Pátio 291 - Vénus e Lua
Vénus e Lua 19:14 UTC |
Vénus e Lua 19:14 UTC |
Mercúrio e Lua 20:52 UTC |
Enquanto preparava o eclipse lunar, fiz algumas experiências a capturar imagens de planetas com o CN-212 e a Canon 40D. É muito pouco prático e trabalhoso usar uma DSLR, porque para imagens planetárias, seriam necessárias umas boas centenas de exposições para obter uma imagem decente, mas deu no entanto para verificar que o CN-212 em modo Cassegrain pareceu prometer boa qualidade e alta resolução.
Marte 2018-07-26 22:18 UTC |
Saturno 2018-07-26 21:09 UTC |
Júpiter 2018-07-23 21:38 UTC |
Corona lunar 2018-07-26 23:24 UTC |
Estive também a vaguear pela a cidade de Leiria, à procura de locais com horizonte livre de fios, obstáculos e luzes. Está a ser cada vez mais complicado encontrar um horizonte sem qualquer coisa a estorvar...
Raios anti-crepusculares 2018-07-26 19:54 UTC |
Em Leiria, a nebulosidade estava muito incerta, pelo que decidi viajar até ao Observatório Astronómico em Constância, que se situa um pouco mais para sul e interior, e mais importante, depois da Serra de Aire, que suspeito funcionar como uma barreira natural das nuvens.
No observatório estava a decorrer uma bem concorrida sessão pública de observação deste evento (e também dos planetas), com a direção de Máximo Ferreira, a quem agradeço a cortesia de ter permitido acesso ao telhado da cúpula do telescópio, agradecendo também ao restante pessoal e visitantes pela companhia.
Observatório Astronómico de Constância |
Equipamento |
Estando a Lua muito próxima do seu apogeu (27 Jul 2018 5:42 a 406215.8 km), este eclipse estava destinado a ser o mais longo do século XXI, com a totalidade a durar 1h:46m de um total de 6h:16m na sua passagem pela a penumbra e umbra. Como se pode verificar na simulação ao lado, a Lua passou muito próximo do centro da umbra (circunferência interior), resultando no eclipse mais escuro que tive ocasião de observar, fazendo uma estimativa do L entre 0 e 1 na escala de Danjon.
Tão escuro esteve o eclipse, que apenas consegui capturar a Lua usando exposições longas e apenas após o planeta Marte aparecer que estava cerca de 6 graus pelas "5 horas". Numa ainda mais rara coincidência, Marte esteve em oposição apenas umas horas antes, às 05h:07m. Dois em um!
Diversas fases do eclipse |
Lua durante o máximo do eclipse 20:46 UTC |
Lua eclipsada e Marte |
Lua eclipsada e Omicron Capricorni |
Os próximos eclipses lunares visíveis em Leiria (e provavelmente no resto de Portugal continental) serão em:
A oposição e a maior proximidade da Terra, não costumam ser coincidentes. Esta efeméride, é a chamada aparição periélica, significando que Marte está perto do seu periélio que será em 15 de Setembro (o ponto da órbita de menor distância ao Sol). Isto deve-se à excentricidade (0.09341233) da sua órbita, que o faz passar uns bons milhões de quilómetros mais para o interior do sistema solar, e por consequência, mais perto da Terra, cuja a órbita é quase circular. A diferença entre o periélio (1.38133346 AU) e o afélio (1.66599116 AU) é cerca de 42 milhões de quilómetros, que é a diferença máxima que pode existir nas oposições.
Na imagem abaixo, estava somente a 0.38498076 AU (57,592,302 km) com 24.3 segundos de arco de dimensão e a brilhar uns fulgurantes -2.8 de magnitude.
