, tinha pensado por capas de plástico, mas a caixa não me permitia, mas agora já é tarde demais, mas o tempo com certeza dirá mais acerca da durabilidade e qualidade de construção.
No que diz respeito a objectos não-estelares, não existe nenhum index de objectos de céu profundo catalogados usando números, exceptuando a lista de Messier e listas de objectos estelares e não-estelares do céu profundo que possuem um nome comum popular, sendo estas reimpressas no final de cada um dos volumes. Adicionalmente no volume I, vem um index para todas as estrelas com letra grega atribuída. Também neste volume se encontram tabelas referindo estrelas mais brilhantes, as mais próximas, as mais rápidas (incluindo um esquema pormenorizado da trajectória da estrela de Barnard e as duplas mais brilhantes. Não possui também quaisquer cartas de pormenor, como por exemplo as que o Uranometria tem para as áreas de grande concentração como no caso zonas muito populadas como as do plano da nossa Galáxia ou enxames de galáxias. Os apreciadores dos últimos podem considerar um aspecto comparativamente negativo.
Em lado nenhum encontrei escrito o número exacto de objectos de céu profundo impressos, (talvez por ser bastante inferior ao do Uranometria), mas pela leitura da introdução que diz ter >10000 objectos não-estelares pode-se ter as seguintes contagens:
Objetos
- Enxames abertos : ~700
- Enxames globulares: 144 + várias dezenas extra galácticos
- Nebulosas : NGC/IC e Ced, vdB etc
- Nebulosas planetárias : >500
- Nebulosas escuras : Barnard e Lynd
- Galáxias : > 8000
- Enxames de Galáxias: 675
- Quasares : ~250

Sky Atlas 2000.0, Uranometria, The Observer's Sky Atlas,
Millennium Star Atlas e Pocket Sky Atlas
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Não existe até à data qualquer manual de referência, dito de companhia, mas o volume 3 do Uranometria (Deep-sky Field Guide) é perfeitamente adequado para cumprir tal função, listando até três vezes mais objectos que os presentes no MSA. Alguns podem achar poucos objectos, mas para observação visual acho o número mais que suficiente para qualquer abertura, com a provável excepção de projectos de observação especiais, mas nesse caso acho que vou ter um grande e raro prazer em os desenhar.
Antes de o levar para o terreno, pratiquei encontrar as cartas de diversos objectos conhecidos para me habituar à sua organização. Achei muito fácil de encontrar qualquer dos objectos que tenha procurado, mesmo só tendo uma vaga noção da sua localização. A divisão em bandas de declinação, com cartas contíguas em A.R é extremamente lógica e natural. Em uso efectivo no terreno veio realmente a comprovar-se que este atlas é prático e eficaz. Embora seja possível usar apenas as cartas índex no final de cada volume, a escala e detalhe não me é muito prática para apontar com buscadores unitários como o QuickFinder ou o Telrad. Para essa tarefa utilizo o Karkoschka e/ou o também recente Pocket Sky Atlas, que sempre serviram de excelentes apontadores.
É difícil não concluir que é o melhor atlas em papel de magnitude 11 que existe, pois parece ser o único correntemente em impressão. A única alternativa que lhe pode concorrer são cartas geradas por um planetário (Guide8, Skymap ou outros), mas se se fizer bem as contas ao papel, tinta e tempo que demora a fazer um que seja no mínimo equivalente em qualidade, é capaz de não ser muito assim tão boa ideia, ou por outras palavras, ambas as soluções não se substituem mas sim completam-se. O preço, esse, é a de uma boa ocular ploss, ou de qualquer outra desculpa de valor semelhante.
Atalaia XXVII›
2006.10.14
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)
O SQM mediu 20.30 de média, muita humidade, com a Lua a nascer pela a uma da madrugada. Chá e bolos por cortesia do João Gregório.
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
O primeiro objectivo foi observar o cometa correntemente, mais brilhante no nosso céu, o C/2006 M4 (SWAN). As estimativas do IAU apontavam para quase 8 de magnitude, mas pareceu-me bem mais brilhante, sendo semelhante, mas para menos, à estrela de mag. 6.6 que se encontrava lá perto (a mais brilhante da imagem). A 21x a coma era incolor e tinha forma oval e apresentava-se muito condensado, mas sem qualquer cauda visível.

