Depois da ocultação ocorrida no mês passado, a Lua continua ainda a passar razias a Marte, estando este último na companhia do popular e afamado asterismo/enxame Messier 45, também conhecido por Plêiades ou as "Sete Irmãs".
Fui reclamar os meus primeiros fotões provenientes do próximo cometa brilhante, quiçá candidato a ser notícia no final dos telejornais.
Nesta altura localiza-se na constelação do Dragão, fazendo a sua passagem entre as duas Ursas. Foi imediatamente visível no binóculo 16x70, estimando cerca de 6+ de magnitude comparando com estrelas por perto, mas sem grande certeza, porque a coma (cabeleira) é gigantesca.
No momento da imagem, encontrava-se a pouco mais 67 milhões de quilómetros da Terra, com a sua maior aproximação a acontecer a 1 de Fevereiro (pela tardinha), distando então apenas 42.47 milhões de quilómetros, passando perto da estrela polar a cerca de 15 graus (um palmo mal medido), ou por outras palavras, vai estar numa posição circumpolar.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) a 1 de Fevereiro
SkySafari 7 Pro (iphone) e Guide 9.0 (clicar na imagem)
Julga-se que este cometa veio pela a primeira vez "cá abaixo", num mergulho quase a pique (109º), cruzando o plano do sistema solar a 12 de Fevereiro entre as órbitas da Terra e Marte, mas a viagem saiu-lhe cara, porque devido à perturbação causada pelos os planetas, a sua órbita foi afectada e provavelmente vai ser ejectado para fora do sistema solar, ou na melhor das hipóteses, só retornará daqui a milhões de anos.
Tem despertado algum interesse aos cientistas, por se tratar de um cometa com material "novinho em folha", nunca submetido à radiação solar, acabado de sair do reservatório de cometas, a nuvem de Oort.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 03:28 UTC
Canon 6DMk2 200mm f/4 800 ISO
exp: 5 min. (20x15seg)
Na área existem algumas galáxias relativamente brilhantes, que por milagre escaparam à poluição luminosa, tendo em conta que estava rodeado de 3 postes de iluminação pública...
Galáxias NGC 5907/5905/5908
Canon 6DMk2 200mm f/4 800 ISO
exp: 5 min. (20x15seg.)
Tenho acompanhado o cometa durante os últimos dias. Em céus urbanos, é difícil resgatá-lo da poluição luminosa com o binóculo 7x50, precisando do 16x70 para se revelar um pouco mais notório.
Apesar de se encontrar mais perto, não me pareceu ser mais brilhante do que há alguns dias atrás, talvez devido ao facto de que se está a afastar do Sol (o periélio foi no dia 12), causando talvez a diminuição da actividade. De qualquer modo, não me está a parecer que será um sucesso de bilheteira a olho nu, excepto talvez em céus muito escuros, um pouco à semelhança do cometa NEOWISE em 2020.
Na altura da imagem, o cometa encontrava-se a 54 milhões de quilómetros (menos 13 milhões que na imagem da observação anterior), e nota-se realmente maior. Mas a cauda e a anti-cauda (anti-solar) ficaram completamente afogadas na poluição luminosa. À medida que se vai aproximando da Terra, a sua velocidade aparente também aumenta, 10.357 minutos de arco/hora nesta altura, contra 6.600 minutos de arco/hora no dia 22. No dia 1 de Fevereiro, no ponto mais próximo, será de 16.703 minutos de arco/hora.
Sequência automática de 20 imagens de 15 segundos a 1600 ISO, separadas por 5 segundos, usando o comando Canon TC-80N3
imagens convertidas, alinhadas, empilhadas e niveladas com Nebulosity 4
imagem resultante recortada e nivelada no Pixelmator Pro - à qual foram retiradas as estrelas e posteriormente combinada com a última imagem da sequência para ter estrelas "fixas".
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 00:02 UTC
Canon 6DMk2 200mm f/4 1600 ISO
exp: 5 min. (20x15seg.)
O cometa vai-se aproximando na sua passagem pelo o nosso pólo celeste, estando nesta altura a 51 milhões de quilómetros e, consequentemente maior e ligeiramente mais brilhante. Facilmente visível com qualquer binóculo. Espero que o "bom tempo astronómico" continue, apesar do frio.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 00:54 UTC
Canon 6DMk2 200mm f/4 1600 ISO
exp: 5 min. (20x15seg)
2023.01.28
Sra do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt:395m)
Apesar do local ser mais elevado, com menos poluição luminosa, a Lua estava no quarto crescente (50% iluminada), com o céu a não passar a magnitude 4, brilho que era superior ao do cometa. Por muito que tentasse, não foi possível vislumbra-lo a olho nu.
