Pátio 141 - Saturno 24 horas após a oposição
Saturno 2004-01-02 00:25 UTC |
Castor - Alfa de Gémeos 3.13" |
Saturno 2004-01-02 00:25 UTC |
Castor - Alfa de Gémeos 3.13" |
Este fenómeno refractivo é bastante difícil de observar e fotografar, sendo necessária muita sorte.
Hoje quase que ia acontecendo um, que embora não tenha sido muito grande, já deu para lhe tomar o gosto. Este "quase" flash verde, não foi visível a olho nu, pois foi bastante pequeno, mas no entanto um deles ia quase "despegando". È ir tentando...
Fash verde 2004-01-02 17:22 UTC |
Hoje a Terra está mais perto do Sol e mais uma vez para comemorar esta efeméride fiz esta comparação do tamanho aparente do Sol nos pontos da nossa órbita mais afastado (afélio) e próximo (periélio). A diferença de distância embora seja percentual, não deixa de ser de mais de 5 milhões de quilómetros (13x a distância da Terra à Lua). As duas imagens abaixo demonstram bem essa diferença.
Sol no periélio e afélio |
No caminho de regresso a Leiria, e das vezes em que vou à Atalaia (podem ver as imagens da sessão aqui), tenho o costume de parar na estação de serviço de Santarém da A1, para apreciar o nascer do dia, mas desta vez, estava também à espera de observar o planeta Mercúrio no seu ponto mais destacado do Sol.
Mercúrio em Elongação 2004-01-18 06:47 UTC |
A Cisne e Lira no Inverno 2004-01-18 06:32 UTC |
Vai começar a época da caça ao Júpiter e nesta sessão apesar da grande turbulência anda deu para tirar umas imagens.
Júpiter 2004-01-20 01:26 UTC |
Júpiter e principais satélites 2004-01-20 01:09 UTC |
Uma conjunção bem afastada dos três planetas mais próximos de nós. Nem a poluição luminosa, e nem as nuvens conseguiram ofuscar o imenso brilho de Vénus, e o ainda brilhante Marte que neste momento tem menos de um quarto do tamanho da histórica aparição de Agosto do ano passado.
Lua, Marte e Vénus 2004-01-28 19:47 UTC |
Uma conjunção dos dois astros mais brilhantes depois do Sol e por vezes de Vénus. Estavam distanciados a pouco mais de 5 graus.
Lua e Júpiter 2004-02-08 22:39 UTC |
Pequena animação de meia hora da rotação de Júpiter, com a Grande mancha vermelha a surgir. A turbulência foi bastante acentuada, pois do filme de 300 imagens para obter a gamma leonis (mais abaixo), apenas 5 fotogramas estavam relativamente bem focados. Ainda me espanta como ainda se consegue obter imagens com algum detalhe nos planetas....
Júpiter 2004-02-11 23:00-23:30 UTC |
Alfa de Gémeos (Castor) e Gamma Leonis (Algieba) |
Já fazia algum tempo que não usava o meu reflector de 20cm, e hoje decidi dedicar-lhe alguma atenção e dar um banho ao espelho - o primeiro desde que o adquiri faz agora dois anos e meio.
Depois de ter desmontado o espelho da sua célula , passei-o por água para tirar o pó maior, de seguida preparei uma bacia com água e sabão Jonhson para bebé, na qual mergulhei o espelho e esfreguei a superfície de fora para dentro com algodão 100% hidrófilo, usando apenas o peso do algodão. De seguida passei-o bem por água corrente da torneira, tendo finalmente passado por água destilada para não deixar marcas. Deixei-o a secar naturalmente pondo-o na vertical para evitar apanhar pó.
De seguida montei-o na célula (da qual retirei a chapa de protecção para diminuir algum peso) e voltei a montá-lo no tubo. Colimei o primário primeiro usado uma Cheshire, e depois um colimaser (laser barato), para colimar o secundário. A colimação do espelho primário de um telescópio de 1200mm pode-se considerar um pouco incómoda, com um constante vai-vem entre os parafusos do espelho e o porta-oculares, mas valeu a pena porque para meu espanto o telescópio até ficou bem colimado.
O dia esteve muito nublado, não tendo conseguido sequer tirar a habitual imagem do Sol, mas depois de jantar em pequenas abertas consegui verificar a colimação, que ficou como já tido referido, ficou na "mouche".
Um dos eventos do dia mais interessante foi o duplo trânsito em Júpiter da Grande Mancha Vermelha (GMV) em conjunto com o satélite Io. Mas infelizmente as nuvens não deixaram fazer um "boneco" do evento, só conseguindo observar parte final, mas visualmente já com o dobson limpinho e afinado. A sombra de Io era um perfeito ponto negro sobre a zona equatorial norte, ligeiramente avançado à GMV que estava mais abaixo, sendo ambos perfeitamente visíveis a 133x (Nagler 9). De seguida virei-me para Saturno, no qual tive alguns momentos de grande nitidez, podendo ainda observar 4 ou 5 dos seus satélites que estavam algo acumulados. Depois vieram mais nuvens e fiz uma pausa.
Na segunda parte da noite, o céu abriu-se por duas horas, e fui matar saudades das sessões que habitualmente fazia no meu pátio. A magnitude limite visual era muito baixa, não chegando nem sequer a 4, assim como o nevoeiro que já começava a formar-se, mas mesmo assim aproveitei as luzes apagadas da vizinhança para passear um pouco pela as zonas de céu mais a vertical e livres de nevoeiro. Já se adivinhava a dificuldade de saltar de estrela em estrela, tendo tão poucas delas visíveis a olho nu, mas algo teimosamente insisti em só utilizar o buscador 6x30, pois não me estava apetecer montar o quickfinder, gastando cerca de uma hora e tal para encontrar e observar uma dúzia de objectos. O quickfinder é bem mais útil em céus poucos escuros, porque consegue-se por vezes triangular uma posição mesmo utilizando estrelas afastadas em dezenas de graus, mas no entanto valeu a luta.
Depois de ter "aquecido" a pontaria no sempre impressionante enxame aberto NGC 2168 (Messier 35) em gémeos, passei uma ronda pela a sua vizinhança onde se encontravam o enxame aberto que era também visível no mesmo campo da Panoptic 24 - o NGC 2158 - que se assemelha a uma mancha muito difusa, mas no entanto densa e quase sem resolução, o que é natural pois é 6 vezes mais longínquo que o Messier 35, a cerca de 13000 anos-luz. Também lá perto se encontrava o NGC 2129 que devido à pouca escuridão não passava de duas estrelas brilhantes mergulhadas numa quase imperceptível nebulosidade. Pode-se ver aqui uma imagem que capturei destes enxames há algum tempo atrás.