Abell 426
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Este cometa aparenta ter uma órbita hiperbólica, que pode significar que provavelmente está destinado a saltar fora do sistema solar devido a perturbações que deve ter sofrido ao passar perto dos planetas (os suspeitos do costume são os gigantes gasosos). Outra razão poderá ser de se tratar um visitante interstelar, mas a frequência de visita deste cometas estima-se em 1 em cada 450 anos.
No momento do registo, estava a mover-se 2 graus por dia em AR, distando pouco mais de 160 milhões de quilómetros da Terra, e nesta altura também, em que se apresentou mais brilhante.
Mais informação e bem melhores imagens no excelente http://cometography.com/lcomets/2006m4.html
A imagem ao lado mostra uma cauda com dois terços de grau de comprimento, com a típica cor verde-esmeralda (o mecanismo de emissão mais importante é a fluorescência), que apesar de tudo, conseguiu furar as condições adversas de observação, tais a baixa altitude (10º), neblina, poluição luminosa e eclipses por "aglomerados de carbono". E também não me parece ter ficado lá muito focado. Foram 5 exposições de 2 minutos cada.
Enxame de Galáxias Abell 426 (Perseus A)
É necessário uma considerável dose de boa vontade para considerar a imagem abaixo esteticamente interessante. Nunca tinha feito a imagem um enxame de galáxias a mais de 200 milhões anos-luz e por diversas razões: exceptuado os enxames do Superenxame Local (Virgo), estes tipicamente são muito ténues, e sendo as galáxias mais pequenas que cagadelas de mosca, sobretudo na escala de resolução em que foi fotografado (4") rondando os membro mais brilhantes os 7, 8 pixels de tamanho, o que mostra bem o que se pode esperar de um enxame de galáxias. A imagem tem uma exposição total de 28 minutos (7x4 minutos), tempo que é notoriamente insuficiente para este tipo de objecto. O Norte está para cima em ambas as imagens.
É relativamente fácil de apontar, estando localizado na constelação do Perseu a dois dedos da Algol (beta Persei). Infelizmente, mas como tinha esperado, não consegui ver nenhuma, nem a mais brilhante NGC 1275, que começa logo com apenas magnitude 12.7, e estou seguro que estive a olhar para as sujeitas por largos minutos (MSA carta 98). É um excelente alvo para grandes aberturas, como podem ver nesta espantosa página de observação.
Segundo o grande catalogador astrónomo George Abell que o baptizou com um número, após ter perdido as pestanas nos anos 1950s a examinar visualmente as placas fotográficas do Schmidt de 48" do Monte Palomar, este enxame é rico (II-III) pela sua curiosa mas inteligente classificação (galáxias vizinhas até 2 magnitudes menos brilhantes que a terceira mais brilhante) tem um "redshift" médio de z=0.01790 que segundo a actual idade do Universo o coloca a pouco mais de 250 milhões anos-luz espalhando mais de 200 galáxias moderadamente brilhantes num diâmetro de 8 graus de céu!, claro que este número aumenta e muito conforme o instrumento utilizado para fazer imagem.

Abell 426
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A galáxia mais brilhante NGC 1275 que está praticamente no meio da imagem, também conhecida por Perseus A, é uma gigante elíptica peculiar que domina o Enxame de Perseu. Esta galáxia é peculiar por diversas razões: tem um núcleo activo (tipo Seyfert) com jatos, formação recente de estrelas, é uma potente fonte de rádio (3C 84), de raios X por talvez estar no meio de uma colisão/digestão. São muitas galáxias em apenas 1 grau quadrado de imagem, tendo depois de assinalar quarenta e muitas delas, pois existem mais ténues e não visíveis na imagem, com a ajuda do Guide8 deixado por contente a ver como ficou a distribuição das galáxias mais brilhantes deste enxame. Este tema de enxames de galáxias é de vital importância para compreender a organização do Universo na grande escala, principalmente os mais longínquos que mostram como era o Universo e galáxias no princípio dos tempos.
