Faz mais de 20 anos, lá para o fim dos anos 90 do século passado, altura em que se iniciou a idade dourada (ou antes, a mais popular) da Astronomia Amadora em Portugal, e quando também iniciei a publicação de um diário com relatos das minhas observações astronómicas com opiniões não solicitadas sobre o equipamento e livros.
Ao reorganizar este sítio, fiquei surpreendido por descobrir que se o imprimir, seriam mais 1500 páginas A4 de texto e imagens. A leitura linear seria decerto bastante maçadora. Apesar disso, continuarei a debitar os meus relatos e considerações, que, se servirem para ajudar ou incentivar interesse a algum incauto leitor que aqui tenha aterrado, já fez merecer o tempo despendido. Estas páginas estão alojadas em astrosurf.com - um servidor francês dedicado à Astronomia com bons princípios e valores.
Nesses tempos, existiam cerca de uma dúzia de astrónomos amadores praticantes e ainda menos associações. Houve então uma explosão de astrofestas e encontros de astronomia, preenchendo muitos fim de semana durante a Primavera, Verão e até Inverno para os mais audazes. O Estado começou a patrocinar iniciativas como a Astronomia no Verão (inicialmente Astronomia na Praia), tendo eu participado em algumas delas, que precederam o conceito da actual Ciência Viva. Havia sempre algum local para ir, para conviver e partilhar.
Entretanto, esses tempos de euforia, à semelhança do Big-Bang, arrefeceram bastante, restando apenas 3 ou 4 eventos anuais, como a Astrofesta (que varia de local), Concentração de Telescópios em Moimenta da Beira, Astrovide, ou AstroCoruche que ainda não tive oportunidade de ir.
A presença na web está cada vez mais rarefeita de fóruns e páginas pessoais e institucionais em português sobre Astronomia, muitas delas abandonadas ou fantasma. Surgiram entretanto, lugares como a "Reserva de céu escuro" do Alqueva, dentro da qual algumas organizações como o Observatório do Lago Alqueva ou Darksky Alqueva, estão a fazer um esforço e divulgação para preservar o pouco que resta do céu nocturno, que cada vez mais, é afectado pela a poluição luminosa. Com a emergência climática, talvez os decisores parem de esbanjar tantos recursos a iluminar o céu.
Na realidade, a percepção que tenho é que não somos muitos, e a razão para tal talvez seja explicada pela exigência no conhecimento, equipamento, tempo e oportunidade, e obviamente algum excedente orçamental. Suspeito que não deve ser especialmente atractivo para a generalidade das pessoas, passar uma noite ao relento, andar carregado de telescópios (alguns deles gigantes), ou com toda a panóplia de equipamento para astronomia, como montagens, câmaras, baterias, computadores, mesas, cadeiras... requere, mais uma vez, dedicação, conhecimento técnico e teórico e tempo. A Natureza, notoriamente na mecânica celeste, e cá mais perto, na meteorologia, é implacável, e não se importa muito com os nossos calendários e disponibilidades. Continua a ser especialmente difícil encontrar fins de semana de Lua nova, com céu limpo e pouca turbulência, que seja escuro e transparente e, particularmente importante, com boa companhia.
Por "falar" em boa companhia, o Observatório Atalaia [http://www.atalaia.org] continua a ser o único com encontros regulares em Portugal. Aqui, apesar o local variar, pode-se observar visualmente, fazer astrofotografia ou simplesmente conversar - Sempre foi apanágio deste grupo de cariz libertário, de fazer sentir a todos bem vindos. Atalaia foi e continua a ser um berço da Astronomia ProAm, com alguns dignos representantes como o caçador de exoplanetas João Gregório e o espectroscopista José Ribeiro. Existe um grupo de discussão [https://groups.io/g/atalaia/] onde se pode informar dos próximos encontros.
Passaram depressa os anos, uns muito activos, outros menos, e até algumas pausas, mas o fascínio pela descoberta da Astronomia, Astrofísica, Cosmologia e Exploração espacial, esse, continuou sempre vivo, assim como a aceleração sentida quando presencio e registo algum evento raro ou invulgar.
Observar o Universo faz bem à saúde.
Pátio 303 - Canon 6D Mk II
2020.02.05
Pátio (Leiria 39°N 08°48'W alt. 130m)
Dia de experimentar o novo brinquedo, a Canon 6D Mk II.
