Depois da ocultação ocorrida no mês passado, a Lua continua ainda a passar razias a Marte, estando este último na companhia do popular e afamado asterismo/enxame Messier 45, também conhecido por Plêiades ou as "Sete Irmãs".
Fui reclamar os meus primeiros fotões provenientes do próximo cometa brilhante, quiçá candidato a ser notícia no final dos telejornais.
Nesta altura localiza-se na constelação do Dragão, fazendo a sua passagem entre as duas Ursas. Foi imediatamente visível no binóculo 16x70, estimando cerca de 6+ de magnitude comparando com estrelas por perto, mas sem grande certeza, porque a coma (cabeleira) é gigantesca.
No momento da imagem, encontrava-se a pouco mais 67 milhões de quilómetros da Terra, com a sua maior aproximação a acontecer a 1 de Fevereiro (pela tardinha), distando então apenas 42.47 milhões de quilómetros, passando perto da estrela polar a cerca de 15 graus (um palmo mal medido), ou por outras palavras, vai estar numa posição circumpolar.
Cometa C/2022 E3 (ZTF)
SkySafari 7 Pro (Iphone) e Guide 9.0 (clicar na imagem)
Julga-se que este cometa veio pela a primeira vez "cá abaixo", num mergulho quase a pique (109º), cruzando o plano do sistema solar a 12 de Fevereiro entre as órbitas da Terra e Marte, mas a viagem saiu-lhe cara, porque devido à perturbação causada pelos os planetas, a sua órbita foi afectada e provavelmente vai ser ejectado para fora do sistema solar, ou na melhor das hipóteses, só retornará daqui a milhões de anos.
Tem despertado algum interesse aos cientistas, por se tratar de um cometa com material "novinho em folha", nunca submetido à radiação solar, acabado de sair do reservatório de cometas, a nuvem de Oort.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 03:28 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/4 6"
exp: 5 min. (20x15 seg.) 800 ISO
Na área existem algumas galáxias relativamente brilhantes, que por milagre escaparam à poluição luminosa, tendo em conta que estava rodeado de 3 postes de iluminação pública...
Galáxias NGC 5907/5905/5908
Canon 6DMkII 200mm f/4 6"
exp: 5 min. (20x15 seg.) 800 ISO
Tenho acompanhado o cometa durante os últimos dias. Em céus urbanos, é difícil resgatá-lo da poluição luminosa com o binóculo 7x50, precisando do 16x70 para se revelar um pouco mais notório.
Apesar de se encontrar mais perto, não me pareceu ser mais brilhante do que há alguns dias atrás, talvez devido ao facto de que se está a afastar do Sol (o periélio foi no dia 12), causando talvez a diminuição da actividade. De qualquer modo, não me está a parecer que será um sucesso de bilheteira a olho nu, excepto talvez em céus muito escuros, um pouco à semelhança do cometa NEOWISE em 2020.
Na altura da imagem, o cometa encontrava-se a 54 milhões de quilómetros (menos 13 milhões que na imagem da observação anterior), e nota-se realmente maior. Mas a cauda e a anti-cauda (anti-solar) ficaram completamente afogadas na poluição luminosa. À medida que se vai aproximando da Terra, a sua velocidade aparente também aumenta, 10.357'/hora nesta altura, contra 6.600'/hora no dia 22. No dia 1 de Fevereiro, no ponto mais próximo, será de 16.703'/hora.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 00:02 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/4 6"
exp: 5 min. (20x15 seg.) 1600 ISO
Sequência automática de 20 imagens de 15 segundos a 1600 ISO, separadas por 5 segundos, usando o comando Canon TC-80N3
imagens convertidas, alinhadas, empilhadas e niveladas com Nebulosity 4
imagem resultante recortada e nivelada no Pixelmator Pro - à qual foram retiradas as estrelas e posteriormente combinada com a última imagem da sequência para ter estrelas "fixas".
O cometa vai-se aproximando na sua passagem pelo o nosso pólo celeste, estando nesta altura a 51 milhões de quilómetros e, consequentemente maior e ligeiramente mais brilhante. Facilmente visível com qualquer binóculo. Espero que o "bom tempo astronómico" continue, apesar do frio.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 00:54 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/4 6"
exp: 5 min. (20x15 seg.) 1600 ISO
2023.01.28
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)
Apesar do local ser mais elevado, com menos poluição luminosa, a Lua estava no quarto crescente (50% iluminada), com o céu a não passar a magnitude 4, brilho que era superior ao do cometa. Por muito que tentasse, não foi possível vislumbra-lo a olho nu.
Levei comigo o telescópio para lhe fazer um retrato mais digno. Foram 6 horas de "vita contemplativa" passadas a 5 graus Celsius na sombra de uma turbina eólica.
Constelação de Orionte
Iphone
O cometa está aparentemente a mover-se cada vez mais rápido em relação às estrelas, resultado de estar a aproximar-se da Terra (no momento da imagem 46.5 milhões de quilómetros), culminando esta aceleração aparente no dia 1 de Fevereiro, dia após o qual, começará a afastar-se e no caminho de retorno para a remota nuvem de Oort, que rodeia (presumivelmente) o nosso Sistema Solar.
Na imagem abaixo, a soma de 30 imagens centrada na coma do cometa, tornando notório o movimento em relação às estrelas.
Cometa C/2022 E3 (ZTF) - 21:23 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92"
exp: 15 min. (30x30 seg.) 800 ISO
Filme produzido com as imagens acima, mas desta com as estrelas fixas.
Notas de processamento do video para memória futura:
Nebulosity 4 - converter, alinhar e recortar e nivelar fotogramas - convertidos para o formato tiff 16bit
Quicktime Player (MacOS) - criar ficheiro MOV (heic)
Hoje, ao fim do dia. Um notório par bem próximo das duas maiores luminárias planetárias do nosso Sistema Solar.
Amanhã pelas 10:40, esta conjunção estará na sua menor separação, distando apenas meio grau (32'), mas não será visível devido a estar abaixo do horizonte. Mas no final do dia, valerá a pena comparar com a estrela mais brilhante do céu nocturno, Sírio (-1.4 mag), a brilhar a Sul, e comparar com Júpiter (-2.1 mag) e Vénus (-4.0 mag). Por alguma razão estes últimos eram deuses na antiguidade...