Vale da Lama VIII›
2006.10.28
Vale da Lama - Alpiarça

Swan e o Messier 13
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Mais uma ida ao Vale da Lama, que apesar das recentes inundações na região ainda se encontrava transitável.O SQM marcou uma média de 20.70, reflexo de uma noite não muito escura, comum céu um de aparência leitosa e nuvens altas traiçoeiras sempre à espera de arruinar uma exposição, mas que serviram de pausas para simplesmente olhar para o céu. A humidade acentuou-se até ao início da madrugada, mas depois a noite ficou serena e agradável. Como sempre, boa companhia e a tradicional petiscada de grelhados. As imagens resultantes desta noite podem-se ver aqui .
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
Adoro quando os cometas fazem isto!
Andei a seguir com o 7x50 este cometa nos dias anteriores aqui do Pátio desde que entrou em "outburst", e não lhe dava mais de magnitude 5. Parecia que já não tinha mais nada para dar nesta sua passagem à volta do Sol, e ei-lo fulgurante como nunca. A imagem foi registada durante cerca de uma hora, sendo esta a posição do cometa pelas 20:07 UTC.
Um contra-tempo que quase foi fatal. Esqueci-me de acertar a data e local na folha de cálculo que utilizo para calcular a hora sideral para alinhar a montagem. Os parâmetros que dei eram da Atalaia faz duas semanas atrás... (ver a entrada mais abaixo). Escusado será dizer que as imagens sofreram alguma rotação. A rotação de campo é quase impossível de se detectar de imagem para imagem, só quando se regista para empilhamento é que se vê o efeito, mas não foi nada que IRIS não resolvesse.
A cauda de poeira que a imagem mostra tem um tamanho impressionante, estendendo-se ao longo de quase 3 graus (6 diâmetros da Lua ou do Sol), embora muito pouco desta fosse visível no binóculo 7x50, e muito leves indícios no 90mm a 21x, talvez devido ao luar e também a alguma luminosidade naquela área. O brilho da coma era ligeiramente semelhante ao enxame Messier 13 que estava alguns graus mais acima. Tentei vê-lo a olho nu várias vezes sem sucesso.
A título de curiosidade, o cometa encontrava-se a 1.07153668 AU (160,299,606 km) que é pouco mais que a distância da Terra ao Sol. Sabendo que o Sol tem 1.39 milhões de quilómetros diâmetro com um tamanho aparente de 32' podemos estimar facilmente com regra 3 simples o tamanho real da cauda registada na imagem vista da nossa perspectiva: cerca de 5 milhões quilómetros, embora a cauda tenha o dobro do tamanho mesmo quando fotografada com pequenos telescópios. Um pormenor interessante é que apesar de todo este aparato em que parece que se está a desfazer todo (o que por vezes acontece), tipicamente um cometa apenas perde entre 0.1 e 1% da massa em cada órbita.
A imagem de grande campo no início mostra o brilho relativo deste cometa quando comparado com enxame globular Messier 13 em Hércules, que está situado mais acima à 1 hora, e apresenta curiosamente uma cor muito aproximada. As condições já não eram muito favoráveis, com o cometa e Hércules a afundarem-se no horizonte, mas ainda se pode ver com boa vontade um leve indício da extensa cauda.
Enxames abertos Messier 35, NGC 2158, IC 2157 e IC 2156
Na constelação de Gémeos, a 2800 anos-luz , 13000, 6120 e ???? anos-luz respectivamente. Os dois primeiros enxames têm a mesma dimensão, mas estão separados entre eles 10000 anos-luz. É facilmente detectável com vista desarmada, e uma vista impressionante em binóculos ou telescópios a baixa magnificação, embora a diferença de cor só seja bem notória com grandes aberturas - o NGC 2158 é um bom exemplo de "reddening" causado pela poeira interstelar pois nem é um enxame muito velho.
Os IC 2157 e IC 2156 são praticamente imperceptíveis no 90mm... O IC 2156 é um ilustre desconhecido, muito provavelmente apenas um asterismo naquela pequena concentração às 11 horas do IC 2157. A estrela brilhante que compõe o ramalhete, e dá uma ajuda a equilibrar as cores, é a 5 Geminorum, uma gigante K0 a brilhar a quase 6 de magnitude.