Levei comigo o telescópio para lhe fazer um retrato mais digno. Foram 6 horas de "vita contemplativa" passadas a 5 graus celsius na sombra de uma eólica.
Constelação de Orionte
Iphone
Cometa C/2012 S1 (ISON)
O cometa está aparentemente a mover-se cada vez mais rápido em relação às estrelas, resultado de estar a aproximar-se da Terra (no momento da imagem 46.5 milhões de quilómetros), culminando esta aceleração aparente no dia 1 de Fevereiro, dia após o qual, começará a afastar-se e no caminho de retorno para a remota nuvem de Oort, que rodeia (presumivelmente) o nosso Sistema Solar.
Na imagem abaixo, a soma de 30 imagens centrada na coma do cometa, tornando notório o movimento em relação às estrelas.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 21:23 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMk2
exp: 15 min. (30x30seg.) 800 ISO
Filme produzido com as imagens acima, mas desta com as estrelas fixas.
Notas de processamento do video para memória futura:
Nebulosity4 - converter, alinhar e recortar e nivelar fotogramas - convertidos para o formato tiff 16bit
Quicktime Player (Macos) - criar ficheiro MOV (heic)
Hoje, ao fim do dia. Um notório par bem próximo das duas maiores luminárias planetárias do nosso Sistema Solar.
Amanhã pelas 10:40, esta conjunção estará na sua menor separação, distando apenas meio grau (32'), mas não será visível devido a estar abaixo do horizonte. Mas no fim do dia, valerá a pena comparar com a estrela mais brilhante do céu nocturno, Sírio (-1.4 mag), a brilhar a Sul, e comparar com Júpiter (-2.1 mag) e Vénus (-4.0 mag). Por alguma razão estes últimos eram deuses na antiguidade...
Também amanhã, mas no inicio do dia, Mercúrio (-0.6 mag) e Saturno (0.9 mag) vão estar emparelhados, distando quase um grau (56') pelas 9:35, mas estarão acima do horizonte já com muita luminosidade do Sol.
Hoje, ao fim do dia, um bem menos notório par de planetas. Curiosamente à mesma hora, 25 dias após a observação anterior.
Durante esta semana, ao fim da tarde vão estar alinhados cinco planetas. A contar a partir do Sol - Mercúrio, Júpiter, Vénus, Urano e Marte. O par que também pretendia ter feito uma imagem, Mercúrio e Júpiter, está muito perto do Sol, que apesar de brilhantes, é difícil visualizá-los, ainda menos com as insistentes nuvens no baixo horizonte.
O planeta Vénus continua a brilhar fulgurante com -4.1 de magnitude, e desta vez está na companhia das 7 irmãs, as conhecidas e notórias Plêiades, o mais brilhante do catálogo de falsos cometas de Messier. Foi bastante interessante observar no binóculo 16x70 (que tem um campo circular de 4 graus), distando um do outro cerca de 3 graus (3 dedos).
O planeta Mercúrio brilhava a -0.3 de magnitude, depois do máximo em 18 de março (-1.9), encontrando-se neste momento perto do seu elongamento máximo (distância angular do Sol), que ocorrerá em 11 de de abril, mas já está suficientemente afastado do Sol e ainda brilhante para ser observado, mesmo a olho nu, mas que devido às nuvens baixas no horizonte, não me foi possível observar. No binóculo foi óbvio.
Mercúrio 2023-04-09 19:48 UTC
Canon 6DMk2 200mm f/4 1600 ISO
exp: 5 seg (10x0.5 seg.)
Vénus e Plêiades 2023-04-09 20:22 UTC
Canon 6DMk2 200mm f/4 3200 ISO
exp: 5 seg (10x0.5 seg.)
Depois de alguns dias de chuva e/ou muito encobertos, tive nova oportunidade para tentar observar o planeta Mercúrio a olho nu, mas, mais uma vez, sem grande êxito. Na imagem ao lado, feita com um telemóvel, permitiu capturar o ar da sua modesta graça (sim, é aquele ténue pontinho acima da copa da árvore), numa conjunção distante (20 graus) com o planeta Vénus. Este último continuar a dominar a paisagem ao fim da tarde.
O cálculo das elongações permite saber qual a melhor altura para observar um planeta, ou qualquer outro corpo que orbite o Sol (como uma frota invasora alienígena), e é formado pelo ângulo Sol-Terra-objecto (também pode ser formado pelo ângulo Planeta-Terra-satélite para observação de satélite naturais ou artificiais). Este valor é medido em graus Este ou Oeste, e define-se que, com elongação de 0 graus, se está em conjunção, a 90 graus na quadratura, e a 180 graus na oposição.