Também amanhã, mas no inicio do dia, Mercúrio (-0.6 mag) e Saturno (0.9 mag) vão estar emparelhados, distando quase um grau (56') pelas 9:35, mas estarão acima do horizonte já com muita luminosidade do Sol.
Hoje, ao fim do dia, um bem menos notório par de planetas. Curiosamente à mesma hora, 25 dias após a observação anterior.
Durante esta semana, ao fim da tarde vão estar alinhados cinco planetas. A contar a partir do Sol - Mercúrio, Júpiter, Vénus, Urano e Marte. O par que também pretendia ter feito uma imagem, Mercúrio e Júpiter, está muito perto do Sol, que apesar de brilhantes, é difícil visualizá-los, ainda menos com as insistentes nuvens no baixo horizonte.
O planeta Vénus continua fulgurante, a brilhar com -4.1 de magnitude, e desta vez está na companhia das 7 irmãs, as conhecidas e notórias Plêiades, o mais brilhante do catálogo de falsos cometas de Messier. Foi bastante interessante observar no binóculo 16x70 (que tem um campo circular de 4 graus), distando um do outro cerca de 3 graus (3 dedos).
O planeta Mercúrio brilhava a -0.3 de magnitude, depois do máximo em 18 de março (-1.9), encontrando-se neste momento perto do seu elongamento máximo (distância angular do Sol), que ocorrerá em 11 de abril, mas já está suficientemente afastado do Sol e ainda brilhante para ser observado, mesmo a olho nu, mas que devido às nuvens baixas no horizonte, não me foi possível observar. No binóculo foi óbvio.
Depois de alguns dias de chuva e/ou muito encobertos, tive nova oportunidade para tentar observar o planeta Mercúrio a olho nu, mas, mais uma vez sem grande êxito.
Na imagem ao lado, feita com um telemóvel, permitiu capturar o ar da sua modesta graça (sim, é aquele ténue pontinho acima da copa da árvore), fazendo uma conjunção distante (20 graus) com o planeta Vénus. Este último continuar a dominar a paisagem ao fim da tarde.
O cálculo das elongações permite saber qual a melhor altura para observar um planeta, ou qualquer outro corpo que orbite o Sol (como uma frota invasora alienígena), sendo formado pelo ângulo Sol-Terra-objecto. Também pode ser pelo ângulo Planeta-Terra-satélite para observação de satélite naturais ou artificiais).
Este valor é medido em graus Este ou Oeste, e define-se que com elongação de 0 graus, se encontra em conjunção, a 90 graus na quadratura, e a 180 graus na oposição.
Para os planetas exteriores, interessa particularmente a oposição, altura em que a Terra se encontra entre o Sol e o planeta, ficando este último mais próximo e 100% iluminado pelo o Sol. O planeta Marte é, em particular um bom exemplo.
As elongações dos planetas interiores podem ser descritas na prática da seguinte maneira: Grande elongação Oeste é quando o planeta nasce antes do Sol e a Grande elongação Este, quando este se põe após o Sol.
O planeta Mercúrio tem a maior variação de elongação, devido à sua órbita ser mais excêntrica (elipse mais alongada, ou plana), variando entre 17 graus e 50 minutos no periélio (quando está mais perto do Sol), e 27 graus e 50 minutos no afélio (mais afastado do Sol). O planeta Vénus apenas varia entre 45 e 47 graus nos mesmos pontos da sua órbita.
Mais particularmente, no momento da imagem, o planeta Vénus apresentava uma elongação de 39.46 graus a 1.105 AU (165,425,348 km), e Mercúrio com 19.31 graus, a 0.828 AU (123,856,206 km).
Foi bastante notória a luz da Terra reflectida na parte não iluminada pelo Sol, isto é, onde é noite na Lua. Quando a Lua está na fase minguante (ou crescente) fino, a Terra quando observada por alguém que esteja na Lua, encontra-se "quase cheia".
Na altura da imagem abaixo, a Terra apresentava uma fase com cerca de 93%. A Terra é bastante mais reflectiva (36,7% de albedo) que a Lua (12%), os oceanos, e principalmente as nuvens brancas contribuem em muito para o brilho reflectido
Também o tamanho aparente da Terra, é 4 vezes maior (cerca de 2 graus), dando para imaginar um fabuloso "terrar", neste caso, cerca de 75 vezes mais brilhante, quando comparado com o luar da Lua com a mesma fase. A Terra com uma fase de 93% tem uma magnitude estimada de -16,7 quando comparado -12,0 para a Lua nessa mesma fase.
A razão porque esta reflexão se vai perdendo à medida que a fase da Lua vai crescendo, é que a fase da Terra vai por sua vez diminuindo, reflectindo assim cada vez menos luz, e por consequência, chega a um ponto em que a luz reflectida pela parte escura também diminui até ficar quase imperceptível, o que acontece a partir do quarto crescente.
De notar, que a luz que observamos da parte escura, foi reflectida duas vezes: Sol->Terra, Terra->Lua e Lua->Terra. Este ténue brilho foi basicamente explicado há mais de 500 anos por Leonardo da Vinci.
Finalmente! as nuvens deram tréguas e apesar da Lua estar no quarto crescente e da iluminação pública, consegui observar a recentemente descoberta supernova (dia 19), a mais brilhante do momento (mag. 10.8), tendo como hospedeira a galáxia Messier 101, situada na Ursa Maior, distando 7 megaparsec (22.8 milhões anos-luz).
Na imagem também está a galáxia anã peculiar NGC 5474. Tendo em consideração o tamanho do Universo, esta supernova está muito próxima e mais brilhante que a maioria das supernovae que se descobrem atualmente. A sua magnitude actual requere um pequeno telescópio, mas um céu mais escuro para a observar visualmente.
A última supernova observada nesta galáxia foi em 2011, a SN 2011fe (tipo Ia), chegando a alcançar a magnitude 9.9, uma das mais brilhantes em décadas. Pode-se seguir as supernovae correntemente ativas nesta vetusta e egrégia página da velha escola.
Entretanto, já foi analisado o espectro desta supernova, tendo sido classificada como tipo II - este tipo resulta de uma estrela super-massiva muito jovem, provavelmente com menos de um milhão de anos, que colapsou o seu núcleo de ferro, deixando uma nebulosa remanescente rica em metais pesados (ferro, ouro, urânio) e uma estrela neutrões ou um buraco negro.