Também em gémeos se pode encontrar uma das incontornáveis nebulosas planetárias - a nebulosa do esquimó NGC 2392. Esta é uma das mais espectaculares planetárias, que se pode observar até com binóculos. Não usei filtro mas era perfeitamente óbvia a 50x, apresentando um grande tamanho aparente, que até me custa acreditar ter apenas a magnitude visual de 9.2 (NSOG). De qualquer modo pode-se descrever como uma estrela (central e com mag. 10.5) rodeada por um quase perfeito disco de nebulosidade acinzentada. É uma das planetárias que merece estar entre as melhores observáveis em pequenos telescópios.
De seguida baixei um bocado o tubo para a área do Unicórnio (Monoceros), que entretanto já estava a mergulhar no telhado do vizinho do sudoeste. Comecei pelo enxame NGC 2264 que num reflector newtoniano se assemelha a uma árvore de Natal, mas com a "estrela" na base ao invés de estar no topo. Nesta altura já estava deitada devido a já estar a mergulhar ao Oeste, mas a distribuição mais ou menos simétrica das estrelas mais brilhantes dá-lhe a aparência cónica semelhante a uma árvore de Natal. Estava muito bem enquadrada no grau e meio da Panoptic 24, com filtro talvez fosse possível ver alguma nebulosidade, mas nem tentei com um céu tão brilhante.
Esta "árvore" aponta para um dos objectos mais invulgares que se pode observar - a Nebulosa variável de Hubble NGC 2261 -. Este é um dos poucos objectos de céu profundo que varia de brilho. Esta variação não é na nebulosa em si, mas causada pela estrela variável eruptiva R Monocerotis, que essa sim varia de brilho, provocando alterações de brilho e de aparência das nuvens de poeira próximas. A sua fácil observação foi uma agradável surpresa, tendo em consideração as condições, a forma de triângulo quase recto e vagamente cometária desta nebulosa era bastante aparente, embora a ache demasiado "gorda" quando comparada com a forma mais esguia ou então arredondada mais típica dos cometas que tenho observado. Estive um bom quarto de hora a apreciar tão singular objecto, tentando ver a estrela responsável por tal clarão, mas não tive grande sorte, pois tendo um brilho variável entre 11 e 13.8, talvez estivesse calma e consequentemente fora do alcance do 20cm sob este céu.
Ainda tentei observar o enxame aberto NGC 2244 e nebulosa associada NGC 2237 "Rosette" mas o nevoeiro cada vez estava mais alto e passei para outras paragens mais perto do zénite.
Por esta altura a constelação do Caranguejo (Cancer) não era visível a olho nu, apenas a sua beta (3.5 de mag) era com algum custo observável. Esta constelação guarda dentro de si dois dos melhores enxames abertos do catálogo de Messier. O NGC 2632 (Messier 44) também conhecido também pelo nome de "Presépio" ou então "Enxame (de abelhas)" e o velho enxame NGC 2682 (Messier 67) que não tem "alias" mas devia ter. O Messier 44 é geralmente demasiado grande para ser apreciado num telescópio, com mais de 1 grau e meio, não cabia já no campo da Panoptic 24, perdendo o contexto e por tal um bocado da sua graça, achando mais interessante no apontador que na ocular. Está bastante próximo a pouco mais de 500 anos-luz daí o seu tamanho aparente. O Messier 67 por outro lado é um dos mais bonitos que se pode observar com várias dezenas de estrelas, com um a distribuição agradável e enrolada das estrelas - é um dos meus favoritos. Este enxame tem um grande interesse para os astrónomos pela grande quantidade de estrelas nas mais diversas temperaturas, que permite a calibração mais rápida de imagens, isto para além da sua grande idade (estimada em 5 mil milhões de anos) que permite ser usado para estudar a evolução da nossa Galáxia.
O nevoeiro já se elevava mais de 45 graus e só praticamente restava a segunda e última observação do planeta Júpiter, do qual curiosamente sempre tive as melhores vistas em noites de nevoeiro. E esta não foi a excepção, embora ainda que com turbulência acentuada. Estive a observá-lo com magnificações entre 200x e 400x. Existiram breves momentos de grande nitidez, em que foi possível observar os diversos cinturões e zonas equatoriais, tropicais e temperadas, assim como a diferenciação das zonas polares. Andei à procura de algum pequeno anti-ciclone mas sem grande sorte. A 200x o brilho era demasiado intenso para discernir detalhe, tendo as magnificações de 240x e 300x sido as mais úteis, proporcionando um bom balanço entre brilho e tamanho. A 400x, Júpiter já se apresentava como uma gigantesca bola, mas a imagem já começava a ficar pouco nítida. A Nagler Zoom é perfeita para observação planetária. A conveniência de mudar de magnificação instantaneamente, perfeição de recorte e cor até ao limite do campo, sem praticamente nenhuma reflexão e contraste comparável a ortoscópicas, torna-a numa ocular bastante útil, especialmente em telescópio não motorizados.
Ainda é possível observar alguns objectos de céu profundo em ambientes contaminados de luz. A falta de contraste e poucas estrelas no céu, apenas terá o efeito de se apreciar ainda mais a observação astronómica em céus realmente escuros, onde ficamos perdidos, não por falta de estrelas, mas sim por se verem demasiadas, o que de longe é preferível mas infelizmente raramente possível.
Referências:
Já fazia muito tempo que não acontecia ter um céu tão escuro aqui no pátio : uma noite de magnitude superior a 4. Todas as estrelas mais brilhantes da Ursa Menor era visíveis a olho nu, especialmente a Eta UMi que tem perto de 5 de magnitude. Como é natural, não podia deixar escapar tal rara noite que arrisco apostar ser 1 em cada 100 aqui no pátio. A transparência esteve muito boa mesmo tendo em consideração o local, embora o mesmo não se possa dizer da turbulência que foi bastante acentuada.
Comecei a sessão a tentar fazer um pequeno filme do trânsito da sombra do Europa. Não fui muito feliz na turbulência, nem provavelmente na focagem, mas sempre serve para dar uma ideia do elevado dinamismo deste micro-sistema planetário.
Júpiter 2004-02-20 01:10-02:05 UTC |
Mas a noite esteve mais adequada para objectos do céu profundo, e não desperdiçando a oportunidade de poder observar galáxias e planetárias deste pátio sub-urbano, peguei no Karkoschka e fui observando os objectos que este atlas sugeria observar.
Já metade da constelação do Leão tinha por esta altura transitado o meridiano local, estando portanto em boa posição para a observação dos dois grupos de galáxias brilhantes que de certa forma, como que anunciam a autêntica parada de galáxias das duas constelações que atrás desta se seguem - a Cabeleira de Berenices e a Virgem.
Comecei pelos dois pares de galáxias, formado pelo par NGC 3368 (Messier 96) e NGC 3351 (Messier 95) e pelo par NGC 3379 (Messier 105) e NGC 3384.