Para os planetas exteriores, interessa particularmente a oposição, altura em que a Terra se encontra entre o Sol e o planeta, ficando este último mais próximo e 100% iluminado pelo o Sol. O planeta Marte é particularmente um bom exemplo.
As elongações dos planetas interiores podem ser descritas na prática da seguinte maneira:
Grande elongação Oeste é quando o planeta nasce antes do Sol e a Grande elongação Este, quando este se pôe após o Sol.
Mercúrio tem a maior variação de elongação, devido à sua órbita ser mais excêntrica (elipse mais alongada, ou plana), variando de 17 graus e 50 minutos no periélio (mais perto do Sol), e 27 graus e 50 minutos no afélio (mais afastado do Sol). Vénus apenas varia entre 45 e 47 graus nos mesmos pontos da sua órbita.
Mais particularmente, no momento da imagem, Vénus estava com uma elongação de 39.46 graus a 1.105 AU (165,425,348 km), e Mercúrio com 19.31 graus, a 0.828 AU (123,856,206 km).
O planeta Júpiter e a Lua em "rota de ocultação". A ocultação de Júpiter apenas ocorrerá na Europa em latitudes mais altas. Por cá, passa muito próximo, a cerca de um quarto de grau, lá para as três da tarde. As ocultações, razias e conjunções próximas podem ser dramáticas como esta de Júpiter em 2002 ou esta de Saturno em 2007, eainda esta de Vénus em 2008.
Foi bastante notória a luz da Terra reflectida na parte não iluminada pelo Sol, isto é, onde é noite na Lua.
Quando a Lua está na fase minguante (ou crescente) fino, a Terra quando observada por alguém que esteja na Lua, encontra-se "quase cheia".
Na altura da imagem abaixo, a Terra apresentava uma fase com cerca de 93%. A Terra é bastante mais reflectiva (36,7% de albedo) que a Lua (12%), os oceanos, e principalmente as nuvens brancas contribuem em muito para o brilho reflectido
Também o tamanho aparente da Terra, é 4 vezes maior (cerca de 2 graus), dando para imaginar um fabuloso "terrar", neste caso, cerca de 75 vezes mais brilhante, quando comparado com o luar da Lua com a mesma fase.
(A Terra com uma fase de 93% tem uma magnitude estimada de -16,7 quando comparado -12,0 para a Lua nessa mesma fase).
A razão porque esta reflexão se vai perdendo à medida que a fase da Lua vai crescendo, é que a fase da Terra vai por sua vez diminuindo, reflectindo assim cada vez menos luz, e por consequência, chega a um ponto em que a luz reflectida pela parte escura também diminui até ficar quase imperceptível, o que acontece a partir do quarto crescente.
De notar que a luz que observamos da parte escura, foi reflectida duas vezes: Sol->Terra, Terra->Lua e Lua->Terra. Este ténue brilho foi basicamente explicado há mais de 500 anos por Leonardo da Vinci.
Finalmente! as nuvens deram tréguas e apesar da Lua no quarto e a iluminação pública, consegui observar a recentemente descoberta supernova (dia 19), sendo a mais brilhante do momento (mag. 10.8), tendo como hospedeira a galáxia Messier 101, situada na Ursa Maior, distando megaparsecs (22.8 milhões anos-luz). Tendo em consideração o tamanho do Universo, é muito próxima e mais brilhante que a maioria das supernovae que se descobrem atualmente. A sua magnitude actual requere um pequeno telescópio, e um céu mais escuro para a observar visualmente.
A última supernova observada nesta galáxia foi em 2011, a SN 2011fe (tipo Ia), chegando a alcançar a magnitude 9.9, uma das mais brilhantes em décadas. Pode-se seguir as supernovae correntemente ativas nesta vetusta e egrégia página da velha escola.
Entretanto, já foi analisado o espectro desta supernova, tendo sido classificada como tipo II - este tipo resulta de uma estrela supermassiva muito jovem, provavelmente com menos de um milhão de anos, que colapsou o seu núcleo de ferro, deixando uma nebulosa remanescente rica em metais pesados (ferro, ouro, urânio) e uma estrela neutrões ou um buraco negro. Um bom exemplo é a Messier 1, onde se encontra a estrela de neutrões da sua estrela hospedeira. O evento da supernova (neste caso bem mais perto, aqui na nossa Galáxia), foi observado por astrónomos chineses no ano 1054 - hoje, passados quase mil anos, é o que se observa da sua expansão.