Um bom exemplo é a Messier 1, onde se encontra a estrela de neutrões da sua estrela hospedeira. O evento da supernova (neste caso bem mais perto, aqui na nossa Galáxia), foi observado por astrónomos chineses no ano 1054 - hoje, passado quase mil anos, é o que se pode observar da sua expansão.
As supernovae são eventos imprevisíveis e muitos raros de se observar na nossa galáxia, estimando-se que surja uma por século, apesar de já terem passado 400 anos desde a última documentada. Não ajuda serem também eventos breves, com uma grande perda de luminosidade passado alguns meses após o pico de brilho. As últimas supernovae observadas e documentadas foram as SN1572 (Tycho) e a SN1604 (Kepler). A última visível a olho nu, foi a SN1987A que surgiu na Grande Nuvem de Magalhães, que é uma das galáxias anãs satélites da Via Láctea.
Supernova 2023ixf em M101 2023-05-26 21:50-22:25 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 30 min. (60x30 seg.) 1600 ISO
A classificação de supernovae, à semelhança das estrelas, é determinada pelas as características do seu espectro.
Tipo I - Sem linha de absorção de hidrogénio e adicionalmente com as sub-classificação abaixo:
Tipo Ia - sem linhas hélio, e linhas fortes de sílica (Ib)
Tipo Ib - linhas fortes de hélio
Tipo Ic - sem linhas hélio e sem linhas de sílica
Tipo II - Com linha de absorção de hidrogénio
As supernovae tipo Ib, Ic são de estrelas massivas (supergigantes) com massa superior a 8x a do Sol que já perderam as camadas superiores antes do núcleo colapsar, a de hidrogénio no caso da Ib, e as na Ic também a de hélio. As tipo II não chegaram a perder nenhuma camada, daí ter a linha de absorção de hidrogénio.
As tipo Ib, Ic e II, são basicamente iguais, e todas resultam do colapso gravitacional do seu núcleo, deixando sempre uma estrela de neutrões ou um buraco negro, e ejecta para o meio interstelar, além do ferro, ouro, chumbo, urânio entre outros.
As supernovae tipo Ia são fenómenos muito diferentes, pois julga-se resultar da explosão de estrelas anãs brancas, que são estrelas que se encontram no último estágio de vida com uma massa menor que 1.4x massas solares (limite de Chandrasekhar), tendo estas nascido com uma massa inicial entre 0.4x - 4x massas solares. Nesta fase, estas estrelas fundem carbono e oxigénio, e quando isoladas são estáveis.
Mas, pode acontecer ter uma estrela companheira (mesmo) muito próxima de sequência normal, como por exemplo, uma estrela do mesmo tipo do nosso Sol, que em determinada altura da sua vida, começa a expandir para gigante ou supergigante, libertando grandes quantidades de gás, e adicionando assim, massa à sua vizinha anã branca, fazendo-a ultrapassar a sua massa para mais de 1.4x, fazendo o seu raio diminuir, e a densidade e temperatura aumentar... receita para uma catástrofe, pois transforma a estrela numa bomba de fusão nuclear. Um outro mecanismo plausível pode ser a fusão de duas anãs brancas - se a massa resultante ultrapassar o limite de Chandrasekhar.
No momento da explosão, a estrela irradia tanta luz como o Sol em toda a sua vida, produzindo e ejectando 1 massa solar do elemento ferro para o meio interstelar. Matéria-prima suficiente para (ajudar a) formar 1 milhão de Terras! (a Terra é constituída por 32% de ferro, e a massa solar é 333000x a da Terra - é só fazer as contas...)
Pelo facto destas estrelas terem aproximadamente todas a mesma massa (1.4x solar), quando explodem, têm aproximadamente o mesmo brilho absoluto, sendo usadas como "velas" padrão para determinar a que distância estão - mais longe, parecem menos brilhantes, e mais perto, parecem mais brilhantes.
Das estrelas brilhantes que são prováveis candidatas a supernova, com mais de 8x-10x a massa do Sol, e que podemos observar a olho nu do nosso hemisfério, podem-se contar praticamente todas as estrelas mais brilhantes da constelação de Orion, com destaque para a Betelgeuse (α Orionis) no ombro esquerdo do guerreiro, que é uma supergigante vermelha, encontrado-se a 600+-147 anos-luz e tem entre 12x-18x a massa do Sol, e durante o Verão, a estrelas da constelação de Escorpião que inclui a Antares (Alpha Scorpii) a 555+-100 anos-luz e massa entre 13x-16x.
Na imagem ao lado, Antares (A) na companhia da estrela da sua pequena companheira anã azul, Antares (B) que é 70x mais ténue. Muito complicado de observar visualmente, mas possível.
Qualquer destas estrelas supergigantes encontram-se na última etapa da sua evolução, mas estão muito afastadas (mais de 30-60 anos-luz) para nos afectar de algum modo se detonarem - isto é, se é que já não aconteceu - a notícia demora séculos a cá chegar...
Apesar da Lua cheia, aproveitei o céu estar razoavelmente limpo de nuvens, para fazer uma imagem de uma outra galáxia relativamente próxima, na qual, de quando em vez, aparece uma supernova.
Estão documentadas mais duas supernovae em 1994, SN1994I (tipo Ic) e em 2011, a SN2011dh (tipo II). Surgiu em 2019 uma "impostora", AT2019abn, tratando-se de uma nova (nome singular de novae), estrela que momentaneamente teve um grande aumento de brilho, mas que não resultou na sua destruição, mas poderá provavelmente ter sofrido grandes perdas de massa.
A galáxia Messier 51, também conhecida por "Remoinho", apesar de formalmente pertencer à constelação de Cães de Caça (Canis Venatici), é mais fácil chegar até ela usando a Alkaid (eta UMa) da Ursa Maior como referência. Devido à sua posição no céu, é visível grande parte do ano, e encontra-se bem alta durante a primavera e verão. Uma boa razão para ser uma das galáxias mais fotografadas e estudadas, sendo um magnífico exemplo de uma galáxia em espiral "Grand Design" e "face-on", ou seja de face virada para nós, conjuntamente com uma trágica fusão de galáxias mesmo aqui à porta do Universo Local. Com uma magnitude perto de 9, e afogada no luar, não a consegui discernir no binóculo 16x70.