Marte 2018-07-31 23:45 UTC |
Perigeu | Distância (AU) | Oposição | Periélio |
---|---|---|---|
31-07-2018 07:50 | 0,38496 | 27-07-2018 05:13 | 16-09-2018 12:53 |
06-10-2020 14:18 | 0,41492 | 13-10-2020 23:26 | 03-08-2020 09:03 |
01-12-2022 02:17 | 0,54447 | 08-12-2022 05:42 | 21-06-2022 13:06 |
12-01-2025 13:37 | 0,64228 | 16-01-2025 02:39 | 08-05-2024 10:43 |
20-02-2027 00:13 | 0,67792 | 19-02-2027 15:51 | 26-03-2026 07:08 |
29-03-2029 12:55 | 0,64722 | 25-03-2029 07:49 | 11-02-2028 12:13 |
12-05-2031 03:49 | 0,55336 | 04-05-2031 12:04 | 29-12-2029 13:16 |
05-07-2033 11:18 | 0,42302 | 28-06-2033 01:30 | 16-11-2031 08:07 |
11-09-2035 14:20 | 0,38041 | 15-09-2035 19:39 | 21-08-2035 11:34 |
11-11-2037 07:59 | 0,49358 | 19-11-2037 09:10 | 08-07-2037 06:52 |
28-12-2039 14:46 | 0,61092 | 02-01-2040 15:28 | 26-05-2039 10:20 |
05-02-2042 07:56 | 0,67174 | 06-02-2042 12:05 | 12-04-2041 13:35 |
14-03-2044 06:06 | 0,66708 | 11-03-2044 12:51 | 28-02-2043 09:55 |
24-04-2046 04:32 | 0,59704 | 17-04-2046 18:07 | 15-01-2045 07:42 |
12-06-2048 01:40 | 0,47366 | 03-06-2048 14:51 | 20-10-2048 05:37 |
15-08-2050 12:54 | 0,37405 | 14-08-2050 07:52 | 07-09-2050 07:12 |
20-10-2052 5:11 | 0,44091 | 28-10-2052 06:34 | 25-07-2052 12:52 |
E ainda... fica o planeta Neptuno, oitavo e último planeta maior do nosso sistema solar, que por estar a mais de 4 mil milhões km, não é propriamente muito fotogénico. Uma bolinha azul com 7.8 de magnitude e apenas 2.3 segundos de arco. Mas faltava este cromo na coleção...
Neptuno 2018-08-01 00:14 UTC |
Localizado perto da tampa do "bule" da constelação do Sagitário, distando 3000 parsec (9780 anos-luz) (Forbes+, 2008), e com uma respeitosa idade cerca de 12,5 mil milhões de anos (VandenBerg+, 2013), este enxame globular visualmente é um dos mais espectaculares: é grande, brilhante, muito comprimido, mas no entanto resolvem-se muitas estrelas, assemelhando-se a um verdadeiro monte de fino açúcar no meio de um mar de estrelas do braço da nossa Galáxia.
Capturei estas imagens do Messier 22 perto do seu trânsito do meridiano, que à latitude do Pátio, sobe pouco mais de 25 graus acima do horizonte, o suficiente para escapar um pouco à poluição luminosa (luz desperdiçada) que infelizmente está por todo o lado.
Com esta configuração, a imagem tem uma amostragem de 1,39 segundos de arco por pixel, e posso afirmar que as condições de observação estiveram bem longe desta marca. Num sistema óptico de f/3.9 a focagem é muito crítica, e com estrelas comáticas nas extremidades do campo, como é fácil constatar na imagem na sua resolução original (clicar na imagem).
Não usei processamento destrutivo (unsharp etc), nem sequer apliquei "darks" nem "flats", pois tenho a impressão que estragam mais do que ajudam: as cores das estrelas ficam muito alteradas e enfim, esta imagem é para ser "ilustrativa" e não científica. Apenas ajustei os níveis e balanço de cores para que a cor das estrelas fiquem o mais natural possível. A combinação de imagens foi feita com filtro desvio padrão normal 2.0, que basicamente limpa os pixels quentes e até um satélite que se atravessou.