Este grupo está situado a meio da barriga do leão, sendo por vezes um pouco difícil de apontar. As galáxias espirais Messier 95 e Messier 96 distam entre si pouco mais de meio grau e ficam agradavelmente folgadas no grau e meio da Panoptic 24. Embora semelhantes na forma e orientação, a Messier 96 aparenta ser algo mais brilhante.
Mais abaixo (na vista invertida) a Messier 105 que embora mais pequena e menos brilhante que as anteriores, não se deixa de notar como um pequena nebulosidade arredondada típica das galáxias elípticas, apesar da sua mais pequena e pálida companheira NGC 3384 já tivesse sido um desafio para ser detectada, tendo que usar visão indirecta. Este pequeno grupo estima-se que esteja situado a 31 milhões anos-luz.
O grupo seguinte é o chamado Trio do Leão, que é bastante fácil de encontrar, pois fica situado a meio do fémur da pata traseira do bicho entre a Iota e a Teta , sendo este trio constituído por 3 galáxias, duas das quais membro do catálogo de Messier. Todas elas são confortavelmente visíveis no campo da 24mm com apenas 50x. Este é um grupo curioso, pois também todas elas são marcadamente alongadas, especialmente depois de um observação mais cuidada usando um pouco mais de magnificação. As espirais Messier 65 e Messier 66 são os vértices mais brilhantes deste triângulo rectângulo formado com a maior e bem menos brilhante NGC 3628 , que apesar de ter uma magnitude de 9.5, não será o parâmetro mais aconselhado para ter uma boa estimativa da sua visibilidade porque neste caso o brilho de superfície é de 13.8, um valor algo baixo, daí a sua fraca visibilidade. A NGC 3628 é distintamente alongada, sendo um galáxia vista "de lado". Este grupo à semelhança do anterior também se encontra a cerca de 31 milhões de anos-luz.
Para finalizar a visita a Leão, o Karkoschka aconselhava a visita à galáxia espiral NGC 2903. A sua localização aplica-se perfeitamente a frase "na boca do leão", sendo por tal extremamente fácil de encontrar, não só por isso, mas também por ter um brilho e tamanho aparente invulgarmente grande para um objecto não Messier. De qualquer forma com um 20cm é difícil falhar. Tem uma forma elongada que corresponde em grande parte ao núcleo, não tendo sido possível notar qualquer dos seus braços em espiral.
De seguida passei para a Ursa Maior que estava a passar pelo zénite, decidindo virar para lá a minha atenção e observar os messiers e NGCs brilhantes daquela que é a terceira maior constelação da esfera celeste. A grande Ursa alberga várias dezenas de galáxias, visíveis com telescópios de abertura moderada, mas como habitual, Messier tratou de catalogar as mais brilhantes, assim como umas nebulosas planetárias mais interessantes de se observar: a da Coruja.
Para começar bem e continuar na senda dos pares e trios celestes, fui fazer a vista ao sempre obrigatório par de galáxias Messier 81 e Messier 82 NGC 3031 e 3077 respectivamente. Este par ainda se pode observar em apenas um grau e meio, embora cada uma na sua extremidade do campo. Mas fora a perda de algum contexto, este par é um dos meus favoritos, não só pela a sua graciosidade, mas pelo o contraste entre formas. A Messier 81 é uma grande nebulosidade com um centro oval e brilhante, notando-se, mas não descriminados os braços bem mais ténues que a brilhante condensação do seu núcleo com um formato oval. A Messier 82 por outro lado, tem um formato quase rectangular, sendo notórias certas falhas ao longo de todo o seu comprimento causadas pela poeira interestelar. Ambas revelam mais detalhe e forma quando observadas com mais magnificação, tendo para tal usado a Nagler 9 a 130x, revelando a Messier 81 bem maior do que a mais baixa magnificação. Esticando ainda mais o campo, é possível observar uma outra galáxia bem mais modesta no tamanho e brilho, a NGC 3077 que não passa de uma pequena nebulosidade que no entanto é facilmente observável. Mais acima da Messier 81 e a cerca de grau e meio, também se pode observar outra pequena nebulosidade sem qualquer detalhe: a galáxia espiral NGC 2976. Todas esta galáxias formam o grupo da Messier 81, encontrando-se relativamente perto a cerca de 13 milhões de anos-luz. Bem afastada deste grupo encontra-se a relativamente fácil de encontrar NGC 2841, uma espiral que se situa perto da teta UMa, a cerca de grau e meio, sendo um pequena difusa um pouco alongada.
Continuando, apontei para outro curioso par, mas de distâncias absolutamente díspares. A nebulosa planetária NGC 3587 (Messier 97), também conhecida pela nebulosa da coruja, que quase desta vez fez jus ao seu cognome. A 50x e com filtro UHC, notava-se algumas falhas na intensidade luminosa do disco de formato quase circular desta nebulosa. A 133x com filtro quase que praticamente desaparecia, mas sem filtro era possível reparar em muito breves momentos na falta de uniformidade em algumas das suas zonas, a que corresponderiam talvez aos olhos da coruja. Passei um bom tempo a tentar descortinar os tão cobiçados olhos e fiquei com a ligeira impressão de os ter visto momentaneamente. Mais em cima e ainda no campo da 24mm estava a NGC 3556 (Messier 108), notoriamente alongada e de brilho pouco uniforme. Está 18000x mais distante que a Messier 97 que ainda dista apenas 2500 anos-luz.
Fiz uma breve passagem pelo ignóbil Messier 40, que é uma estrela dupla que Messier talvez por ter a ocular embaciada julgou ser mais um "nebulosa". Um pouco mais ao lado fui revisitar o último objecto por mim observado quando fiz a minha primeira ronda pelo catálogo de Messier, a NGC 3992 (Messier 109). Esta galáxia é sinceramente complicada de discernir, mas não de encontrar, pois está bem perto de uma das estrelas brilhantes da Ursa: a gamma UMa. Essa estrela permite localizar facilmente a área da galáxia, mas ao mesmo tempo o seu brilho incomoda a sua detecção. Pelo seu pequeno tamanho e brilho de superfície baixo que ronda os 13.5 de magnitude, torna-se por vezes complicado detectá-la. Lembro-me de a ter visto primeiro num 12" (Merak), para saber do que é que andava à procura, a partir daí deixou de ser difícil. Usando a visão lateral e fazendo sair a gamma UMa do campo da ocular já se torna para mim quase imediata a sua detecção. Não há detalhes a descrever por motivos óbvios. Finalmente terminei este "tour" pela grande Ursa com a grande espiral NGC 5457 (Messier 101). Esta galáxia requere céus bem mais escuros para se conseguir discernir algum detalhe nos braços. Para além do seu enorme tamanho, pouco mais se pode observar, sendo extremamente difusa, inclusive o próprio núcleo. Num céu de magnitude 6 com um 60mm já vi mais que desta vez com o 20cm.