Esta máquina surgiu em 2017, situando-se no segmento de gama média da Canon, sendo descendente directa da muito popular entre os astrofotógrafos, 6D (2012) e da ancestral Canon 5D (2004). Esta última e consequentes versões, são objecto de grande ansiedade, mas de preço muito pouco justificável.
Desconfio que as DSRL estão lentamente a começar a ser um produto de nicho e em vias de extinção, agora com a novas máquinas "mirrorless" - sem prisma e sem espelho, com o potencial de serem mais leves e compactas. A Canon desde há muito que pisca o olho à astrofotografia, e até lançou no final de 2019 a Canon Ra, também no formato 36x24 mm "mirrorless", dedicada a este tipo de imagem, usando um filtro optimizado para h-alfa e, sendo capaz de um zoom real de 30x para a derradeira focagem!.
Esta máquina fotográfica tem um sensor CMOS do formato 36x24 mm e 26.2 megapixels, não tendo portanto o recorte de 1.6x dos sensores APS-C geralmente encontrados nas câmaras reflex mais baratas e aceitando apenas objectivas com montagem EF (não as EF-S ou EF-M), porque apenas esta série consegue iluminar a totalidade deste sensor: não há milagres, é preciso uma grande quantidade de vidro para se poder utilizar um sensor deste tamanho.
Características úteis para imagens astronómicas:
Ecrã de 3" articulado que se pode inclinar em praticamente qualquer posição. É incomparavelmente mais confortável enquadrar e focar com a câmara virada para o céu - evita posições corporais por vezes contorcionistas. Não entendo o porquê demorarem tanto tempo para tornar isto acessível neste gama de câmaras. A Canon Powershot G1 que usava em 2001 tinha um visor destes. A densidade de pixels do ecrã passou a ser 4x maior (230K (40D) para 1000K (6D)), permitindo avaliar melhor a focagem. E também é um ecrã sensível ao tacto.
Botões com relevo diferenciado e bem localizados. Para operação no escuro, e/ou sem olhar.
Sensor de grande formato. Apesar de não possuir um telescópio que corrija, ou mesmo ilumine tanto campo, é muito útil para imagens de conjunções, eclipses, meteoros ou grandes campos da nossa Galáxia com pequenas objectivas fotográficas.
Modo "BULB" dedicado - com temporizador, permitindo fazer longas exposições, maiores que 30 segundos sem ter que usar disparadores remotos.
Temporizador de intervalos - opção que permite fazer uma sequência de imagens, por exemplo, 1 imagem de 10 em 10 segundos (mínimo 1 segundo), até a um limite definido ( 20 ou 40, etc). Infelizmente não se pode usar no modo "BULB", portanto não substitui o temporizador TC-80N3.
Ainda utiliza o temporizador TC-80N3: Este comando permite ter independência de utilização. Ao não ter que usar computadores ou telemóveis para controlar sequências de (longas) exposições - ao contrário destes últimos, a bateria dura 3 anos. De resto pode-se usar praticamente todos os acessórios do sistema Canon EOS.
Baterias. Têm autonomia decente e que suportam bem baixas temperaturas. Permite adicionar um punho para usar duas baterias.
GPS, wifi, bluetooth - O GPS para marcar as imagens com a hora o mais exacta possível - quantas vezes me esquecia de acertar o relógio da câmara. O wifi é util para fazer o descarregamento da imagem para o telemóvel ou computador sem ter mexer na câmara, evitando assim vibrações e consequentes exposições estragadas, em especial no meio de sequências de exposições. Existem lendas folclóricas que contam sobre grandes sessões de imagens, e chegar ao fim da noite e descobrir que tinha a tampa na objectiva/telescópio...
A câmara é selada e com construção sólida . É razoavelmente resistente à água e pó. Importante para a longevidade.
Comparando com a Canon 40D adquirida em 2008, que continua em perfeita condição, apesar de ter suportado frio extremo, humidade extrema e utilização abusiva.
Segue o quadro comparativo abaixo com as características mais relevantes para imagem astronómica.