Messier 35, NGC 2158, IC 2157
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Barnard 33, IC 431, IC 432, NGC 2024, IC 435, IC 434, NGC 2023 e NGC 1990
Decidi incluir esta imagem sofrível duma das regiões mais populares da astro-imagem, apenas porque estive mais de duas horas a expõ-la. Foram 30 exposições de 2 minutos, cronometradas manualmente com o consequente desligar/ligar da máquina fotográfica (devido à maldição do RAW Nikon), isto foi o que sobrou depois de ter perdido mais de 10 exposições por causa de nuvens sorrateiras. Uma hora de exposição está óbvio que não chega, muito menos com uma câmara praticamente cega em h-alpha. De qualquer modo, fica o resultado do momento.
Raras foram as vezes que vi visualmente a Cabeça do Cavalo (Barnard 33), ou melhor, a nebulosa escura da nebulosa de emissão IC 434, mas a "Flame" (NGC 2024) é prontamente vista no 20cm e 90mm. As IC 431, 432, 435 são nebulosas de reflexão com a sua cor tipicamente da estrela que as ilumina. As duas grande luminárias são duas jovens supergigantes azuis do cinturão de Orion: a Alnitak (Zeta 800 anos-luz) e a Alnilam (Epsilon 1300 anos-luz) cujo o clarão azulado será o início do NGC 1990 que se espalha em toda a volta da estrela.

Barnard 33, IC 434, NGC 2024
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• elaborado ao som de Quartetos de cordas "Haydn" K.387,K.421, K.428, K.458 K.464 e K.465 de W.A.Mozart pelo Quarteto Hagen (Deutsche Grammophon)
Pousados III - Magusto em Pousados›
2006.11.11
Pousados - Alcanede
O "Sôr" Mota, mais uma vez pôs à disposição o seu quintal para mais uma noite sob as estrelas em Pousados, perto de Alcanena. Sendo esta noite de S.Martinho com magusto não faltaram as castanhas, febras, morcelas e água pé.
Cometa C/2006 M4 (SWAN)
O cometa SWAN ainda se encontrava com algum fulgor, mas desta vez não foi possível registar praticamente nenhuma cauda.

Cometa C/2006 M4 (SWAN)
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Os 3 grandes enxames de Cocheiro - Messier 36, Messier 37 e Messier 38 & companhia
Exposições de 16x60 seg
Depois nasceu a Lua, sendo o último alvo da noite, o planeta Saturno que não via desde a sua volta por trás do Sol. Os anéis já estão notoriamente menos inclinados. Viam-se os 3 satélites mais brilhantes.
Calar Alto›
2006.11.18-19
Calar Alto
A primeira noite
No local (que são casas de mineiros restauradas) em que estivemos hospedados em Las Menas de Serón o céu era bastante escuro apesar ou talvez devido a estarmos rodeados por montanhas e já a mais de 1500 metros de altitude. Mesmo com uma viagem de quase 1000 km em cima não nos foi possível deixar passar impune aquele céu sem uma observação. Todos os telescópios do grupo sem excepção foram montados, e não eram nada poucos: um obsession de 15", um Dobson de 8", um maksutov-newtoniano de 8" em cima de uma G11, um Takahashi Sky-90 , um TMB 80mm e diversas pequenas montagens com câmaras a fazer imagem. Apesar das luzes do local (que entretanto foram gentilmente apagadas pelo o responsável do local), o céu esteve de grande categoria, com, entre outros objectos, a cabeça do cavalo de visão directa no Obsession, isto tudo no meio da pouco habitual cena de ver as constelações a nascerem no cume do maciço mas já bem altas a Oeste. Fomo-nos deitar cedo para o longo dia e noite que se seguia.