Uma coisa que só agora notei, é que a Canon 40D regista a temperatura do sensor (CMOS)! ora esta!. A temperatura é um parâmetro importante, porque está diretamente relacionado com o ruído da imagem, que no entanto, pode ser subtraído à imagem usando os "darks". Mas tem um senão, a imagem e o "dark" tem que ter a mesma duração, ganho e temperatura que apenas as (boas) câmaras astronómicas refrigeradas conseguem regular com precisão. Escusado será dizer que cada imagem capturada foi a uma temperatura diferente, a primeira tinha 25° e a última 30°.
Messier 22 (NGC 6656) |
Ainda de dia, comecei por montar o kit Newton no CN-212. Este kit transforma-o num simples reflector newtoniano, pois apenas se troca o espelho secundário - um procedimento de 2 minutos.
O que é que o Isaac Newton tem a ver com isto - foi ele que desenhou e construiu o primeiro telescópio com este design.
Usando as ferramentas de colimação e algumas horas da vida, consegui por o secundário alinhado com o primário e o ponto preto muito próximo do centro. As imagens com a Canon 40D, que tem um sensor de tamanho razoável, sairam bastante melhor, com iluminação quase central, mas apenas com as estrelas aceitáveis nos 50% centrais. A focagem foi um pouco ao lado... é difícil avaliar o tamanho das estrelas no pequeno ecrã da máquina fotográfica, que nem sempre está a jeito. A relação focal f/3.9 não perdoa. Nada mesmo.
Coloquei às cavalitas do CN-212 o meu estimado Takahashi FC-60 para fazer autoguiamento. Adoro este pequerrucho, este telescópio é para mim perfeito. Usá-lo para fazer guiamento é como alimentar burros a pão-de-ló, que neste caso, é o software de seguimento (PHD2) que, com certeza aprecia um campo cheio de estrelas redondinhas e perfeitinhas. Agarrado a esta pequena maravilha, estava a câmara Atik-16IC monocromática, que foi recentemente despromovida a tirar imagens às mesmas estrelas obsessivamente durante horas.
Aqui da varanda do pátio não é possível ver a estrela polar, por essa razão, o alinhamento polar da montagem estava muito por grosso. Apesar disso, os GO-TO (apontamento assistido por computador) têm caído dentro de um grau de campo, mas outras vezes, descamba para lá da salvação.
Takahashi CN-212 em configuração reflector newtoniano |
Toda esta geringonça é apenas amplamente suportada no Microsoft Windows, mais precisamente, por culpa do Dot.net, que a plataforma ASCOM obriga a instalar (a meu ver, um erro crasso para portabilidade entre sistemas operativos). Como uso um Apple Macbook, obriga-me a usar uma máquina virtual (VMWare) para correr estes softwares e hardwares (Atik). No entanto, funciona... O PHD2 é outra maravilha. Simplifica enormemente um sistema auto-guiado. Captura imagens e calibra automaticamente, após a qual começa a seguir obsessivamente uma estrela e a mandar pequenos impulsos para a montagem para corrigir o seguimento, fazendo aquilo que na gíria se diz "guiamento".
E finalmente uso o Nebulosity 4 que pode ser usado tanto no Windows como no Mac para processamento das imagens.
Como o PHD2 usa a plataforma ASCOM, passei a usar o Guide 9 para serviço de GO-TO.
O Telescope Tracer Pegasus 21, que a Takahashi fornece, é um software planetário que ocupa o espaço de um emoji moderno, mas exige a porta de comunicações serial COM só para ele, e isso não pode acontecer.
Ainda me estou a entender com o "driver" ASCOM para montagens Takahashi desenvolvido como hobby por Faranda. Este tipo merecia uma comenda.
O que não falta no planeta Saturno são nuvens, mas nesta sessão, o alvo foi a nebulosa planetária NGC 7009, precisamente esta que deve ter contribuído muito para dar o nome a esta classe de objetos. Na cor assemelha-se a Urano (daí Herschel ter baptizado com este nome) e em forma, vagamente com o planeta Saturno em telescópios de média/alta abertura.