Nikon D70
140 x 111 x 78 mm
595 gr
Canon 40D
145,5 x 107.8 x 73,5 mm
820 gr
Canon 6D Mk2
144.0 x 110.5 x 74.8 mm
765 gr
Sensor
CCD 6.1Mp 23,7x15,6 mm
CMOS 10.1Mp 22,2x14,8 mm
CMOS 26.2Mp 35.9x24.0 mm
Resolução
3008x2000 12 bits ~5.4Mb
3888x2592 14 bits ~12,4Mb
6240x4160 14 bits ~27,0
Tamanho Pixel
7.8 µm
5.7 µm
5.67 µm
Ruído de Leitura
11.7 e-
4.2 e-
2,7 e-
Capacidade do pixel (full-well)
19,664 e-
37643 e-
83104 e-
Eficiência quântica (QE)
22%
32%
52%
Equilibrio de brancos (RGB)
R:1.93 G:1.00 B:1.80
R:2.07 G:1.00 B:1.49
R:1.98 G:1.00 B:1.73
Canon 70-200 (200 mm)
6,35° x 4,23° (381' x 254)'
10,25° x 6,83° (615' x 410')
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm)
3,3°x2,19° (198'x131') 3.95"
3,12°x2,08° (187'x125') 2,89"
5,03°x3,35° (302'x201') 2,93"
Takahashi CN-212 f/4 (820 mm)
1,55°x1,03° (93'x62') 1,43"
2,50°x1,67° (150'x100') 1,44"
Alguns dos dados são apenas indicativos. Estas câmaras não são propriamente instrumentos científicos. Foram obtidos em photonstophotos.net, dxomark.com e nos manuais do fabricante. Tradicionalmente, a Canon não tem o hábito de "cozinhar" demasiado os ficheiros RAW para disfarçar o ruído e outros defeitos, sendo uma excelente característica para imagem astronómica.
A resolução e escala da imagem relativamente à 40D é igual, mas proporciona um campo fotográfico mais generoso, e espero que a 6D seja menos ruidosa, tenha maior dinâmica (menos ruído e mais capacidade de pixel) e também seja mais flexível, permitindo exposições com menor tempo devido à eficiência quântica. Por outro lado, os ficheiros de imagem e o seu tempo de processamento passaram para o triplo, cada ficheiro de imagem FITS com 3 canais de cor ocupa mais de 300 megabytes!.
A estrela Sírio, a mais (aparentemente) brilhante do céu depois do nosso Sol, foi o primeiro alvo astronómico. Clicar na imagem para ver o campo obtido a 200 mm onde se pode ver ainda o enxame aberto Messier 41. A imagem foi criada com apenas uma única exposição de 15 segundos a ISO 1600, sem qualquer processamento, apenas foi nivelada.
Usei a objectiva Canon EF70-200mm f/4L IS I no comprimento focal de 200 mm, usando abertura máxima para estrelas sem "picos" (f/4), correspondendo a uma abertura efectiva de 50 mm.
Estrela Sírio (Sirius) α Canis Majoris a 8.6 anos-luz
O Nebulosity 4 permite processar uma imagem RAW de modo a somar todas as cores para a o canal luminosidade, obtendo uma imagem com tons de cinzento de 32 bits. Estava então, a verificar a magnitude estelar a que chegava as imagens (à volta de magnitude 12-13), quando detectei um "borrão" que me pareceu mover-se entre 3 imagens com a estrela Sirius, separadas por cerca de 1 minuto. Este "borrão" com aspecto nebuloso (cometário?), deslocava-se muito depressa . Na imagem está pelas 13 horas, tendo a Sirius como centro do "relógio". O Guide 9 com a última actualização dos cometas (MPC) não mostra lá nada perto nem o IAU NEOChecker ou CMTChecker. A primeira imagem tem data hora 2020-02-05 21:55:00 (2020.05.02.91319444) UTC (GPS) e coordenadas do objecto J2000 RA:06h44m14.5637s Dec:-16 58' 51.020", a segunda 21:56:01 UTC e a terceira 21:56:55 UTC. Estimo que tenha percorrido 40" em 3 minutos (13,3'/hora 5,3 graus/dia). Depois de uma conversa com quem sabe melhor, foi consenso que se tratava de um reflexo algures na objectiva ou na CMOS.