Um dia no Observatório de Calar Alto
O Observatório de Calar Alto está situado na cadeia de montanhas andaluza de Los Filabres, que serve de imponente pano de fundo à cidade costeira de Almeria. Com uma elevação de 2160 metros e numa região árida e semi-desértica proporciona cerca de 200 noites de céu limpo por ano. O recinto de 100km quadrados está naturalmente rodeado por belas paisagens. A Sul via-se o Mediterrâneo, a Norte uma paisagem quase de "Western" americano e a Oeste os cumes nevados da Sierra Nevada. O dia esteve solarengo, com apenas algumas nuvens altas, mas naquela altitude já o ar é bem fresco. Passou também por lá uma migração do que pareciam ser abutres, que aproveitavam as correntes ascendentes para ganhar altitude, mas parecia que tinha morrido alguma coisa por lá pois assemelhava-se bastante ao típico voar em círculos à espera do almoço.
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Com a generosa autorização do director do Observatório dr. João Alves (português!), e com a amável orientação e paciência do nosso anfitrião Juan Capel foi-nos oferecida uma memorável visita a alguns dos telescópios e instalações. Não existe agradecimento que chegue por nos terem tornado realidade esta visita.
O observatório foi iniciado em 1973 e aloja neste momento cinco telescópios: um Schmidt de 0.8m, três Ritchey-Chretien de 1.2, 2.2 e 3.5 metros, todos eles manufacturados pela a prestigiosa Zeiss (não seja este um observatório do Instituto Alemão para a Astronomia Max Planck) e ainda o telescópio de 1.5m (Reosc) do observatório Nacional de Madrid. Passamos por quase todos eles e entramos na cúpula do Schmidt 0.8m e na verdadeira catedral tecnológica do 3.5m.
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O mais imponente certamente foi o Zeiss de 3.5 metros, no qual estivemos numa demorada visita, tendo percorrido a sala das máquinas, a sala de "banho" do espelho e finalmente a grande cúpula.Com uma massa de 230 toneladas foi último da geração de telescópios com ume espelho monolítico (espelho de 1 só peça), tendo este um impressionante peso de 13 toneladas. Desenhado com inspiração no gigantesco telescópio Hale de 5 metros do Monte Palomar, também foi o último dos telescópios gigantes a utilizar uma montagem equatorial do tipo "ferradura", que de resto é bastante evidente na imagem ao lado. Este espelho de 3.5m é um f/3.5 feito de zerodur que possui características de baixo coeficiente de expansão, garantindo uma boa estabilidade térmica, sendo também muito versátil nas configurações ópticas, podendo ser utilizado em foco primário, Coudé ou Cassegrain com um engenhoso e rápido sistema de configuração.
Não me recordo de ver uma máquina de 230 toneladas a mover-se tão graciosamente e ao mesmo tempo tão silenciosamente, elegância da engenharia alemã no seu melhor com certeza. O operador teve a grande amabilidade de virar para nós o telescópio e abrir as pétalas que protegem o seu grande espelho. Ainda tivemos a oportunidade de observar o carregamento de nitrogénio líquido dos 4 CCDs de 4mp que cobrem cada um 45 minutos de arco na configuração "wide-field". O telescópio, acessórios, secundários, CCDs, espectrógrafos eram para nós familiares mas todos numa escala dantesca. Um verdadeiro monumento.Um agradecimento especial ao astrónomo que adiou em meia hora o início da sua sessão devido à nossa visita.
Ver mais imagens deste telescópio.
Noite no recinto do 1.23m
Logo após a visita, dirigimo-nos para o recinto do Zeiss 1.23 que se encontra no momento desactivado, tendo sido por essa razão o local escolhido de modo a perturbar o menos possível a actividade do observatório. Por vizinhos a algumas dezenas de metros os Zeiss 2.2m e o mais distanciado de 3.5m, ambos com intensa actividade durante toda a noite. Este recinto é um dos pontos mais alto do observatório quase a par do marco geodésico, tendo um largo horizonte e uma vista geral de todo o observatório, bem no meio da sem sombra para dúvida maior concentração de telescópios Zeiss do planeta.
Chegámos antes das 18:00 horas ainda com o Sol acima do horizonte e saímos um pouco mais de 12 horas depois. Foi uma longa noite que chegou para fazer de quase tudo: fazer imagens, comer, beber, conversar, olhar através dos telescópios ou simplesmente para o céu.