Obviamente que pouco tem a ver com planetas, mas sim com estrelas que chegaram à fase final da sua vida, largando grandes quantidades de gás, continuamente em expansão em que formam conchas redondas, elípticas ou bipolares e também jactos ou pares de nós que se acumulam nas pontas da nebulosa. É o destino provável do nosso Sol (e do seu sistema solar e arredores) daqui a muito tempo, daí serem alvo para estudo da evolução estelar e do meio estelar (composição química).
Se fosse hoje, e após a fabulosa coleção de imagens do telescópio espacial Hubble, apesar de usar cores falsas, provavelmente chamavam-lhe hoje nebulosas "papilonárias". Nome na minha opinião, tão absurdo como adequado, pois devem ser dos objetos mais bonitos e complexos que se podem diretamente observar e fotografar.
Está nebulosa está situada na constelação do Aquário, com um brilho de 8 magnitude e um tamanho máximo de 41 segundos de arco, e pelas últimas estimativas (Stanghellini+, 2008) situam-na a 1325 parsec que corresponde a 4320 anos-luz. Visualmente, com o binóculo 16x70, assemelha-se a uma estrela levemente esverdeada, mas algo difusa e "gorda". No CN-212 (116x e 200x de ampliação) além de muito brilhante é notoriamente elíptica, com um brilho muito uniforme, mas não mostrando praticamente qualquer detalhe. A cor esverdeada resulta da forte emissão na região do espectro O III, devido à recombinação (oxigénio duplamente ionizado que absorve e volta a emitir fotões da própria estrela ou de outras linhas), ficando na região do espectro visível verde-turquesa-ciano (Peimbert+, 2017).
NGC 7009 |
Voltando a configurar o CN-212 no modo Cassegrain Clássico, apenas mudando o espelho secundário plano diagonal para hiperbólico, fica o sistema com um extenso comprimento focal efectivo de 2840 mm e relação focal f/13.4 (varia um pouco, pois o espelho primário move-se com a focagem). Este design é atribuído a Laurent Cassegrain, contemporâneo de Newton, que aproveita, e faz um buraco no primário, permitindo visualizar mais convenientemente a imagem na parte de trás do telescópio. Esta configuração é fotograficamente muito lenta (muito escura), e com demasiada resolução (0,41") para as condições atmosférica que estavam.
Pus a geringonça a auto-guiar, mas não se aguentava mais de 30 segundos sem se notar algum arrasto, ou pior, à mínima vibração como a provocada pelo o espelho da máquina fotográfica a bater, ou o gato (B@lz@c) ou a cadela (P@ndor@) a passar pelo meio dos fios, era o suficiente para estragar a exposição. Cheguei ao compromisso de 15 segundos de exposição (e mandar os bichos estarem quietos), conseguindo assim aproveitar 21 exposições. À semelhança da imagens planetárias (soma de milhares de imagens muito curtas), também estes objetos são propícios a esta técnica de imagem, porque são muito brilhantes e pequenos. Mas esta câmara infelizmente não faz filmes.
A área total da imagem é cerca de 27'x18', tendo sido complicado lá chegar com o GO-TO um pouco azelha, e ter sido obrigado a usar uma ocular para centrar a nebulosa, porque olhando pela câmara não se conseguia discernir nada. f/13 é demasiado escuro. Não ajudou muito ser uma área relativamente pobre em estrelas, e as que existem brilham a partir da magnitude 10.
A Messier 17, é uma das mais recentes e massivas regiões de formação de estrelas da nossa Galáxia, tendo menos de 2 milhões de anos de idade, ficando em brilho e dimensão, apenas atrás da grande nebulosa de Orion, Messier 42, Messier 42. Com uma região de H II (as zonas avermelhadas) a erupcionar de uma nuvem molecular gigante (zonas esbranquiçadas) (Povich+, 2009), distando cerca de 1814 pc (5900 anos-luz) (Kharchenko+, 2005).
No binóculo, nota-se distintamente a forma de cisne com o pescoço em argola a boiar no rio da Via Láctea (na imagem está a nadar para a 1 hora). No telescópio é possível imaginar algumas "penas" na sua textura irregular devido à mistura caótica de poeira e gás.
Messier 17 (NGC 6618) |