Nebulosity 4 can process a RAW image by adding all the colors (RGB) to the luminosity channel, allowing to a 32 bit greyscale image. I was checking the images stellar magnitude (around 12-13), when i've noticed a moving "smudge" o n 3 images of Sirius separated by 1 minute. It has a nebulous appearance (cometary??), and was moving quite fast. On the image is about 1 o'clock from Sirius, Guide 9 with latest MPC does not show anything there, neither IAU's NEOChecker ou CMTChecker. The first image as date/time 2020-02-05 21:55:00 (2020.05.02.91319444) UTC (GPS) and coordinates J2000 RA:06h44m14.5637s Dec:-16 58' 51.020", the second 21:56:01 UTC and the third 21:56:55 UTC. I've estimated about 40" displacement in 3 minutes (13,3'/hour 5,3 degres/day). After a asking to whom knows better (thanks Bob and Brian!) it was consensus that it was some kind of ghost in the lens/cmos.
Um cometa, NEO, satélite ou lixo espacial ??? não. é um reflexo interno!!! (ghost)
Passando para uma das mais brilhantes nebulosas em Orion, Messier 42/Messier 43, fiz uma sequência de 10 imagens com duração de 15 segundos a ISO 1600. Foram convertidas de RAW usando o LibRaw 0.19.5, e seguidamente reduzidas, alinhadas e empilhadas no Nebulosity 4.
Esta objectiva a 200 mm, não deixa de ser notável nas cores obtidas e na correção de campo para um sensor deste tamanho, especialmente depois da luz passar por 20 elementos ópticos(!). Ver a ligação com a imagem completa 6000x4000 (atenção ~40 Mb) onde é possível ver indícios das várias nebulosas que existem nesta região da constelação Orion, inclusive o Messier 78 no canto superior esquerdo da imagem.
Messier 42/43
Canon 6DMkII 200mm f/4 6"
exp: 150s (10x15s) ISO 1600
O equipamento usado foi a montagem liliputiana Takahashi Sky Patrol no topo de um tripé fotográfico, que faz parte da minha actual configuração portátil para astrofotografia.
Apesar de não ter podido alinhar convenientemente, por não ser possível ver a estrela polar da varanda, este aparato conseguiu suportar razoavelmente 15 segundos de exposição sem arrasto muito notório.
Pátio 304 - Lua e Marte
2020.02.18
Pátio (Leiria 39°N 08°48'W alt. 130m)
Ocultação do planeta Marte pela a Lua, apesar de não ser possível observar em Portugal continental estando a Lua muito baixa no horizonte, a cerca de 5 graus acima de um horizonte com muita neblina e aerossóis, sendo praticamente invisível a olho nu, e mesmo usando o binóculo 16x70 esteve muito pouco perceptível. O planeta Marte, com um brilho de apenas 1.2 magnitude, e na altura, a pouco mais de meio grau de distância da Lua, ficou previsivelmente perdido em tanta luz e neblina
A imagem é uma exposição de 1/2000 segundos a 200 mm f/5.6. Passar por cima da imagem com o rato (ou tocar no caso de um dispositivo "touch") para ver a imagem mais "puxada" no contraste.
Lua - 12:49 UTC
Pátio 305 - Lua, Mercúrio e Vénus
2020.05.24
Pátio (Leiria 39°N 08°48'W alt. 130m)
Os dois planetas interiores, Mercúrio e Vénus, estão correntemente numa interessante exibição ao final da tarde, e isto depois de no passado dia 22 terem feito um belo par distanciado por pouco mais de meio grau, separação que é aproximadamente equivalente ao diâmetro aparente da Lua. Mercúrio vai a caminho da sua elongação máxima, que será a 4 de Junho (23.6 graus do Sol) e Vénus por seu lado, apresenta o seu menor brilho (-3,7 mag), que é coincidente com a sua maior aproximação da Terra (0,28858 UA = 43.170.953 km ) a 3 de Junho.
Nesta imagem, e por ordem descendente de altitude, a Lua, Mercúrio e Vénus formam um triângulo achatado. Mercúrio (ao meio), não é propriamente um espectáculo de mandar postal para casa, mas cá fica a imagem da conjunção obtida com um telefone todo "xispeteó" - enfim, a câmara que estava à mão..., julgo que estas câmaras ainda tem que comer muita "sopinha" para chegar aos níveis de ruído de um sensor de imagem DSLR, assim como os algoritmos aplicados para disfarçar o citado ruído, são demasiado evidentes e exagerados - e não se podem desligar...