Acabei a noite numa outra constelação "mamífera" - na Cães de Caça, visitando o fotogénico par de galáxias NGC 5194 (Messier 51) e companheira irregular NGC 5195. Ambas evidenciam núcleos com brilho bastante acentuado, rodeados de nebulosidade que na Messier 51, que em breves flashs se conseguia discernir pelo menos um dos seus braços mais internos. Finalmente passei um bom quarto de hora a apreciar o brilhante enxame globular NGC 5272 (Messier 3). Este enxame está bastante distanciado de estrelas brilhantes, mas no entanto é fácil de encontrar, bastando fazer uma recta da alfa de Cães (cor Caroli) e a alfa do Boeiro (arcturo) : o enxame está situado quase no meio dessa recta (um pouco mais para o lado da Arcturo). Este globular é magnífico, especialmente quando observado com uma boa magnificação. Usei a zoom Nagler a 200x, sendo possível observar diversas "correntes" de estrelas a emanar do núcleo bastante concentrado, brilhante e algo difuso, faltando ainda muitas estrelas por resolver. É um bom substituto do Messier 13 que por enquanto ainda nasce muito tarde.
E pronto, foram duas horas bem passadas aqui no pátio, como já há muito tempo não passava. Pena ser raro e quando acontece, ser sempre num dia de semana de trabalho. Mas um dia não são dias e deve-se aproveitar pra olhar lá para cima sempre que se tiver oportunidade.
Referências:
O dia acabou com os dois astros mais brilhantes em conjunção: Lua e o cada vez mais brilhante Vénus.
Os crescentes lunares tem a particularidade de tornar possível observar, não só parte iluminada pelo o Sol, como também a parte iluminada pela a Terra. Na Lua, neste momento Terra está praticamente "cheia", e apresenta um tamanho aparente 4 vezes maior (2 graus). Tendo a Terra um albedo 10x maior resulta numa magnitude de quase -18, daí ser suficiente para iluminar e criar sombras na superfície lunar.
Lua e Vénus 2004-02-22 18:53 UTC |
A luz da Terra 2004-02-22 1904 UTC |
Vénus 2004-02-22 19:22 UTC |
Animação de Júpiter recolhida entre as nuvens. Foi pena perder o trânsito de Io e da Grande Mancha Vermelha umas horas antes. Visualmente a turbulência não esteve muito má.
Júpiter 2004-02-29 02:30-02:38 UTC |
Quando fui dar uma espreitadela lá fora, deparei com um belo halo lunar que era visível em toda a sua totalidade. Estive admirá-lo durante vários minutos até me lembrar de ir buscar a câmara. É pena não ter uma objectiva de maior campo, pois a G1 com o zoom no mínimo apenas permite registar metade deste curioso fenómeno atmosférico.
Halo lunar |
Hoje foi o dia em que houve a oposição e perigeu do maior planeta do nosso Sistema Solar, e para assinalar estes eventos, fiz a pequena animação abaixo, apesar das nuvens não terem dado muitas oportunidades. A oposição aconteceu às 5:05 e o perigeu às 10:00 da manhã, estando Júpiter distanciado 4,42570 unidades astronómicas que correspondem a cerca de 662 milhões de quilómetros.
Júpiter 2004-03-04 21:40-22:40 UTC |
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Raios cósmicos |
Configuração utilizada |
Conjunção da Lua com Júpiter 2004-03-06 19:21 UTC |
Este fim de semana do equinócio da Primavera serviu de palco para os mais diversos eventos e actividades astronómicas. Para além da própria efeméride do equinócio, em que cujo dia o Sol fica precisamente 12 horas acima e abaixo do horizonte, mas tal não sucedendo devido à refracção atmosférica em que o dia aparentará ser ligeiramente mais longo. Na realidade os dias em que a noite é realmente igual ao dia são 5 ou 6 dias antes (ou após no equinócio de Outono) - este ano aconteceu no dia 15 de Março.
Num feliz acaso, o equinócio aconteceu simultaneamente com a fase da Lua Nova, que é sempre uma ocasião aguardada com alguma ansiedade por quem também gosta de observar o resto do Universo, ainda com a grande conveniência de tudo isto acontecer num fim-de-semana. Toda esta conjunção favorável de factores fez com que um grande número de aficionados em Astronomia se dedicasse nestes dias, entre outras actividades, a tentar cumprir a Maratona de Messier, ou seja, tentar observar todos os objectos pertencentes à lista deste famoso caça cometas francês do século XVIII, ao longo de uma só noite.
Ao cair da noite, houve um interessante desfilar dos 5 planetas mais brilhantes que se encontravam todos acima do horizonte logo após o crepúsculo.
Começando com o Mercúrio a brilhar com a magnitude -1.1, mas no telescópio parecia estar a ser observado através de um prisma devido à sua baixa altitude. Este era seguido a uma boa distância por Vénus, que apresentava uma impressionante magnitude de -4.3, e devido à sua presente grande elongação, observava-se uma fase de Quarto com uma nitidez e recorte pouco usual. Bastante mais modesto, Marte brilhava com apenas 1.3 de magnitude, mas não deixou de ser um dos primeiros pontos de luz a surgir no crepúsculo. Mais brilhante do que as estrelas da constelação de Gémeos que neste momento o alberga, Saturno apresentava exactamente a magnitude de 0 dando-lhe uma presença bem destacada naquela área do Céu, e apesar de já se terem decorrido alguns meses após a sua oposição, ainda se consegue ter um bom par de horas para observá-lo convenientemente com um telescópio. E finalmente, o rei dos planetas, Júpiter, que neste momento se deve sentir algo enxovalhado pelo brilho fulgurante, mas no entanto efémero. de Vénus, apresentando uns sólidos -2.5 de magnitude durante praticamente toda a noite.
A maratona de Messier iniciou-se ainda com o Sol a alguns graus acima do horizonte, de modo a ter tempo para montar o equipamento para não falhar a sempre crítica observação dos primeiros objectos da lista de Messier. O Céu encontrava-se praticamente limpo, inclusive no horizonte do poente que era o mais importante para um bom início de maratona.Durante toda a maratona a temperatura e humidade foram relativamente baixas, tendo sido até mesmo agradáveis.
Todos nós já nos encontravámos prontos, mesmo antes do crepúsculo civil que se sucederia às 19:15, tendo entretanto até alguns observado alguns enxames abertos em Cassiopeia (Messier 103 e Messier 52 e em Perseu (Messier 34 e a planetária Messier 76).
Dos primeiros dez objectos do princípio da lista, sem dúvida que a galáxia Messier 74 em Peixes foi o maior desafio, e sinceramente dei-a por observada com um ponto de interrogação, pois deu-me a vaga impressão de a ter piscado por várias vezes no sítio em que deveria se encontrar. As três galáxias em Andrómeda Messier 31, Messier 32 e Messier 110 por outro lado não apresentaram grande desafio, assim como as galáxias Messier 33 em Triângulo e a Messier 77 em Baleia.