Messier 51 & NGC 5195
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 60 min. (60x60 seg.) 800 ISO
A galáxia anã irregular IC 10 tem grandes probabilidades de pertencer ao Grupo Local, situando-se a 0.74 megaparsec (2,4 milhões anos-luz). O Grupo Local (GL) é "nosso" conjunto da galáxias, dominada por duas espirais gigantes, a galáxia Andrómeda (Messier 31), e a nossa Via Láctea. Cerca de 40 objectos já foram identificados como pertencentes ao GL, mas estão sempre a surgir novos candidatos.
As galáxias anãs são geralmente muito pouco brilhantes, e facilmente obscurecidas por matéria interstelar, como é o caso da sua localização na constelação de Cassiopeia. A IC 10 particularmente, foi das últimas a ser descobertas visualmente em 1887 e tem muita actividade na formação de estrelas ("Starburst"), buracos negros e vários sistemas binários de estrelas de neutrões e estrelas jovens massivas (muito brilhantes em raios-X) que poderão resultar eventualmente em supernova.
Como se pode perceber pela a imagem abaixo, o desafio foi apenas detectá-la... no entanto esta lá, extremamente ténue, arrancada sofridamente de um céu suburbano com magnitude 3 (e algumas nuvens). Para ajudar a "ver", por o rato sobre a imagem, ou clicar se for um dispositivo de toque.
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 14 min. (7x120 seg.) 1600 ISO
O enxame globular Messier 13 na constelação de Hércules, é um dos mais brilhantes que se pode observar do nosso hemisfério, devido sua proximidade, a cerca de 22000 anos-luz e passar mesmo no zénite nas noites de verão. Este facto torna-o num alvo popular em telescópios amadores de média abertura (superior a 15cm), muitas vezes descrito como "um montinho de açúcar", devido à sua forma esferóide e concentrada de estrelas.
Os enxames globulares são sistemas concentrados de centenas de milhares de estrelas estrelas, com idades entre 11-13.5 mil milhões de anos, que na sua composição tem menos "metais" que o nosso Sol, indicio da sua antiguidade, permitindo assim ter um valor limite mínimo para a idade do Universo.
Na nossa galáxia já se identificaram cerca de 140 globulares (Milky Way global survey of star clusters. II. (Kharchenko+, 2013)), estando distribuídos maioritariamente no halo da galáxia a distâncias que vão de 6800 anos-luz (Messier 4) a 380000 anos-luz (Arp-Madore 1), e podem ter mais de 1 milhão de estrelas, muito próximas entre elas, e sem gás e matéria interstelar, podendo-se inferir que ser pouco provável terem planetas. Os maiores podem ter tido origem em galáxias anãs "depenadas de gás" por outras maiores.
Sessão arruinada por nuvens altas - das 60 exposições feitas só se aproveitaram 8... Mas suficientes para registar este curioso par interativo de galáxias, que tal como a galáxia Messier 51, também se encontra na constelação Cães de Caça (Canis Venatici) a cerca de 6 graus da sua estrela alfa, a Cor Caroli. que é na realidade um sistema binário de duas estrelas de brilho diferente (magnitudes 2.9 e 5.5) com uma separação de 20''.
Usei o Interstellarum Deep Sky Atlas, para o qual desenhei um acetato onde estão impressos os campos da Canon 6D e das oculares Panoptic 24mm/Nagler 9mm. Revelou-se muito útil, permitindo encontrar e enquadrar mais rapidamente os alvos, que na verdade, daqui do pátio a maioria é praticamente invisível.
Este grupo de galáxias (NGC 4631), localizando entre os Cães de Caça e a Cabeleira de Berenices, pertence ao bem populado Superaglomerado Local (ou de Virgem), onde o nosso Grupo Local é um dos cerca de 100 conhecidos.
A galáxia barrada NGC 4631 está entre 20-42 milhões anos-luz, sendo um bom exemplo de uma galáxia vista de lado "edge-on", ligeiramente distorcida pela a galáxia elíptica anã NGC 4627 que se encontra lá perto. A sua forma algo peculiar assemelha-se a uma baleia, daí a alcunha. Teve e continuar a ter, muito atividade de formação (e destruição) de estrelas, com muita poeira interstelar e hidrogénio ionizado.
É bastante plausível que a galáxia barrada NGC 4656/7 esteja a ser muito afectada pela a "baleia", porque foi recentemente descoberto um rio de estrelas entres as duas galáxias, causando uma ainda mais peculiar distorção, assemelhando-se a um pé de cabra ou a um taco de hóquei.
NGC 4631 & NGC 4656
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x49'
exp: 8 min. (8x60 seg.) 800 ISO
Mais um instantâneo extra-galáctico, aproveitando uma pequena aberta, sendo que, desta vez das 60 exposições só se aproveitaram 42. No inicio da noite brilhava o planeta Vénus na companhia de um fino crescente da Lua. A 55x, Vénus apresentava-se razoavelmente grande e com uma fase próxima de quarto crescente, parecia uma mini Lua.
A alfa de Cães de Caça, também conhecida por Cor Caroli, é um sistema binário a cerca de 108 anos-luz, situando-se a cerca de 5 graus da galáxia Messier 63 abaixo capturada.
É também uma interessante vista a 55x, sendo um bonito par de estrelas brancas de brilho desigual. As estrelas destes sistema estão separadas por 650 unidades astronómicas, e tem um período de rotação de mais de 8 mil anos. A estrela mais brilhante, é por sua vez, uma anã branca 83x mais luminosa, e com 2.6x o diâmetro comparativamente ao nosso Sol, variando entre as magnitudes 2.83-2.98 num período de 5 dias 11 horas 16 minutos.
Pensa-se que por ter campo magnético tão forte (1500x o do Sol), poderá ter manchas solares de tal modo gigantescas, e permanentementes na superfície, que quando a estrela se vira na nossa direção aparenta ser menos brilhante.
A galáxia espiral Messier 63 a ~32 milhões anos-luz, pertence ao grupo da Messier 51. Tem uma textura algo floculenta devido aos múltiplos fragmentos dos braços da espiral, entremeados por linhas de poeira, sendo especialmente notório nas imagens, assemelhando-se a pétalas de um girassol.
É plausível que a nossa Galáxia tenha esta morfologia. Apesar do seu núcleo ser consideravelmente brilhante, quasi-estelar, não a consegui discernir visualmente devido ao brilho de fundo do céu, tanto a 21x como a 55x.