As supernovae são eventos imprevisíveis e muitos raros de se observar na nossa galáxia, estimando-se uma por século, apesar de já terem passado 400 anos desde a última documentada. Não ajuda serem também eventos breves, com uma grande perda de luminosidade passado alguns meses após o pico de brilho. As últimas supernovae observadas e documentadas foram as SN1572 (Tycho) e a SN1604 (Kepler). A última visível a olho nu, foi a SN1987A que surgiu na Grande Nuvem de Magalhães, que é uma das galáxias anãs satélites da Via Láctea.
Supernova 2023ixf em M101 2023-05-26 21:50-22:25 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMk2
exp: 30 min. (60x30seg.) 1600 ISO
A classificação de supernovae, á semelhança das estrelas, é determinada pelas as características do seu espectro.
Tipo I - Sem linha de absorção de hidrogénio e adicionalmente com as sub-classificação abaixo:
Tipo Ia - sem linhas hélio, e linhas fortes de sílica (Ib)
Tipo Ib - linhas fortes de hélio
Tipo Ic - sem linhas hélio e sem linhas de sílica
Tipo II - Com linha de absorção de hidrogénio
As supernovae tipo Ib, Ic são de estrelas massivas com massa superior a 8x a do Sol (supergigantes) que já perderam as camadas superiores antes do núcleo colapsar, a de hidrogénio no caso da Ib, e as na Ic também a de hélio. As tipo II não perderam nenhuma camada, daí ter a linha de absorção de hidrogénio.
As tipo Ib, Ic e II, são basicamente iguais, e todas resultam do colapso gravitacional do seu núcleo, deixando sempre uma estrela de neutrões ou um buraco negro, e ejecta para o meio interstelar, além do ferro, ouro, chumbo, urânio.
As supernovae tipo Ia são fenómenos muito diferentes, pois julga-se resultar da explosão de estrelas anãs brancas, que são estrelas que se encontram no último estágio de vida com uma massa menor que 1.4x massas solares (limite de Chandrasekhar), tendo nascido com uma massa inicial entre 0.4x - 4x massas solares. Estas estrelas, nesta fase fundem carbono e oxigénio, e quando isoladas são estáveis.
Mas, pode acontecer ter uma estrela companheira (mesmo) muito próxima de sequência normal, como por exemplo, uma estrela do mesmo tipo do nosso Sol, que em determinada altura da sua vida, começa a expandir para gigante ou supergigante, libertando grandes quantidades de gás, adicionando assim, massa à sua vizinha anã branca, fazendo-a ultrapassar a sua massa para mais de 1.4x, fazendo o seu raio diminuir, e a densidade e temperatura aumentar... receita para uma catástrofe, pois transforma a estrela numa bomba de fusão nuclear. Um outro mecanismo plausível pode ser a fusão de duas anãs brancas - se a massa resultante ultrapassar o limite de Chandrasekhar.
No momento da explosão, a estrela irradia tanta luz como o Sol em toda a sua vida, produzindo e ejectando 1 massa solar do elemento ferro para o meio interstelar. Matéria prima suficiente para (ajudar a) formar 1 milhão de Terras! (a Terra é constituída por 32% de ferro, e a massa solar é 333000x a da Terra - é só fazer as contas...)
Pelo facto de estas estrelas terem aproximadamente todas a mesma massa (1.4x solar), quando explodem têm aproximadamente o mesmo brilho absoluto, sendo usadas como "velas" padrão para determinar a que distância estão - mais longe, parecem menos brilhantes, e mais perto, parecem mais brilhantes.
Das estrelas brilhantes que são prováveis candidatas a supernova (mais de 8x-10x a do Sol) e que podemos observar a olho nu do nosso hemisfério, podem-se contar praticamente todas as estrelas mais brilhantes da constelação de Orionte, com destaque para a Betelgeuse (α Orionis) no ombro esquerdo do guerreiro, que é uma supergigante vermelha, encontrado-se a 600+-147 anos-luz e tem entre 12x-18x a massa do Sol, e durante o Verão, a estrelas da constelação de Escorpião que inclui a Antares (α Scorpii) a 555+-100 anos-luz e massa entre 13x-16x.
Na imagem ao lado, Antares (A) na companhia da estrela da sua pequena companheira anã azul, Antares (B) que é 70x mais ténue. Muito complicado de observar visualmente, mas possível.
Qualquer destas estrelas supergigantes estão na última etapa da sua evolução, mas encontram-se muito afastadas (mais de 30-60 anos-luz) para nos afectar de algum modo se detonarem - isto é, se é que já não aconteceu - a notícia demora séculos a cá chegar...