Os objectos seguintes na lista já se encontravam todos relativamente altos e eram fáceis de encontrar e observar, podendo-se já relaxar um pouco e pausadamente ir apreciando grande parte deles, entre outros, os enxames em Cocheiro (Messier 36, Messier 37 e Messier 38), em Orion ficaram dignas de registo a nebulosa Messier 78 que se apresentava bem grande e distinta, atestando uma noite de muito boa transparência, seguida da Messier 42/Messier 43 que no Obsession de 15" se observava em tons azulados e alaranjados respectivamente. Também em Orion foram observados objectos que requerem locais bem escuros, tal como a "Flame" que era observável em qualquer instrumento e a "Cabeça do Cavalo" num dez polegadas com um filtro H-Beta na ocular.
Até se chegar ao enxame de galáxias de Coma e Virgem, foi um pouco como "cumprir calendário", passando por todas as galáxias (e estrela dupla) das constelações da Ursa Maior, Cães de Caça e Dragão, salientando o bonito par que fazia a planetária Messier 97 (via-se nitidamente os "olhos" no 15") com a galáxia Messier 108. A região das constelações de Coma e Virgem iriam potencialmente ser as mais confusas devido ao enxame de dezenas de galáxias, que neste céu escuro muitas seriam visíveis com apenas 20cm, mas graças a um plano de observação inteligentemente delineado pelo Alberto tornou-se bastante fácil identificar todas as galáxias Messier no meio de toda daquela amálgama, em que por vezes se podia mais de 7 ou 8 galáxias no campo da ocular. Seguramente que este plano ainda foi maior ajuda nas aberturas maiores. Não demorou muito mais de um quarto de hora para dar baixa a todas estas galáxias à lista.
Depois de cumprida esta secção aguardou-se até que Messier 68 e a Messier 83 da Hidra subissem um bocado mais para finalizarmos a primeira parte da lista, tendo por esta altura praticamente todos nós encontrado e observado quase dois terços da lista, e a totalidade das suas galáxias. De seguida fizemos um intervalo para comer e conversar um bocado.
A segunda parte só se iria iniciar 2 ou 3 horas após, devido ao facto da maior parte dos objectos ainda se encontrarem a baixa altitude. Cada um aproveitou este intervalo para observar com mais atenção alguns objectos dentro dos quais destaco a Messier 51 e companheira NGC 5195 das quais tive a melhor vista de sempre, a galáxia Centauro A e o grandioso globular Omega Centauri, que no binóculo era simplesmente imponente.
Outros aproveitaram para dormitar um pouco, apanhar a contagem dos restantes, em especial no caso de um "loco" que estava a fazer a maratona com 3 telescópios e um binóculo simultaneamente! ou então como no meu caso, a usar o binóculo para fazer uma mini-maratona de 1 hora pelos Messiers que estavam visíveis no momento. Foi um bom momento de relaxe.
A segunda parte iniciou-se com vários objectos velhos conhecidos, os globulares Messier 13 e Messier 92 em Hércules e Messier 71 em Seta, seguidos dos enxames abertos Messier 29 e Messier 39 em Cisne, a planetária Messier 27 em Raposa.
Entretanto a cabeça do Escorpião já se começava a erguer assim como os globulares Messier 80 e Messier 4, também sendo possível observar os também globulares na parte central de Ofiúco: Messier 10, Messier 12, Messier 14 e Messier 107. O Messier 6 e Messier 7 deram uma das melhores vistas binoculares que tenho memória - muito bem enquadrados nos 7 graus e meio de campo do binóculo 7x50.
De seguida, passou-se "ao ataque" de objectos nos braços da nossa Galáxia, começando por cima em Escudo com os enxames abertos Messier 11 (esteve fabuloso) e Messier 26, saltando à Serpente para observar o solitário Messier Messier 16, e desbastando por aí abaixo toda a constelação de Sagitário, até se aguardar que os globulares da base do "pote" se colocassem um bocado mais altos.
Dos últimos sete objectos da lista, os globulares Messier 2 em Aquário e Messier 15 em Pégaso foram bastante fáceis, mas depois fiquei encalhado no globular Messier 75, no qual perdi demasiados e preciosos minutos para o tentar encontrar, assim como no globular Messier 55. Este globulares são fáceis de encontrar, mas a neblina que se fazia sentir no Nascente, assim como o céu que já estava a ficar claro demais, já não me permitiram diferenciá-los das estrelas. Quando dei por ela já não valia a pena sequer procurar pelos Messier 72 e Messier 73. Foram momentos algo desesperantes que tiveram o efeito de ter ficado subitamente com o vocabulário bastante colorido :), e por fim ter dado por terminada a maratona quando já só se conseguia ver estrelas de primeira magnitude.
No que me diz respeito, ficaram por observar os globulares Messier 55 e Messier 75 em Escorpião, o globular Messier 72 e as 4 estrelas de Messier 73 em Aquário e finalmente o infame globular Messier 30 em Capricórnio, que nenhum de nós conseguiu observar devido a estar extremamente baixo. Cinco Messiers aquém do objectivo, o que foi pena. Resta celebrar os 105 Messiers em conjunto com todos os outros objectos observados. Foi, apesar de tudo, uma longa e boa refrescadela do céu profundo na companhia de amigos.
A maratona de Messier é essencialmente uma prova de resistência, pois para quem possua algum conhecimento do céu, terá simplesmente de lutar contra a rotação da Terra, estando no mínimo garantidas pelo menos 11 a 12 horas de observação, razão pela qual se pode tornar cansativo - mas julgo que ninguém prestou atenção ao cansaço. Na realidade, observa-se bastante mais objectos para além dos Messier, e arrisco a afirmar que provavelmente se observou várias dúzias de não Messiers, dependendo da abertura utilizada.
Um destes anos é para tentar outra vez...
Nesta noite, ainda mais companheiros se juntaram ao grupo, tendo também algum deles efectuado a maratona, mas infelizmente a noite não esteve tão favorável, havendo mais nuvens e com neblinas ainda mais altas. No entanto parecia que naquele monte se estava a realizar um grande encontro de Astronomia, o que de resto, não deixou ser verdade, pois tinha muito mais telescópios que a grande maioria. Estavam nada mais nada menos que dois 18" um 15", três de 12", dois ou três 10",outros tantos de 8" e 6", e ainda Maks de 5",6" e 7", e finalmente um refrator APO de 175mm e obviamente o meu takito.
Passei a noite a fotografar constelações "às cavalitas" com a câmara fotográfica e objectiva de 50mm, e enquanto ficava em exposição, ia dando algumas espreitadelas nos telescópios em redor, especialmente no apo de 7 polegadas, que proporcionou impressionantes imagens dos gigantes gasosos.
Já para o fim da noite, fui experimentar a ATIK-1HS com o Takito montado na Takahashi P2-Z resultando nas imagens abaixo, que até ficaram decentes para o tempo de exposição, 12 minutos cada (12x1 min).