Messier 63
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 42 min. (42x60 seg.) 800 ISO
Continuando em Cães de Caça, fiz uma visita ao terceiro objecto do catalogo Messier,, um enxame globular um pouco menos brilhante que Messier 13, devido a estar mais longe (25890 anos-luz). Localizei-o imaginando um grande triângulo equilátero (12 graus lado), construído com a Arcturo, a Rho Bootis e o próprio enxame. É facilmente detetável a 21x, e a 55x já mostrando o aspecto granuloso, típico destes enxames quando observados com um telescópio de pequena de abertura. Na parte inferior da imagem consegue-se vislumbrar uma pequena galáxia espiral NGC 5263 com a magnitude 13,4.
Messier 3
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 60'x60'
exp: 39 min. (39x60 seg.) 800 ISO
O planeta Vénus ainda está muito proeminente ao fim da tarde, a brilhar a -4.6, apresentando a 55x uma fase de 38.9%, a diminuir de dia para dia, e um tamanho de 29.5", que pelo contrário, vai aumentando à medida que se vai aproximando da Terra, estando ainda bem afastado, a 103 milhões de quilómetros.
Há muito tempo que não fazia uma imagem da Lua. Nesta altura mostrava uma fase com mais de 12%, e com o Mare Crisium, que tem aproximadamente 555 km de diâmetro, em grande destaque.
O par interativo de galáxias anãs NGC 4490 e NGC 4485, à semelhança das galáxias brilhantes desta região, estão relativamente perto a cerca 24 milhões anos-luz. São galáxias de baixa massa, com cerca de 10x a massa das "nossas" Nuvens de Magalhães, que é considerado como um sistema análogo, e por tal, a razão do interesse no estudo de morfologia e cinemática.
Este par está a pouco mais de 1/2 grau do outro cão de caça, a beta CVn, também chamada Chara, uma estrela a 27500 anos-luz muito semelhante ao nosso Sol. As galáxias foram novamente invisíveis a 55x com o olho no vidro, e a imagem poderia ter tido mais tempo de exposição, pois, mais uma vez foi limitada pela as nuvens.
NGC 4490 e NGC 4485
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 25 min. (25x60 seg.) 800 ISO
Pátio 336 - A estrela de Barnard, Messier 94 e Messier 27›
2023.06.23
Pátio (Leiria 39ºN 08º48'W alt. 130m)
A estrela de Barnard (V2500 Oph) de magnitude 9.5 e a cerca de 6 anos-luz é, depois do sistema ternário Alpha Centauri e sua a Proxima a 4.22 anos-luz, a estrela mais próxima de nós. A Proxima, que é duas magnitudes mais ténue, apenas se pode observar a latitudes mais baixas (menores de 29°, por exemplo as ilhas Canárias). Ambas são anãs vermelhas, sendo pouco provável terem zona habitável.
A Barnard é o que chama uma estrela com um grande movimento próprio, descoberta em 1916, não surpreendentemente, por Edward Emerson Barnard, ao comparar placas fotográficas de 1894 e do ano da descoberta. Verificou que a estrela desaparecia numa posição e aparecia noutra - coisa muito invulgar, pois as estrelas não se movem entre elas o suficiente para ser noticiável em tão pouco tempo. Depois foi confirmado com mais placas. A vida e obra deste astrónomo é muito interessante, um verdadeiro explorador à antiga.
Daqui a um ano, se fizer nova imagem à mesma resolução (2.92"), a estrela apenas terá movido 3-4 pixels a sua posição, a que corresponde o movimento aparente de 10.3". A estrela propriamente dita, na imagem tem 6 pixels de diâmetro. E esta estrela é, no entanto, a que se move mais rápido em relação ao nosso Sol, e está vir na nossa direção, passando perto do nosso sistema solar no ano 11800, e mesmo assim a 4.75 anos-luz. Encontra-se de momentoo na constelação do Ofiúco, perto da sua estrela beta, Cebalrai.
Estrela de Barnard
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 20 min. (20x60 seg.) 800 ISO
Sobre o movimento das estrelas
Embora pouco, e muito lentamente, as estrelas movem-se em relação ao nosso Sol, e no caso de algumas delas, é notório mesmo em poucas décadas. Para perceber o movimento de uma estrelam é medida a sua velocidade radial (Rv) em km/s por meio de efeito Doppler, e movimento próprio (μ) que é calculada pela a alteração nas suas coordenadas ascensão recta e declinação sendo medido em "/ano. Se a estrela estiver a mover exatamente na nossa direção, não altera as coordenadas observadas, apenas se estiver a mover-se perpendicularmente à nossa linha de vista.
Imagine-se estar no meio de uma linha de comboio e o dito cujo está a aproximar-se: como o comboio está na nossa linha de vista ("pega de caras"), aparenta estar fixo (não muda as coordenadas), mas se se tiver sangue frio, conhecimento e uma calculadora, seria possível calcular a sua velocidade, analisando o efeito de Doppler (mudança na frequência) do apito do comboio (a avisar-nos para sair do meio da linha) e calcular a sua velocidade - esta é a velocidade radial, e mede a velocidade que uma radiação, neste caso, o som, se aproxima ou afasta de nós. No caso de estrelas, analisa-se o efeito de Doppler na sua luz (espectro), sendo convencionado negativa se se estiver a aproximar.
Para um observador um pouco mais esperto, se sair do meio da linha e ficar a observar o comboio à sua beira, ou seja, com a linha na perpendicular, além de provavelmente sobreviver à sua passagem, também vai poder registar o movimento aparente do comboio, à medida que vai mudando de posição (coordenadas) - este é o movimento próprio.
Sabendo a distância da estrela, o movimento próprio, calcula-se a velocidade transversa, e com a velocidade radial também calcular a velocidade espacial (v), ou seja um vector tridimensional, formado com o vector da velocidade transversal e o vector da velocidade radial, que é correspondente à velocidade real relativamente ao nosso Sol.
Estas velocidade e alterações de posição são observadas e calculadas para encontrar estrelas próximas de nós. Se estes valores forem elevados, é muito provável que a estrela esteja muito próxima, sendo nestes casos, a distância usualmente medida por paralaxe trigonométrica (π).