Lua, Mercúrio e Vénus
Iphone
Sra. do Monte XIII - Cometa C/2020 F3 (NEOWISE)
2020.07.07
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)
O cometa do momento a alguns dias após o seu periélio em 3 julho.
Às quatro da madrugada aqui no Pátio surgiu um nevoeiro de cortar à faca, então lá tive que activar o plano B e pus-me a caminho da Sra. do Monte, Cortes, para tentar a sorte, esperando subir na altitude o suficiente para ficar acima do manto de neblina. Este percalço fez-me perder o nascimento do cometa com o céu mais escuro possível, visto encontrar-se a pouco menos de um palmo do Sol (quase 18 graus), e apesar da Lua estar praticamente cheia. Não posso jurar tê-lo observado a olho nu...
No binóculo 16x70 por outro lado, esteve simplesmente gigantesco! apresentava uma cauda nitidamente curva a percorrer quase metade do campo dos binóculo (4 graus) estimando ter grau e meio (3 diâmetros da Lua), e apresentou um tom creme alaranjado, causado provavelmente pela a atmosfera e baixa altitude. Faz algum tempo que não observava um cometa tão grande e brilhante - nem arrisco a adivinhar a magnitude.
Este cometa é periódico, dando uma volta ao Sol cada 7125 anos (estimado), isto é, se sobreviver a esta aproximação ao Sol. Distava no momento da observação mais de 154 milhões km da Terra, o que é uma pena, porque se estivesse umas boas dezenas de milhões quilómetros mais perto, aí sim, teria provavelmente entrada no clube dos cometas visíveis a olho nu.
Também Vénus esteve fulgurante, quase a atingir o seu brilho máximo que acontecerá no próximo dia 10.
Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) - 03:47 UTC
Canon 6DMkII 70mm f/4
exp: 32s (16x2s)
Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) - 03:45 UTC
Canon 6DMkII 191mm f/4
exp: 14s (7x2s)
A estrela mais brilhante da imagem, pelas 7-8 horas, e tendo o coma do cometa como referência, é na realidade uma binária verdadeira (WDS 06156+3609) constituída por duas estrelas F0 a 155+-15 anos-luz, com magnitudes 6.89 e 7.38 respectivamente, estando separadas por 11,4 segundos de arco.
Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) - 04:01 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/4 6"
exp: 18s (9x2s)
Uma grande plano com o Iphone (10s na mão!!). O algoritmo assassina as estrelas todas, mas deu para fazer o "boneco" com as estrelas mais brilhantes da constelação do Cocheiro (Auriga). A imagem panorâmica mostra o planeta Vénus bem brilhante com -4.7 de magnitude. Reparar no mar de neblina.
Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) - 03:52 UTC
Iphone (10seg)
Sra. do Monte - Cortes - Leiria
Sra. do Monte XIV - Cometa C/2020 F3 (NEOWISE)
2020.07.11
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)
Desta vez não tive muita sorte. O vento da nortada trouxe as neblinas do mar, mas não desisti, tendo fé que o mesmo vento pudesse também limpar. E assim foi, lá abriu meia hora, que permitiu captar as imagens abaixo. O cometa estevea visível a olho nu, mas não particularmente notório, passando despercebido se não soubesse que estava lá.
Em relação à observação anterior, distava cerca de 133 milhões km (menos 20 milhões que há três dias atrás), mas também mais afastado do Sol. Entretanto, a NASA analisou imagens deste cometa no infra-vermelho e estimou um núcleo com 5 km de diâmetro, que é considerado gigante para cometas que passam tão perto do Sol, daí explicar o seu brilho - o núcleo tem copiosas quantidades de gelo e poeira para "sujar" abundantemente o sistema solar interior.
Trouxe o Takahashi Sky-90 e a Takahashi P2-Z para capturar imagens com maior resolução e ter oportunidade de capturar a cauda de iões, mas infelizmente a neblina levantou-se tarde demais.