Trio de Leão - Messier 65, Messier 66 e NGC 3628 |
Messier 104 "Sombrero" |
Messier 101 |
Ainda mais fotos e relatos em http://www.atalaia.org/.
Mercúrio, Lua, Vénus e Marte em conjunção 2004-03-22 19:47 UTC |
Lua e Mercúrio 2004-03-22 20:03 UTC |
Lua e Vénus (mosaico) 2004-03-24 20:48 UTC |
Lua e Marte 2004-03-25 21:17 UTC |
Lua e Júpiter 2004-04-02 22:32 UTC |
Não é todos os dias que conjunções de planetas com objectos de céu profundo brilhantes acontecem, nesta em particular, as Plêiades (Messier 45) ganharam um brilhante companheiro, Vénus, em jeito de supernova, que vai a caminho da sua máxima elongação (afastamento do Sol) que se dá a 29 deste mês.
Vénus e Plêiades (Messier 45) |
Vénus 2004-04-03 21:42 UTC |
Um dos cometas observáveis nesta altura ao raiar do dia. Embora no binóculo 7x50 não se observasse grande parte da longa cauda, a imagem abaixo mostram uma longa cauda entre 3 e 4 graus.
Cometa C/2004 F4 (Bradfield) e ISS 2004-04-24 04:43 UTC |
Nesta madrugada o cometa apresentava uma longa cauda entre 4 a 5 graus de extensão, mas infelizmente não foi possível observá-lo a olho nu.
Cometa C/2004 F4 (Bradfield) 2004-04-25 04:25 UTC |
Um halo solar de 22 graus. Fenómeno atmosférico causado por nuvens altas. São muito frequentes, mas um bocado difíceis (e perigosos) de fotografar.
Fim de tarde no miradouro da praia de S. Pedro de Moel para tentar registar um dos mais brilhantes cometas dos últimos tempos.
O cometa foi visível a olho a nu estando bastante perto da alfa do Unicórnio, sendo possível observá-lo no binóculo mesmo antes do crepúsculo náutico. Não apresenta uma grande cauda, mas tem no entanto tem uma coma de grande dimensão e muito brilhante. Comparando com a alfa de Unicórnio, custa a crer que o cometa tivesse a magnitude estimada de 0.9. Mesmo desfocando a Procyon de 0.4 magnitude (os Fujinon como tem foco individual para cada olho são bastante jeitosos para estas estimativas), o cometa era notoriamente mais ténue. Não lhe daria mais de 2.5-3 de magnitude integrada. De qualquer modo, é um dos mais brilhantes depois do Ikeya-Zang em 2002.
Lá perto estavam os enxames abertos Messier 46 e Messier 47.
Farol |
Vénus |
Cometa C/2001 Q4 (NEAT) 2004-05-07 21:30 UTC |
Cometa C/2001 Q4 (NEAT) 2004-05-07 20:47 UTC |
Apesar com muitas nuvens altas, ainda foi possível fazer imagem deste cometa mesmo com as luzes da cidade de Leiria quase por baixo.
Cometa C/2001 Q4 (NEAT) 2004-05-08 20:36 UTC |
Cometa C/2001 Q4 (NEAT) 2004-05-11 20:23 UTC |
Cometa C/2001 Q4 (NEAT) 2004-05-11 20:31-36 UTC |
Cometa C/2001 Q4 (NEAT) & Messier 44 2004-05-15 21:00 UTC |
Vénus 2004-05-15 19:25 UTC |
Equipamento |
Noite aberta, mas já com um crescente lunar bem acentuado e pouca transparência devido a neblinas altas, estas condições permitiam apenas um céu com magnitude visual que não ultrapassava de 4.
A tradicional "maldição" de céu encoberto parece também se aplicar ao equipamento de imagem - ainda não consegui ter uma única noite sob céu escuro... Mas para ir treinando tanto a aquisição como o processamento de imagens a cores, decidi tentar pela a primeira vez fazer a imagem do tradicional globular Messier 13 em Hércules usando a DSLR (Digital Single Reflex Lens) Nikon D70 e o Takahashi FC-60.
Os enxames globulares são objectos relativamente fáceis de capturar, necessitando de relativo pouco tempo de exposição para revelarem a sua natureza. A maior dificuldade é até mesmo o excesso de exposição, podendo ficar o núcleo "queimado" e também as estrelas saturarem, perdendo assim as suas cores. Depois de alguns testes cheguei ao valor de 120 segundos por exposição a ISO 800, que era um bom equilíbrio entre o ruído, seguimento, rácio focal, condições atmosféricas e locais, e por fim a imagem obtida.
Uma das primeiras dificuldades é a focagem propriamente dita, que à semelhança dos CCDs refrigerados é necessário esperar algum tempo pela imagem (embora por razões diferentes). Com a Nikon usando o controlo remoto com o portátil é operação para durar no mínimo 10 segundos para cada imagem em jpeg na maior compressão (cerca de 700Kb cada) sendo depois necessário analisar a focagem no ecrã com qualquer programa de gráficos. O TFT da câmara é praticamente inútil para avaliar correctamente a focagem porque o "zoom" de visualização é demasiado pequeno. Neste aspecto as webcams deixaram-me mal habituado, pois a imagem surge praticamente em contínuo sendo de longe bem menos penosa a sua focagem.
De seguida, faz-se umas exposições para verificar se a montagem está equilibrada, e logo após é iniciada a tediosa tarefa de cronometrar as diversas exposições, para a qual estou a utilizar preguiçosamente o relógio "analógico" do Windows. Infelizmente o controlo remoto por USB apenas permite exposições até 30 segundos, tendo-se que usar o controlo remoto de infra vermelhos para abrir e fechar o obturador para exposições com maior duração.
O processamento da imagem é praticamente todo feito usando o IRIS do Christian Buil (http://www.astrosurf.com/buil) que apesar do interface de utilizador pouco ortodoxo, é um programa com bastante funcionalidades para tratar imagens de 48 bits de grande formato. É possível converter, calibrar, registar e acumular imagens RGB 48 bits com meia dúzia de comandos. A quantidade de espaço que necessita pode-se considerar enorme : para 10 imagens é necessário pelo menos 2 gigabytes! e de pelo menos uma boa meia hora até chegar à imagem final pré-processada (Pentium 933 MHz 512M mem) .
A imagem abaixo embora de pouca profundidade, pelo menos ainda ficaram alguma das cores das estrelas, não sendo comparável nestes aspectos a outra imagem de Messier 13 que fiz com a ATIK-1HS precisamente com o mesmo telescópio e praticamente nas mesmas condições. A webcam é definitivamente bem mais sensível, mas os 2 graus por 1 grau e meio de campo que CCD da D70 disponibiliza (na distância focal utilizada) são realmente imbatíveis para enquadrar e dar contexto aos objectos capturados.