Parâmetro
Estrela de Barnard V2500 Oph
Velocidade radial (Rv)
−110.47±0.13[1] km/s (negativo significa que está a aproximar-se)
Movimento próprio (μ)
RA: −801.551 mas/ano
Dec.: 10362.394 mas/ano (microsegundos de arco ")
A Messier 94, está a cerca de 21 milhões anos-luz, razão para ser uma das galáxias mais brilhantes da constelação de Cães de Caça. É uma galáxia "anel" do tipo inicial (ou precoce) Sab, que tem sinais de dois braços espirais (não nesta imagem!). É muito fácil de encontrar, está entre os dois "cães", Cor Caroli e Chara, fazendo com estas estrelas um triângulo muito achatado.
Messier 94
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 60 min. (60x60 seg.) 800 ISO
O braço da Via Láctea que corre ao longo da constelação de Cisne e também pela conspícua constelação da Raposa (Vulpecula), é uma das maravilhas da natureza, à qual que ninguém pode ficar indiferente quando se tem a oportunidade de estar sob um céu escuro. Esta última constelação, apesar da sua modesta e pouco brilhante figura, ficou guardiã de um dos mais especulares objectos que se pode observar com instrumentos amadores, desde binóculos e pequenos refratores - a grande nebulosa planetária Messier 27, que se situa a 1150 anos-luz.
Esta nebulosa tem a alcunha de "Haltere", tradução direta de "Dumbell", ou "Ampulheta" devido à sua aparência visual algo retorcida, que efectivamente é apenas uma justaposição de várias camadas de gás (tem três aparentemente). Para para se começar a ver cor, será necessário no mínimo 30 cm de abertura e um céu bem escuro e transparente.
A cor verde-azulada é causada pela a ionização de oxigénio, sendo a estrela central de magnitude 13.5, extremamente quente (85000º K) do tipo 07, 0.045±0.004 R⊙ e 0.56±0.02 M⊙ (Napiwotzki 1999), sendo a principal responsável, emitindo copiosas quantidades de radiação ultra-violeta que iluminam as imensas nuvens de gás na sua região, para nosso gáudio.
Messier 27
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 13 min. (13x60 seg.) 800 ISO
Observer's Sky Atlas 4th edition - The best 500 Deep-sky Ojects with charts and Images, Erich Karkoschka
2023 Firefly Books ISBN: 9780228104100
Esta nova edição do "Karkoschka", como lhe chamo afectuosamente, mudou radicalmente muitos aspectos em relação às edições anteriores - Tem capa rígida, é a cores, em papel grosso brilhante e adicionou mais 250 objectos. Também aumentou de tamanho e peso.
As cartas principais tem uma escala de 1º/3mm (8.5º/polegada), correspondente a 3.34º/cm e nas cartas de pormenor 1º/1cm (2.54º/polegada), sendo impressas 40000 estrelas até 8.5 de magnitude, curiosamente igual ao SkyAtlas 2000.0 (Tirion/Sinnott), mas com cerca de metade das estrelas, presumindo eu por o Karkoschka sobrepor áreas da carta principal com as cartas de pormenor. Estas últimas, por sua vez, podem chegar a estrelas de magnitude 11.5. O autor avisa que pode ser necessária uma lupa para as ver, chamando à atenção que sob luz vermelha ténue, ainda pode subtrair uma ou mais magnitudes.
Ter diversas escalas no mesmo sítio é muito conveniente, sendo uma das principais razões de gostar deste atlas. A posição (J2000), distância, cor, magnitude e outros dados das estrelas usam informação do catálogos Gaia, Tycho e Hipparcos. Tudo isto é muito bem explicado nas notas explicativas no início do atlas.
Não é um atlas no sentido tradicional, mas um guia com sugestões criteriosas. A organização das cartas, manteve-se a original: o céu é dividido em 3 grandes faixas, a Norte (N), Equatorial (E) e Sul (S), e cada uma dessas faixas é subdividida em regiões conforme a maneira mais conveniente para encontrar os objectos que o autor selecionou para o catálogo - uma solução inteligente ao meu ver. Num atlas clássico, geralmente são impressas por carta áreas iguais de céu, nem que sejam só estrelas. Realmente, para um catálogo com um número relativamente baixo de objectos, existem muitas áreas vazias de objectos interessantes para pequenos telescópios.
As cartas tiveram uma grande remodelação, mas mantendo a organização tradicional básica, em que informação está na página esquerda e carta na da direita. Foram adicionadas imagens que passaram a ser impressas à volta da carta, (na 3ª edição era um apêndice), sendo na sua maioria a cores. Na página esquerda foi adicionado dois pequenos mapas, um de contexto e outro com aparência das constelações tendo em conta a distância das estrelas, assim como a melhor altura do ano para observar esta área do céu (quando transitam o meridiano). A densidade de informação é avassaladora, podendo até ser um detrimento para quando o que se pretende apenas, é encontrar o objecto no céu.
As cartas foram completamente redesenhadas e posicionadas, tanto as principais, como as de pormenor. Agora têm o fundo branco, evidenciando a região do céu em foco com um traço largo a amarelo, que não é muito eficaz sob luz vermelha. Nas edições anteriores, as áreas adjacentes ficavam com fundo cinzento, o que era uma característica que talvez ofuscasse alvos interessantes por lá perto, mas tornava a carta um significativamente menos reflectiva.
A magnitude limite de ~11 é bem vinda (mesmo se tiver que usar lupa) para confirmação visual na ocular do meu telescópio de 90mm. As estrelas mais brilhantes também são impressas a cor, assim como as linhas e texto. As cores foram escolhidas de modo a proporcionar diferentes tons de "cinzento" sob luz vermelha, onde por exemplo, os objectos são impressos a verde claro, resultando em cinzento bem distinto. Um pormenor que aprecio é o de todos os objectos serem desenhados com a sua forma e orientação aparente, não símbolos. Outro pormenor, é incluir a informação do brilho de superfície e um indicador de visibilidade: Uma pequena planetária de magnitude 10 pode ser visível, mas uma galáxia da mesma magnitude pode não ser.
Uma notação que já não tem é a das cartas adjacentes, apesar de tipicamente a página anterior e posterior sejam as adjacentes em AR (esquerda diminui/direita aumenta), e as de declinação (cima/baixo) a carta com o mesmo número, ex: para "subir" na E11 ir para N10, ou para "descer" para S10. Agora também imprime linhas muito ténues de declinação e e RA - não me parecem muito uteís, e também já não são impressas as "nuvens" dos braços da Galáxia.