A noite no observatório como esperado, foi de alguma dureza apesar de ter havido temperaturas mais altas do que nos dias que a circundaram. Segundo os dados da estação meteorológica do observatório, o termómetro não baixou dos 4 graus celsius, mas essa era a temperatura do ar _sem_ vento. Durante toda a noite soprou uma brisa nos locais menos resguardados que por vezes soprava com algumas rajadas de enregelar verdadeiramente os ossos, a pouca ou nenhuma humidade felizmente não acentuou mais o desconforto. Apesar de tudo, não foram propriamente condições extremas e a maioria aguentou a sessão ininterruptamente.
Foi algo decepcionante verificar os estragos que o inexorável avanço da poluição luminosa já causou na maior parte de todo o baixo horizonte, fazendo perder a classificação de lugar muito escuro, pelo menos para observações no espectro visual, mas não alterou em muito a qualidade científica do local pois fazem estudos com instrumentos que não são muito afectados pela poluição no visível, nomeadamente com utilização de espectrógrafos.
O SQM chegou a um valor máximo de 21.40, não atingido os valores máximos de 21.50 verificados em Montesinho, Bragança e Pulo do Lobo, Serpa. Mas 2000 metros continuam a ser sempre 2000 metros e a transparência que daí advém garantiu um céu de 6.5-7 de magnitude nas áreas de céu mais escuras, de modo nenhum abaixo de espectacular, ainda com uma extraordinária turbulência extremamente baixa sendo esta menor que 1 segundo de arco!. Surgiram algumas nuvens mas foram de pouca dura sendo de boa maneira aproveitadas para pausas para conversar, dar um giro pelos restantes convivas, e claro petiscar. A cúpula aberta do nosso vizinho de 2.2m foi sempre um bom indicador que noite era para continuar.
Adicionalmente ao equipamento acima mencionado, juntaram-se a nós meia dúzia de astrónomos amadores espanhóis com um estratosférico Obsession de 25" e ainda outro telescópio a registar imagens de planetas.
A primeira parte da noite andei entretido, assim como muitos companheiros, a fazer imagens com a objectiva de 50mm, das quais se podem ver muitas aqui e aqui. De seguida fui dar uma boa volta a objectos que vale a pena rever sob céus escuros: as nebulosas em Cisne, as Véus, America do Norte e Pelicano, Crescente e toda região até à Deneb, assim como a constelação do Cocheiro e Cassiopeia, com os seus enxames e nebulosas. Também dei um olhadela no cometa Swan que estava na altura muito próximo da Zeta Aquilae (no 25" tinha uma pujança impressionante).
No meu canto esteve o TMB de 80mm do Alcino e filho Rodrigo, tendo nós em certa altura enveredado pela observação integral de todos os objectos sugeridos em algumas das cartas do Karkoschka. Achei divertido conseguir comparar directamente as cartas com o céu. Viam-se todas as estrelas directamente e sem dificuldade chegando até achar ser demasiado fácil de encontrar e observar. Digno de registo, ficam a ténue e pequena galáxia satélite de Messier 81, NGC 2976, a surpreendentemente grande NGC 2403 em Camelopardalis, a pequena galáxia NGC 1023 e a ainda mais pequena nebulosa NGC 1491, ambas em Perseu.
Nos desafios pessoais (por vezes, reconheço, um pouco exagerados), tentei ver a Sirius B, mas a Sirius (A) além de ser a estrela mais brilhante do firmamento, tem o raro e especial dom de me fazer lembrar que tenho um refrator dupleto, embora não julgue ter sido essa causa de não a conseguir ver. A quinta estrela do trapézio também ficou por ver apesar da perfeita solidez da imagem apenas limitada por difração - a turbulência era nitidamente inferior à resolução teórica do telescópio... Faltou um bocado mais de transparência ou talvez de paciência.