Esteve interessante o desfile dos planetas mais brilhantes do sistema solar - ainda a Este, o planeta Vénus (-4.7 mag) tinha como companhia a Aldebaran (1 mag.), alfa (α) de Touro, com apenas 1 grau a separar. Marte (-0.7 mag) e Lua, e, já a descer para Oeste, Saturno (0.2 mag) e Júpiter (-2.7 mag).
Antes do cometa nascer, fui desenferrujar a rotina de montagem de equipamento para astrofotografia: nivelar a montagem, alinhamento polar e alguns testes de exposição. Apontei o telescópio para a zona do enxame duplo de Perseu, mas ficou um pouco ao lado, no enxame aberto Stock 2 na constelação da Cassiopeia. Pretendia capturar uma zona com muitas estrelas para verificar a correção de campo do Sky-90 com a nova câmara Canon 6D Mk II, que tem um sensor bem maior que a Canon 40D. Não ficou muito mau. O quadrado central da imagem ficou razoavelmente bem corrigido e iluminado.
Na imagem vê-se um satélite bem brilhante a piscar, que me pareceu cruzar o campo que estava a capturar. E ficou bem registado. Segundo o Sky Safari 6 Pro era o 1998-067PN ID 43638 que é "debris", vulgo detritos espaciais, tendo este sido originado da Estação Espacial Internacional.
O Stock 2 é um enxame aberto próximo a 345 pc (1124 anos-luz mais coisa menos coisa) e com idade compreendida entre 100 (Pleíades) e 700 milhões de anos (Híades), não se sabendo ao certo quantas estrelas lhe pertencem - entre 100-500 ou até mais. Até apontarem para lá o Chandra ou o XMM e observarem a quantidade de lítio ficam por aqui as certezas. É um bom objecto para se observar em qualquer binóculo, ficando até no campo do famoso enxame duplo de Perseu.
Pátio 306 - Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) e Pôr do Sol
2020.07.13
Pátio (Leiria 39°N 08°48'W alt. 130m)
Durante esta semana, o cometa será observável de madrugada 1 hora antes do Sol nascer, e ao fim do dia, 1 hora após o pôr do Sol. Neste último caso, irá ficar cada vez mais alto, e com sorte, talvez mais notório se não perder muita actividade à medida que se vai afastando do Sol. Eu não consegui vê-lo a olho nu, mas para a minha filha de 10 anos era óbvio... apesar da transparência estar sofrível.
Montei o aparato antes do pôr do Sol e capturei um sol distorcido pela a atmosfera na companhia do Castelo de Leiria.
Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) - 21:04 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/11
exp: 64s (16x4s)
Pôr do Sol em Leiria 20:04 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/9.5
Pátio 307 - Cometa C/2020 F3 (NEOWISE)
2020.07.15
Pátio (Leiria 39°N 08°48'W alt. 130m)
Mais uma visita deste cometa sobre a cidade de Leiria. Boa transparência, permitindo observar o cometa visível a olho nu, isto é, se soubesse onde se encontrava...
Cometa C/2020 F3 (NEOWISE) - 21:23 UTC
Iphone
Sra. da Encarnação - Cometa C/2020 F3 (NEOWISE)
2020.07.16
Sra. da Encarnação (Leiria 39°N 08°48'W alt. 87m)
Nunca é uma boa ideia fazer imagens do céu no meio de uma cidade... mas à medida que o cometa vai subindo, permitiu captar a cor esverdeada que é típica dos cometas, até finalmente se afogar nas luzes da cidade.
A aparição de Marte deste ano, julgo eu, não passará despercebida como uma "estrela alaranjada muito brilhante" a nascer no início da noite. Como estava previsto há dois anos atrás, Marte estaria no perigeu em 06-10-2020 14:18 (0,41492 UA= 62,071,148.5 km) e na oposição em 13-10-2020 23:26.
No dia 6 e 7, o céu esteve tapado por nuvens, e apenas tive oportunidade de registar a sua observação alguns dias depois usando o Sky-90 a cerca de 140x de magnificação (Nagler 9 + Powermate 2.5x). A turbulência atmosférica não permitiu muito mais. Contudo, apesar das condições, foram perceptíveis alguns detalhes, observando regiões mais escuras perto no equador correspondentes ao Mare Cimerium. Não observei calotes polares.
Abaixo fica uma imagem panorâmica do planeta Marte, enquanto passava na constelação dos Peixes.