À semelhança das edições anteriores, a página esquerda contém de uma forma compacta, informação muito útil sobre os objectos (os primeiros 250) tais como a posição na carta, magnitude, dimensão, tipo, visibilidade, distância e coordenadas e uma pequena descrição.
Uma característica que diferenciam da maior parte dos atlas é informação sobre as estrelas.
As estrelas mais brilhantes (ou interessantes) contêm o número Flamsteed, letra grega Bayer e nome comum, assim como a sua cor, temperatura, classificação espectral, luminosidade e brilho absoluto. A lista de sistemas binários/múltiplos (252) descrevem a separação e posição relativa, e por vezes com um pequeno diagrama. Finalmente, as estrelas variáveis mais notáveis, 81 no total, com os mínimos e máximos, e o seu período. Entre as estrelas, sistemas múltiplos e variáveis são catalogadas 738 (a terceira edição tinha 887). As mini-imagens das descrições parecem-me algo supérfluas, contribuindo um pouco para o congestionamento.
Alguns objectos mudaram de carta, como o quasar 3c 273, Messier 61, NGC 5746 e NGC 6397, outros sairam (NGC 1973, 2175, 2438, 2244, 3384, 4361, 5195, 6369) e novos adicionados (NGC 772, 1398, 1977, 4038, 4697, 5189, 4945, 6755, CR399).
Os novos objectos tem como principal critério a sua visibilidade com telescópios amadores, dos quais 150 são ténues e outros 100, com um prefixo # nas cartas principais, servindo de exemplo de classificação de objectos, todos eles de grau de dificuldade de observação semelhante ao do catálogo de Messier. Os 150 objectos mais ténues estão em novas cartas de pormenor suplementares: N11+ (enxame da Ursa Maior), E14+ (centro do enxame de Virgem), E18+ (centro da galáxia) e S2+ (Nuvens de Magalhães).
As imagens são na sua maioria de longa exposição e feitas em telescópios de abertura moderada. Só as acho convenientes quando estou à procura de um alvo para fazer imagem, apesar de terem alguma utilidade no caso dos enxames de estrelas e uma outra galáxia ou nebulosa em telescópios de grande abertura em céu escuro. Sinceramente, preferia que as imagens tivessem ficado em anexo, tal como foi feito para os 100 objectos adicionais, e com isso ter mantido o formato mais pequeno, verdadeiramente de bolso. As cores das imagens para parecerem muito distintas usando a luz vermelha, ficam um pouco "deslavadas" à luz diurna, pois é atenuado mais precisamente, a componente da cor vermelha.
Em relação às edições anteriores, existem novas seções, a já mencionada lista de objectos tipo para perceber a classificação, e um conjunto de imagens de grande campo, em página dupla, da nossa Galáxia no espectro visível (com índex das cartas), no infra-vermelho e Raios-X.
Também foi atualizado o apêndice, com um novo calendário (semi-perpétuo) de 1993 até 2076, onde também é explicado um método para calcular o dia juliano, e também, as fases e eclipses da Lua, as oposições dos planetas e períodos de estrelas binárias de rotação rápida, estas 4 últimas tabelas até ao ano 2060. Também são impressas listas de nomes populares de objectos, índex do catálogo Messier, e do NGC/IC (que inclui o anterior), nomes das estrelas, com as mais brilhantes em destaque, (foi retirada a tabela de estrelas mais brilhantes da edição anterior), constelações, chuvas de meteoros, valores médios e extremos interessantes, explicação dos cabeçalhos das listas, e finalmente referência e escalas dos objectos impressos. Tenho quase plena confiança na fiabilidade da informação e dos dados deste atlas, o autor é astrónomo profissional e amador.
Todas as edições conseguem-se manter razoavelmente abertas, sendo a 4ª edição com encadernação cosida, e podem ser usadas só com uma mão. O papel é diferente. Na 2ª edição tem um papel menos reflectivo, macio e absorvente (e neste momento bem seboso) e parece ser muito resistente, após centenas de horas de humidade e pó, e ter passado por cima com um carro de 2 toneladas... duas vezes..., a 3ª edição parece ser um papel mais fino e mais reflectivo, e uma impressão mais leve e ténue, e finalmente, a 4ª edição usa um papel ligeiramente reflectivo e mais pesado, semelhante ao do Pocket Star Atlas. A 3ª edição tem mais 5 mm de largura, e a 4ª acrescentou mais 3 cm ao comprimento e 4.5 cm à largura.
Usando a luz vermelha, pareceu-me bastante legível, estando bem conseguido o esquema de cores para uso diurno/nocturno. Entretanto, comecei personaliza-lo, adicionando marcadores de página fixos para listas de objectos geral e da lista suplementar, e também fiz um acetato com escalas e campos do binóculo 16x70 e das oculares que uso frequentemente, e estou seriamente a ponderar adicionar uma lupa de 2x ou 3x, que me parece ser mesmo necessária em visão nocturna.
Dito isto, este atlas não vai substituir o da 2ª/3ª edição, porque não cabe no bolso de trás das calças... digo eu, meio a sério, meio a brincar... teria sido perfeita se tivesse mantido o pequeno formato das edições anteriores... a 4ª edição, no entanto, tem muitas virtudes que a tornam atractiva: a mesma filosofia e fiabilidade do autor, o dobro dos objectos, a maior magnitude limite das estrelas impressas, as cores, as tabelas até 2060. Tudo isto torna este atlas mais prático para planificar, para aberturas maiores (o meu outro telescópio é um 212 mm), e também para melhores céus. As imagens são úteis para seleccionar alvos de astrofotografia, que de resto, gosto de fazer para ilustrar os meus relatos.
Se vai aguentar a humidade e maus tratos, o tempo dirá, embora ache que o papel deverá ser menos resiliente que o da 2ª edição. A minha veterana 2ª edição vai para o estojo do binóculo 16x70 para um merecido descanso, mas ainda pronto a entrar em ação se necessário.
Concluindo, gosto de todas as edições, mas as minhas preferidas continuam a ser as anteriores...