Messier 13 e NGC 6207 |
Beta Cygni - Albireo |
Noite de Lua cheia para registar este satélite iridium com magnitude de -6 e altitude como o Heavens Above previu. Os "flares de Iridium têm picos que não ultrapassam os 4, 5 segundos de duração. Teve de facto, um brilho aproximado do previsto (talvez menos) e estendeu-se por 7 ou 8 graus (um punho com o braço estendido) e a olho nu, cerca de 10 segundos.
Iridium 40 23:51 |
Este tão esperado evento astronómico aconteceu num dia que se pode considerar praticamente perfeito, com céu limpo por todo o País e durante todo o evento. As condições meteorológicas eram realmente o único aspecto que poderia impedir presenciar tão raro e único evento.
Tudo começou algumas horas antes, com a carga do carro com o equipamento, estando pronto a seguir os buracos nas nuvens se fosse caso disso, mas as imagens de satélite perto das 3 das manhã eram bastante animadoras (felizmente ao contrário das previsões em vários websites), e lá arranquei para a Sra. do Monte em Cortes, de modo a chegar a tempo de ainda poder ver a estrela Polar para alinhar a montagem.
O nascer do Sol marcou o início de algo não presenciado pela Humanidade faz mais de 120 anos, não somente importante por este facto, mas sim porque este trânsito, é só por si um evento impressionante - até poderia acontecer todos os anos, porque não deixaria de ser uma bela demonstração da mecânica do nosso Sistema Solar, logo o desejo de presenciar na primeira pessoa foi forte. Houve a inevitável excitação e azáfama natural de querer observar, apreciar e registar simultaneamente uma cena que nunca mais se irá repetir na vida. Existem momentos únicos e este foi um deles.
O Sol às 5:23 UTC a 2 graus de altitude |
Foi possível fazer imagem o Sol antes de Vénus começar "a morder" o limbo, mas a turbulência e nuvens não deixou obter imagens muito nítidas, mas no entanto proporcionou várias imagens do Sol fortemente distorcido.
Deixei as máquinas a registar o famoso "efeito de gota" que ficou até bastante perceptível na animação do ingresso. Realmente, julgo que o efeito de gota está bastante relacionado com a turbulência, pois no caso do egresso não consegui detectar tal efeito nem nas imagens nem visualmente.
O efeito de "gota" |
Mesmo após ter visto simulações e imagens sobre o evento, nada me preparou para aquele enorme disco absolutamente negro e perfeito quando havia momentos de pouca turbulência. A sensação visual e tridimensional acho que será irreproduzível. Estando habituado a observar o Sol praticamente todos os dias, achei esta "mancha preta" realmente insólita e fora de comum. Durante o trânsito foram várias as vezes que me pus a apreciar tal espectáculo, intercalando com pequenas sonecas interrompidas pelo o alarme de 12 em 12 minutos para ir fazer mais uma imagem.
Até que chegaram os derradeiros momentos do trânsito e mais uma vez a azáfama foi grande. Um dos telescópios (Tak FC-60) ficou encarregado de fazer imagens de 10 em 10 segundos enquanto no ETX90 fui intercalando com registo de filmes e observação visual. Foi uma longa e excitante sessão, num dia perfeito em não faltou ar puro e Sol para o primeiro bronzeado do ano.
As imagens e animações abaixo são a recordação material que fica para mais tarde apreciar e relembrar e obviamente partilhar por todos os que se fascinam com estes momentos.
Nota importante:
Em todas as imagens e observações foram utilizados com filtros solares apropriados para a observação visual do Sol através de um telescópio. Estes filtros só deixam passar 0.00001% da intensidade da luz, assim como bloqueiam completamente as radiações nocivas, tais como os UV.
Animação de ingresso |
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Animação do trânsito |
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Animação de egresso Animação de egresso (centrada no planeta) |
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Trânsito 05:45 - 11:00 UTC |
Foi pena não estarem presentes manchas suficientemente grandes e escuras para contrastarem com a silhueta de Vénus, pois tornaria ainda mais interessante para quem observasse o Sol pela a primeira vez. Tive esperança que os grupos 0627 e 0628 se desenvolveriam mais, mas tal não ocorreu o que é normal para actual fase do ciclo solar.
A meio do trânsito |
Tendo Vénus praticamente o mesmo diâmetro da Terra, esta silhueta tem o tamanho do nosso próprio planeta se observado a cerca de 43 milhões de quilómetros. Mas ainda mais espantoso é que o Sol ainda se encontrava mais de 100 milhões de quilómetros atrás... tudo fica anão ao pé do Sol. Se hipoteticamente transportássemos a sombra até à "superfície" do Sol a silhueta não seria muito que metade da distância entre as duas maiores manchas solares presentes na imagem acima (ao centro).
O Caminho |
Dos melhores momentos do trânsito |
Contacto III - 11:06:04 UTC |
Contacto IV - 11:25:08 UTC |
em http://vt2004.imcce.fr/vt2004i/Index.php |
Vistas do local e equipamento |
* para saber mais detalhes relativos a este evento ver http://www.tv2004.org/
As noites tem sido bastante límpidas aqui no pátio, e resolvi fazer um mini comparativo entre a Atik-1hs e a Nikon D70 numa das maiores nebulosas planetárias do nosso céu - a Messier 27.
A noite não chegava a 5 de magnitude limite visual, que é na prática o melhor que se consegue aqui no pátio, mas só era possível observar acima do Equador Celeste, tanto por obstrução (completamente rodeado de casas) quer por luzes dos vizinhos.
As imagens têm sensivelmente o mesmo tempo de integração, e foram feitas com comprimento focal de 500 mm, que corresponde a f/8.33 no pequeno refrator de 60mm . A diferente escala é devido ao tamanho do pixel ser 7.4 microns na D70 e 5.6 microns na Atik. Estavam cerca de 20 graus de temperatura ambiente que não ajudaram muito a evitar o ruído térmico.
É fácil verificar qual o campeão da sensibilidade. A Atik ganha por larga margem, sendo possível encontrar estrelas até 18 de magnitude. A D70 ficou-se pelos 15, mas com o bónus de ser a cores. Também o tamanho do pixel da Atik é mais adequado, resultando numa relativa boa amostragem de cerca de 2 segundos de arco, que é a resolução máxima prática de uma abertura de 60mm e também por muitas vezes a praticável com a turbulência normal independentemente da abertura. A DSLR por outro lado, necessita de muito mais luz, a eficiência é talvez uma duas magnitudes menor, sendo portanto obrigatório aberturas bastantes maiores para obter imagens "decentes".