Mal posso esperar por 11 setembro de 2035 - aí sim, estará mesmo perto, e quem sabe, já lá com o Homo Sapiens a tirar "selfies"...
Usando um processamento agressivo, foi possível resgatar o satélite Deimos do banho de luz de Marte.
Apesar de ser relativamente brilhante, com uma magnitude máxima de 12.3 magnitudes, é muito difícil de discernir estando tão próximo de Marte; a diferença de brilho no momento da observação era cerca de 1 milhão de vezes mais ténue que Marte!. Exatamente por ser complicado observá-los, apenas foram descobertos em 1877 pelo o americano Asaph Hall com refrctode 26 polegadas (66cm).
Deimos (Terror e Pavor) é um calhau com 7.8 x 6.0 x 5.1 km, sendo o satélite mais pequeno e o mais exterior dos dois satélites de Marte, o outro é o Phobos (Medo e Pânico), que é bem mais complicado de observar, pois tem uma órbita muito mais próxima de Marte. A órbita de Deimos é ligeiramente superior ao dia de Marte, significando que está um pouco fora do equivalente a uma órbita "geosíncrona". E tal como a nossa Lua, mostra sempre a mesma "face".
Eis a Grande Conjunção dos planetas Júpiter e Saturno que por obra da mecânica celeste, foi coincidente com o Solstício de Inverno, tendo este ano acontecido, como quase sempre, no dia 21 de dezembro.
Há alguns meses que tenho vindo a acompanhar o lento aproximar destes dois planetas, os gigantes gasosos maiores do nosso Sistema Solar. Têm sido o par de luminárias sempre presente nas últimas semanas após o ocaso.
Júpiter, Saturno e Lua em 2020-10-22 21:25 UTC
Iphone
Estas conjunções entre Júpiter e Saturno são relativamente raras, acontecendo de 20 em 20 anos, porém, a deste ano tem uma separação entre os dois planetas excepcionalmente próxima. Na realidade, encontram-se bem afastados um do outro, Júpiter está a uns meros 885 milhões km, e Saturno a 1620 milhões km. Aquilo que observamos resulta do facto estarem na mesma "linha de vista" em relação à Terra.
É preciso recuar até 1623, mais precisamente a 17 de julho, para encontrar uma conjunção mais próxima, ficando nesta a distarem apenas 5 minutos de arco. Provavelmente nessa altura, Galileu seria dos poucos que poderiam ter observado esta conjunção com mais detalhe, usando o recém-inventado telescópio, mas estaria certamente, entretido com a Santa Inquisição (“No one expects the Spanish Inquisition!") em algumas questões, sobre as quais, em pleno século 21, muitos ainda têm dúvidas...
A deste ano teve uma separação de 6 minutos de arco pelas 13:49 do dia 21. As próximas conjunções, em 2040 e 2060, distarão com distâncias superiores a 1 grau (60 minutos de arco) e finalmente, em 15 de março de 2080, haverá novamente uma conjunção com apenas 6 minutos de arco. As efemérides foram calculadas no Ephemeris Tools 2.8.
Dia 19
Muitas nuvens e muita turbulência atmosférica. Conjunto de imagens capturada logo após o pôr do sol, com o par ainda relativamente alto no horizonte.
Novamente muitas nuvens e turbulência. Júpiter (33.3 segundos de arco) brilhava a -2.0 magnitude, e Saturno (15,4 segundos de arco) com apenas 0.6, uma diferença de brilho de cerca de 11 vezes, estando nesta altura separados por apenas 8.7 minutos de arco. A título de comparação, a Lua cheia tem cerca de 30 minutos de arco.
Apesar de o par estar a pouco mais de 10 graus de altitude, era perfeitamente distinto a olho nu, sendo possível ver os anéis de Saturno e os satélites de Júpiter com o binóculo 16x70.
Esta imagem mostra o quarteto dos satélites jovianos mais brilhantes - Io, Europa, Ganimede e Calisto, este último, perto de uma estrela "impostora" com magnitude semelhante. Muita aberração cromática e muito pouca nitidez por estar tão baixo no horizonte.
Dia 21
Céu completamente nublado. Mas fica registado o Solstício de Inverno que aconteceu neste dia pelas 10:03.
Dia 25
No dia de Natal, já se encontravam separados em 27 minutos de arco.