Observer's Sky Atlas 4th edition - The best 500 Deep-sky Ojects with charts and Images
2023 Firefly Books
Observer's Sky Atlas 2nd Edition - With 50 Star Charts Covering the Entire Sky
1999 Springer
Observer's Sky Atlas 3rd Edition - With 50 Star Charts Covering the Entire Sky
2007 Springer
A galáxia Messier 106 está a cerca de 20-30 milhões anos-luz, dominando um grupo de 17 galáxias onde se incluem as NGC 4490 e NGC 4485 atrás registadas. Esta galáxia está numa perspectiva inclinada de apenas 20º, sendo classificada como uma Seyfert, pois tem um núcleo compacto (quasi-quasar) moderadamente activo, onde se suspeita haver um buraco negro super-massivo com 39 milhões de massas solares. Foi registada uma supernova SN1981K que chegou à magnitude 16 em Agosto de 1981.
Na imagem também estão presentes as galáxias NGC 4217 que é uma possível companheira (abaixo na imagem), e as mais pequenas NGC 4226, NGC 4231, NGC 4232 e a NGC 4248. Sob um céu de magnitude 3, Lua no quarto crescente, e dois postes de iluminação LED, foi invisível na ocular.
Messier 106
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 60 min. (60x60 seg.) 800 ISO
Pátio 339 - O ET a telefonar para casa, e estrelas reformadas›
2023.06.30
Pátio (Leiria 39ºN 08º48'W alt. 130m)
Noite de Lua praticamente cheia, que diga-se de verdade, pouco mais contribuiu para as já péssimas condições do céu. É complicado vislumbrar estrelas para sequer se conseguir reconhecer as constelações, quanto mais para formar os padrões que utilizo para apontar o telescópio, tendo que usar o binóculo 7x50 para me situar, e para conseguir, pelo menos ver estrelas de 4 e 5 de magnitude... que tristeza.
Escolhi alvos longe do luar e que fossem menos afectados pelas as condições oferecidas. Este céu é pior que 9 na escala de Bortle, com um poste de luzes LED a 20 metros - um verdadeiro inferno de fotões não solicitados.
As alcunhas ou nomes comuns, que se dão aos objectos que se observam no céu, a começar pelas as constelações, são em grande parte por razões culturais, mitológicas e por se achar piada na altura. Eu por exemplo, não consigo evitar chamar à constelação do Boeiro, "O Grande Bacalhau".
O enxame aberto NGC 457, na constelação de Cassiopeia (uma rainha "topmodel"), tem vários nomes comuns, entre os quais, "Libelinha", "Coruja" e o meu favorito, "ET", personagem de um filme famoso (e agora clássico) da minha geração.
Aos diversos nomes, não fica alheio o par de estrelas brilhantes, Phi1 e Phi2 Cassiopeiae, que servem como que grandes olhos, para imaginar uma qualquer criatura favorita. Julga-se pouco provável que estas duas estrelas, devido ao seu grande brilho, pertençam a este enxame, que se situa a 8500 anos-luz. A sua idade ronda os 20 milhões de anos, mesmo muito novo.
Mais abaixo, está outro enxame, menos espampanante, mas bem concentrado, com pleno direito de ficar também na fotografia, o NGC 436
NGC 457
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 60'x60'
exp: 30 min. (60x30 seg.) 800 ISO
Este enxame Messier 5, é um globular com acerca 13 mil milhões anos de idade, com estrelas bem mais antigas que o nosso Sol, com 4.5 mil milhões. Apesar de ter menor dimensão aparente que o Messier 13, é no entanto mais notório, devido a ter um grande núcleo bem concentrado, talvez a razão de se denunciar facilmente no binóculo 7x50, mesmo estando na altura muito próxima da Lua. Encontra-se um pouco mais afastado que o Messier 13, a 24 milhões anos-luz, estando alojado na pouco conspícua constelação da Cabeça da Serpente.
Este globular, em conjunto com o Messier 3 e o Messier 13, são visualmente, os três grandes enxames do hemisfério Norte de visita obrigatória.
Messier 5
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 60'x60'
exp: 30 min. (60x30 seg.) 800 ISO
As nebulosas planetárias podem ter um brilho muito concentrado, e serem alvos perfeitos para observar/fotografar numa noite de luar.
A Messier 57 é justamente, uma das mais famosas vistas do céu para telescópios amadores, e com o merecido popular nome de "nebulosa do anel". Em Portugal, passa praticamente a pique nas noites de Verão, bem sinalizada pela a não menos famosa, Vega, estrela branco/azulada de magnitude 0 a apenas 25 anos-luz, e a alfa da constelação da Lira. É fácil de localizar estando a meio caminho entre a Beta Lyrae (Shelyak), que é uma variável de eclipse que brilha entre 3.3 - 4.3 a cada 12.9 dias, e a gigante azul Gamma Lyrae (Sulafat) de magnitude 3.2.
O que observamos é o que acontece a estrelas semelhantes ao nosso Sol quando chega ao fim de vida, altura em que liberta conchas de gás. No caso da Messier 57, aconteceu muito recentemente, há cerca de 7 mil anos, e da nossa perspectiva esta concha assemelha-se a um anel à volta da estrela, tendo na realidade uma forma de "donut" em que estamos a olhar pelo buraco.
Fiz uma imagem desta nebulosa há precisamente 18 anos com um tempo de exposição total de 1 hora e 48 minutos e com um pouco mais de resolução. Na altura, tinha paciência para andar com computadores portáteis atrás e a mudar de filtros de cor (neste caso RGB, sem filtro e h-alpha). Mas é absolutamente óbvia a diferença, especialmente nas regiões do espectro em que a Canon é praticamente insensível.
Messier 57
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 30 min. (60x30 seg.) 800 ISO
A nebulosa planetária NGC 7662, a "Bola de neve azul clara", do inglês "Light Blue Snowball", está a cerca de 3200 anos-luz na constelação de Andrómeda.
Foi complicado dar com ela entre uma palmeira e a casa vizinha. Esta nebulosa é muito pequena, mas concentrada e brilhante, podendo-se confundir em baixa magnificação, com uma estrela "gorda", mas de cor pouco natural. Apesar do nome popular, é provavelmente tão azul como as outras nebulosas similares, pois visualmente, são praticamente todas cinzentas, e em telescópios de grande abertura, um ténue verde azulado no máximo.
Para o sensor da Canon 6d, que sendo linear, não é dado a interpretações subjectivas, têm basicamente a mesma cor - verde ligeiramente tintado a azul. As variações poderão ser explicadas pela a perspectiva, inclinação, densidade e estado de evolução da nebulosa.
NGC 7662
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 40'x40'
exp: 30 min. (60x30 seg.) 800 ISO