Obviamente, ambas as câmaras beneficiariam de uma abertura maior, não só porque haveria mais ganho de luz, mas sim também por ganho de flexibilidade. Se por exemplo se utiliza-se por exemplo um refrator de 90 com a mesmo comprimento focal (500mm) resultaria numa relação focal de 5.6. Em termos práticos, resulta que necessitaria metade do tempo de exposição para fazer exactamente as imagens abaixo. Isto daria flexibilidade para por exemplo baixar o tempo de exposição de cada fotograma, reduzindo assim o ruído térmico tornando as imagens matéria prima muito mais limpas logo à partida. Ao contrário das câmaras refrigeradas, as webcam e dslrs são limitadas no tempo de exposição máximo - cerca de 4 a 5 minutos.
A diminuição do tempo de exposição permite também vencer a maior ou menor precisão de seguimento da montagem, que geralmente é o problema que fica caro de resolver. Tendo a melhor câmara e telescópio do mundo numa montagem não adequada, apenas resulta na obtenção das melhores imagens riscadas do mundo...
A título de curiosidade, cheguei a fazer uma exposição de 4 minutos sem ser visível qualquer arraste (com a D70) - tudo graças à excelente montagem Takahashi Takahashi P2-Z , que embora não tenha as modernices das montagens actuais (Goto, PEC, Autoguiding, motor de declinação e até um simples comando de mão), tem no mínimo o que é o necessário para astrofotografia básica : precisão de seguimento.
Ambas imagens foram processadas no Iris, tendo a imagem da Nikon demorou consideravelmente mais tempo e trabalho a processar, assim como a sua captura não ter o conforto dos automatismos do K3CCD Tools.
Messier 27 |
Messier 27 |
Imagem de 2 minutos registada aqui no pátio através de uma objectiva de 50mm a f/4.
Em volta da Gamma Cygni |
Abaixo está uma imagem de Vega (Alfa Lyrae) na resolução original. Vega está a 25.3 anos-luz, e sua 1.5 massas solares irradiam 54 vezes a luminosidade do nosso Sol, brilhando há "apenas" 385 milhões de anos (2 terços da sua vida esperada). A sua cor é um standard pela qual todas as outras estrelas são comparadas, sendo também a definição de branco e a primeira estrela a ser fotografada em 1850 com um daguerreótipo. Vega forma o Triângulo de Verão, conjuntamente com a Altair em Águia e Deneb em Cisne que são as suas respectivas alfas. Tendo em conta a precessão, Vega será daqui a 10000 anos a estrela polar do nosso hemisfério, apesar de não se aproxime mais que 4 graus e meio do polo Norte verdadeiro.
Vega |
NGC 6675 |
É praticamente inútil insistir em capturar nebulosas a partir daqui do pátio. O céu não é muito escuro, pouca abertura, e também a baixa sensibilidade da câmara nessa parte do espectro, resultando em imagens praticamente em "branco" nesses tipos de objectos. É pena, mas enfim, era o esperado...
Sendo assim, a astrofotografia com a DSRL aqui no pátio fica reduzida a enxames e uma ou outra galáxia.
A imagem abaixo, tinha como alvo apenas do enxame de Messier 39, mas na primeira imagem, reparei numa aglomeração "suspeita", que verificando no skymap se tratava no NGC 7082, fazendo também ficar no "retrato" o pequeno mas condensado NGC 7062. Se existe uma boa característica nas DSLR, é o seu gigantesco CCD que permite enquadrar uma área enorme de céu, que nesta imagem 8 graus quadrados (planos) dá bastante contexto a objectos que dele necessita, tal como é o cado do Messier 39.
Enxames Messier 39, NGC 7082 e NGC 7062 |
A primeira noite sob céu escuro desde há dois meses.
A noite foi curta, não só por ser de Verão, mas também com a Lua já a passar o quarto crescente que apenas se pôs depois das 2 horas da manhã, tendo limitado grande parte da noite para observação de difusas.
A partir das 2 da manhã, fiquei entretido a fazer as imagens abaixo, com a curiosidade de ver o que que dali saía. Pelos resultados obtidos, decididamente não vale a pena estragar valioso tempo sob céu escuro com a Nikon D70 e uma abertura tão pequena, pela simples razão de que a combinação é muito pouco eficiente.
A noite foi bastante concorrida, com talvez uma dúzia de telescópios e outras tantas pessoas. Grande parte das quais a fazer imagens, como os monitores dos portáteis não deixavam de denunciar. Alguém que visse a cena de longe poderia muito bem concluir que era com certeza no mínimo um contacto imediato de 2° grau :). Ver aqui imagens que foram lá feitas.
Visualmente, passei a vista com o binóculo pela a região zona de Escudo, Sagitário e Escorpião e no final da noite na majestosa Galáxia de Andrómeda que se estendia por mais de 2 graus, assim como o duplo de Perseu e os enxames de Cassiopeia e Perseu.
Para o fim da noite passou um satélite com brilho oscilante no zénite e também a ISS que fez uma brilhante passagem com uma magnitude seguramente superior a -2, tendo mandado um flash quando já estava a começar a desaparecer. Nunca tinha reparado nesse fenómeno, mas talvez tenha acontecido por ir na direcção do Sol nascente.
Vénus após passados quase 20 dias do seu histórico trânsito, estava bem brilhante com uma magnitude de -4.4 e já distando cerca de 26 graus do Sol fazia companhia das Plêiades tendo também assinalado o início da desmontagem do equipamento.
Galáxias Messier 31 (Andrómeda), Messier 32 e Messier 110 |
A galáxia de Andrómeda é simplesmente gigantesca, e esta pálida imagem dela não lhe faz grande justiça. Contudo, ainda se pode discernir as faixas de poeira e traços das regiões de formação de estrelas. A gigante azul (Nu Andromedae) em baixo à direita é a terceira estrela que geralmente indica a galáxia em céus menos escuros.
Enxames globulares Messier 4 e NGC 6144 |
A paisagem acima achei interessante por conter a fabulosa supergigante vermelha Antares (Alfa Scorpii) a contrastar com um dos mais belos globulares - o Messier 4. Acima está um outro globular bem mais distante e bem menos característico.
Nebulosas Messier 8 "Lagoa" , Messier 20 "Trifida" enxames Messier 21, NGC6 548, globular NGC 6544, Bochum14 |
Uma das áreas mais bonitas do nosso hemisfério. Nesta imagem estão duas das mais coloridas nebulosas, a Messier 8 "Lagôa" e a Messier 20 "Trífida". A Messier 20 sendo de reflexão (azul) e de emissão (vermelha) apresenta um belo contraste rasgado por "rifts" de poeira interestelar. Ao lado da da "Trifida" está o enxame Messier 21 que salta bem à vista com as suas brilhantes estrelas no meio deste mar de estrelas do braço da Galáxia. Interessante também, mas pela sua cor é o globular NGC 6544, que por se encontrar na direcção do centro da Galáxia apresenta um "reddening" muito acentuado causado pela poeira estelar, sendo também um dos mais pequenos globulares conhecidos.
Vénus e Plêiades |