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O Obsession de 25" foi naturalmente um centro de grandes atenções, com por vezes alguma hora de ponta. Entre outras, ficaram as visões quasi-fotográficas da caótica galáxia Messier 82, a NGC 2392 ("Esquimó"), esta com um detalhe espantoso das múltiplas conchas de gás que considerei como visão definitiva desta nebulosa, pelo menos nos próximos tempos, e ainda da extraordinariamente colorida e complexa nebulosa de Orion Messier 42 / Messier 43. Os gigantes gasosos mais distantes eram de um tamanho abismal com a mínima de Encke em Saturno fácil, embora tenha preferido a do obsession 15" que me parecia um nada mais colimado. A altura da ocular por vezes não era aconselhável a quem tivesse vertigens, mas julgo que a curiosidade se sobrepunha largamente ao medo de cair de lá de cima do escadote de calibre "lidliano". Por outro lado, os telescópios mais pequenos também beneficiaram (talvez até mais) deste céu, e todos eles mostraram aos respectivos donos e a quem quisesse neles observar, vistas de rara beleza que só um bom céu pode permitir.
Durante toda a noite foram caindo algumas Leónidas, tendo algumas delas atravessado meio hemisfério, e por vezes vinham aos pares, mas de qualquer modo numa cadência algo superior à dos meteoros esporádicos. Pena que não tenha sido tão intensa como algumas previsões anunciavam, defraudando de certo modo muitos de nós que tínhamos levado câmaras para as capturar.
A noite terminou com a mais intensa e extensa luz zodiacal que alguma vez me lembra ter presenciado. Estendia-se de canto a canto dos olhos por mais de metade do hemisfério ao longo da eclíptica desde a constelação de Leão (esta desfigurada por Saturno) até aos pés de Gémeos. Era tão notória que julguei ser mesmo nebulosidade a formar-se, pondo um carimbo final de qualidade neste céu.
Fomos todos embora por volta das 6:20, alguns congelados mas felizes. Estiveram Alberto, Alcino e o filho Rodrigo, Anselmo, Filipe Alves, José Ribeiro, Licínio, Luís Carreira, Luís Evangelista, Paulo Barros, Paulo Bénard Guedes e cerca 6 ou 7 astrónomos amadores locais cujo o nome escapou. Também nos acompanharam na viagem a Claudia e a irmã e a Patrícia.
Ver mais imagens do local de observação.
Adenda Turística - Recuerdos de la Alhambra
No dia de regresso a casa, uma boa parte do grupo acordou mais cedo para no caminho parar e visitar um dos mais famosos conjuntos de monumentos de Espanha.
Sempre fiquei curioso da origem da inspiração da peça de guitarra clássica "Recuerdos de la Alhambra" de Francisco Tárrega (1852-1909), uma das mais belas deste instrumento que se pode ouvir, ou melhor ainda, tocar. Depois da visita acho que faz bem jus à recordação que me da visita à cidadela de Palácios e jardins de Alhambra situada nos arredores de Granada com a imponente Sierra Nevada a servir de fundo. Um cenário de luxo.
Estivemos por lá pouco menos de 2 horas. Mas usando um passo acelerado foi possível visitar uma boa parte dos jardins com muitas fontes do Generalife (Jardins do Paraíso) e ainda os dois dos alcázares (palácios) mais interessantes, o Carlos V e a obra-prima mourisca Nazaries, ficando a Alcazaba (fortaleza) para a próxima vez.
Sem dúvida merece uma nova visita mais pausada, embora tenha o inconveniente de talvez ser um local demasiado saturado de turistas, nem devo suspeitar como será na época alta, altura em que deve ser verdadeiramente de loucos lá ir.
Ver mais imagens de Alhambra
De resto, a viagem decorreu sem qualquer percalço.
Como é habitual nestas expedições pode-se ler um relato pormenorizado no www.atalaia.org, ornamentado por muitas imagens do grupo, tendo também o Paulo Guedes feito uma página sobre esta viagem.
Pátio 239 - Conjunção Natalícia de Urano e Lua›
2006.12.25
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m),
Na realidade, esta conjunção ia a caminho da ocultação do planeta Urano pela a Lua que se iria dar em pouco menos de uma hora. Um "contrail" ajudou ao obscurecer o lado iluminado da Lua e permitir expor um bocado mais para registar o relativamente ténue planeta que nem sequer se avistava com os binóculos.